terça-feira, 22 de outubro de 2013

Um legado de ratinhos




O Museu Nacional Machado de Castro, em Coimbra, inaugurou há pouco mais de uma semana três exposições que assinalam os seus 100 anos de abertura ao público, sendo uma delas justamente dedicada ao seu fundador e primeiro diretor, António Augusto Gonçalves.
A que aqui trago hoje corresponde ao legado recente de José Alberto Reis Pereira, infelizmente já falecido, filho do colecionador  Júlio Maria dos Reis Pereira, o irmão de José Régio conhecido como Júlio, na pintura, e Saul Dias, na poesia.


Em exposição, até 11 de Janeiro de 2014, estão cerca de metade das 180 peças doadas,  muitas delas nos expositores de parede onde se encontravam antes, na casa da família em Vila do Conde.


O conjunto é muito rico em exemplares com decoração de figura central, em cores vibrantes - verde, manganés, ocres e azul - caraterísticos do final do século XIX.
Em baixo vêem-se decorações mais recuadas de oitocentos, onde dominam o verde e o manganés ou o azul e o manganés, e ainda um prato de figura feminina  a lembrar as produções de Vandelli.


As tipologias deste legado vão das bacias e alguidares aos pratos e palanganas, na variedade enorme de decorações que estamos habituados a ver na faiança ratinha.
E agora que o MNMC dispõe da maior coleção de louça ratinha existente no pais - este legado a juntar às peças em exposição permanente e às existentes nas reservas - para quando um espaço na exposição permanente exclusivamente dedicado a esta tão típica produção coimbrã? Será que ainda pode ser inventado?...





Espero com esta reduzida amostra, que lamento não ter ficado melhor fotografada, abrir o apetite aos amantes de faiança portuguesa para que visitem a exposição, podendo ainda apreciar todos os tesouros guardados no museu e as vistas que dali se desfrutam sobre a Alta da cidade, a beira-rio e a encosta de Santa Clara.

Vista da Alta, no dia da inauguração, à noite
Receção preparada no terraço do restaurante














































Para além de tudo o resto, este evento foi um agradável encontro de amigos, os que puderam estar presentes - colecionadores, estudiosos, administradores de blogues e muitos apaixonados por estas faianças populares tão encantadoras e autênticas!

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

O laço cor de rosa num chá de Outono - The pink ribbon in a Fall tea




O mês de Outubro foi dedicado  à sensibilização para o cancro da mama, no sentido da prevenção deste flagelo que atinge cada vez mais pessoas a nível mundial, maioritariamente mulheres. Felizmente também são cada vez mais as que conseguem sobreviver à doença, sendo a deteção precoce obviamente um fator decisivo na sua luta.


Tal como aconteceu no ano passado, a Sandi de Tea Time Tuesday propôs que este fosse o tema para o chá de meados de Outubro e eu não podia deixar de me associar a ele.


Não deixando de me ligar também a Tea Cup Tuesday da Terri e da Martha e a Tuesday Cuppa Tea da Ruth, fui buscar flores tecidos e peças de loiça em que a cor rosa está presente e em particular uma que até inclui um laço nesta cor.



Trata-se de um sapato em porcelana de Meissen, com dois simpáticos querubins (ou serão putti), menino e menina, como se vê pelas cores das pequenas asas, em atitude de dar e receber carinho. E esta cena passa-se junto ao laço cor de rosa que enfeita o sapato. Dificilmente encontraria um objeto mais apropriado para acompanhar esta mensagem.


Este tipo de peça, aparentemente sem qualquer utilidade, mas que pode servir de porta-lápis, pousa-chaves, porta-garfos para aperitivos,... foi fabricado há 100-120 anos pela Fábrica de Porcelana de Meissen, na Alemanha. Apareceu  em variadas cores, a avaliar pelos exemplares que encontrei na internet, mas sempre com o mesmo formato de sapato e as duas figurinhas em amorosa postura.


Está marcado com as celebérrimas espadas cruzadas, de que já aqui falei, num azul muito ténue, por baixo da almofada que me faz lembrar a do sapatinho da Cinderela...


