segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Um chá de Ano Novo - A New Year's tea


FELIZ ANO NOVO  *) *) *) *) *) *)     HAPPY NEW YEAR  (* (* (* (* (* (*


Embora agora mais concentrados nos festejos de Ano Novo, ainda estamos a meio da quadra natalícia, pelo que na mesa para o chá ainda predominam as cores de Natal, o vermelho e o verde, a que geralmente associamos alegria e esperança.


Por mais que nos digam que o ano de 2013 não traz consigo bons augúrios, é inevitável renovar-se a esperança neste início de um ano novo, qual menino recém-nascido, ainda no berço ou num aconchegante colinho...


Escolhi esta chávena e pires para o primeiro chá do ano em que vou participar com TUESDAY CUPPA TEA (e, embora mais tarde desta vez, TEA CUP TUESDAY) porque para além dos vermelhos e verdes predominantes,  gosto de ver nesta época festiva de inverno, loiças e decorações a branco e dourado ou prateado.
As peças de porcelana têm sobre o branco um vidrado iridescente a que se sobrepuseram retoques dourados, já bastante gastos, o que torna, sobretudo a chávena,  mais interessante para meu gosto.


Como as aplicações de dourado só estão num dos lados da chávena, no outro lado sobressaem mais a iridescência e os relevos florais e rocaille, muito adequados ao gosto dos espíritos românticos de há cem anos.


Não apresenta qualquer marca de fabrico, mas acredito que seja alemã, pelo formato e pela junção visível de duas metades a partir de um molde. É o tipo de objeto que, no final do século XIX, início do XX,  se usou muito para ofertas destinadas a vitrine, alguns com dizeres como "Forget me not" "Lembrança d'Annos", "Souvenir" ou "Recordação"...



E agora, que venha o 2013, cá estamos para o festejar... e enfrentar!!!


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quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Boas Festas!


Em época de Natal, quero desejar Festas Felizes a todos quantos passam por aqui, muito especialmente aos amigos com quem mais tenho contatado através do(s) blogue(s).
Faço-o com este Retábulo da Natividade que está em exposição no Museu Nacional de Machado de Castro, em Coimbra.
Não é obra em pedra de Ançã, nem sequer é portuguesa, mas, tendo tido origem em Antuérpia no século XVI, faz  parte do nosso património há séculos, tendo sido recuperada do Colégio das Ursulinas em Coimbra.
Como se percebe, é um retábulo em madeira policromada  representando a Adoração dos Pastores ao Menino Jesus. É a celebração do nascimento de uma criança, o símbolo da renovação e da esperança em cada ciclo de vida, esperança de que todos nós estamos tão necessitados... 
A representar o meu Natal e porque também há um Menino Jesus cá em casa, deixo aqui este amoroso Menino,  num trabalho artesanal com que uma amiga me presenteou e que foi a minha primeira oferta de Natal deste ano.


Um bem haja para essa amiga e votos de muita saúde e alegria para todos, porque, pelos vistos, o fim do mundo foi adiado!!!


sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Reabertura do Museu Machado de Castro

O Museu Machado de Castro reabriu... e está um assombro!

Pátio do Museu Machado de Castro (anos 50)

Já toda a gente sabe que o Museu Nacional de Machado de Castro, em Coimbra, reabriu em pleno esta semana, no dia 11, mas eu não podia deixar de assinalar aqui esse acontecimento!
Após o encerramento para obras de fundo em 2006, só em 2009 ou 2010 abriu parcialmente ao público para visitas ao criptopórtico romano, enquanto se dava continuidade ao trabalho de acabamentos nas salas de exposição e a todo o trabalho de museografia e de expografia.
Numa primeira visita que ali fiz, pareceu-me que estava a ver muitas das peças pela primeira vez, tal o impacto que provoca a forma de as expor nos novos espaços e nos espaços remodelados, mas também acredito que mais brilho lhes foi dado pelas intervenções de conservação e restauro a que foram entretanto sujeitas.
As coleções incluem escultura e pintura antigas, ourivesaria, paramentaria, mobiliário... e para mim a cereja no topo do bolo, a coleção de cerâmica.





