Este volume e mais dois com igual encadernação devem constituir as memórias mais remotas que eu tenho de livros. Vistos assim, sobriamente encadernados, não serão muito atraentes a olhares infantis, mas ao abri-los, ao folheá-los, deparamo-nos com páginas e páginas ilustradas de banda desenhada, a capa sempre com desenhos a cores e com uma sucessão de personagens e suas aventuras que encantaram os meninos portugueses durante 17 anos. São as revistas de BD "O Mosquito" que saíram semanalmente ou bissemanalmente de 1936 a 1953.
O primeiro dos números encadernados neste volume |
Os números que assim estão encadernados em três volumes são dos anos 40, de Junho de 1943 a Dezembro de 1944, foram comprados pelo meu pai aos 13-14 anos - lá conseguia arranjar os 5 tostões duas vezes por semana - pelos vistos muito estimados e mais tarde encadernados por ele próprio.
O tipo de aventuras interessava sobretudo aos rapazes, mas havia temas de interesse para um leque de idades bastante alargado e por vezes também dirigidos às jovens leitoras.
Curiosidades diversas |
Os galãs e divas do cinema da época |
Para as raparigas ao estilo "faça você mesmo" |
Na minha primeira infância era em geral com as histórias de Serafim e Malacuéco que o meu pai me distraía, mostrando-me as imagens e as cenas caricatas, mas não me dando margem para mexer ou estragar.
Anúncios da saída próxima de "A Formiga" |
O meu estafado volume de "A Formiga" |
Nunca tinha estado muito atenta às datas destes exemplares que possuo, pensava até que "A Formiga" era já do "meu tempo"... Imagino agora que foram revistas estimadas e guardadas durante alguns anos antes de eu nascer e depois encadernadas e carinhosamente partilhadas comigo.
Gostava de saber mais pormenores, mas agora já é tarde para fazer perguntas...
Lindos nas cores garridas e nos ingénuos desenhos |
Resta-me folhear e apreciar estes atraentes repositórios de memórias longínquas e partilhá-los aqui como objetos de muito valor para mim... antes de mais sentimental, claro!
Maria A.
ResponderEliminarQue memórias me fez recordar! Do Mosquito, mas principalmente do Cavaleiro Andante que chegava pontualmente aos sábados. As aventuras do Tim Tim eram as que mais me fascinavam. Tanto que, um pouco mais tarde, os seus livros, em francês, eram as minhas prendas de Natal. Folheados, saboreados, agigantaram a minha mocidade. Ainda restam alguns, já muito manuseados pelo filho e agora pelo neto.
Tenho algumas revistas, ditas de quadradinhos,guardadas e já as vejo à venda nas feiras de velharias! Imaginamos nós, que possuímos uma fortuna. Que fortuna!
Um abraço
if
If, penso que a nossa maior fortuna é termos ricas memórias de infância a acompanhar-nos toda a vida...
EliminarNão me lembro de o Cavaleiro Andante me ter passado pelas mãos. Tal como o Mosquito, que ele acabou por destronar no início dos anos 50, tinha como público alvo os rapazinhos da altura e eu não tinha irmãos ou primos por perto. Com o Tim Tim contactei mais tarde. Mas devorei as edições brasileiras da Disney: Zé Carioca, Tio Patinhas, Mickey e afins, ao mesmo tempo que me embrenhava nas Aventuras dos Cinco... :)
Um beijinho
As coisas que me fez recordar Maria Andrade.
ResponderEliminarAs aventuras de Tim-Tim, que me emprestavam, e que eu lia e relia sempre que tinha acesso, as histórias em quadradinhos do Tio Patinhas, do Zorro, do Mandrake, do Tarzan, mas do Mosquito nada, não chegavam à minha casa a Moçambique.
Um casal, amigos do meus pais, e sem filhos, e de quem eu gostava muito, pois a senhora cozinhava-me as mais fantásticas sobremesas do mundo, e, no final da tarde passeavam-me no seu Opel a cheirar a estofos novos, de cabedal vermelho, pela marginal de Lourenço Marques, compravam-me uma revista para miúdos que tinha o prosaico nome de ... "Pirilau" ... o que eu me ria com as aventuras deste miúdo, ainda por cima com um nome que me era proibido repetir em minha casa!
Este desfolhar ao acaso das revistas, que aqui fez, levou-me ao mundo de faz de conta.
