quinta-feira, 31 de março de 2011

Mais uma deliciosa Sant' Ana Mestra



Na sequência do post que fiz recentemente sobre a minha Sant'Ana Mestra, uma seguidora deste blogue, enviou-me fotografias da sua pequena imagem de Santa Ana com Nossa Senhora ao colo e segurando um livro, portanto também uma Sant'Ana Mestra.
Trata-se de uma escultura de pequenas dimensões em madeira policromada que se crê datar de finais do século XVII. Com efeito, a composição vertical, a postura rígida das cabeças, a ausência de teatralidade nas expressões, são características que antecedem o barroco do séc. XVIII.

              
No entanto, o cuidado posto no penteado da menina, com o cabelo enrolado e preso, assim como as bem executadas dobras do vestuário já fazem lembrar os pormenores mais elaborados do auge da estética barroca.                                  
Um outro pormenor interessante é que mãe e filha usam um firmal - ornamento em metal, tipo broche, usado no passado para segurar vestidos e outras peças de vestuário - em forma de flor, para unir os dois lados dos respectivos mantos, adorno que também aparece na minha Sant'Ana Mestra com características mais tardias.

                                        
Nesta fotografia são bem evidentes os sulcos verticais, quer das vestes, quer dos cabelos de Santa Ana,  característica que se atribui à escultura anterior ao século XVIII.
É sem dúvida uma deliciosa figurinha que aqui pude partilhar, graças à gentileza da sua dona ao enviar-me as fotos.
Agrada-me pensar que o criador desta imagem terá sido contemporâneo de duas personagens da nossa história que muito admiro: o Padre António Vieira (1608-1697)  e a Princesa, depois Rainha de Inglaterra, Catarina de Bragança (1638-1705).

terça-feira, 29 de março de 2011

Porcelana inglesa Coalport no que resta de um serviço de chá - Surviving pieces of an English Coalport tea set

Desta vez, para variar, vou participar nas actividades de terça-feira de blogues americanos com peças Coalport da minha pequena colecção de porcelana inglesa. Escolhi-as pelo ar fresco e o verde primaveril que apresentam.
This time, for a change, I'm participating in the Tuesday activities of American blogs with Coalport pieces of my small collection of English porcelain. I chose them for their fresh look and the Spring-like green they show.


Compradas a um vendedor inglês numa feira de rua de Albufeira, no Algarve, foram uma verdadeira pechincha, como é costume acontecer quando se compra a particulares que se querem desfazer dos tarecos que têm a mais. Serão os restos do serviço de chá da avó ou da bisavó, agora inúteis de tão incompletos.
Having been purchased from an Englishman at a car boot sale in Albufeira, Algarve,  they were a real bargain, as  usual when you buy from private individuals who want to get rid of  unwanted domestic junk. Probably they're what is left of Grandma's or Great-grandma's tea set, now useless once so incomplete.


Tendo inscrita na marca a data de 1750, este importante nome da porcelana inglesa resistiu até aos nossos dias, agora integrado no Grupo Wedgwood.
Bearing the date 1750 as part of the backstamp, this important trade name of English porcelain resisted until today, being now a member of the Wedgwood Group.
Na verdade esta data marca a fundação de uma outra manufactura, a mítica Caughley China Works, cujo primeiro dono se estabeleceu em Caughley por volta de 1750. Como John Rose, o fundador da Coalport, comprou o que restava das instalações da Caughley em 1799, vem daí a pretensão um tanto abusiva por parte da Coalport de que teve início numa data tão recuada.
Actually, this date marks the foundation of another manufactory, the mythical Caughley China Works whose first owner settled at Caughley around 1750. As John Rose, the founder of Coalport Porcelain Works purchased what was left of the Caughley premises in 1799, there originated the somewhat abbusive claim by Coalport that it was established at such an early date, 1750.


 A base do bule, neste caso como um pequeno prato de sobremesa, é uma peça  que não é fácil de encontrar nestes serviços com muito uso.
The teapot stand, in this case like a small dessert plate, is a piece not often found in these long used tea services.
Gosto de alguns  pormenores delicados e de requinte, como o motivo dourado no bico do bule ou o formato da tampa, com a pega em forma de botão e tem marca no interior. A pequenina leiteira também faz as minhas delícias.
I love some delicate and exquisite details  like the gold motif on the teapot spout or the shape of the lid with a bud finial and a backstamp inside. I also find the little creamer delightful.