Embora tenha apreciado a forma como a faiança está exposta, por ordem cronológica, em dois longos expositores - e os azulejos nas paredes opostas - fico sempre frustrada por se tratar de peças em grande parte já minhas conhecidas e por pensar que haverá nas reservas muitas outras peças interessantes que não são dadas aos olhos do público. Aguardemos as exposições temáticas...
O edifício só por si é um objeto museológico, com mais de 2000 anos de história, por isso houve alguma polémica à volta dos acrescentos que lhe foram feitos, da autoria do arquiteto Gonçalo Byrne, mas eu gostei muito do que vi e da forma como a partir dos novos e dos antigos espaços se apreciam recantos da velha Alta de Coimbra.
Quanto a esta minha pintura, tem uma história engraçada que resolvi aqui partilhar.



Encontrei-a há meses na Feira da Vandoma no Porto, muito suja e com a moldura revestida a gesso a esboroar-se, mas reconheci logo o Pátio do Museu Machado de Castro, ou seja, o antigo Paço Episcopal de Coimbra. O vendedor não sabia do que se tratava, mas enchia a boca com o nome do pintor que ele dizia ser um Pedro Rodrigues e lhe servia de pretexto para carregar no preço.
Pareceu-me logo que o apelido era Dinis mas não o quis contrariar e não comprei o quadro, porque realmente o estado era lastimoso. Alguém a fazer limpeza na casa da avó achou que aquele chaço não tinha valor nenhum e deu-o ao desbarato. Entretanto, falei naquela pintura ao C.A. e passando nós lá já à saída da feira, o preço tinha diminuído para metade e com alguma negociação ficou reduzido a poucas dezenas de euros.
Viemos todos contentes com este tesouro para casa - para mim o mais interessante era ser uma vista do Museu Machado de Castro, mas o nome do pintor também me parecia familiar - e enquanto o C.A. tratava de retirar os restos de gesso e de lixar a moldura, eu limpei a pintura toda, um óleo sobre placa de madeira, com uma cotonete humedecida. Pareceu renascer das cinzas!
Na assinatura lê-se P. Dinis 52 e daí concluí tratar-se do pintor coimbrão Pinho Dinis (1921-2007) e de uma obra de 1952, da sua primeira fase, talvez ainda dos seus tempos de aprendizagem.
Bem, não é o Renoir que a outra comprou por 7 dólares numa feira de rua, o valor comercial até pode ser diminuto, mas foi um achado (e salvamento) que me encheu de satisfação!

Oleiras de Pinho Dinis
Há uma sala Pinho Dinis na Casa Municipal da Cultura, em Coimbra, assinalada pelo seu Auto-retrato, mas preferi acescentar aqui esta bela tela, Oleiras, representando três mulheres na tarefa de pintar loiça numa qualquer olaria coimbrã.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Beirais com telhões em Ovar

Nas minhas rondas por terras do Norte, descobri já há meses mais um beiral de telhões de faiança.
Bem tenho procurado outros exemplares para virem fazer companhia a este, mas à exceção dos que sei existirem em Vila Nova de Gaia e ainda não fotografei, nada de novo...



Desta vez a descoberta foi em Ovar, numa bela casa de quinta do século XVIII, a Quinta de S. Tomé, hoje localizada no centro da cidade. Situa-se relativamente perto da Casa Museu de Júlio Dinis, onde o escritor residiu alguns anos, e não posso deixar de pensar que ela poderia servir de cenário à ação de um dos seus populares romances.


Para além do beiral há os azulejos, os do exterior com um lindo friso floral, certamente aplicados no século XIX ou XX,  e  um  silhar de escadaria na entrada principal da casa.


Neste beiral, surpreende a quantidade e o estado de conservação dos telhões, assim como a harmonia do conjunto que forma com os restantes elementos da casa, basicamente em azul e branco; quanto ao motivo das telhas já é nosso velho conhecido.



