Já aqui tenho referido que a principal razão para me sentir atraída por objetos antigos, nomeadamente os de cerâmica, é conhecer a sua história ou a história que muitos deles podem contar. Mas não são "livros abertos" e mesmo quando há marcas, a informação não nos chega de forma direta; temos que interpretar todos os sinais que as peças nos dão e depois procurar saber mais sobre elas, o que, sendo algo de aliciante para os amantes de velharias, causa também alguma frustração por sabermos que nunca teremos a história completa...
A situação é totalmente diferente com os livros, incluindo o livro antigo... desde que haja página de rosto.
Os dois que se vêem na foto são de um autor português do século XVIII, o iluminista Padre Teodoro de Almeida (1727 - 1804), e basta abrir qualquer deles para obtermos sobeja informação sobre o autor e a obra.
Começo pela página de rosto de Recreasão Filozófica ou Diálogo sobre a Filosofia Natural para instrucsão de pessoas curiozas, que não frequentárão as aulas. Neste exemplar o título já não figura completo ao cimo da página porque encontrei-o com as primeiras páginas mutiladas e tive que as restaurar, completando-as com papel japonês.
O que ficou diz-nos que o autor pertencia à Congregação do Oratório de S. Filipe Neri e era membro da Academia das Ciências de Lisboa, da Real Sociedade de Londres e da de Biscaia. Assim, ficamos logo cientes de que se trata de um religioso que se dedicou às ciências e à Filosofia e atingiu notoriedade, ou pelo menos reconhecimento, em instituições de prestígio, nacionais e estrangeiras. De facto, para além de escritor e filósofo, ele é considerado o primeiro físico experimental português.
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Imagem retirada de DE RERUM NATURA a acompanhar texto do Professor Carlos Fiolhais |
Quanto à obra, ficamos a conhecer, logo no título, o assunto tratado - a Filosofia - a forma como é desenvolvido - em diálogo - e a que tipo de público se dirige - para instrução de pessoas curiosas que não frequentaram as aulas. Ficamos ainda a saber que esta é já uma quinta impressão muito mais correcta que as precedentes e que a obra foi desenvolvida em vários volumes, sendo este o 7º, que trata da Lógica. Finalmente o ano em que foi impressa - 1785 - e o local - Lisboa na Régia Oficina Tipográfica - tendo sido licenciado, como era obrigatório à época.
Como bilhete de identidade de um objeto não está nada mal!
Trata-se de uma obra enciclopédica em 10 volumes, o último dos quais foi publicado em 1800. Do I ao VI trata da Filosofia Natural, o VII como já vimos, trata da Lógica e os VIII, IX e X da Ética e da Moral.
Indo para além da página de rosto, logo nas primeiras páginas aparece o índice das várias Tardes ou capítulos em que se divide este volume, que começa na Tarde XXXVI. A primeira página está encimada por uma pequena gravura ou vinheta, sem menção de autoria, que apresenta duas figuras, cada uma com uma chama sobre a cabeça, vendo-se ao longe uma candeia a emitir uma luz intensa. Certamente uma representação visual das luzes do conhecimento que iluminam o espírito, o conceito subjacente ao Iluminismo do chamado Século das Luzes.
Temos logo a iniciar o texto a fala de alguém, Eugénio, que tem como interlocutores Teodózio e Sílvio; são estas as personagens que vamos acompanhar ao longo de todo o volume e cujos diálogos, em linguagem muito simples, têm tiradas deliciosas e exemplos práticos hilariantes. Um deles é a história de um rapaz rude que, ao trabalhar numa horta com amigos, levou com uma enxada na cabeça, ficando com o juizo alterado. Ao contrário do que seria de esperar, ficou tão esperto que se veio a tornar Ministro de nome na Corte! :)
Alguém duvida que este discurso aparentemente tão inocente está a querer atingir o Marquês de Pombal, que perseguiu e obrigou o P. Teodoro de Almeida a exilar-se em França?!
Há uns meses, a Maria Paula, do blogue as coisas de que eu gosto, falou deste autor a propósito de uma exposição no Mosteiro de Tibães onde se transcreviam extratos da Recreação Filosófica. Um deles , sobre o amor, não posso deixar de partilhar também aqui:
Trata-se de uma obra enciclopédica em 10 volumes, o último dos quais foi publicado em 1800. Do I ao VI trata da Filosofia Natural, o VII como já vimos, trata da Lógica e os VIII, IX e X da Ética e da Moral.
Temos logo a iniciar o texto a fala de alguém, Eugénio, que tem como interlocutores Teodózio e Sílvio; são estas as personagens que vamos acompanhar ao longo de todo o volume e cujos diálogos, em linguagem muito simples, têm tiradas deliciosas e exemplos práticos hilariantes. Um deles é a história de um rapaz rude que, ao trabalhar numa horta com amigos, levou com uma enxada na cabeça, ficando com o juizo alterado. Ao contrário do que seria de esperar, ficou tão esperto que se veio a tornar Ministro de nome na Corte! :)
Há uns meses, a Maria Paula, do blogue as coisas de que eu gosto, falou deste autor a propósito de uma exposição no Mosteiro de Tibães onde se transcreviam extratos da Recreação Filosófica. Um deles , sobre o amor, não posso deixar de partilhar também aqui:
Para quem não esteja familiarizado com este tipo de escrita, convém lembrar que o som s, quando não está em final de palavra, é representado pelo f.
O outro título do Padre Teodoro de Almeida que tinha para partilhar é O Feliz Independente do Mundo e da Fortuna, mas a conversa já vai longa, acho melhor guardá-lo para outra ocasião.
Agora que está a terminar o mês dos Santos Populares, deixo aqui a foto completa com os livros, junto do meu Santo Antoninho do Pão, acompanhado de uma bromélia que me lembra uma alcachofra do S. João, em noite dedicada ao colega de festejos, S. Pedro :))
O outro título do Padre Teodoro de Almeida que tinha para partilhar é O Feliz Independente do Mundo e da Fortuna, mas a conversa já vai longa, acho melhor guardá-lo para outra ocasião.
Agora que está a terminar o mês dos Santos Populares, deixo aqui a foto completa com os livros, junto do meu Santo Antoninho do Pão, acompanhado de uma bromélia que me lembra uma alcachofra do S. João, em noite dedicada ao colega de festejos, S. Pedro :))