Quanto à época de fabrico destas peças de chá, como a  palavra "England" começou a ser usada nas marcas em 1891 e "Made in England" a partir de 1920, elas devem ter sido produzidas no período entre essas duas datas.
As to the time of production of these tea items, since the word "England" began to be used on backstamps in 1891 and "Made in England" from 1920 onwards, they must have been produced between those two dates.
O suporte para torradas também é inglês, Mappin & Webb, do início do séc. XX, por isso foi feito para ser usado com serviços de chá deste tipo.
The toast-rack is also English, a Mappin & Webb early 20th century piece, so it was made to be used with this kind of tea service.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Prato de faiança Delft com cena bíblica

Este prato grande de parede tem-me intrigado desde que o meu marido o comprou na Feira da Vandoma, há uma meia dúzia de anos. Há pouco tempo, através do catálogo de um leilão da Christie's que consultei online, fez-se finalmente  alguma luz. 


É o tipo de faiança azul e branca a que se convencionou chamar Delft, mesmo que não tenha sido fabricado nesta cidade holandesa. Com efeito, várias cidades não só holandesas, mas também inglesas, alemãs e francesas, se dedicaram à produção destas faianças.
A produção Delft iniciou-se na Holanda na 2ª metade do século XVII, crê-se que por influência da faiança portuguesa azul e branca, e obviamente tentando imitar e substituir a porcelana chinesa que à época tinha deixado de chegar aos portos europeus.
Aqui está representada uma cena bíblica, a Última Ceia, com Cristo e os Doze Apóstolos numa disposição pouco convencional e as imagens dos profetas Moisés e Aarão a ladear a cena. Em último plano vê-se um cenário de rua que não consigo interpretar.
A aba apresenta folhagens e arabescos  intercalados por figuras de anjos ou putti, ao gosto barroco.


Para além do nome dos profetas, este prato tem uma legenda que embora eu não tenha ainda conseguido decifrar, inclui palavras em holandês ou em flamengo, pelo que deduzo que terá sido fabricado numa cidade dos Países Baixos.
A língua holandesa, sendo de origem germânica como o inglês e o alemão, tem muitas palavras que se conseguem reconhecer por serem parecidas e terem o mesmo significado de  vocábulos destas duas línguas.
A primeira palavra parece ser "met" equivalente ao "mit" alemão que significa "com"; a segunda, "dit" é o "this" inglês. A partir daí não consigo identificar as palavras, apenas reconheço em "gedeglen" um particípio do tipo alemão mas talvez esteja numa versão arcaica porque não  encontrei nenhuma palavra assim transcrita.



No verso o prato tem dois orifícios para pendurar na parede e uma data , 1727, que faria do prato uma peça do século XVIII, se fosse credível. A verdade é que encontrei pratos Delft com este tipo de datação em catálogos de leiloeiras como a Christie's ou a Sotheby's que eles dizem ser pseudo-datas a marcar pratos do século XIX.
Enfim, sempre as mesmas tentativas de vender gato por lebre e na Europa do séc. XIX a falsificação de marcas e a imitação de estilos foi algo de muito recorrente, graças ao acentuado  gosto por tudo o que vinha do passado, mais ou menos remoto.

                                A large Delftware blue and white biblical charger
Prato  da Christie's descrito como "A large Delftware blue and white biblical charger 19th century, pseudo-dated 1727".
Muito semelhante e muito coincidente, sem dúvida.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Peças de serviço de chá da Vista Alegre(?) - Pieces from a Vista Alegre(?) teaset


Este vai ser mais um post bilingue para participar no Tea Cup Tuesday, e noutras actividades de blogues americanos que têm como principal tema as chávenas de chá.
This will be another bilingual post to participate in Tea Cup Tuesday  and in other activities of American blogs whose main topic is tea cups.


Não têm marca mas pelo formato e decoração acredito que sejam peças de um serviço de chá  da portuguesíssima Vista Alegre, certamente do séc. XIX. Nesta época,  os serviços de chá costumavam incluir uma taça onde se despejavam os restos de chá já frio das chávenas, para as voltar a encher com chá quente.
Although they are unmarked, considering shape and decoration I believe these are pieces of a Portuguese Vista Alegre teaset, maybe of the 19th century. At this time, teasets used to include a slop bowl where the cold remains of tea in the cups were emptied to refill them with hot tea.