Efetivamente, é o mesmo motivo das que vimos num beiral em Fafe e noutro na Ribeira do Porto, mas não apresentam a terminação em relevo branco que se observa no de Fafe.



As cantarias em pedra  dão sobriedade e robustez às duas frentes, a que nem sequer falta um brasão em pedra de Ançã, as armas do Morgado de Pigeiros.


Atrevo-me a atribuir o fabrico destes telhões à Fábrica das Devezas em Vila Nova de Gaia, já que são em tudo semelhantes aos que se encontram na Casa-Museu Teixeira Lopes e sabemos da ligação deste escultor e da família  a essa fábrica de Gaia, com filial aqui na Pampilhosa.

Pátio da Casa-Museu Teixeira Lopes (foto da Wikipedia)
Aqui está mais um lugar que tenho que revisitar, não só pela boa coleção de faianças de todas as fábricas gaienses, mas também para fotografar de perto estes beirais.


Entretanto, muito a propósito já que mencionei aqui a obra de Júlio Dinis, o nosso amigo Fábio Carvalho, que administra os blogues Porcelana Brasil e Azulejos Antigos no Rio de Janeiro, enviou-me a respeito dos telhões de faiança, um extrato que encontrou online do romance de Júlio Dinis “Uma Família Inglesa”, de 1868.


Li-o ainda adolescente, mas  há muito andava para o reler por achar que pode conter referências à faiança inglesa usada no Porto no século XIX ou mesmo à faiança portuguesa, só que ainda não o tinha feito; afinal, sendo a ação datada de 1855, encontram-se ali referências interessantes aos elementos cerâmicos para construção, de fabrico oitocentista portuense ou gaiense. 
Trata-se de um trecho do capítulo IV intitulado Um anjo familiar, com uma descrição do Porto que passo a transcrever parcialmente, mantendo a ortografia da minha edição, que é de 1930:

"Esta nossa cidade – seja dito para aquellas pessoas, que porventura a conhecem menos – divide-se naturalmente em tres regiões, distinctas por physionomias particulares.
A região oriental, a central e a occidental.
O bairro central é o portuense propriamente dito; o oriental, o brasileiro; o occidental, o inglez.
(...)
O bairro oriental é principalmente brasileiro, por mais procurado pelos capitalistas que recolhem da America.
Predominam n’este umas enormes moles graniticas, a que chamam palacetes; o portal largo, as paredes de azulejo – azul, verde ou amarello, liso ou de relêvo; o telhado de beiral azul; as varandas azuis e douradas; os jardins cuja planta se descreve com termos geométricos e se mede a compasso e escala, adornados de estatuetas de louça, representando as quatro estações; portões de ferro com o nome do proprietário e a era da edificação em lettras também douradas; (...)."

Estas casa eram vistas na altura, segunda metade do século XIX, como sinal de ostentação e de falta de gosto, devido à profusão de elementos decorativos, mas acabaram por ser apreciadas e constituirem marcos importantes da história e da fisionomia das nossas cidades, sobretudo nortenhas.

Muito obrigada ao Fábio por esta interessante achega.



segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Lustrina inglesa Davenport - Davenport pink lustre


Trouxe hoje para o chá que vou partilhar com Tea Cup Tuesday, Tea Time Tuesday e Tuesday Cuppa Tea um par de chávenas e pires em lustrina rosa, fabricadas por um nome muito conhecido da produção cerâmica inglesa: a firma Davenport.
São chávenas e pires no formato London shape, introduzido e popularizado em Inglaterra no início de oitocentos. Estão decoradas com o brilho metálico mais plebeu a que se chamou lustrina que substituía as decorações a ouro destinadas às famílias aristocráticas ou da burguesia endinheirada.


