quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Cabeça de santo de roca?


Encontrámos esta cabeça de santo à venda na feira de velharias em Aveiro e, como gostámos da escultura e estava com um preço acessível, decidimos trazê-la para casa.
Quero crer que se trata de um santo de roca cujo corpo ou estrutura de armação, de madeira de inferior qualidade, tenha sido invadido pelos xilófagos e deitado fora.

Tem dimensões consideráveis - 22cm de altura e 16cm de diâmetro.
O meu marido já arranjou uma base mais ou menos cúbica, de madeira, que vai escurecer à cor do cabelo, para podermos expor a peça. Depois volto a mostrá-la aqui.
Para as primeiras fotografias, o pescoço foi enfiado num pequeno pote de cerâmica e até parece uma gola alta...(LOL)
Será um Santo António de Lisboa, assim imberbe e com ar de menino?
Confesso a minha ignorância nesta área de santos de roca, mas encontrei informação relevante num post com a etiqueta escultura, datado de 14/10/2009 do blogue Velharias, de que sou seguidora.



quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Os deliciosos "nursery plates"


Estes pequenos pratos de faiança, destinados às crianças, foram fabricados em Inglaterra, nas oficinas de Staffordshire durante o séc XIX.
Ao contrário do  que possa parecer, não se destinavam às refeições dos mais pequenos; eram sim prendas ou prémios oferecidos aos meninos e meninas que tinham bom comportamento na Sunday School, a escola dominical que nós chamamos catequese. Apresentam litografias com motivos muito variados, desde alegorias de virtudes, a cenas de histórias infantis, ilustração de provérbios, orações e máximas com fundo moral. Alguns também são chamados ABC plates porque mostram o abecedário à volta da aba.


Este foi o primeiro que encontrei, numa ida a Lisboa. Já não me lembro se foi na Feira da Ladra ou numa das feiras da Linha. Achei-o uma delícia e estava impecável, mas numa ida a Londres quis levá-lo para mostrar num Antiques Roadshow - aquelas feiras que a BBC transmite em que as pessoas levam peças para identificar e avaliar - e nas voltas pelo metro acabei por bater com ele e parti-o. Já está colado mas foi uma pena. Apresenta  como legenda Children in the Wood e tem a ver com uma história de crianças que andaram perdidas num bosque, o que foi um motivo recorrente também na faiança azul e branca (tenho um prato Davenport com o mesmo motivo).
 Deve ser dos anos 30 ou 40 do séc. XIX.


Este outro é a imagem da fidelidade, o cão fiel a olhar com doçura para a infeliz dona menina. Tem a particularidade de ter como legenda não só FIDELITY mas também 1851 EXHIBITION , referindo-se à Grande Exposição Industrial de 1851 em Londres. É certamente um dos produtos que foram especialmente fabricados para figurar nessa exposição.


Finalmente este, o maior dos três mas muito manchado, mostra uma cena ternurenta de uma criança deitada, com  dois anjos à cabeceira, e à volta, uma oração da noite. Diz o seguinte:

I lay my body down to sleep
Let angels guard my head
And through the hours of darkness keep
Their watch around my bed.

ou seja, em tradução um pouco livre para manter a rima,

 Deito o meu corpo para dormir
Que os anjos me velem à cabeceira
E durante as horas de escuridão
Façam vigília à minha beira.
Lindo, não é?

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Terrinas de faiança: Vilar de Mouros ou Alcobaça?...ou Coimbra?



Surgem por vezes, nas feiras de velharias, peças de faiança com um motivo de casa de montanha com arvoredo que são generalizadamente atribuídas a Vilar de Mouros.
Estas são desse tipo, mas o tom de azul plúmbeo que ostentam, o brilho do vidrado e alguns pormenores decorativos sugerem-me  fabrico da zona centro, séc. XIX/XX. Com efeito, vê-se em ambas as peças, não só um edifício ladeado de árvores, com parte da pintura a esponjados, mas também motivos geométricos tais como séries de linhas paralelas e, no segundo caso, quadriculados. As linhas paralelas, a formar losango, aparecem nas duas terrinas por baixo de cada pega.




A segunda terrina parece-me mais uma versão do chamado cantão popular com o edifício em forma de pagode, uma ponte à frente e uma figura do lado direito que parece segurar um guarda-sol.
Fundamentando-me no roteiro de uma exposição, realizada em 1992, no Museu de Alcobaça, diria que os tons de azul e os esponjados são de Alcobaça, fabrico de José dos Reis.