                  

Este formato polilobado das peças, foi muito usado pela Vista Alegre até final de oitocentos com o nome de "facetas" e ainda hoje se encontram muitos bules antigos, açucareiros e chávenas, sobretudo a branco, assim moldados.
This fluted shape was very much in use by Vista Alegre until the end of the 1800s and today we can still find lots of antique teapots, sugar bowls and cups, mainly in white, molded this way.


Cá estão de novo os elementos decorativos que adoro sobre porcelana: belos dourados - faixas a ouro,  arabescos e  pontinhos -  e flores singelas pintadas à mão.
Here they are again, the decorative features that I love on porcelain: beautiful gilding - gold bands, scrolls and dots - and handpainted simple flowers.


Estas são peças com marca VA azul pintada à mão do século XIX, do mesmo formato das anteriores, incluindo as mesmas doze "facetas" na chávena e no pires,  mas na versão em branco.
These are pieces with a 19th century blue handpainted VA (Vista Alegre) mark, in the same shape as the previous ones, including the same twelve flutes on both cup and saucer, but in the white version.

sexta-feira, 18 de março de 2011

A minha Sant'Ana Mestra

Sou apreciadora de arte sacra em geral, mas há imagens de santos pelas quais tenho uma predileção especial e a Sant'Ana, sobretudo na versão Sant'Ana Mestra, é um desses casos.


Sempre me atraiu aquela figura de mãe, com a sua filha criança ao colo, segurando na outra mão um livro  que lhe estará a ensinar a ler. 
Interessei-me mais por estas figuras a partir  do acesso que tive online à fabulosa colecção de Ângela Gutierrez. São centenas de deliciosas pequenas esculturas de Sant'Ana Mestra, mas também de Sant'Ana Guia e Santas Mães que aquela coleccionadora brasileira foi adquirindo, sobretudo em Minas Gerais, com exemplares que vão do séc. XVII ao século XX, formando assim uma excepcional colecção que hoje disponibiliza para apreciação de toda a gente.
Na Sant'Ana Mestra gosto de ver representada uma mãe educadora, preocupada com a formação intelectual da filha e não apenas com a sua preparação para fada do lar que era tradicionalmente a grande preocupação das mães na educação das meninas.


O livro é um instrumento de saber qualquer que ele seja e embora não esteja aqui explícito o tipo de livro representado, é fácil de supor que se trate de um livro sagrado do Antigo Testamento. Assim esta iconografia contém uma mensagem muito clara para os fiéis: aquela menina foi preparada desde tenra idade para fazer o seu caminho em direcção a Deus e vir a ser a digna mãe de Jesus.
O culto de Sant'Ana desenvolveu-se na Europa do século XII ao século XVI e durante esse período apareceram  vários tipos iconográficos envolvendo a figura de Sant'Ana, mas com a presença por vezes do marido, S. Joaquim, ou da mãe de Ana, avó de Maria , Emerenciana. Com o movimento da Contra-Reforma, iniciado pelo Concílio de Trento (1545-1563) que, entre muitas outras disposições, regulou o culto dos santos, foram seleccionadas apenas três iconografias:  Sant'Ana Mestra, Sant'Ana Guia e Santas Mães. Na Sant'Ana Guia representa-se a mãe com a menina pela mão e as Santas Mães têm representado também o Menino Jesus, estando portanto presentes duas mães, uma vez que Maria é já adulta e mãe.


Esta minha escultura em terracota mostra Maria muito pequenina com o dedito a apontar para uma linha do texto que estará a tentar decifrar. O rosto da mãe tem uma expressão muito atenta ao desempenho da menina e todo o conjunto, com a posição dos corpos, o movimento e drapeado das vestes, a atenção aos pormenores, revela mão de artista santeiro e não de qualquer artesão barrista com produção de cariz popular. Penso que segue os cânones artísticos do século XVIII mas quanto a datá-la, já não sou capaz de arriscar.



segunda-feira, 14 de março de 2011

Beirais pintados em edifícios do Porto e na Mealhada

 A última vez que eu e o meu marido fomos  ao Porto, a um Sábado como é costume,  resolvemos andar a pé por ruas antigas e sempre atentos aos beirais dos telhados, para tentar vislumbrar telhas de faiança.
Estas idas ao Porto, com tempo para deambular pelas ruas, enchem-me os olhos e a alma de tantas coisas belas que apetece fotografar a cada passo.


