Entre as dezenas de motivos que a Fábrica de Sacavém utilizou ao longo dos cerca de 130 anos de atividade (desde os anos 50 do séc. XIX aos anos 80 do séc. XX), contam-se muitos motivos florais, quer monocromáticos, quer policromáticos.
Os que mostro hoje são todos policromáticos e com o mesmo tipo de decoração: raminhos de flores miúdas espalhados pelas peças.
Esta chávena e dois pires, moldados em gomos, apresentam uns toques de pintura à mão sobre um desenho estampado no motivo "Mimoso".
Curiosamente, a chávena não está marcada e os pires têm carimbos diferentes: um tem a marca de fabrico Real Fábrica de Sacavém, B.H.S. & C.ª, usada de 1886 a 1905; o outro ostenta o nome de um estabelecimento comercial do Porto que vendia estas loiças, a Casa Buisson, 45, Rua S. António. O nome do motivo, "Mimoso", pode ver-se por cima da âncora do carimbo Real Fábrica. Em ambos os pires vê-se ainda a marca gravada na pasta com a coroa real e a palavra Sacavém por baixo.
Estes dois pratinhos ou covilhetes, com o mesmo molde gomado só na orla, têm decorações estampadas ligeiramente diferentes, formando motivos cujo nome desconheço. Estão ambos marcados com a coroa e a palavra Sacavém a maiúsculas incisas na pasta, como se vê em cima, marca introduzida em 1885-1886, portanto serão de final do século XIX.
Embora não estivesse a pensar publicar estas peças de Sacavém, o verdadeiro motivo para o fazer agora foi o envio de fotos de várias peças de faiança por parte de um seguidor deste blogue, o Jorge Pereira. Entre elas está uma travessa também decorada com flores deste tipo, mas sem marca visível, pelo que o nosso amigo não lhe consegue atribuir fabrico e pediu a minha ajuda.
Logo que a vi, pareceu-me Sacavém, pela decoração e pelo formato moldado daquela maneira nos cantos.
É o mesmo molde de uma travessa motivo "Outono" que aparece num catálogo do Museu de Sacavém - Primeiras peças da produção da Fábrica de Loiça de Sacavém, o papel do Coleccionador - e que está descrita do seguinte modo:
"Peça moldada de formato rectangular, aba relevada e bordo ondulado, com decoração policromática, por técnica de estamparia, constituída por seis composições florais dispostas simetricamente ..."
À exceção das composições florais do motivo Outono, que são diferentes, tudo o resto se aplica às caraterísticas da travessa deste seguidor.
À exceção das composições florais do motivo Outono, que são diferentes, tudo o resto se aplica às caraterísticas da travessa deste seguidor.
Mas depois de analisar as minhas peças Sacavém com motivos florais que mostro em cima, descobri que as desta travessa são muito parecidas com as dos covilhetes, talvez iguais às de um deles.
Nesta fotografia nota-se ao centro que há uma marca incisa na pasta, mas não identificável. Penso que seja a coroa de Sacavém, mas sem certezas. De qualquer modo, julgo não restarem muitas dúvidas de que a travessa é de Sacavém. Se estiver enganada, poderá sempre surgir aqui alguém que nos esclareça.
A travessa motivo Outono do catálogo do Museu da Fábrica de Sacavém |
Olá Maria
ResponderEliminarMuito elucidativo o seu texto sobre a produção de Sacavém. As peças que nos mostra mostram uma outra faceta da decoração da fábrica. O motivo "florinhas", delicado e primaveril, só se podia aplicar a formas mais elegantes.
É curiosa a marca "Casa Buisson" que pode indiciar uma encomenda específica para esse estabelecimento comercial.
Cumprimentos.
if
Olá If,
EliminarEstive ausente de casa durante uns dias e sem grande hipótese de acesso à internet, por isso só hoje respondo ao seu comentário e aos restantes.
Estas florzinhas são efetivamente primaveris e acabaram por compor o post em que queria sobretudo falar das duas travessas.
Quanto à marca "Casa Buisson", penso que no séc. XIX, início do XX, havia muito este hábito de as casas que vendiam loiça mandarem marcar as peças na fábrica com o seu nome. Assim fidelizavam os seus clientes à loja. Tenho também exemplares da Vista Alegre com nomes de casas no Porto, em Braga e em Lisboa.
Um abraço
O seu post é muito útil, pois toda a gente tem Sacavém em casa e todos andam na net a tentar saber mais alguma coisa sobre as suas peças. Eu sempre que posto alguma coisa sobre Sacavém as estatísticas de consulta disparam. Por vezes penso que se comprasse mais peças Sacavém, o meu blog era um estouro e ainda ganharia dinheiro em publicidade, mas enfim, nunca fui de popularidades.