A imagem da capa apresenta o motivo da travessa que se mostra mais abaixo e que , tal como o prato, é  atribuída a José dos Reis. Se atentarmos no prato, vemos  algumas linhas paralelas a formar o céu com nuvens.  Mas essas linhas, assim como o quadriculado,  também aparecem na faiança decorada com o cantão popular, sobretudo nas peças da zona centro, nomeadamente Aveiro.
Por outro lado, não nos podemos esquecer que, ainda segundo aquele roteiro, José dos Reis era natural de Coimbra, tendo-se estabelecido em Alcobaça em 1875, à procura de maior facilidade de colocação dos seus produtos.
Será Coimbra o centro cerâmico de onde irradiaram todas estas formas? A verdade é que há quem mencione Coimbra como local de origem destas terrinas, dizendo que eram usadas para servir os estudantes nas casas onde se alojavam.
Estas duas foram compradas em dias consecutivos, uma na feira de Coimbra e a outra na feira de Aveiro, porque não conseguimos resistir à segunda que, por não ter tampa, foi baratíssima.
Não posso deixar de mostrar aqui um prato que vi num leilão da net, atribuído aVilar de Mouros. Parece-me ter um carácter mais minhoto, talvez pela cor garrida do verde - também já vi peças parecidas em rosa forte - pelo que podia ter sido feito no Alto Minho.


No entanto, a pintura a pinceladas fortes, tipo esponjados e sobretudo a borda estampilhada, fazem-no diferir muito dos exemplares apresentados por Artur de Sandão na sua obra de referência, Faiança Portuguesa, na página 168 do segundo volume.

domingo, 26 de setembro de 2010

Prato com putto da Fábrica Frankenthal


Comprei este prato na feira de velharias em Aveiro por 10€.
 Apesar da esbeiçadela, pareceu-me logo muito bom, pela decoração - as pequenas flores e o putto - que me sugeria o final do séc. XVIII. No entanto,  ao ver a marca a azul, um CT coroado, tal como o N coroado (Nápoles e outras) ou o D coroado (Dresden) pensei tratar-se de uma fábrica alemã do séc. XIX.
 Ao chegar a casa, recorri à minha pequena bíblia das marcas, Pottery & Porcelain Marks, de Gordon Lang, e descobri que é a marca da Frankenthal, uma das mais prestigiadas manufacturas de porcelana alemãs do séc. XVIII. Foi uma excitação!

A Porzellanmanufaktur Frankenthal laborou apenas durante 44 anos (1756-1800)  mas criou nesse período maravilhosos grupos escultóricos que rivalizavam com as sofisticadas figuras de Meissen.
A fábrica foi iniciada por Paul Hannong, que tinha possuído uma manufactura de porcelana em Estrasburgo, onde foi um dos primeiros, em França, a utilizar a fórmula da porcelana, mas foi impedido de aí continuar devido à protecção real dada por Luís XV à produção de Vincennes, mais tarde transferida para Sèvres. Hannong mudou-se para Frankenthal em 1755, depois de ter obtido a protecção do Eleitor da Baviera, Carl Theodor, para aí exercer a sua actividade. São deste último as iniciais que aparecem na marca a partir de 1762. Entre 1770 e 1788, aparece para além da marca uma numeração com dois dígitos, correspondente ao ano de produção. Assim, no meu prato aparece o nº 80, junto à orla da base, o que significa que foi fabricado em 1780.
Depois de todas estas emocionantes descobertas, fui procurar na internet outros pratos Frankenthal e ...Hellas!... apareceu-me um igual ao meu, com o putto sentado. Tem a mesma marca e o nº 81, portanto foi produzido um ano depois do meu.
Estava à venda pela módica quantia de $999 !!!

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Mosaicos hidráulicos na Curia



Encontrei este painel de mosaicos hidráulicos, que achei muito interessante, numa velha barbearia da Curia, a Barbearia Imperial, no edifício da Pensão Imperial.
Houve uma época, décadas de 20, 30 e 40 do séc. XX, em que as unidades hoteleiras da Curia usaram muito este tipo de pavimento. Além de se conseguirem belos efeitos decorativos, é um material muito resistente e portanto apropriado para locais de grande afluência de público.
Neste caso, parece que houve aproveitamento de restos de vários padrões, aplicados com alguma simetria, e assim se conseguiu uma bela amostragem dos mosaicos da época, talvez anos 30.
Tenho alguns mosaicos deste tipo que ostentam uma marca no verso, impressa no cimento - um coração com um P no meio - mas não faço ideia de onde terão sido produzidos.
 Soube recentemente que este material, caído em desuso nos últimos 50 anos a favor dos pavimentos de cerâmica, está  a ser de novo apreciado e utilizado na decoração de interiores, nomeadamente no Brasil.


quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A primordial fábrica de porcelana de Meissen

A descoberta da fórmula para o fabrico de porcelana na Europa deve-se aos esforços do eleitor da Saxónia, Augusto o Forte, ele próprio coleccionador de porcelanas.
Muitos príncipes europeus desde o séc. XVI, com a chegada dos primeiros navios portugueses a Lisboa carregados de riquezas orientais, viviam  deslumbrados com a beleza das porcelanas da China. Já antes chegavam porcelanas chinesas à Europa, através sobretudo do mercado árabe, mas nunca se tinha visto tanta quantidade e diversidade. Os membros da alta nobreza europeia passaram a coleccionar belos exemplares para os seus gabinetes de curiosidades mas ansiavam ter a sua própria produção. Instalavam pequenas manufacturas junto aos seus palácios, só que não conseguiam chegar à fórmula mágica da verdadeira porcelana - vítrea,  resistente, deslumbrante. Faltava-lhes um ingrediente fundamental, o caulino, que os chineses, certamente por acaso, já tinham descoberto e usado no fabrico de porcelanas desde o longínquo séc. VII ou VIII., de acordo com relatos árabes do séc. IX.
Finalmente, na primeira década do séc. XVIII, um químico, ou alquimista, ao serviço de Augusto o Forte da Saxónia, Johann Friedrich Böttger, descobriu e utilizou caulino nas suas experiências e pôde então fabricar a primeira verdadeira porcelana europeia. A manufactura foi instalada em Meissen em 1710, foi imitada por toda a Europa e produz porcelana até hoje. Em Portugal designa-se frequentemente por porcelana de Saxe.

Figure
Arlequim de Kändler, 1740
          



As espadas cruzadas de Meissen

 Esta é certamente a mais famosa marca de porcelanas, sujeita a falsificações    em toda a Europa, sobretudo durante o séc. XIX.  Há várias versões mas todas muito semelhantes.
No primeiro período de fabrico, primeira metade do séc. XVIII, utilizaram-se outras marcas em peças especiais: AR - Augustus Rex e KPM - Königliche Porzellan Manufaktur (Real Manufactura de Porcelana) sobre as espadas, a atestar a ligação ao poderoso eleitor da Saxónia.
Curiosamente também estas duas marcas foram falsificadas no séc. XIX, sendo a falsificação mais conhecida a da oficina de Dresden de Helena Wolfsohn, que utilizou o AR em muitas das suas peças até ser impedida de o fazer por uma acção movida pela fábrica de Meissen.



Este pires, em perfeito estado de conservação, é igual a um dos meus pequenos tesouros que foi comprado numa feira de rua em Viena de Áustria, por apenas 10 euros porque tem duas esbeiçadelas. A marca que tem no verso é a nº 5, a que tem uma estrela entre as espadas. Corresponde ao chamado período Marcolini  de finais do séc. XVIII.

                                 

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Noite de estreia

Cá estou eu no mundo dos bloggers.

Aqui vou dar expressão aos meus gostos, opiniões e anseios, sobretudo quanto à necessidade de valorizar e preservar objectos e locais que hoje estão fora de moda ou já não cumprem a  função para que foram criados. São pedaços de história social, local ou nacional, testemunhos de vidas passadas cujo conhecimento ajuda a montar o puzzle da reconstituição histórica mais geral.
Gosto de arte, de artes plásticas e de artes decorativas, mas são sobretudo as artes decorativas, e destas a cerâmica nas suas variadas formas - faiança, porcelana, azulejaria- que me despertam interesse e paixão.
Os livros são outra paixão. O objecto livro em si, sobretudo o livro antigo, impresso ou manuscrito, tem para mim um encanto muito especial mas tem sido dolorosamente maltratado e destruído.
Também me dá muito prazer decifrar e transcrever textos manuscritos, como as Memórias Paroquiais de 1758, que a Torre do Tombo colocou online e assim se me torna fácil aceder-lhes.
Espero que este espaço virtual me permita a troca de conhecimentos com pessoas que tenham os mesmos gostos e interesses e que se dêem ao trabalho de ler e de comentar os meus textos.