A fotografia de Katharine Hepburn, a minha estrela fetiche, fez-me viajar até às memórias que tenho dela, pois compôs uma memorável Eleanor de Aquitânia, no "Leão no Inverno", ou uma Rose Sayer fantástica, na "Rainha Africana" para não esquecer a Violet Venable de "Subitamente no Verão Passado".
Esta mulher quase não conheceu quebras na sua carreira profissional. Única ... peço desculpa pelo arrebatamento, mas nutro pela atriz, não tanto pela mulher (deve ter sido única também, claro, mas isso é outro domínio sobre o qual não me debruço), uma admiração sem par.
Um bem haja pelas memórias que acordou em mim, que foram muito boas
Manel
Manel, os velhos livrinhos e revistas infanto-juvenis têm sempre o condão de nos pôr um sorriso na cara. Trazem recordações de tempos agradáveis, de descobertas e de fascínio por tudo o que ali encontrávamos.
ResponderEliminarPenso que o Mosquito não lhe podia chegar às mãos em Moçambique porque já tinha acabado na altura em que o Manel lá estava e eu só o conheci por esta via familiar da geração mais velha.
Quanto a estes artistas de uma época de ouro do cinema americano – Clark Gable, Bette Davis, Spencer Tracy, Katharine Hepburn - vi-os mais tarde nos filmes que passavam na televisão nos anos 60 e que os meus pais conheciam bem do velho Cine de Condeixa uma ou duas décadas antes. A carreira da Katharine Hepburn foi realmente longa e fulgurante, conseguiu manter-se muito bem até uma idade avançada.
Ainda bem que gostou de recordar...
Um abraço
Cara Maria,
ResponderEliminarDesde que me conheço por gente que oiço o meu pai falar dessa famigerada revista,mas na verdade nunca nenhum exemplar me passou pelas mãos! Ele era um fã incondicional, e ainda ontem me contava que fazia contagem decrescente para o dia da semana em que a dita chegava ao café aonde era vendida. Ao tempo não havia papelarias nem livrarias nas vilas do interior.
Leu-as, releu-as e...estragou-as. É verdade, como na altura houve a moda da miudagem fazer máquinas de filmar a partir de caixas de sapatos, nada melhor que as tiras da referida revista para improvisar um filme...
A técnica era do mais rudimentar possível, bastando para tal cortar um círculo na caixa em questão, fazer duas ranhuras laterais por onde passavam as tiras, as quais se iam enrolando, ou desenrolando em dois pauzinhos de cana cada um de seu lado da caixa. Et voilá! O meu pai era o projeccionista de animadas sessões de cinema caseiro, em que o público era a sua irmã e uma amiguita desta que vivia na casa do lado.
Os exemplares que haviam escapado à tesoura acabaram os seus dias nas mãos dos sobrinhos, o que fez com que nem um restasse para memória futura!
Um beijinho
Alexandra Roldão
Alexandra, é natural que as gerações de miúdos dos anos 30 e 40 que tiveram acesso a estas revistas tenham ficado para sempre ligados ao nome quase mítico do Mosquito. Quem sabe até se a construção dessas máquinas de filmar de brincar não foi aprendida nas páginas desta revista?
EliminarÉ curioso que eu nunca tinha visto exemplares do Mosquito nas feiras de velharias, mas na última feira de Coimbra lá estavam vários exemplares soltos dos últimos anos e eu acabei por comprar alguns. Pode ser que a Alexandra um dia também encontre...
Fico feliz por a ter ajudado a reviver com o seu pai estas recordações de meninos.
Um beijinho
Maria Andrade
ResponderEliminarAinda bem que aos poucos volta ao nosso convívio.
O seu post recordou-me a minha mãe e a minha tia, nascidas nos anos 20 e ambas já falecidas. As duas contaram-me muitas vezes as bandas desenhadas que leram na meninice e na adolescência. Não me recordo dos títulos, mas talvez fossem o Papagaio e o Mosquito. Sei no entanto que leram já algumas aventuras do Tim-Tim nos finais dos anos 30.
