quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A "História Natural" de Buffon


O livro de hoje, o de cima na foto, é apenas um volume de uma obra enciclopédica escrita pelo naturalista francês George-Louis Leclerc, Conde de Buffon (1707-1788), com alguns colaboradores, ao longo de quase cinquenta anos.


Comprei-o há uns anos a um vendedor do Norte na feira de velharias da Mealhada e na altura ele trazia vários volumes da obra, mas como achei que os estava a vender caros (afinal, sei agora, até não estava...), fiquei só com este, na esperança de lhe comprar outros em feiras posteriores. A verdade é que nunca mais o vi e passado algum tempo também não seria capaz de o reconhecer. 
É essa para mim a principal desvantagem das feiras de velharias: embora haja muitos vendedores habituais que até já conhecemos pelo nome, aparecem outros que depois nunca mais vemos...
O livro antigo começa por me atrair logo pelas encadernações, geralmente em couro, aquele trabalho moroso e artesanal com aquelas aplicações a ouro que os tornam para mim verdadeiros objetos de culto.
O titulo completo deste é Histoire naturelle générale et particulière, avec la description du Cabinet du Roi, mas este 11º volume, um dos que são dedicados às aves, tem como título Histoire naturelle des oiseaux.
Pertence a uma edição de 36 volumes - 28 de Buffon e 8 do seu colaborador Lacépède -  e como se vê na página de rosto, foi impresso em Paris, na oficina de impressão régia, em 1780.


A edição original da obra completa, que incluía quadrúpedes, pássaros e minerais, foi sendo dada à estampa de 1749 a 1789 , tendo o último volume dos 36 da autoria de Buffon que formam essa edição, sido publicado já um ano depois da morte do autor. A obra foi depois continuada com mais 8 volumes da autoria de Lacépède, totalizando 44 volumes.
Buffon foi um dos principais naturalistas do século XVIII e as suas ideias evolutivas, embora limitadas e tendo o cuidado de não afrontar muito as convicções cristãs, vieram a ter continuidade já no século XIX com Lamarck e culminaram depois com Charles Darwin e a sua publicação dessa obra maior, considerada por alguns como um dos dez livros que abalaram o mundo, que foi  A origem das espécies (On the origin of species by means of natural selection)
Só neste volume da História Natural das Aves, Buffon faz a descrição de quase 200 espécies de aves, o que torna a obra um verdadeiro tesouro para ornitologistas.
Contém 15 gravuras de aves, na maioria exóticas, a partir de desenhos da autoria de Jacques de Sève que exerceu o seu ofício de pintor e ilustrador de 1742 a 1788.
Todas estas estampas representando animais, neste caso aves, mostram as suas caraterísticas anatómicas desenhadas com rigor, mas apresentam fundos paisagísticos idealizados.



                                                                                    

Curiosamente, sendo os desenhos todos do mesmo artista, o trabalho de gravação foi entregue a vários gravadores, tendo, no entanto, a maioria saído da oficina de M. R. veuve Tardieu, sobre a qual não encontrei qualquer  informação.

Pormenor do corte e dos desenhos dourados a ferros nessa zona da capa e contra-capa
                    




terça-feira, 25 de outubro de 2011

Taças de chá holandesas - Dutch tea bowls


Como o Outono acaba de chegar aqui, e já com um mês de atraso, diga-se, escolhi para o chá desta semana - com Tea Cup Tuesday e Tea Time Tuesday -  um par de taças de chá em cores outonais.
As Autumn has just arrived here, already a month late, one must say, I chose for this week's tea, - with Tea Cup Tuesday and Tea time Tuesday - a pair of tea bowls in autumnal colours.



Lá fora, através da janela, vê-se o dia cinzento, que já convida ao conforto do calor caseiro e do chá  a sair bem quente do bule.
Outside, through the window, one can see the grey day, which already invites you to the coziness of home warmth and of the very hot tea being poured from the teapot.


Estas tacinhas são em faiança, do fabricante holandês Petrus Regout, um industrial bem sucedido do século XIX, estabelecido em Maastricht, que fabricou muitas faianças ao estilo inglês e também copiou muitos motivos orientais.
These tea bowls are earthenware, by the Dutch maker Petrus Regout, a successful 19th century factory owner, established in Maastricht, who produced English style earthenware and also copied many oriental motifs.