ResponderEliminarGosto das florinhas e da travessa do seu seguidor que tem a poesia da loiça já muito usada, que serviu jantares a 3 ou 4 gerações.
Em Lisboa, os armazéns Grandella encomendavam loiça à Vista Alegre que era produzida com a marca dos daqueles armazéns. Seria giro saber onde era essa Casa Buisson. Pelo nome francês deveria ser uma loja chique do Porto.
Um abraço
Olá Luís,
EliminarNão tenho muita tendência para publicar aqui loiça de Sacavém precisamente porque toda a gente a conhece e eu dificilmente mostrarei ou direi algo de novo.
Além disso, há bons blogues especializados nessa área ou afins, como o MAFLS que bem conhece.
No entanto, sempre aparece uma ou outra curiosidade como é o caso dessa marca "Casa Buisson". Na marca essa casa está devidamente localizada no Porto: Rua de S. António, nº45 (com o nº escrito à inglesa antes do nome da rua). Também é conhecida por Rua 31 de Janeiro, sobe da Estação de S. Bento até à Rua de Sta. Catarina e lá se situavam nos finais do séc. XIX vários comércios com nomes franceses.
Quanto a esta casa, só consegui saber que em 1860-70 a viúva Buisson era proprietária de Produtos Químicos para Fotografia na Rua de S. António.
Abraço
Ainda este final de semana vi este motivo à venda na Feira.
ResponderEliminarEstas florinhas dão um ar muito primaveril às peças.
E também creio que a travessa do seu seguidor seja Sacavém, ainda que não esteja marcada de forma legível.
Tal como o Luís refere, um dos meus serviços de jantar, cujo número de peças ultrapassa as que são usuais hoje em dia, é da Vista Alegre, com marca de transição de século XIX para o XX (o desenho floral aponta para uma influência "Art Nouveau"), e terá sido encomendado pelos armazéns "Grandella", pois também apresenta a marca daquela casa, adicionada pela fábrica, sob vidrado, tal como acontece nessa sua peça marcada com o carimbo da Casa Buisson.
Só as grandes casas compradoras deveriam ter influência suficiente para que a sua marca fosse adicionada pela fábrica às peças fabricadas.
Manel
Não me admira, Manel, que tenha visto tão recentemente este motivo à venda numa feira porque faiança Sacavém é a que vai aparecendo mais por aí.
EliminarTem razão, provavelmente só as grandes casas comerciais teriam poder para fazer esse tipo de exigência. Afinal, a marca deles anulava ou ofuscava um pouco a da fábrica...
É curioso que eu sei que comprei há pouco tempo uma peça marcada "Grandella", como o seu serviço V.A, mas não me lembro qual. Foi por isso que lhe respondi em último lugar porque ainda fui procurar a ver que peça era, mas sem resultado, pelo menos hoje que estou muito cansada...
Mas é uma das coisas que me atrai nas loiças a existência desse tipo de marcas. Na loiça inglesa também aparecem por vezes.
Obrigada pelas suas achegas.
Abraço
Quer a chávena, quer a travessa são peças magnificas...
ResponderEliminarUma dica: apartir de 1940 e até finais da década de 70, o maior cliente da fábrica de Sacavém foi o Braz e Braz, que para além de vender todo o catálogo da fabrica, mandava fazer peças exclusivas que vendia na loja.
ResponderEliminarCaro polittikus,
EliminarMuito obrigada pela informação acerca da relação entre a casa Braz e Braz e a Fábrica de Sacavém.
São factos que eu desconhecia e que acho interessantes.
Também existia uma loja representante da Fábrica de Sacavém em Coimbra que nos anos 80 ainda vendia peças do último período de fabrico.
Cumprimentos
Olá Maria Andrade
ResponderEliminarMuito bonitas as peças que nos mostra. Existe um bule e uma concha de sopa em casa de uma cunhada minha, com uma decoração muito idêntica ao prato do lado direito, da foto em que mostra dois pratos.Sei que a concha não está marcada, mas sempre ouvi a minha cunhada referir-se a ela como sendo de Sacavém.
Um abraço
Olá Maria Paula,
EliminarEstas decorações são sempre agradáveis e mimosas, mesmo que não seja esse o nome de alguns motivos aqui.