Mal tinhamos estacionado o carro, nas traseiras do Mercado Ferreira Borges, encontrámos logo um beiral pintado no Largo de S. Domingos, num prédio revestido a azulejos de florão em relevo amarelo e branco e com as belíssimas cantarias em granito.
A combinação de azulejos e granito, por vezes com elementos de ferro forjado, que se encontra em muitas fachadas do Porto, dá à cidade um carácter único, difícil de igualar mesmo noutras cidades do Norte.

Continuando pela Rua das Flores, descobrimos mais um beiral de telhas pintadas, já não em azul e branco mas em policromia, que lamento não ter conseguido fotografar com maior definição.


Fotografia do Fábio Carvalho que me foi enviada em Novembro de 2013
Foram as únicas que vi até agora assim policromadas, inevitavelmente num edifício com granito e azulejos.


Este beiral, igual ao primeiro, está num prédio antigo e muito degradado da Rua de Cedofeita. Ambos são iguais a um beiral que a Maria Paula do blogue "As coisas de que eu gosto" fotografou primorosamente num ediício de Viseu.

Na Rua da Torrinha, visitámos o antiquário Porto Velho, e vimos logo à entrada uma das telhas de faiança pintadas que formam os belos beirais. Pedimos autorização para a fotografar e aqui está o magnífico exemplar.


Conversa puxa conversa e o dono da loja foi-nos mostrar invulgares telhas de parede da Fábrica do Carvalhinho, que também fotografámos.

           
  


Este antiquário  revelou-se    um entusiasta deste tipo de materiais cerâmicos, tendo inclusivamente na sua posse uma listagem de todos os prédios do Porto onde ainda se encontram  beirais pintados, cerca de vinte, apenas. Tentarei descobrir mais alguns numa próxima ida à "Invicta".
Quando o questionei sobre a fábrica ou fábricas de origem destes materiais, disse-me não ter sido possível até agora qualquer atribuição por não haver telhas  marcadas, mas avançou como hipótese a Fábrica de Santo António de Vale da Piedade, grande produtora de vasos e de pinhas para ornamentação de edifícios.



Finalmente, aqui na Bairrada também temos pelo menos um beiral pintado, com  uma decoração muito bonita, num edifício da Mealhada da Rua Dr. Costa Simões, uma das artérias principais da parte antiga da cidade, por onde ainda a meados do séc. XX passava a Estrada Nacional nº 1.


Estas telhas parecem estar decoradas com os galões bordados com que dantes se adornavam bibes de criança, lençois, toalhas de mesa e muitas outras peças que a imaginação e a criatividade femininas, aliadas a mãos treinadas e habilidosas, tratavam de elaborar...

quinta-feira, 10 de março de 2011

Tea Cup Tuesday - Chávena de Chá da Vista Alegre


Este post vai ser bilingue para participar em "Tea Cup Tuesday" uma iniciativa dos blogues "Artful Affirmations" e "Martha's Favorites".
 This will be a bilingual post to participate in  "Tea Cup Tuesday" launched by the blogs "Artful Affirmations" and "Martha's Favorites".

 
This handpainted teacup with gorgeous gilding was  produced in Portugal by Vista Alegre.
As I always say, I love handpainted flowers on porcelain and I find the effect on this cup fantastic, truly elegant.

 Esta  chávena de chá  pintada à mão, com belíssimos dourados, foi produzida em Portugal pela Vista Alegre. Como já tenho dito, adoro a pintura de flores sobre porcelana e nesta chávena acho o efeito obtido fantástico, verdadeiramentemente elegante.

The backstamp, both on the cup and on the saucer, was used for a short period of time, 1968 - 1971, and includes the date this factory was established, 1824, in Ílhavo, Aveiro, in the North of Portugal.

A marca, tanto na chávena como no pires, foi usada por um curto período de tempo, 1968 - 1971, e inclui a data em que a fábrica foi fundada, 1824, em Ílhavo, Aveiro.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Oveiro em "flow blue" inglês

No Brasil, a loiça inglesa azul e branca decorada por transfer-print é muito apreciada e consequentemente cara, quando aparece à venda nos antiquários, em especial a que lá se designa por borrão ou borrãozinho, isto é, o flow blue inglês, traduzido em Portugal por azul escorrido.

