Este é o último livro que restaurei, um livro antigo de culinária que estava em casa dos meus pais.
Trata-se de um manual de cozinha datado de 1904, cujo autor adotou o pseudónimo de Carlos Bento da Maia mas era na realidade um alferes do exército português de nome Carlos Bandeira de Melo.
Como curiosidade, li na Wikipédia que foi a primeira obra a apresentar uma receita dos portuguesíssimos bolinhos de bacalhau.
Logo na página de rosto, vê-se uma fotografia de rapariga jovem, provavelmente a criada da casa, numa cozinha grande e tradicional.
É interessante que, para além das receitas, este livro fornecia às donas de casa e a qualquer profissional da restauração, informação diversa em tudo o que se relaciona com o trabalho de confecionar e servir alimentos, tudo bem ilustrado com gravuras e fotografias.
Está dividido em sete partes e tem no final ainda um capítulo de ementas e um dicionário, como se pode ver no índice:
Pág.
PRIMEIRA PARTE - Generalidades ........................... 5
SEGUNDA » - Algumas palavras ácerca de alimentos de
origem animal e vegetal.................. 27
TERCEIRA » - Considerações sobre o cozinhado dos
alimentos que se não comem crús.......... 79
QUARTA » - Iguarias diversas........................ 89
QUINTA » - Dôces ................................... 449
SEXTA » - Café, chá, chocolate, coca .............. 637
SÉTIMA » - Conservas ............................... 671
EMENTAS - (Menús).................................. 681
DICIONÁRIO - ......................................... 705
O livro chegou-me às mãos em péssimo estado, como se vê nas fotografias em baixo, a necessitar de nova encadernação, mas optei desde o início por lhe manter a capa original.
A capa, em tela sobre cartão, estava muito manchada e a soltar-se dos cadernos, alguns também soltos, e havia páginas com gelhas e rasgões.
Lá tive que descoser tudo e aprender a fazer a costura dos cadernos, um processo um pouco moroso dada a minha falta de prática.
A lombada foi consolidada e aplicado um requife azul e branco, pormenor que me foi especialmente recomendado pelo meu pai, habituado a estes procedimentos do tempo em que encadernava os seus livros.
Agora está pronto a entrar em funções acompanhado de utensílios que não podem faltar em qualquer cozinha.
Nos tempos que correm, resolvi dar protagonismo ao rapa-tudo, um objeto que eu, em miúda, e mais tarde os meus filhos como quaisquer miúdos, adoravamos usar para rapar a tigela com os restos da massa dos bolos, e a que o povo - vá-se lá saber porquê!!! - deu o nome de salazar...
Agora - vá-se lá saber porquê !!! - apetece-me chamar-lhe coelho... ou gaspar...
Oh Maria, I love what you did with the old cooking book! I am very fond of old cooking books, they were so interesting for our standards today. I inherited a couple of cooking books from my Mil..one from the 40's and one from the 50's, but not as old as yours! Enjoy your weekend.
ResponderEliminarFABBY
Hello, Fabby,
EliminarI'm glad you share this interest with me!
I treasure old cooking books not only for the recipes but because they are full of interesting information - about kitchen utensils, eating habits...
Enjoy yours which must be full of surprises, too.
Have a great week!
¡Me fascinan los libros antiguos!
ResponderEliminarUn Beso
Olá Princesa,
EliminarEste é mais um gosto que partilhamos!
Beijos
https://leilao.catawiki.pt/kavels/10348467-carlos-bento-da-maia-tratado-completo-de-cozinha-e-de-copa-1903
EliminarOlá Maria
ResponderEliminarGosto do seu jeito para a encadernação. Os livros agradecem e retribuem (docemente) o cuidado de que foram alvo. Tenho que aprender a fazer o mesmo, pois tenho alguns livros a precisarem de mimos.
Cumprimentos
if
Olá If,
EliminarO jeito não é muito, faço quase tudo sob supervisão, mas a motivação é grande e lá vou aprendendo enquanto pratico... ;)
Acho que a If tem mesmo que procurar uma oficina ou instituição onde possa também aprender.
Há cursos de curta duração na Fundação Ricardo Espírito Santo, por exemplo.