No tardoz  dos pires a marca deste fabricante, com a bem conhecida esfinge, é acompanhada do nome do padrão decorativo "FLORA" que foi registado em 1879. Como não aparece a inscrição Made in Holland e nem sequer o nome do país, sou levada a supor que estas minhas peças datam do período 1879 -1891.
On the back of the saucers, the maker's mark, with the well-known sphinx, is accompanied with the name of the pattern, "FLORA", which was registered in1879. As one can't see the inscription Made in Holland, not even the name of the country, I'm led to suppose that these items of mine date from the period 1879-1891.


O jarrão com flores, sobretudo peónias, da decoração central revela nitidamente inspiração oriental, chinesa, aliás também visível nas reservas quadriculadas da aba e na repetição dos motivos florais, muito ao estilo das porcelanas comercializadas pelas Companhias das Índias Orientais, sobretudo a inglesa e a holandesa.
The vase with flowers, mainly peonies, of the central decoration clearly reveals oriental inspiration, Chinese, also visible in the checked reserves of the border and in the repetition of the floral motifs, very much in the style of the porcelains that the East Indian Companies traded, mainly the English one and the Dutch one.




Estava-me a esquecer de mencionar que a decoração de todas as peças tem aplicação de lustrina, seguindo uma moda muito presente na faiança fina do século XIX, pelo menos na produção inglesa, que conheço muito melhor que a holandesa.
I was forgetting to point out that the decoration of all pieces has lustre application, following a fashion that was very much present on earthenware in the 19th century, at least in English production, which I know much better than the Dutch one.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Prato de Sacavém com cena campestre



Comprei este prato de Sacavém, já lá vão uns bons anos, em primeiro  lugar pela raridade do motivo, numa policromia alegre e decorativa.
Habituada aos motivos monocromáticos que sempre conheci em casa dos meus avós - o Estátua, o Metz, o Reino, o Rio ou mesmo o Chinez com apenas três cores - e também o formato Espiga que a minha mãe usava na minha infância, achei esta decoração muito diferente de tudo o que eu conhecia da Fábrica de Sacavém. 


A estampa, como a maioria das usadas por Sacavém, deve ter sido importada de Inglaterra, mas mostra uma cena que podia ter sido captada há cem anos numa qualquer zona rural lusa, não fora aquele tipo de telhado de colmo muito inclinado e o toucado na cabeça da mulher a apontar para outras paragens.


Uma outra curiosidade do prato é o facto de apresentar duas marcas: a típica marca Gilman & Comandita de Sacavém e uma outra que é um malmequer verde e eu não sei o que representa.
Para além deste prato, só vi esta marca, nesse caso sem mais nenhuma outra, numa infusa que tenho em pó de pedra sem qualquer decoração.
Será que alguém conhece este motivo ou a marca a verde que me causou perplexidade?

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Porcelana de Macau para um chá em família- Macau porcelain for a family tea

Embora um pouco atrasada devido a problemas de ligação à internet, esta semana vou mais uma vez participar nas atividades ligadas ao chá de TEA CUP TUESDAY e TEA TIME TUESDAY.
Although a bit late due to internet connection issues, this week, once again, I'm joining the tea related events of TEA CUP TUESDAY and TEA TIME TUESDAY.    
                     
                                                        
Numa das últimas vezes em que preparei um chá para a família em versão reduzida - éramos cinco mas um ainda não bebe chá :) - fui buscar este serviço de porcelana com marca chinesa acompanhada das palavras Fabricado em Macau.
In one of the last times I prepared tea for the family  in a short version - there were five of us but the little one isn't a tea drinker, yet :) - I went to fetch this porcelain tea set with a Chinese mark accompanied with the words "Fabricado em Macau" (Made in Macau).



Deve haver poucas famílias portuguesas que não tenham em casa pelo menos uma peça de porcelana com esta inscrição, que deixou de ser usada a partir do ano 2000, data em que Macau passou para a posse plena da República Popular da China.
There must be few Portuguese families who don't own at least one china piece bearing this inscription, which ceased to be used from the year 2000, date at which Macau (or Macao) went into full possession of the People's Republic of China.

           

Este serviço, com uma pintura à mão que não é propriamente um primor, tem para mim dois atrativos:  foi decorado com flores orientais numa paleta Imari em tons muito intensos- azul cobalto, vermelho ferro e dourado - que me agrada particularmente e  tem essa marca indissociável da história portuguesa que é o facto de , tendo sido fabricado em território chinês, ter aquelas palavras, Fabricado em Macau, escritas em português.
This hand-painted set has a  double  attraction for me: it was decorated with oriental flowers in an Imari pallette in very intense colours- cobalt blue, iron red and gold - which delight me, and it bears that backstamp one can't separate from the Portuguese history which is the fact that, having been made in Chinese territory, it bears those words "Fabricado em Macau", written in Portuguese.