Lá, como cá, é nas feiras de velharias que se podem encontrar as pechinchas e assim, por um pequeno golpe de sorte, vi este oveiro à venda na feira da Rua do Lavradio, no Rio de Janeiro, pela módica quantia de 5 reais, ou seja, cerca de 2 euros.
A única marca que tem é a palavra ENGLAND, mas este padrão decorativo, chamado "Beauty Roses", é da firma W. H. Grindley & Co que operou em Tunstall, Stoke-on-Trent, Staffordshire, entre 1880 e 1991.
Penso que seja uma peça já do séc. XX, mas a única certeza que tenho é que com a marca ENGLAND é seguramente posterior a 1891.
Tem a particularidade de ser um oveiro duplo, servindo assim para tamanhos diferentes de ovos. A parte maior, que está decorada, serve para ovos de gansa, mas virando-se o oveiro ao contrário fica o tamanho de ovos de galinha ou pata. Estes pormenores eram importantes numa época em que o hábito de consumir ovos quentes ao pequeno-almoço estava generalizado em alguns países da Europa e nos Estados Unidos, consumindo-se ovos de vários tipos de aves.


Ao contrário do que se possa pensar, o termo flow blue não designa uma tonalidade de azul, mas sim uma técnica decorativa em que se deixa o pigmento azul escorrer ou esborratar para fora dos limites do desenho e assim obtém-se este efeito de borrão, daí a razão do termo brasileiro.
Foi produzido em Inglaterra sobretudo entre 1830 e 1920, mas também utilizado na Alemanha, na Holanda e nos Estados Unidos e até em Portugal, pela Fábrica de Loiça de Sacavém. É nos Estados Unidos que esta técnica decorativa é mais popular e mais coleccionada e talvez venha dessa influência o apreço que os nossos amigos brasileiros têm por ela.


Conjunto de peças Copeland em flow blue, três delas no padrão Ruins ou Melrose

Marca de 1848, ano representado pela letra U na registration mark das peças Ruins ou Melrose

sexta-feira, 4 de março de 2011

Prato antigo com decoração barroca

Mais um prato de boa faiança portuguesa que tem a mesma proveniência de outras peças que aqui tenho mostrado, ou seja, a casa de familiares. Esta é a peça de faiança mais antiga da casa e obviamente a mais valorizada.
Trata-se de um prato grande (35 cm de diâmetro), gateado na parte de trás mas sem qualquer marca. 
Foi pintado a azul e roxo de manganês sobre branco e a decoração barroca da aba, com volutas ou enrolamentos, leva-nos a acreditar que seja do final do séc. XVII ou inícios do séc. XVIII, comparando-o com vários exemplares do Museu Nacional de Arte Antiga que fui agora rever na obra Faiança Portuguesa, Roteiro Museu Nacional de Arte Antiga, Instituto Português de Museus, 2005.
Pote séc. XVII do MNAA com decoração muito semelhante à do prato
Os oleiros portugueses seiscentistas, deslumbrados com a porcelana chinesa azul e branca que viam chegar em abundância ao porto de Lisboa, passaram a imitá-la nas cores, nos desenhos das reservas e dos frisos, interpretando livremente os temas orientais, e assim foram surgindo várias famílias decorativas - desenho miúdo, aranhões, espirais, rendas, contas e caracóis barrocos. Aquele pássaro, flores e rochas do motivo central, quer do prato, quer do pote, são o tipo de elementos decorativos que se encontram também no chamado "desenho miúdo", mas aqui não aparece a composição orientalizante com profusão de cenas, sobretudo na aba, que caracteriza a faiança dessa família. Com a decoração barroca da aba do prato e dos frisos do pote,  estas peças pertencerão à família decorativa alcunhada de caracóis barrocos.



Quanto a determinar o local de fabrico destes exemplares, apesar de não se conhecerem nomes das oficinas de malegueiros dessa época, pelo que tenho lido o fabrico de faiança durante o séc. XVII estava centralizado em Lisboa, que só deixou de ser o grande centro produtor de faiança em Portugal com o terramoto de 1755.
Até à segunda metade do séc. XVII, muita desta produção era exportada para países do centro e do norte da Europa onde também já chegava a porcelana chinesa, mas apenas acessível a reis e a príncipes. Assim, a faiança portuguesa, de qualidade reconhecida, ia satisfazendo as necessidades de uma clientela burguesa e lançando a moda das loiças ao gosto oriental.
Este mercado europeu acaba por ser perdido a favor da faiança holandesa, conhecida até hoje por Delft, e a produção nacional vê-se confinada ao mercado interno, o que faz as oficinas irem diminuindo, definhando e perdendo qualidade, até virem a desaparecer com o terramoto de Lisboa.

