segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Uma peça diferente...

 Esta é uma das minhas últimas aquisições, mais uma vez, como quase sempre, numa feira de velharias, desta feita em Aveiro. Muito suja, no meio de muita tralha e com duas esbeiçadelas na base, muito poucos euros chegaram para a trazer para casa.
Para além de ser uma peça diferente na decoração, intrigou-me a sua funcionalidade e além disso tinha várias marcas que me convidavam a descobrir-lhe a origem.
Aquela espécie de crivo ou escorredor, que tem no fundo, fez-me pensar inicialmente nas salvas para escorrer copos de aguardente como já tenho visto em faiança portuguesa, sendo o mais bonito que vi até hoje o que a Maria Paula apresentou num post de Novembro passado. No entanto, o facto de o fundo não ser plano fez-me descartar essa hipótese.


Também me pareceu demasiado requintado para se destinar apenas a lavar legumes para saladas ou frutas, na cozinha.  Parece-me mais uma peça de ir à mesa, nem sei se faria parte de um serviço completo.


Poderá ser um escorredor ou uma saladeira com esta engenhosa maneira de evitar que os legumes fiquem ensopados no molho, no fundo da taça.
A base em que assenta tem o mesmo diâmetro que é o  de um vulgar prato raso.

A marca que se vê no verso do prato que serve de base, um escudo a azul com uma rosa no interior, encimado pelas iniciais RMR de Roesler, Max, Rodach (não RVR como julguei de início), foi a primeira marca usada pela companhia de Max Roesler que se instalou na pequena cidade de Rodach, na Baviera , Alemanha,  em 1894. Iniciou a produção de porcelana e faiança  em 1895 e usou esta marca até 1910.


Acho o verso  muito bonito neste tom creme sem os dourados com os pezinhos em V muito delicados.


O motivo recortado neste dourado baço, lembra-me uma árvore da vida, com o tronco ao centro e os ramos a estenderem-se para ambos os lados.
Tem uma certa semelhança com as linhas vegetalistas ondulantes da estética Arte Nova e de repente, por associação de ideias, veio-me à mente a Casa da Secessão em Viena de Áustria, com a sua cúpula de folhas dourada  e o painel dourado sobre a entrada. Tanto este movimento austríaco como o Jugendstil na Alemanha são paralelos e estão muito próximos da corrente estética Arte Nova, termo mais conhecido por cá.


Gustav Klimt foi um dos nomes grandes do Secessionismo austríaco e aqui vemos a sua Árvore da Vida, não sendo certamente por acaso, ou por delírio da minha mente, que vejo coincidência no motivo entre a minha peça alemã e esta pintura de Klimt.
A minha peça foi produzida num período que corresponde ao auge destes movimentos e a cidade de Rodach, no centro sul da Alemanha, estava muito próxima das manifestações artísticas que seguiram essas correntes...

Casa da Secessão, Viena
A divisa do movimento a encimar a entrada
"Ao tempo a sua arte, à arte a sua liberdade"




P.S.  O Fábio Carvalho do Porcelana Brasil, no seu comentário, deixou o link http://rosenreslitraum.blogspot.com/2010/12/durchbruchmuster-max-roesler.html de um blogue alemão, onde se podem ver outras peças deste género de Max Roesler.
A Fabby de Fabby's Living deixou a informação de que se trata de um escorredor para lavar frutas como uvas e morangos. Faz todo o sentido porque assim poderão levar-se à mesa,  a escorrer para o prato.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Chávena e pires "trembleuse" com cenas de Watteau - "Trembleuse" cup and saucer with Watteau scenes

Nesta terça-feira de Tea Cup Tuesday e Tea Time Tuesday vou participar com uma chávena e pires "trembleuse", de porcelana alemã, mais propriamente da oficina de Helena Wolfsohn em Dresden, que decorou porcelana ao estilo rococó entre 1843 e 1883.


Comprei este conjunto na feira de velharias de Coimbra, ao fim de vários meses de namoro porque  o preço estava bem acima dos meus gastos habituais, numa altura em que não ousava tanto nas compras, mas também por ser uma peça cara tive a sorte de não ter sido vendida entretanto.