Em geral estas peças não têm marca de fabrico, as outras que eu tenho e já mostrei aqui têm apenas um número, o pattern number, e às vezes nem isso, mas neste caso aparece nos dois pires a inconfundível marca Davenport, a fábrica fundada por John Davenport em Longton, Staffordshire, c.1793. O fundador entregou a empresa aos filhos mais novos em 1830 e assim a empresa foi continuando na família até 1887.


Esta marca onde se notam dois pontos, um de cada lado da âncora, muitas vezes só um, deve ser anterior a 1830 já que nessa década, no lugar dos pontos, surgiram números que representavam os últimos dígitos do ano de fabrico. Veem-se ainda as três marcas deixadas pelas extremidades da trempe durante a sobreposição de peças no forno, não só no verso, mas também na frente do pires.
Entretanto li num site inglês que uma das formas de identificar lustrina mais antiga - começou a ser comercializada a partir de Stafforsdshire c.1790 e continuou popular até ao século XX - é a opacidade da pasta e a acumulação de tonalidades azuladas nos frisos da base das peças do chamado pearlware, caraterísticas presentes nestes meus exemplares.


O padrão que aqui vemos, dois tipos de folhas trilobadas em planta trepadeira com as respetivas gavinhas, foi muito popular, quer em faiança com lustrina, quer em porcelana com ouro, por isso se parece muito com um padrão da fábrica Spode já aqui apresentado.


Chegados ao mês de Natal, aqui iniciado com um frio intenso a que ainda não estávamos habituados, cada vez sabem melhor os momentos passados à volta de uma mesa de chá e hoje já tive o grato prazer de o saborear em casa de amigos, ainda por cima num ambiente povoado de pequenos tesouros como estes, que eles também apreciam... e acumulam :)

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Miragaia vs Santo António de Vale da Piedade

Uma das áreas da faiança portuguesa que é alvo de interesse e suscita muitas dúvidas é a faiança azul e branca a que se chama de Miragaia, sobretudo o motivo País e o chamado Cantão popular. Felizmente o catálogo Fábrica de Louça de Miragaia veio lançar alguma luz sobre o assunto, ao demonstrar que muita coisa do género se fabricou noutras unidades cerâmicas do norte do país, mas obviamente não o esgota.
Uma das fábricas concorrentes com produção semelhante, de que se fala muito menos, é a de Santo António de Vale da Piedade e talvez por essa razão, esse nome exerce sempre em mim alguma atração.

Travessa marcada da Fábrica de Miragaia

Fiquei por isso muito satisfeita quando há tempos um seguidor deste blogue me enviou amavelmente fotografias de duas travessas suas do século XIX, com o motivo País - o tal que foi inspirado num motivo da faiança inglesa da Herculaneum Pottery já aqui abordado - ambas marcadas, sendo a primeira de Miragaia e a segunda de Santo António de Vale da Piedade. 


Travessa  da Fábrica de Santo António de Vale da Piedade e respetiva marca

Comparando as duas peças apenas visualmente e a duas dimensões - fatores como o peso e o tipo de pasta também são sempre importantes - percebe-se que o motivo central é muito semelhante nos dois exemplares, mas já na cercadura, flores e folhas apresentam diferenças. Também segundo o amigo possuidor das peças, os azuis são distintos, mais intensos os de Sto António, embora devido à variável incidência de luz nas fotografias, esse dado não seja percetível aqui nem nas imagens de catálogos. Talvez mais percetível é um outro dado também distintivo das duas produções segundo o dono das peças que é o branco "frigorífico" de Miragaia que não se observa em Santo António de Vale da Piedade.

Jarra de altar sem marca
Os azuis muito vivos que decoram esta minha jarra de altar, já aqui partilhada, estarão mais próximos dos de Santo António do que dos de Miragaia,  só que aqui não aparece qualquer marca. Aliás, a  única peça deste tipo que tenho marcada  é um prato de Miragaia, sobre o qual já fiz um post, mas que achei oportuno aqui trazer de novo. Pretendo salientar a semelhança com a primeira travessa, não só no motivo, que é o mesmo, mas na moldagem da orla, bem caraterística da loiça tipo país de Miragaia.