Essas revistas desapareceram da casa familiar. Aliás, as publicações muito populares como o Mosquito, desaparecem e tornam-se raras no mercado, precisamente porque foram muitas lidas por muitos meninos que as estragaram. Os livros chatos e maçudos, esses conservaram-se muito bem, porque ninguém lhes tocou. Hoje essas revistas de banda desenhada valem muito dinheiro nos alfarrabistas. Nas escadinhas do Duque, aqui em Lisboa, existe um alfarrabista especializado em banda desenhada, que eu frequentei muito, pois ficava a caminho do meu antigo emprego e sei como estas revistas dos anos 30, 40 e 50 bem encadernadas atingem preços elevados. Aliás, esse alfarrabista foi o responsável pela edição em álbum das aventuras do Príncipe Valente, que o seu Pai certamente também leu.
Também eu passei a minha infância e adolescência a ler banda desenhada. Ainda hoje as leio, quando me sinto mais cansado. Tenho-as sempre à mão, pois comprei para os meus filhos todas as aventuras do Tim-Tim, do Astérix, Alix e do Lucky-Luke. O meu filho com 19 anos já está com bons hábitos de leitura e sei que o mérito é certamente desses livros de banda desenhada que fui comprando em alfarrabistas, livrarias e na feira-da-ladra.
bjos
Luís, o meu tempo ainda anda muito condicionado, há dias em que não consigo vir aqui, mas o prazer destas lides e deste convívio está-me sempre a puxar para cá. :)
EliminarEfetivamente, ao contrário de muitas vozes que se faziam ouvir na minha meninice, a banda desenhada nunca fez mal a ninguém e só o facto de despertar o prazer da leitura já é grande virtude a assinalar. Os meus filhos também se fartaram de ler BD e
até na aprendizagem das línguas estrangeiras ela pode dar ajuda preciosa. No meu caso, alguns álbuns de Tim-Tim e de Astérix li-os em inglês e em alemão para desenvolver vocabulário e fluência em linguagem coloquial.
Um dia vou tentar ir a esse alfarrabista das Escadinhas do Duque.
Beijos
Maria Andrade
ResponderEliminarFico feliz em vê-la novamente por aqui:)
Não sou do tempo do Mosquito mas recordo-me do meu pai falar numa revista muito apreciada pelas crianças da época. Seria o Mosquito?
As memórias mais antigas que tenho das minhas leituras estão relacionadas com uns livros de dimensões reduzidas e de texto muito conciso. Creio que a Maria Andrade já falou deles aqui. Logo, logo a seguir aparecem os "livros aos quadradinhos" :) Não pode calcular a teia de empréstimos que a criançada conseguiu montar, lá na minha terra, no "mato" :) Naquela época não se compravam livros amiudadas vezes e como o ritmo de leitura era enorme, os livros circulavam de casa em casa, num esquema de empréstimo, que, pese embora algumas sarrafucas, funcionava na perfeição e…sem a interferência de nenhum adulto:) Liamos avidamente os “patinhas”, os cobóis, os Mandrakes e Fantasmas. Eram horas mágicas. Não havia televisão e a nossa mente fervilhava na tentativa de ir um bocadinho mais além do que as gravuras os mostravam :). Mais tarde, já noutro formato, surgiram os Cinco. Acho que andei apaixonada pelo Júlio :) e fartei-me de suspirar por férias na ilha Kirrin.:) Bem, acho que ficava aqui toda a noite a relembrar as minhas leituras infanto-juvenis que tão importantes foram para a minha formação enquanto pessoa. Hoje vou-me deitar com um sorriso de orelha a orelha com as gratas recordações motivadas pelo seu post..
Beijos
Maria Paula, cá estamos nós nestes temas que nos trazem gratas recordações de infância.
EliminarEsse sistema dos empréstimos de livros, banda desenhada e outros, também funcionava imenso entre a criançada por cá. E também tínhamos as carrinhas da Biblioteca Itinerante Gulbenkian, o que permitia estarmos sempre abastecidos de leituras frescas e interessantes. A série dos Cinco foi uma loucura, sem dúvida, e todos nós queríamos fazer algo de semelhante ao que faziam aqueles miúdos. As férias eram muito bem passadas nestas companhias, em regime mais intensivo... :)
Ainda bem que gostou de reviver estas memórias.
Beijos
adorei, adorei, adorei!!!!!!!!!!!!!!!!! o mosquito, a formiga!!!!maravilhas. tenho alguns volumes de o tico_tico e, de vez em quando, posto coisas dele no antiguinho.
ResponderEliminarFico muito feliz por você ter encontrado aqui uns livrinhos ao seu gosto. Imagino que o tico-tico seja do mesmo género, mas não conheço.
EliminarObrigada pela visita, caro Jorge Santori.