A verdade é que esta chávena e pires  para chocolate, mas que também pode servir para chá, com a vantagem de ter a tampa e assim manter a temperatura, atraía-me irresistivelmente por várias razões: nunca tinha visto uma trembleuse deste tipo ao vivo e a cores; a marca era minha conhecida,  sabia que havia uma original e uma  falsificada, por isso tinha alguma noção do que se tratava;

tinha as cenas românticas pintadas à mão como a restante decoração e um azul ou verde água que me fascina; era para mim novidade a delicada grade no pires, com o encaixe para a chávena; a tampa, com a pega em botão de rosa dourado, era um extra cheio de encanto e tornava-a diferente de todas as chávenas que tinha tido até então.
No entanto, estava (e ainda está) partida e mal colada numa zona da grade, o que a juntar ao preço, me fazia hesitar.
Bem, resumindo e concluindo, acabei por a comprar com uma pequena redução no preço e a partir daí já comprei outras peças da mesma cor, decoração e fabrico.
Para além dos modelos com grade ou com murete, há outros com um poço no centro do pires, onde encaixa a chávena.


As chávenas e pires "trembleuse", o termo francês adoptado para estes modelos a partir do verbo trembler, ou seja,  tremer, foram muito fabricadas e usadas no século XVIII, por Meissen, Sévres, Berlim, Worcester... mas continuaram a aparecer ao longo do século XIX. Destinavam-se obviamente a dar estabilidade à chávena quando segurada por mãos que tremiam, pela idade, pela doença... ou pela emoção!!!
Ao longo do século XIX esta também foi uma opção muito adequada para servir bebidas quentes nas viagens de longo curso, quer por via férrea, quer nos grandes transatlânticos que tantas vezes enfrentavam a agitação dos mares...


Num dos primeiros posts deste blogue, que dediquei às porcelanas de Meissen, a primeira porcelana europeia de pasta dura, fiz referência às fasificações a que foi sujeita a famosa marca das espadas cruzadas e também outras marcas usadas nos primeiros tempos de fabrico, a segunda e terceira décadas do século XVIII.


Uma delas, o monograma AR das iniciais de Augustus Rex, reportando-se ao Eleitor da Saxónia Augusto o Forte em cujo palácio a fábrica foi instalada, foi usada nessas primeiras décadas de produção apenas nas peças especiais de encomenda real. 
Na segunda metade do século XIX, houve uma oficina ou estúdio artístico em Dresden, conhecido pelo nome da artista de pintura em porcelana, Helena Wolfsohn, que a certa altura resolveu utilizar o AR a azul,essa marca especial de Meissen, para marcar as suas peças. Conseguiu fazê-lo durante algum tempo até que a manufactura de Meissen, a KPM, lhe levantou um processo e pôs fim a essa falsificação ou contrafação como lhe chamariamos hoje.


A mesma oficina tinha utilizado anteriormente como marca o D de Dresden encimado por uma coroa a azul.
A partir destes factos conhecidos consigo datar este exemplar entre 1870 e 1880.
As cenas galantes de Watteau (1684-1721), foram  popularizadas em porcelana ainda no século XVIII, mas mais ainda com o revivalismo romântico oitocentista. Continuaram a inspirar muitos artistas da porcelana durante o século XX, o que se pode ver, por exemplo, na produção de Limoges.

domingo, 21 de agosto de 2011

Azulejos publicitários na Figueira da Foz

Os primeiros dois painéis de azulejos que aqui apresento podem ver-se nas paredes que ladeiam a entrada sul do Mercado Engenheiro Silva na Figueira da Foz.
É a entrada que dá para o rio e era em frente que se situava o porto de pesca que hoje deu lugar à marina.



À vista nenhum dos painéis está marcado ou datado, mas são obviamente da Fábrica de Sacavém que assim publicitou a sua produção de faiança fina e ao mesmo tempo a produção de azulejos.
A avaliar pelos modelos da loiça representada e pelo próprio design do primeiro painel, muito ao estilo Arte Deco, terão ali sido colocados nos anos 30 ou 40 do século XX e isso mesmo me foi confirmado em conversas que tive com alguns vendedores mais antigos do mercado, inaugurado ainda no século XIX, como se pode ver na entrada principal do lado do jardim público.

