domingo, 25 de maio de 2014

O velhinho "O Mosquito"








 Este volume e mais dois com igual encadernação devem constituir as memórias mais remotas que eu tenho de livros. Vistos assim, sobriamente encadernados, não serão muito atraentes a olhares infantis, mas ao abri-los, ao folheá-los, deparamo-nos com páginas e páginas ilustradas de banda desenhada, a capa sempre com desenhos a  cores e com  uma sucessão de personagens e suas aventuras que encantaram os meninos portugueses durante 17 anos. São as revistas de BD "O Mosquito" que saíram semanalmente ou bissemanalmente de 1936 a 1953.

O primeiro dos números encadernados neste volume



 Os números que assim estão encadernados em três volumes são dos anos 40, de Junho de 1943 a Dezembro de 1944, foram comprados pelo meu pai aos 13-14 anos - lá conseguia arranjar os 5 tostões duas vezes por semana - pelos vistos muito estimados e mais tarde encadernados por ele próprio.
O tipo de aventuras interessava sobretudo aos rapazes, mas havia temas de interesse para um leque de idades bastante alargado e por vezes também dirigidos às jovens leitoras.

Curiosidades diversas

Os galãs e divas do cinema da época

Para as raparigas ao estilo "faça você mesmo"

Na minha primeira infância era em geral com as histórias de Serafim e Malacuéco que o meu pai me distraía, mostrando-me as imagens e as cenas caricatas, mas não me dando margem para mexer ou estragar.


Para as minhas mãos vinha sim um outro volume, mais pequeno, que ele organizou em forma de caderno com os suplementos de "O Mosquito" destinados às meninas : "A Formiga" lançado em Setembro de 1943.


Anúncios da saída próxima de "A Formiga"

O meu estafado volume de "A Formiga"
Nunca tinha estado muito atenta às datas destes exemplares que possuo, pensava até que "A Formiga" era já do "meu tempo"... Imagino agora que foram revistas estimadas e guardadas durante alguns anos antes de eu nascer e depois encadernadas e carinhosamente partilhadas comigo. 
Gostava de saber mais pormenores, mas agora já é tarde para fazer perguntas...

Lindos  nas cores garridas e nos ingénuos desenhos
Resta-me folhear e apreciar estes atraentes repositórios de memórias longínquas e partilhá-los aqui como objetos de muito valor para mim... antes de mais sentimental, claro!







quinta-feira, 8 de maio de 2014

Um "nursery plate" com abecedário


Neste início do mês de Maio em que, entre outras coisas, se celebra a maternidade - por cá já aconteceu, mas em muitos outros países, incluindo o Brasil!!!, será no próximo domingo o que lá chamam Dia das Mães - lembrei-me de trazer aqui mais um nursery plate, este dos chamados ABC plates, ilustrado com uma ternurenta cena familiar entre mãe e filha.
Como já aqui expliquei relativamente a estes pratinhos ingleses de faiança, tratava-se de ofertas com que eram premiadas as crianças que tinham bom comportamento na Sunday School, ou seja, a catequese, na época vitoriana. 


O meu primeiro nursery plate


Eram fabricados nas Potteries, as localidades oleiras de Staffordshire, sendo o auge do fabrico entre 1820 e 1860, e ilustrados com os mais diversos motivos, mas quase sempre refletindo os valores e virtudes vitorianos, procurando incuti-los desde muito cedo nas tenras cabecinhas britânicas. 


Nursery plate ilustrando uma das "Máximas de Benjamin Franklin"


Os que tinham o abecedário a toda a volta da aba, como o exemplar que hoje aqui partilho, pretendiam  ainda, como é óbvio,  ajudar na iniciação dos meninos e meninas às primeiras letras.

O motivo central era estampado, frequentemente a preto, mas também a verde, azul, castanho ou vermelho, e depois avivado com retoques coloridos à mão. No prato de hoje vê-se que o desenho da gravura, embora simples, é razoavelmente cuidado, enquanto os retoques a cores, que o tornam certamente mais atrativo aos olhos infantis,  foram feitos à pressa, sem grande atenção, uma caraterística que é comum neste tipo de faiança.
Não havendo aqui qualquer marca que permita datar o pequeno prato, começou por ser  a observação  dos pormenores do penteado da mãe que me ajudou a situar o seu fabrico com mais precisão dentro da época vitoriana (1836-1907).




Cheguei assim ao período inicial do reinado da Rainha Vitória, os anos 40 ou 50 de oitocentos, altura em que se usaram os cabelos apanhados atrás e com risco ao meio, caindo de cada lado do rosto madeixas que cobriam as orelhas e eram também apanhadas mais atrás. Um bom exemplo deste estilo vê-se na protagonista do filme "O Piano" de Jane Campion, mas também a própria Rainha Vitória exibe um penteado semelhante num quadro em que aparece com o Príncipe Alberto, em 1841.


A jovem Rainha Vitória, em casa, com o Príncipe Consorte (imagem da Wikipedia)

A mãe vitoriana do meu prato usa ainda uma touca com rendas ou véu atrás, uma peça que à época era usada pelas mulheres casadas dentro de portas. Retrata-se aqui um mundo feminino, bem doméstico, a que não faltam dois cestos, um de costura junto ao cadeirão e outro em cima da mesa em frente à janela, que me parece pronto para que mãe e filha, cedendo ao apelo do jardim que se vislumbra pela janela aberta, se ataviem para irem até lá colher flores...
Entretanto, a abençoada internet pôs-me na pista do fabricante, ao encontrar no site thepotteries.org um ABC plate com a aba, incluindo o desenho das letras, exatamente igual a este. Ao contrário do meu, é um prato marcado com o nome do fabricante, Elsmore & Son, e ainda England, o que o data de 1872-1887. Acredito, sem quaisquer certezas, que o meu exemplar seja de uma fase anterior da firma, que dava pelo nome de Elsmore  & Forster entre 1853 e 1871.

O prato marcado Elsmore & Son, England



http://en.wikipedia.org/wiki/1840s_in_Western_fashion

http://www.oldandsold.com/articles01/article453.shtml

http://southroncreations.blogspot.pt/2012/01/snoods-or-nets.html

http://www.thepotteries.org/allpotters/386.htm