Vem a propósito lembrar que  o território chinês de Macau, durante quatro séculos e meio sob administração portuguesa, foi não só o primeiro entreposto comercial europeu em solo chinês, mas também  a última colónia europeia na Ásia.
By the way, I like to remember that the Chinese territory of Macau, under Portuguese administration for four and a half centuries, was not only the first European commercial settlement on Chinese soil , but it was also the last European colony in Asia.
Foi naquele porto situado no delta do Rio das Pérolas, que, a  partir de meados do século XVI, foram embarcadas para Lisboa e dali para o resto da Europa, as primeiras porcelanas Ming e Kangshi que deslumbraram os europeus. É por isso um nome bem conhecido dos amantes de porcelana, sejam ou não portugueses.
It was from that harbour, in the  Pearl River Delta, that  around  the middle of the 16th century the first Ming and Kangshi porcelains were shipped to Lisbon and from there to the rest of Europe, and so much  amazed the Europeans. 
Macau is therefore a well-known name for porcelain lovers, whether they are Portuguese or not.



Para além da porcelana, há nesta mesa de chá uma outra vedeta que é a colher de açúcar ou de compota, em casquinha alemã, com decoração de rosas.  Aqui foi usada para servir compota de ameixa caseira.
 Besides the china , there is another star on this tea table - the sugar or jam spoon, made of German silverplate, with rose decoration. I used it here to serve a homemade plum jam.



Comprei-a por meia dúzia de euros há cerca de um mês em Lisboa, na Feira de Belém, porque adorei a peça, mas também  motivada pelas peças da coleção que a Johanna do blogue Silber+Rosen costuma mostrar nos seus chás de terça-feira. Há muitos fabricantes alemães deste tipo de talheres, em prata ou em casquinha, o que permitiu à Johanna não só reunir uma magnífica coleção, mas  também ter publicado um livro sobre o assunto, intitulado "Rosen-Bestecke"(talheres de rosas).
I bought it for half a dozen euros, about a month ago, at a street fair in Lisbon, because I loved it, but also motivated by Johanna's collection that she usually shares in her blog Silber+Rosen in Tuesday tea parties.
There are a lot of German makers of this kind of silverware, both in silver and in silverplate, which allowed Johanna to gather a wonderful collection and also to publish a book on the subject , entitled "Rosen-Bestecke".



Como acontece com a maioria dos serviços de chá, este não dispõe de pratos para bolo, e por isso servi o meu brioche, a  que acrescento nozes e passas e toda a gente adora, em pires do serviço, já que são relativamente grandes.
As usual with most tea sets, this one doesn't  include cake plates and so I served my "brioche" with walnuts and raisins, which everyone loves, in saucers of the tea set, as they are a reasonable size.


Nesta fotografia vê-se bem a translucidez quase transparente da chávena em porcelana casca de ovo, tão caraterística do fabrico chinês e japonês a partir do século XIX.
In this photo one can see the translucent, almost transparent egg-shell porcelain of the cup, so characteristic of Chinese and Japanese production from the 19th century onwards.


No fundo das chávenas vêem-se gravados aqueles rostos de chinesinhas  que faziam as minhas delícias em miúda.
On the bottom of the cups one can see those lithophanes of Chinese women's faces, which were a delight for me as a kid.




quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O motivo Faisão ou Asiatic Pheasants em faiança portuguesa


O motivo Faisão, ou em inglês, Asiatic Pheasants, é um dos padrões decorativos mais utilizados na faiança inglesa pelo método de transfer-print, em geral a azul e branco. Em popularidade deve estar a seguir ao Willow - por cá, denominado Chorão - contando-se às dezenas os fabricantes que o reproduziram.
Assim, não é de admirar que tendo as nossas fábricas de faiança fina sido dirigidas por nomes ingleses como  Howorth, Gilman, Stringer, Wall ou MacLaren este fosse um dos motivos decorativos preferidos também por cá.


O primeiro prato que tive deste motivo, um prato de jantar com a marca muito desvanecida,  deixou-me na dúvida se seria português ou inglês.
Lá estão os dois faisões, um de cada lado do motivo floral ao centro, e a decoração floral da aba, com remate em fita  e o ligeiro recorte à volta. 


Entretanto, por comparação com outros exemplares, apercebi-me que o tardoz de círculos concêntricos  e o recorte da aba são muito típicos de Sacavém e comecei a reconhecer naquela marca tão sumida o formato de marcas anteriores ao período Gilman. A forma como se abrem em meio leque as penas da cauda do faisão à esquerda também é recorrente nas peças de Sacavém.


