Surgem por vezes, nas feiras de velharias, peças de faiança com um motivo de casa de montanha com arvoredo que são generalizadamente atribuídas a Vilar de Mouros.
Estas são desse tipo, mas o tom de azul plúmbeo que ostentam, o brilho do vidrado e alguns pormenores decorativos sugerem-me fabrico da zona centro, séc. XIX/XX. Com efeito, vê-se em ambas as peças, não só um edifício ladeado de árvores, com parte da pintura a esponjados, mas também motivos geométricos tais como séries de linhas paralelas e, no segundo caso, quadriculados. As linhas paralelas, a formar losango, aparecem nas duas terrinas por baixo de cada pega.
A segunda terrina parece-me mais uma versão do chamado cantão popular com o edifício em forma de pagode, uma ponte à frente e uma figura do lado direito que parece segurar um guarda-sol.
Fundamentando-me no roteiro de uma exposição, realizada em 1992, no Museu de Alcobaça, diria que os tons de azul e os esponjados são de Alcobaça, fabrico de José dos Reis.
A imagem da capa apresenta o motivo da travessa que se mostra mais abaixo e que , tal como o prato, é atribuída a José dos Reis. Se atentarmos no prato, vemos algumas linhas paralelas a formar o céu com nuvens. Mas essas linhas, assim como o quadriculado, também aparecem na faiança decorada com o cantão popular, sobretudo nas peças da zona centro, nomeadamente Aveiro.
Por outro lado, não nos podemos esquecer que, ainda segundo aquele roteiro, José dos Reis era natural de Coimbra, tendo-se estabelecido em Alcobaça em 1875, à procura de maior facilidade de colocação dos seus produtos.
Será Coimbra o centro cerâmico de onde irradiaram todas estas formas? A verdade é que há quem mencione Coimbra como local de origem destas terrinas, dizendo que eram usadas para servir os estudantes nas casas onde se alojavam.
Estas duas foram compradas em dias consecutivos, uma na feira de Coimbra e a outra na feira de Aveiro, porque não conseguimos resistir à segunda que, por não ter tampa, foi baratíssima.
Não posso deixar de mostrar aqui um prato que vi num leilão da net, atribuído aVilar de Mouros. Parece-me ter um carácter mais minhoto, talvez pela cor garrida do verde - também já vi peças parecidas em rosa forte - pelo que podia ter sido feito no Alto Minho.
No entanto, a pintura a pinceladas fortes, tipo esponjados e sobretudo a borda estampilhada, fazem-no diferir muito dos exemplares apresentados por Artur de Sandão na sua obra de referência, Faiança Portuguesa, na página 168 do segundo volume.