Em vésperas do Dia da Criança e na semana em que se assinalam os 50 anos da morte de Aquilino Ribeiro (1885-1963), efeméride muito pouco assinalada tanto quanto me apercebi, ocorreu-me trazer aqui uma das suas obras de literatura infantil, Romance da Raposa, uma leitura deliciosa para crianças e adultos.
As aventuras da raposa Salta-Pocinhas - raposeta matreira, fagueira, lambisqueira ou raposeta pintalegreta, senhora de muita treta - são narradas numa riqueza e vivacidade de linguagem e com um humor que terá pouco paralelo na literatura portuguesa do século XX. Com sequências de palavras a rimar entre si, tipo lengalenga, com uma musicalidade que enfeitiça qualquer leitor, miúdo ou graúdo, parece-me uma escolha muito acertada para pais ou avós embalarem as suas crianças com uma historinha ao deitar na caminha. Eles podem não entender grande parte do vocabulário, mas a sonoridade das rimas e a comicidade das situações serão suficientes para prender os miúdos às aventuras e artimanhas da Salta-Pocinhas, sempre esfomeada, e para quererem saber mais na noite seguinte...
As ilustrações a preto de Benjamim Rabier continuam a ser muito atraentes |
Só li este romance já adulta quando o meu pai o ofereceu à minha filha, porque na minha própria infância e adolescência nunca me tinha cruzado com ele, embora tivesse em casa à disposição vários outros títulos de Aquilino - o Malhadinhas, A Casa Grande de Romarigães, Maria Benigna... - que li mais tarde.
O Romance da Raposa, escrito por Aquilino para o seu filho, em 1924, vem na longa tradição de fábulas de animais, desde o longínquo Esopo da Grécia antiga, muitas com a raposa como protagonista.
O Romance da Raposa, escrito por Aquilino para o seu filho, em 1924, vem na longa tradição de fábulas de animais, desde o longínquo Esopo da Grécia antiga, muitas com a raposa como protagonista.
Em cima Fables de La Fontaine Illustrées |
E aqui entra uma edição das fábulas de La Fontaine (1621-1695) que comprei há anos, uma edição francesa do final do século XIX, infelizmente sem as páginas iniciais - pelo menos a página de rosto e as primeiras quatro páginas numeradas - intitulada Fables de La Fontaine illustrées, o título de capa, ou Fables choisies de La Fontaine, o título de topo de página.
Contém centenas de fábulas em verso, protagonizadas por humanos e por animais e em várias dezenas intervém a raposa. São doze livros encadernados num volume, com muitas ilustrações a preto e algumas a cores de página inteira, curiosamente todas estas ilustrando histórias com figuras humanas.
O velho e os três rapazes |
A leiteira e o pote de leite |
O moleiro, o rapaz e o burro |
Mas voltando à popularidade da raposa, também o grande J. W. Goethe (1749-1832) escreveu uma história em verso intitulada Reineke Fuchs (Reineke, a Raposa), destinada ao público infantil; e em contos tradicionais portugueses a astúcia e manha da raposa sempre surgiu como forma de nos ensinar a sermos espertos e nos precavermos contra certas habilidades... que são apanágio de muitos dos nossos semelhantes...
Há dois desses contos que estão gravados na minha memória, tantas vezes me foram contados e recontados enquanto criança: A Raposa e o Lobo em que como é habitual a comadre matreira sai a ganhar no que os dois combinam fazer em comum e A Raposa e o Mocho, sendo desta vez a raposa que sai enganada pelo sábio mocho. Tem um final com duas frases que retive até hoje :)
Há dois desses contos que estão gravados na minha memória, tantas vezes me foram contados e recontados enquanto criança: A Raposa e o Lobo em que como é habitual a comadre matreira sai a ganhar no que os dois combinam fazer em comum e A Raposa e o Mocho, sendo desta vez a raposa que sai enganada pelo sábio mocho. Tem um final com duas frases que retive até hoje :)
- Mocho comi! (grita a raposa vaidosa abrindo as goelas)
- A outro sim, que não a mim!!! (responde o mocho escapando-se da boca escancarada)
E daqui a mais um anito ou dois, o Gabriel vai ter muitas historinhas como estas para ouvir! E depois os primos, os irmãos... :))
E daqui a mais um anito ou dois, o Gabriel vai ter muitas historinhas como estas para ouvir! E depois os primos, os irmãos... :))