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Um dos vendedores,  nascido em 1947, por ali criado já que herdou o negócio dos pais, disse-me que sempre ali conheceu os azulejos, por isso teriam que ser anteriores à década de 50.  Causa-lhe alguma estranheza - e a mim também - terem sido  colocados na entrada à época reservada aos abastecimentos do mercado e não utilizada pelo público em geral. 
Depois falei com uma vendedora, a Sra Leopoldina, nascida em 1934, filha e neta de vendedoras, e ela disse-me ser ainda  miúda quando ali colocaram os painéis, mas não se lembra se ainda nos anos 30 ou já na década de 40.
Também os painéis de publicidade às águas de Carvalhelhos só se conseguem datar por aproximação graças à história da casa comercial onde foram aplicados.


São três painéis iguais, por baixo de igual número de montras da Casa Encarnação, uma antiga loja de mercearias e vinhos que se situa numa esquina da rua Miguel Bombarda, no chamado Bairro Novo, próxima da avenida marginal.


No canto inferior direito pode ler-se a marca ALELUIA AVEIRO, mas quanto a datas, a única certeza que se pode ter é que serão também anteriores à década de 50. A atual proprietária daquele estabelecimento apenas me soube dizer que quando o marido para ali foi trabalhar, no início dos anos 50, já os painéis lá estavam. Disse-me ainda que durante muitos anos a empresa das Águas de Carvalhelhos oferecia contrapartidas, em determinado volume de águas, à publicidade que o estabelecimento assim lhes proporcionava, numa zona nobre do veraneio figueirense.
A Fábrica Aleluia em Aveiro, de que já falei num post recente, parece ter tido uma intensa produção de azulejos na primeira metade do século XX, alguns ao estilo Arte Nova, e felizmente tinham o hábito de marcar os seus painéis.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Mais dois pratos de Gaia com casario

A colecionadora que me tem amavelmente facultado acesso fotográfico às suas peças de faiança, enviou-me recentemente fotografias de dois pratos com uma decoração normalmente atribuída à Fábrica da Bandeira mas que ela identifica como Fervença.

Já aqui referi num post de Janeiro, como estas duas unidades cerâmicas estiveram geográfica e temporalmente próximas, ambas a laborar em Vila Nova de Gaia durante o século XIX. e como é difícil distinguir a sua produção  não marcada.

Estes exemplares formam um par muito harmonioso, não só pela coincidência da paleta cromática, mas também pelo tipo de cercadura floral e pela temática central do casario.
São muito semelhantes aos dois que se seguem e que já mostrei aqui em Fevereiro, mas é sempre interessante compará-los nos pormenores dos edifícios e da restante decoração.
Por exemplo, o segundo e o terceiro pratos apresentam o mesmo casario, mas parece diferente por estar pintado de outra forma e com outras cores. Já o arvoredo é muito semelhante em três dos pratos mas difere no segundo.


 Para além das semelhanças mais notórias, há uns desenhos curvos a vinoso, a sugerir vegetação, que são comuns a três deles.
Muito provavelmente saíram da mesma oficina ou unidade fabril e tendo eu recentemente folheado o catálogo de 2005,  "Meninos Gordos, contar uma história através da faiança", coordenado por Isabel Maria Fernandes do Museu de Alberto Sampaio,  atrever-me-ia a dizer que saíram todos da Fábrica da Bandeira.
Efetivamente, nesse catálogo, sempre que nos pratos dos Meninos Gordos aparece este tipo de cercadura, as mesmas flores e folhas, em alguns também a vegetação representada com as curvas a vinoso sobre fundo amarelado ou verde, eles são atribuídos à Fábrica da Bandeira.

A disponibilização de boas fotografias por parte da possuidora destas peças permite-me ir mantendo este blogue com alguma regularidade, mesmo quando tenho pouco tempo para fotografar exemplares meus, e por isso, mais uma vez, aqui lhe deixo o meu agradecimento.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Azulejos em Coimbra da Fábrica Aleluia

Num Sábado de manhã, vinda da feira de velharias de Coimbra, passei pelo Parque Dr Manuel Braga, junto ao Mondego, e reparei nestes bancos enquadrados por painéis de azulejos.