A chávena que escolhi para hoje, em  rosa e branco com raminhos pontuados a dourado, já aqui foi mostrada num outro poste. É em porcelana da Vista Alegre, com uma das marcas usadas no período de 1881 a 1921. 
Só tenho esta chávena neste modelo, mas conheço o serviço completo de casa de uma prima minha e acho-o lindíssimo, a merecer vir aqui numa outra ocasião...


Dedico este chá do laço cor de rosa, o laço dos afetos, muito particularmente à minha jovem amiga Ana e à nossa companheira de blogosfera Princesa Nadie, ambas em processo de tratamento e cura desta doença que tanto nos aflige... e para a qual temos que estar sempre bem alerta!

domingo, 6 de outubro de 2013

Uma fachada bonita na Figueira da Foz

Como toda a gente, gosto de fotografar as coisas que esteticamente me atraem e as casas antigas, sobretudo se revestidas a azulejos, estão entre as minhas preferências. Só que depois ficam muitas vezes a aguardar no cartão da máquina, até virem para a ribalta aqui no blogue.
Esta casa, na Rua da Liberdade da Figueira da Foz,  pode passar despercebida a muitos passantes, sobretudo os belos efeitos decorativos do andar superior, mas é sem dúvida uma das mais bonitas do chamado Bairro Novo, originalmente denominado o Bairro Novo de Santa Catarina. 

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Já a fotografei várias vezes. Houve alturas em que grande parte da casa ficava escondida por trás da folhagem dos plátanos e não se conseguia ver a totalidade da fachada. Outras, ao fazer a visualização das fotografias reparava que um carro maior ou uma carrinha ficavam inesteticamente a tapar uma parte da casa. Os feíssimos cabos pretos de eletricidade é que, sempre presentes e imutáveis,  não há hipótese nenhuma de evitar...
Um outro aspeto que me desgosta é a adulteração do original  com a introdução de caixilharia de alumínio, muito crua, em portas e janelas. Sobretudo a porta principal ficou horrível! E fico a imaginar aquelas bandeiras no seu aspeto primitivo, embelezadas por caixilharias em arcos, como as da casa que a Maria Paula fotografou em Braga.



Acho lindo o efeito matizado destes azulejos verdes biselados, um tipo de revestimento que foi muito comum na Figueira da Foz, nesta e noutras cores, mas de vez em quando, como aconteceu no ano passado na marginal de Buarcos, lá tenho o desgosto de ver mais uma casa destas a ir ao chão...
Confio que no perímetro do Bairro Novo estes exemplares estejam mais protegidos, mas quando até o antigo Casino Mondego, depois Hotel Portugal, foi substituído por um edifício todo moderno bem no centro da zona de picadeiro...




A construção desta moradia deve ser contemporânea da edificação do bairro, com início nos finais do século XIX. 
Embora haja aqui elementos decorativos que me fazem pensar no estilo Arte Nova - as linhas fluidas e naturais dos motivos florais, as portas e janelas geminadas com cantarias em arco - e a própria assimetria da fachada, penso tratar-se aqui de um exemplar eclético, de um movimento que se abria a vários estilos e influências. De inspiração neoclássica parece-me o painel de azulejos com as grinaldas e também o medalhão com o putto a beber por uma taça, sendo certo que estas figurinhas também se encontram nas composições Arte Nova. Muito interessante a sobreposição dos ornamentos em volutas ao padrão de azulejos, já de si um belo efeito conseguido com a aplicação alternada de azulejos lisos e de padrão floral muito simples.


Já a platibanda do corpo principal, sobre o mimoso friso de azulejos emoldurados com grinaldas, me parece apontar para outras influências... 
Mas não vale a pena dar palpites sobre assuntos que não domino. Faltando-me o conhecimento, basta-me a fruição estética de uma construção com arte e bom gosto que, já que escapou ao período recente de bota-abaixo e construção "moderna" desenfreada, estando a precisar de alguma manutenção, espero que consiga sobreviver à "crise" e durar por muitos mais anos...