O segundo prato de jantar deste motivo, numa faiança grossa e pesada, tem as iniciais FA junto de uma marca tipicamente inglesa, com um tipo de design a que eles chamam "scroll mark". Fartei-me de correr na internet listas de fabricantes ingleses de "Asiatic Pheasants" mas as iniciais FA é que não apareciam em  nenhum deles.


Finalmente, há pouco tempo, num post do blogue "A Fábrica de Louça de Alcântara" do Mercador Veneziano, fez-se luz: FA significa simplesmente Fábrica de Alcântara e eu tinha em casa mais um portuguesíssimo prato, provavelmente do final do séc. XIX, com esse motivo de origem inglesa.


Este prato de sobremesa de Sacavém, com marca que o data de 1894-1902, foi comprado há pouco tempo por um euro, partido e mal colado, para ensaiar o processo de descolagem e posterior colagem com a cola recomendada pela Sandra Pena.


Apesar das fraturas que apresenta, acho-o muito bonito, não só pela tonalidade avermelhada, mas porque neste caso o desenho da estampa, diferente das anteriores, é mais leve, deixando muita superfície branca à vista. Daqui se pode concluir que a fábrica de Sacavém usou mais do que uma estampa com o motivo Faisão, tal como usou várias com o motivo Estátua, ou popularmente Cavalinho, também este importado de Inglaterra, onde é conhecido por Grecian Statue.


Deixei para o final a melhor peça do grupo, desta vez da Fábrica de Massarelos, uma bacia de lavatório produzida durante o período MacLaren, por volta de 1900.
Foi-me enviada por uma amiga, que a desencantou na casa de família em Trás-os-Montes, e a quis partilhar comigo, e agora também convosco.
No motivo central, reproduzido na primeira fotografia deste post, para além de dois elegantes faisões, aparece ainda uma borboleta, elemento que não conhecia neste tipo de estampa. Devia ser reservado às peças de maiores dimensões.


Também esta é uma decoração mais limpa, desafogada, onde se pode apreciar bem a beleza do motivo, de influência oriental, como o próprio nome indica. A decoração alarga-se ao exterior da caldeira, com o motivo floral, o que enriquece muito a peça.


Aqui a marca com o nome do padrão decorativo, Asiatic Pheasant (neste caso no singular) e o nome da firma MacLaren & Cº.  Se não fosse a presença do carimbo de Massarelos gravado na pasta, poderia perfeitamente passar por marca de fabricante em território britânico.
Agradeço muito a esta amiga pela partilha, que acabou por servir de motivação para este post e o enriqueceu com as belas imagens da sua peça.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Castelo Branco, o Museu Cargaleiro e os Ratinhos


Fui este fim de semana visitar o Museu Cargaleiro em Castelo Branco e fiquei maravilhada.



A Fundação Cargaleiro dispõe agora ali de dois edifícios: um palacete do século XVIII, onde funcionava o museu, e um edifício novo, construído de raiz, inaugurado em Julho deste ano.
Este, assente em socalcos, ficou muito bem integrado no casario da zona histórica de Castelo Branco,  estando os  quatro pisos construídos em três patamares ou terraços que lhes dão acesso a partir da rua.


Confesso que o que me levou lá foi a coleção de faiança ratinha de Manuel Cargaleiro, que eu sabia estar ali exposta, no palacete do séc. XVIII, e foi por aí que começámos a visita. Infelizmente o catálogo ainda não estava disponível e como se não pode tirar fotografias, fiquei sem imagens da coleção para aqui partilhar.
Estão ali várias dezenas de exemplares de pratos, alguidares e palanganas, produzidos ao longo de todo o século XIX e representando as várias famílias decorativas desta faiança rústica coimbrã, que estão assim classificadas: Pré-ratinhos (Brioso), Covo despojado, Figuração humana, Figuração zoomórfica, Penas de Pavão, Flor central, Flor lateral, Vegetação exuberante, Decoração fracionada, Decoração irradiante e Arquitetura.


Um dos últimos Ratinhos que comprei, um alguidar, que penso poder incluir-se nos de decoração irradiante.

Este tipo de informação acompanha a exposição em textos murais e há ali dados muito relevantes para apreciadores e colecionadores, que eu espero venham a integrar o catálogo.Para além das faianças Ratinho, há uma sala com um conjunto de magníficos exemplares de faiança trianeira, isto é, produzida no bairro de Triana, Sevilha, em época contemporânea dos nosso Ratinhos e com uma paleta de cores semelhante.