Apesar de meus velhos conhecidos desde os tempos de estudante - passei ali inúmeras tardes a estudar com colegas no café sobre o rio - nunca me tinha detido a apreciá-los em pormenor.


 Por trás deste banco e respetivo painel, sobre a água, vê-se uma barca serrana das que outrora subiam o rio até Penacova cheias de sal e de trouxas de roupa suja, para depois o descerem carregadas de lenha e com a  roupa já lavada, pronta para ser entregue às freguesas citadinas.


A maioria dos painéis já está muito degradada, mas em alguns consegue-se decifrar a marca da Fábrica Aleluia, Aveiro, que neste ainda está bem visível.
A Fábrica Aleluia foi fundada em 1905 por João Aleluia, um  pintor ceramista que fez carreira desde muito novo na Fábrica  da Fonte Nova, também em Aveiro, encerrada em 1904.


 Desde o início a nova unidade fabril dedicou-se à produção de louça e de azulejos e aqui se vêem várias composições com  bouquets de flores, em cima a azul e branco com a bela moldura vegetal em fundo, em baixo a cores com um grande sol introduzido na composição, tal como no primeiro painel aqui apresentado.


Antes de chegar ao parque, numa casa antiga da "Baixinha", entre a Praça Velha e a Portagem, resolvi fotografar um painel de azulejos com Alminhas, lembrando-me do LuísY que já várias vezes dedicou posts a este tipo de registos.

 A avaliar pela moldura deve datar do século XVIII, com a inscrição P.N.A.M. P. ALM., o habitual pedido aos passantes para rezarem um Pai Nosso e uma Avé Maria pelas almas do purgatório. Apresenta uma cena de calvário e uma Nossa Senhora coroada que não sou capaz de identificar.
Vê-se um fio elétrico a atravessá-lo, provavelmente uma solução provisória que se foi eternizando...


Fiz este percurso a pé para ir ao encontro da minha filha e do meu netinho de seis meses e meio que me apareceu assim equipado para o seu passeio matinal :)

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Duas terrinas com pronúncia do Norte...



Estas belas terrinas ovais de faiança portuguesa, em muito bom estado de conservação, pertencem a uma colecionadora que já há algum tempo teve a amabilidade de me enviar  fotografias de várias peças suas desta tipologia.


O tom rosa usado neste exemplar não lhe retira o ar de pertença ao grupo a que chamamos "Cantão popular", habitualmente pintado a azul.


Cá estão em imagens repetidas os elementos habituais: o palácio, a ponte, o salgueiro muito estilizado, as nuvens, os traços paralelos representando a água.



 Pelo tipo de pegas, que conheço de outros exemplares, atrevo-me a dizer que será fabrico de Gaia, embora na ausência de marca seja quase impossível identificar a oficina ou unidade fabril que a produziu.



Não nos podemos esquecer que as oficinas e unidades fabris destinadas à produção de cerâmica proliferaram na zona de Porto e Gaia ao longo do século XIX, contando-se ali várias dezenas, tendo muitas prolongado a sua atividade pelo século XX.


Este segundo exemplar, o meu preferido, com a decoração País de Miragaia, tem um formato muito semelhante ao da terrina azul e branca que postei em Fevereiro, os moldes parecem ter sido os mesmos, e só pelo formato, que não conheço em peças marcadas da Fábrica de Miragaia, não me atrevo a atribuír-lhe essa origem, mas é uma hipótese que fica em aberto.


Cá está o edifício com a cúpula, assim como a palmeira, dois elementos caraterísticos do motivo País de Miragaia.
A verdade é que houve outras fábricas da zona, - Fontinha, Santo António de Vale da Piedade e até mesmo Darque em Viana do Castelo - que produziram imitações deste padrão de Miragaia.


As pegas são muito originais e só por si poderão permitir atribuição de origem a quem se dedique ao estudo comparativo destas faianças. As manchas azuis de esponjados, com flores deixadas em fundo branco, são muito caraterísticas da faiança azul e branca da zona do Porto e Gaia.


A tampa com os motivos alternados e uma pega em forma de cogumelo. Aqui, parece-me ainda mais notório que o molde foi o mesmo da tampa da terrina que postei em Fevereiro.

