Não tendo a motivação religiosa a atrair-me para os livrinhos de orações, é sempre muito mais a forma do que o conteúdo o que neles me desperta interesse. Mas se considerarmos como conteúdo todas as ilustrações, as estampas e vinhetas que ilustram o texto, então essa parte do conteúdo exerce realmente sobre mim uma grande atração!
É a arte do livro, presente desde logo no tipo de encadernação, com ou sem ornatos a ouro, e todo o trabalho de ilustração, geralmente em gravuras a preto e branco, mas por vezes com magníficos desenhos a cores.
Estes dois volumes são de Horas Marianas, exemplares do século XIX destinados a um público vasto de crentes católicos, muitas vezes de modestas posses.
Estes dois volumes são de Horas Marianas, exemplares do século XIX destinados a um público vasto de crentes católicos, muitas vezes de modestas posses.
Em muitas casas humildes, mas com pais alfabetizados, era este o único livro disponível - a par da Imitação de Cristo ou da Bíblia para a Infância - para ensinar as primeiras letras ou números aos mais pequenitos. Guardo comigo uma Bíblia para a Infância, que já veio da casa de bisavós meus, e nela encontrei muitos números de páginas repetidos a lápis e também algumas letras desenhadas com mão insegura...
Isso vi confirmado nas palavras de Mariquitas, uma menina aldeã quase analfabeta do romance Mil e um Mistérios (1845) de Castilho: "Meu pai ensinou-me a ler um poucochinho nas Horas Marianas que temos lá em casa; mas letra de sentença nunca me calhou...." (cap. VIII, p.58)
Isso vi confirmado nas palavras de Mariquitas, uma menina aldeã quase analfabeta do romance Mil e um Mistérios (1845) de Castilho: "Meu pai ensinou-me a ler um poucochinho nas Horas Marianas que temos lá em casa; mas letra de sentença nunca me calhou...." (cap. VIII, p.58)
Vou falar de um dos exemplares, datado de 1852, que obviamente me chamou a atenção em primeiro lugar pela encadernação. com profusão de motivos dourados resultantes da aplicação de ferros quentes. Sei, por experiência própria, como é difícil acertar as letras e motivos, sobretudo se repetidos à volta da capa, sendo um trabalho especializado a exigir perícia e mão firme. Também os cortes foram dourados, como era prática comum em livros religiosos.
As Horas Marianas, neste caso Novíssimas como se lê no título, a sugerir sucessivas edições, penso radicarem na tradição dos Livros de Horas medievais, manuscritos maravilhosamente iluminados, verdadeiras obras de arte que só podemos admirar nos acervos das grandes bibliotecas.
Aqui somos brindados logo no início, ainda antes da página de rosto, com uma estampa de página inteira representando Cristo, preso e supliciado, com o manto, a vara e a coroa de espinhos, numa das cenas que antecedem a Via Sacra.
Cada uma das partes intituladas Officios é introduzida por desenhos, geralmente com a cruz ao meio
e termina com pequenas vinhetas com figuras ou cenas bíblicas.
Para além destas vinhetas, o livro conta ainda com mais duas gravuras, estampas de página inteira, também de autoria Rouargue, tendo uma como tema Maria e o Menino Jesus e a outra Maria e o anjo.
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Não sei se terá havido outras gravuras de página inteira na obra. A verdade é que qualquer uma destas, embora pequena (5x7,5), faria um belo quadro se fosse emoldurada...
Aqui somos brindados logo no início, ainda antes da página de rosto, com uma estampa de página inteira representando Cristo, preso e supliciado, com o manto, a vara e a coroa de espinhos, numa das cenas que antecedem a Via Sacra.
É a imagem conhecida popularmente por Senhor da Cana Verde, muito venerado em vilas e aldeias sobretudo do Norte do país, mas também referenciada pela designação mais erudita de Ecce Homo.
Na margem inferior pode ler-se Rouargue sc, sendo Rouargue o apelido de dois irmãos artistas, Emile Rouargue (1795-1865) e Adolphe Rouargue (1810 - 187?), nascidos em Paris, muito prolíficos na produção de gravuras, maioritariamente de paisagens.
Na página seguinte, protegida por papel de seda, vê-se um belíssimo desenho colorido à mão a emoldurar o título, lembrando-me uma iluminura, salvaguardadas as devidas diferenças, que aos meus olhos muito enriquece este pequeno livro.
Cada uma das partes intituladas Officios é introduzida por desenhos, geralmente com a cruz ao meio
Para além destas vinhetas, o livro conta ainda com mais duas gravuras, estampas de página inteira, também de autoria Rouargue, tendo uma como tema Maria e o Menino Jesus e a outra Maria e o anjo.
Não sei se terá havido outras gravuras de página inteira na obra. A verdade é que qualquer uma destas, embora pequena (5x7,5), faria um belo quadro se fosse emoldurada...