Entrando-se por esta porta do novo edifício, podemos apreciar obra cerâmica contemporânea, não só de Manuel Cargaleiro que nesta área se notabilizou sobretudo em Itália, trabalhando em Vietri Sul Mare,  mas também de outros ceramistas notáveis encontrando-se ali, por exemplo, três obras cerâmicas de Picasso.  
Há peças em Raku, em Celadon francês (as minhas preferidas), belíssimas garrafas em porcelana, também francesas, e muitos outros tipos de cerâmica artística de autores que me eram desconhecidos.
A obra pictórica de Cargaleiro é bastante mais conhecida do que a cerâmica e também ali se encontram telas de vários dos seus períodos artísticos e também duas magníficas tapeçarias feitas a partir de cartões da sua autoria.
À saída, deambulando por aquelas ruas estreitinhas da encosta do Castelo, encontrámos muitos motivos de interesse nas cantarias de granito que guarnecem portas e janelas e, essas sim, já pude fotografar à vontade...
Vale muito a pena fazer uma viagem com destino a Castelo Branco!!!

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Galheteiro em faiança de Estremoz(?)




Gosto de galheteiros. Quer sejam em vidro, em cristal, em porcelana ou em faiança, são sempre peças airosas com vários componentes de pequenas dimensões e eu, pelo menos em objetos, partilho com os britânicos a opinião de que "small is beautiful".
Não tinha nenhum de faiança mas neste verão comprei quatro, não de uma assentada só, mas de duas assentadas :) . 

Foram todos comprados ao mesmo vendedor em duas feiras de velharias. Deve ter sido um lote que ele  comprou com defeitos e por isso ficaram a preços razoáveis. Este foi o mais caro apesar de ter dois enxertos em vez das asas originais e  restauros nas tampas.




Apresenta aquele tipo de decoração que se identifica como Estremoz e se for essa a origem, será que é anterior a 1808, data do fecho da Fábrica Viúva Antunes, ou terá havido ali outras unidades cerâmicas que continuaram este tipo de produção? 
Aqui vemos os típicos rochedos a manganés em primeiro plano, elementos vegetalistas de folhas e flores, e uma casa sugerida por linhas amarelas verticais, horizontais e oblíquas, como também é típico nestas decorações de paisagens.


Uma outra hipótese, atendendo à decoração, é ser da Real Fábrica da Bica do Sapato em Lisboa, encerrada por volta de 1820, cujas peças também apresentam muitas vezes este tipo de paisagens.
Mas ainda para baralhar mais as coisas temos as nossas faianças do Norte, com a proliferação de unidades fabris que já conhecemos, tendo algumas copiado modelos de outras, vizinhas ou distantes...


Assim, sem marca - há apenas umas marcas a verde numa das bases das galhetas, mas penso que serão marcas de pintor ou ensaios de cor para a pintura -  fica sempre a dúvida, mas gosto de acreditar que tenho em casa um galheteiro de Estremoz. E bem bonito, diga-se.
Acho encantadoras não só a pega com as suas aletas mas as próprias conchas que servem de saleiro e de pimenteiro com aquela espiral no meio. Já vi outros galheteiros com estes concheados atribuídos a Estremoz.

E agora, mais uma vez tenho que agradecer a colaboração da colecionadora de faianças já nossa conhecida que, sabendo que eu tinha comprado um galheteiro deste tipo, se dispôs a enviar-me fotografias de um seu exemplar muito parecido, atribuído a Estremoz.
Elas aqui estão, de uma belíssima peça, muito bem fotografada como já nos habituámos a ver nas fotos desta nossa amiga.


Começo por salientar a semelhança dos dois galheteiros no formato da pega com aquelas curvas e contra-curvas, as chamadas aletas em linguagem técnica. A tampa da galheta também é idêntica, quer na forma, quer na decoração.


Ao contrário das galhetas de outros galheteiros que apresentam a linha do bojo quebrada - como exemplo, há dois mostrados pelo LuísY do Velharias num post de Janeiro deste ano - nestes o bojo das galhetas é arredondado, numa linha curva contínua até ao pé.
As paisagens num e noutro galheteiro têm os mesmos elementos base.

     

Aqui admiro o belo perfil da galheta com a sua elegante asa original.


À exceção do saleiro e do pimenteiro, com as deliciosas tampas ainda intactas, todas as formas da base são idênticas nos dois galheteiros, mas não a decoração.

Para terminar, mais duas galhetas soltas da nossa colecionadora, das tais com o bojo em linha quebrada, uma com faixa azul e outra com faixa rosa.




São ou não são um encanto? A mim parecem-me miniaturas destinadas a brincadeiras de crianças :).
Espero que tenham gostado de apreciar estas belas peças de faiança portuguesa.