Entretanto, um mês depois de ter publicado esta mensagem, encontrei uma terrina exatamente igual a esta, no formato e no motivo "tipo país", identificada como Miragaia e neste caso com marca. Pertence à coleção do Museu de Arte Sacra de Arouca e está fotografada no catálogo de uma exposição ali realizada em 1998 intitulada "Mostra de Faiança Portuguesa",  promovida pela Real Irmandade Rainha Santa Mafalda/Museu de Arte Sacra de Arouca.

Não posso deixar de agradecer à possuidora destas faianças, não só a generosa disponibilização das fotos, mas também o cuidado que teve em fotografar as peças de várias ângulos, de forma a permitir a fácil visualização de todos os pormenores.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

"English Costume", um livro restaurado


  Há cerca de dois meses soube da existência de um atelier em Coimbra, a Oficina de Conservação e Restauro de Livros, aberta  recentemente na Rua da Alegria, e lá surgiu a oportunidade  que eu há muito procurava de aprender a restaurar livros.
Vou uma vez por semana, levo  livros meus para aprender praticando, e assim  espero recuperar alguns alfarrábios a necessitar de intervenção. São trabalhos muito morosos de limpeza, colagem, substituição de partes perdidas ou irrecuperáveis, mas estou a gostar imenso de ver e de aprender todas estas operações.
Comecei por levar dois livros:



Um deles é inglês já do século XX (1907), English Costume, muito interessante pelo tema - a evolução do traje (ou trajo) em Inglaterra do século XI ao século XIX - e pelas centenas de ilustrações, quer a cores, quer a preto e branco. Estava a precisar de intervenção sobretudo na lombada e de algumas colagens. 
O outro é português, de 1701, o Thesouro de Prudentes de Gaspar Cardoso de Sequeira, está em muito mau estado e vai demorar mais a ser restaurado, pelo que  reservar-lhe-ei um outro post.


Dado que este foi o meu primeiro  trabalho, o restauro não se pode dizer que tenha ficado uma perfeição, mas pelo menos o livro ficou reparado e consolidado.
A necessidade de introduzir e fixar a nova lombada fez com que a pintura das rosetas amarelas que decoram a capa junto à lombada tivesse estalado, o que poderá ainda levar uns retoques. É curioso que a arte de encadernar livros também reflete o gosto da época no país de origem e esta capa parece-me muito  ao estilo Arts and Crafts.
Em baixo, à esquerda a nova lombada aproveitando o que restava da original; à direita uma carcela reforçada, em papel japonês, para unir a capa ao corpo do livro.


 
 
 

Como se pode ler na capa e na página de rosto, a maioria das ilustrações esteve a cargo do próprio autor da obra, Dion Clayton Calthrop.


Traje usado em Inglaterra na época em que lá viveu como rainha a nossa D. Catarina de Bragança, mulher de Carlos II (1660-1685)


Para cada reinado da história inglesa, começando com  Guilherme I (1066-1087), há uma ilustração a cores de traje masculino e outra de traje feminino. 


Traje do reinado de Ricardo II (1367-1399), o estilo de roupa provavelmente usado por D. Filipa de Lencastre quando veio para Portugal para se casar com D. João I



A última ilustração a cores, relativa ao reinado de Jorge III


Uma curiosidade em termos de encadernação é a forma como várias páginas com cerca de 60 desenhos foram introduzidas no corpo do livro. Foram cosidas à parte, em caderno mas com um tipo de costura lateral, bem visível.


Todos os desenhos deste caderno representam os trajes masculino e feminino do reinado de Jorge III (1760-1820), o último que foi ilustrado. No entanto, nos últimos dez anos de vida deste rei foi já o filho, o futuro Jorge IV (1820-1830) que governou como regente e é com o seu reinado que a obra termina.

Não conheço nenhuma obra tão completa sobre o traje  em Portugal, mas encontrei recentemente um fascículo da Encyclopedia pela Imagem, da Livraria Chardron de Lello & Irmão, Lda, Editores, sem data mas datável dos anos 30, intitulado História do Trajo em Portugal, com texto da autoria de Mattos Sequeira e direcção artística de Alberto de Sousa, este por sua vez referido na bibliografia como autor da obra O trajo popular em Portugal nos séculos XVIII e XIX, Lisboa, 1924.