É verdade que há muitas peças não marcadas, sobretudo quando pertenciam a serviços, como é o caso das chávenas e pires em que só os pires tinham marca. O mesmo aconteceria em serviços de jantar e talvez por isso essa concha da sua cunhada, peça rara e certamente muito graciosa, não tenha marca.
Mas em geral os motivos Sacavém são-nos familiares, das casas das nossas avós pelo menos...
Abraços
HI Maria... Wonderful information...I love reading the historical background on the china... Thank You for sharing..Hugs
ResponderEliminarThanks Zaa, it´s a pleasure to have you here!
EliminarI admire your patience to read everything through Google Translator.
I'm glad you enjoyed it.
Hugs
Espero que esteja tudo bem consigo, pois hoje não serviu o seu já célebre e concorrido chá das terças-feiras. Vim aqui na esperança de comer uma fatia de bolo com uma chávena de chá e aprender qualquer coisa sobre cerãmica europeia e dou com o nariz na porta.
ResponderEliminarMuito obrigada, Luís, pelo seu cuidado. Agora já sabe o que se passou...
EliminarTem que guardar a vontade para o chá com ou sem bolo para a próxima semana ;)
Unas piezas preciosas...me encantan esas pequeñas florecitas salpicadas en la porcelana blanca
ResponderEliminarUn Abrazo
Obrigada pela visita,Princesa Nadie.
EliminarA decoração a pequenas flores é sempre um encanto!
Beijos
Muito interessante blog, parabéns.
ResponderEliminarSobre a Casa Buissson, informo que nos finais do século XIX e princípios do século XX era seu proprietário António Teixeira Rebello, meu trisavô, que vivia no andar superior, e mais tarde, foi gerida pelo seu genro, Alberto Júlio Pereira, meu bisavô.
Em alguns anuários comerciais da cidade surge a empresa na secção: «vidros e cristais».
Caro Gabriel Silva,
EliminarMuito obrigada pela simpatia e pelo testemunho sobre a ligação da sua família à "Casa Buisson". Não poderíamos ambicionar melhor fonte para dar informação sobre esse estabelecimento, que terá passado no século XIX da posse da família Buisson para a sua família. Ficamos também a saber que esta casa, para além de vender loiça de Sacavém e muito provavelmente de outros fabricos, era sobretudo referenciada pela venda de vidros e cristais.
É espantoso como através deste meio dos blogues se pode obter informação tão rápida, fidedigna e relevante!
Cumprimentos
Olá Maria Andrade.
ResponderEliminarÉ sempre um prazer aceder às publicações do seu blog.
Agradeço as informações sobre a travessa assim, como a publicação deste post que para mim foi bastante útil.
Cumprimentos.
JP
Olá Jorge Pereira,
EliminarAgradeço a amabilidade das suas palavras e ainda bem que achou este post útil.
Penso que já não restam dúvidas de que a sua travessa é da Fábrica de Sacavém.
Cumprimentos
Muito interessante a informação do Sr. Gabriel Silva sobre a história da "Casa Buisson". Possuo uma pequena taça com a marca V.A. a verde e, "CASA BUISSON 45,Rua SAntónio PORTO" em preto, que prova, ter este estabelecimento comercializado, também, a louça da Fábrica Vista Alegre.
ResponderEliminarCumprimentos.
emília reis
Cara Emília Reis,
EliminarMuito obrigada pelo comentário, em que ficámos a saber algo mais sobre a Casa Buisson.
Cumprimentos e volte sempre.
OMG .... These tea mugs have spent many an hour in teatime chatter .... judging by the tea time prattle on the cups and saucers( crackling) and ... What wonderful information .. I have always wondered about the various coloured markings... We discuss tea .. but never tea lines in our lovely cups ...My friends... Nice post Maria... Hugs
ResponderEliminarHi Zaa,
EliminarThanks for your lively comment here.
Our beloved tea cups and other china pieces can provide a lot of information and tell interesting stories... specially if they are centenary old like these ones.
That's why I love antiques, even if they don't look so nice and perfect as brand new objects...
Hugs
Boa noite Maria Andrade
ResponderEliminarTenho ca em casa um prato da Sacavém que por cima da âncora esta escrito BEIRA e logo a baixo B:H:S & C.ª,poderia me ajudar a descobrir o ano que corresponde este prato.
cump: Araujo
Caro Araujo,
EliminarBEIRA é o nome do padrão decorativo do seu prato e quanto às iniciais B.H.S,correspondentes ao nome do fabricante, Barão Howorth de Sacavém, tanto quanto eu sei (e digo-o aqui no post) foram usadas entre 1886 e 1905.
Cumprimentos