Um abraço
Tenho alguma (muita) curiosidade sobre o assunto. O trabalho de restauro de livros é um trabalho moroso e que exige além dos conhecimentos muita paciência, certo? Existem cursos/acções de formação? Onde? São caros? Desculpe tanta pergunta mas o assunto interessa-me... Amo os meus livros (e todos os livros em geral) e tenho alguns bem antigos a precisarem de cuidados. Gostava de saber preservá-los. A pergunta àcerca da paciência tem a ver com o facto de ser muito impaciente e de querer sempre tudo pronto para "ontem"...
ResponderEliminarSe me puder esclarecer, ficarei muito agradecida.
Uma boa semana e bons post's!
Ana Silva
Olá Ana Silva,
EliminarFico muito satisfeita por encontrar aqui pessoas com interesse pelo restauro de livros! O trabalho é realmente moroso, sobretudo quando não se tem prática, e exige paciência. Mas ao fim e ao cabo é como outros trabalhos manuais - bordados, madeiras, artesanato urbano - é preciso aprender técnicas, ter gosto e... praticar muito :)
Em Coimbra, para além da oficina onde eu ando, na Rua da Alegria, há o CEARTE, uma instituição ligada à artes, que ministra pequenos cursos de formação profissional nesta área e penso que não são caros; em Lisboa há a Fundação Ricardo do Espírito Santo, mas mais não conheço.
De qualquer forma há sempre alguma coisa a fazer para começar: limpeza página a página com pincel, colagens com cola branca e NUNCA com fita-cola, limpeza de capas de pele com cera de abelha...
Foi assim que eu comecei :)
Um abraço
Deixo-lhe aqui o link do blogue que essa Oficina de Conservação e Restauro de Livros, da Rua da Alegria, criou recentemente:
Eliminarhttp://chronospaper.blogspot.pt/
Muito obrigado. Já andei a "cuscar" o CEARTE e o Blogue. Na Fundação Espírito Santo já conhecia. Só que há cerca de 2 anos mudei-me da terra da Maria Isa (onde vive) para as margens do Liz. E por aqui não conheço nada. Existem alguns livros que me possa ajudar com os primeiros rudimentos?
Eliminare-cumprimentos,
Ana Silva
Tenho um livro muito bom com o título "Manual do Encadernador", de Maria Brak-Lamy Barjona de Freitas, Livraria Sá da Costa, 1945, só não sei se tem sido reeditado.
EliminarNão conheço mais nenhum assim tão específico, mas penso que não será difícil encontrar outros títulos numa pesquisa na internet ou dirigindo-se a uma boa livraria.
Cumprimentos
Obrigado.
EliminarEsse restauro está um mimo! Os meus parabéns!
ResponderEliminarSem certezas, mas creio que este manual de cozinha existe entre os meus canhenhos, e até creio que mandei restaurar a encadernação, mas esse trabalho foi feito de uma forma algo anónima e sem o interesse que esta sua reabilitação apresenta.
Foi encadernado com pele tintada de verde escuro, com letras e decorações a dourado, lombada bem sólida, requife (não conhecia o termo) em verde escuro e branco, enfim, está sólido e capaz de ser usado por mais 100 anos, espero, mas ... deixa algo a desejar.
Pena não sabê-lo fazer, mas não posso dispersar-me por mil e uma tarefa, senão não faço nenhuma bem! Foi uma opção da minha parte, mas tenho pena, confesso.
Os meus dias deveriam ter 30 horas, não para a minha profissão institucional, que aí, deveriam ser de 2 ou, melhor ainda, 0 horas, mas para me dedicar a muitas outras tarefas que adoro! E são muitas, além de produtivas, o que sinto não ser no emprego!
Já lá vai o tempo em que gostava do que fazia institucionalmente, mas o sistema acabou por me deixar o desgosto e levar com ele todo o prazer possível.
Mais uma vez, os meus parabéns e vejo embevecido o resultado do seu trabalho. Muito bom!
Manel
Muito obrigada, Manel, pela sua apreciação tão generosa!
EliminarNão se pode dizer que o restauro da capa tenha ficado uma perfeição, mas como eu a quis manter, foi o melhor que se conseguiu.
A verdade é que com esta intervenção - e eu procuro sempre mexer o menos possível - o livro ficou consolidado e durável, pronto a ser utilizado. E é bem interessante!
