Eduardo Viana (1881-1967), O Homem das Louças, 1916 |
Hoje, segundo as estatísticas do blogger, o Arte, livros e velharias atingiu as 100.000 visitas.
Apesar de ser um número insignificante se comparado com outros sítios da internet - e tenho um exemplo muito próximo, o buscaonibus, um site de referência para transportes no Brasil, que atingiu 4 milhões de visitas em menos de quatro anos - não deixa de ser um feito para um blogue não comercial, que começou há menos de dois anos, de forma titubeante e pouco confiante, nas mãos de alguém que fazia a sua primeira aventura na blogosfera.
É portanto um marco a assinalar e decidi fazê-lo com um post diferente, partilhando obras de dois dos meus pintores portugueses favoritos - Amadeu de Souza-Cardoso e Eduardo Viana - escolhidas pela temática que tem muito a ver com o conteúdo do blogue.
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Amadeu de Souza-Cardoso (1887-1918), Sem Título (natureza-morta), 1910-11 |
A primeira, o quadro a óleo sobre tela de Eduardo Viana com o título O Homem das Louças, retrata uma figura popular quase desaparecida, numa postura muito natural de um certo abandono, com uma expressão que me parece indicar pouca azáfama de vendas (tempos de guerra, também tempos de crise...) Notável a mestria de Viana nos cambiantes de cor em formas geométricas, quer na roupa, quer no cenário. Segundo A Arte Portuguesa do Século XX, de Rui Mário Gonçalves, revela influências dos Delaunay no disco a formar o alguidar e nas peças de artesanato popular.
As outras duas são naturezas mortas, um tipo de pintura que para mim tem o atrativo adicional de me dar a apreciar interiores com mesas postas, loiças, vidros, jarras de flores e outros utensílios domésticos de eras passadas, em composições criativas através do olhar e do talento dos artistas plásticos.
As outras duas são naturezas mortas, um tipo de pintura que para mim tem o atrativo adicional de me dar a apreciar interiores com mesas postas, loiças, vidros, jarras de flores e outros utensílios domésticos de eras passadas, em composições criativas através do olhar e do talento dos artistas plásticos.
Adoro observar quais foram os objetos escolhidos para figurar na composição, porquê aqueles e não outros, a forma como foram dispostos, as cores, a incidência da luz, enfim apreciações de uma leiga na matéria que apenas se deixa seduzir por arte e beleza.
Visitei a Exposição da Gulbenkian "A Perspectiva das Coisas. A Natureza Morta na Europa nos séculos XVII e XVIII" - parte I e deslumbrei-me com aquelas telas, particularmente as mesas de festiva abundância da nossa Josefa de Óbidos. Lamento ainda hoje não ter ido ver a parte II, obras dos séculos XIX e XX de nomes como Gauguin, Picasso, Monet, Cézanne, Van Gogh, Matisse, Manet, Magritte... e os portugueses Eduardo Viana, Amadeu de Souza-Cardoso, Mário Eloy e Vieira da Silva, estes de mais fácil acesso para nós já que pertencem ao acervo do Centro de Arte Moderna da Gulbenkian. De qualquer forma, graças a este meio excecional que é a Internet, pude chegar a muitas dessas obras que lá estiveram expostas.
Uma delas é a natureza-morta Sem Título de Amadeu de Souza-Cardoso, com um pormenor que me enternece, a presença das três pequenas galhetas - ou serão pequenos bules?- com um ar muito Deco, no canto inferior direito. A serem galhetas, denotam a vontade de sair da norma, acrescentando mais uma ao par a que estamos habituados... Mas o agrupamento de três elementos, de flores e de folhas, mantém-se na jarra de flores logo ao lado. Depois acho estranhas as duas bananas poisadas, com uma folha que pouco tem a ver com as folhas de bananeira. Há de um lado o sino que nunca vi em naturezas-mortas e do outro a guitarra, esse sim um elemento muito usado pelos cubistas. E há o facto de serem duas mesas e não uma... enfim um sem número de perplexidades que nos desafiam a ficar a olhar... e a tentar descobrir...
Na natureza morta de Eduardo Viana, também presente na exposição da Gulbenkian, que ele intitulou K4 Quadrado Azul, (nome de um texto publicado por Almada Negreiros em 1916), para mim deslumbrante nas cores e nas formas, lá estão de novo temas cubistas como as guitarras e a palavra escrita e apercebemo-nos da proximidade com obras da mesma época de Amadeu de Souza-Cardoso.
E assim, com magníficas criações destes dois pintores modernistas portugueses, penso ter agradecido condignamente as 100.000 visitas que me fizeram e sobretudo aquelas que são acompanhadas de comentários, pelo estímulo constante que me têm dado.
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Vários conjuntos de três elementos idênticos |
Na natureza morta de Eduardo Viana, também presente na exposição da Gulbenkian, que ele intitulou K4 Quadrado Azul, (nome de um texto publicado por Almada Negreiros em 1916), para mim deslumbrante nas cores e nas formas, lá estão de novo temas cubistas como as guitarras e a palavra escrita e apercebemo-nos da proximidade com obras da mesma época de Amadeu de Souza-Cardoso.
E assim, com magníficas criações destes dois pintores modernistas portugueses, penso ter agradecido condignamente as 100.000 visitas que me fizeram e sobretudo aquelas que são acompanhadas de comentários, pelo estímulo constante que me têm dado.