terça-feira, 1 de março de 2011

Pequeno pires marcado com flor de lis


A propósito de um pequeno e discreto pires de porcelana, retomo aqui uma história que comecei a contar no post de 10 de Fevereiro .
A flor de lis, como marca de porcelana, foi usada quer na mítica Fábrica de Capodimonte, junto a Nápoles, em actividade durante um pequeno período de tempo do séc. XVIII (1743 - 1759), quer na  Fábrica de Buen Retiro em Madrid, igualmente de curta duração (1759 - 1810).
Esta marca a azul sob o vidrado usou-se em Buen Retiro, como já se tinha usado em Capodimonte para loiça utilitária, e só esporadicamente nas requintadas figuras ao estilo de Meissen ou noutras peças decorativas com que a fábrica italiana atingiu a excelência e a fama. Nas peças mais requintadas usava-se geralmente a flor de lis a ouro ou gravada na pasta.
Percebe-se que este pires já viu melhores dias, mas guardo-o ciosamente, convencida como estou que é um digno e raro representante da produção de uma destas fábricas.
Inclino-me mais para que seja Buen Retiro dada a maior proximidade a que estamos deste local e considerando que foi comprado numa loja de velharias de Fronteira cujo dono fazia colecção de grandes pratos de Talavera, fazendo portanto muitas compras em Espanha. Estava lá abandonado, no meio de muita tralha (acho que já tinha servido de cinzeiro) e eu, mais uma vez, fui atraída pela marca.
Para além de esta marca poder pertencer a qualquer das fábricas, o pires tem outra característica que também lhes é comum e é distintiva da sua produção: a decoração pintada à mão com uma pincelada miúda,  em leves toques com a ponta do pincel, feita por pintores treinados como miniaturistas. Como o pires é muito pequeno, cerca de 9 cm de diâmetro, cada uma daquelas casinhas tem menos de 1cm de lado e atente-se em todos os pormenores em miniatura que compõem a paisagem. Vêem-se minúsculas figuras humanas de pastor e pescadores, por exemplo, e os ramos e folhas das árvores, assim como as janelas dos edifícios, são sugeridos só por pontos. Vêem-se ainda minúsculos barcos ao longe no mar, para além de um que está em primeiro plano, o que pode lembrar mais as paisagens costeiras de Nápoles do que o interior árido de Madrid, mas não nos podemos esquecer que Carlos de Bourbon, ao transferir a fábrica de Capodimonte para Buen Retiro, em 1759, transferiu também materiais, moldes, caulino e muitos trabalhadores que certamente teriam estas paisagens no seu imaginário.


Chávena Capodimonte de cerca de 1750

                                     Marcas usadas
          em Capodimonte
e algumas
também em
Buen Retiro








O nome Capodimonte acabou por ser banalizado e depreciado pelo facto de ter continuado a ser utilizado, por outras fábricas, para porcelana e faiança italiana de inferior qualidade, se comparada com o nível atingido pela fábrica original de Capodimonte ou mesmo pelas de Nápoles ou  Doccia do séc. XVIII.

É o caso desta bacia e gomil em miniatura, o tipo de peças que se compram ainda hoje como souvenirs de viagens por Itália.
Apresentam baixos relevos com figuras mitológicas em policromia e muitos dourados, também como neste caso, no interior das peças, tentando imitar o que se produziu nas fábricas originais, mas tendo perdido todo o requinte e delicadeza. 
 
                                                   
Este conjunto, por ser de pequenas dimensões, poderá ter alguma graça, até tem uns putti que eu acho figuras muito simpáticas, e durante o séc. XIX ainda se fabricaram peças com este tipo de decoração que eu não me importava nada de ter em casa, mas estas mais recentes estão a anos luz da qualidade artística da primitiva Capodimonte.

eBay Image 1 Huge Signed 18th Century Italian Capodimonte-NO RESERVE
O brilho e finura de uma peça original que as mais recentes pretendem imitar
última imagem encontrada em http://www.worthpoint.com/worthopedia/huge-signed-18th-century-italian-capodimonte-no#