Aquele reforço por dentro da lombada, que também embeleza o livro, chama-se requife ou transfil, não sei qual o termo mais usado, mas tenho ouvido sempre o meu pai chamar-lhe requife.
Mas sabe que eu também adoro encadernações a inteira de pele com dourados, e seria essa a minha opção se o original fosse de capa mole porque até se pode manter a capa por dentro. Penso que o seu deve ter ficado uma beleza!
Acho que não tem que ter pena de não saber encadernar ou restaurar livros, já tem uma arte bem bonita em mãos e aí já vi, em fotografia, trabalhos maravilhosos...
Quanto ao outro trabalho... há que ter paciência...
Um abraço
Olá Maria Andrade.
ResponderEliminarComo sempre gosto dos seus posts e hoje do seu cuidado com os livros.
Vejo no seu livro agora curado aquilo que gostava de ver no nosso Portugal que alguns puseram doente.
Valha-nos um Manel, uma Maria Andrade e outros que nos surpreendem com mimos.
Um abraço
Caro Joaquim Malvar,
EliminarMuito obrigada pela sua visita e pela simpatia, que também foi um mimo para mim.
O que eu acho é que, perante um certo sentimento de impotência que nos vai dominando, há que procurar refúgio nas pequenas coisas que nos dão prazer e este mundo dos blogues, permitindo o contacto com amigos, mesmo que sejam virtuais, é uma delas.
Assim podemos abstrair do panorama que nos rodeia, que é bastante deprimente...
Um abraço
Embora tenha trabalhado muitas vezes com livros nunca aprendi restauro e davam-me jeito umas noções quer profissionalmente, quer em termos pessoais, mas enfim, o tempo não chega para tudo.
ResponderEliminarOs livros de cozinha intrigam-me. Sei cozinhar uns 25 pratos ao todo e duas sobremesas e tenho dificuldade em interpretar a linguagem codificada dos livros de culinária. Alguns dos pratos que aprendi recentemente a fazer são receitas que a minha mãe fazia, como as Farófias e quando as como, parece que regressei por momentos à infância. os meus filhos também gostam das Farófias, mas no geral não sei ler um livro de receitas, tal como não sei ler uma pauta musical.
Voltando aos livros, até seria muito interessante para os seus seguidores, mostrar o restauro de um livro a par e passo, com fotografias, para nos dar meia dúzia de rudimentos.
Beijos
Luís, achei piada às suas dificuldades com a culinária, mas olhe que eu também não sou lá muito esperta nessa área... :)
EliminarTem toda a razão na sua observação sobre a vantagem de fotografar os vários passos do restauro de um livro e a minha intenção inicial é sempre essa. Só que às vezes passam-se semanas em que não vou à oficina de restauro e o trabalho fica suspenso e depois entra em cena a minha mente despistada e ou me esqueço de levar a máquina, ou a levo e me embrenho nas tarefas sem me lembrar de a usar ou tiro fotografias, mas como uso dois cartões na máquina e num deles já tive que apagar ficheiros, nunca mais encontro as fotografias.
Nas próximas vezes vou tentar ser mais disciplinada, prometo!
Beijos
Olá,
EliminarFica aqui prometido que as próximas aulas serão fotografadas passo a passo. Não queremos que percam o interesse numa arte milenar que disignamos por encadernação. Esta nasceu para tornar possível a salvaguada de documentos que registaram os mais variados assuntos entre estes podemos destacar a Biblía onde na sua feitura podemos encontrar antigas profissões como copistas, iluminadores e tantos outros que trabalharam para que hoje possamos admirar pequenas obras de arte (entre folhas de pergaminho, papel de trapo,...)
Obrigado por quererem apreder mais de profissões que hoje estão praticamente esquecidas e desvalorizadas!!!
Seja bem vinda aqui, Maria do Céu!
EliminarAgora já somos duas a fazer a promessa, vamos lá a ver se conseguimos cumpri-la :)
tenho um livro igual..isso vale alguma coisa???? agradecia uma resposta por email sff..bom natal a todos..email: tomas.sousa.vasconcelos@hotmail.com
ResponderEliminarBoa noite a todos! Realmente este tipo de coisas artesanais não se devem perder... Está literalmente nas nossas mãos :)
ResponderEliminarAlguém me sabe dizer onde é que se pode comprar o requife em Portugal/Coimbra?
Obrigada e cumprimentos a todos
Lia
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