Prato marcado da Fábrica de Miragaia
Para além disso, penso que os tons azuis do meu prato ficaram  razoavelmente fiéis na fotografia aos tons Miragaia que ele apresenta ao vivo, notando-se uma diferença assinalável em relação aos azuis da jarra. Será que é esse tipo de diferença que se observa ao comparar-se ao vivo peças de um e de outro fabrico?
Luis Augusto de Oliveira, grande colecionador de faiança portuguesa de há cem anos, que muito contribuiu para as coleções do Museu de Viana, no seu catálogo "Exposição Retrospetiva de Cerâmica Nacional em Viana do Castelo" refere-se assim aos azuis de Santo António de Vale da Piedade do período de João Araújo Lima, pós Rossi, portanto.

" Em 1844 conseguiu admitir o barrista Francisco de Lima, melhorando em seguida as condições da fabricação, rivalisando então de certa maneira com os productos de Miragaya.
Diligenciou obter a maneira de preparar a melhor tinta de côr azul, que resultou do emprego de cobalto, depois de passar por diversas reacções chimicas, sendo a receita fornecida pelo lente de Chimica da Academia Polytechnica Frei Joaquim de Stª. Clara de Souza Pinto..."


Também do mesmo seguidor é esta travessa, sem marca, segundo ele atribuível a Santo António de Vale da Piedade pelo tipo de cercadura, muito semelhante à de uma peça de lá proveniente.
Eu considero-a uma travessa encantadora, não só pela delicadeza do motivo floral da cercadura, mas também pelo tema central nitidamente inspirado na fábula de La Fontaine "A raposa e o corvo".
Só que aqui os azuis já não parecem tão intensos... 
Enfim, há que concluir que é dificílimo fazer este tipo de comparações por fotografia.

Resta-me agradecer ao seguidor anónimo que nos proporcionou admirar e discorrer sobre  as suas belíssimas peças, disponibilizando também alguma da informação que aqui partilhei.



terça-feira, 20 de novembro de 2012

Exposição "O CHÁ de oriente para ocidente" - II Exhibition: "TEA from East to West" - II

Capa e contra-capa da brochura da exposição
Vou hoje participar novamente nos eventos do chá com ligação a Tea Cup Tuesday, Tea Time Tuesday e Tuesday Cuppa Tea com mais fotografias da exposição sobre o chá que se encontra no Museu do Oriente em Lisboa.

Retrato de Catarina de Bragança, atelier de Justus Sustermans (1587-1681) 
Desta vez vou-me centrar mais na pintura e mobiliário, mas também na porcelana europeia ali patente. Escolhi começar com um retrato da nossa Catarina de Bragança (1638-1705), a rainha consorte (com pouca sorte, aliás) do rei Carlos II de Inglaterra, cujo nome ficará sempre associado à difusão do chá na corte inglesa, hábito que terá levado da casa real portuguesa.


Porcelana chinesa decorada na Europa, final do século XVIII
É do tempo em que ela reinou em Inglaterra a primeira porcelana decorada na Europa, porcelana que vinha da China decorada a azul sob o vidrado e que, chegada à Holanda, ou também a Londres, recebia decoração sobre o vidrado a vermelho ferro, dourado e por vezes verde, imitando a porcelana Imari decorada na China e no Japão. A este processo de decoração chamou-se "clobbered" como eu já referi num post, a propósito de uma tacinha deste tipo.

O requinte dos móveis vindos do oriente com embutidos de madrepérola
Caixas em charão para guardar o chá, com fechadura!
Em ambientes europeus, a cerimónia de tomar chá a meio da tarde ganhou estatuto social e os serviços para chá estão entre as primeiras peças de porcelana fabricadas na Europa, mas também os de faiança, não faltando os serviços de prata a acompanhar.

Porcelana europeia sobre mesa portuguesa de pau-santo da 2ª metade do século XVIII

Eduardo Viana, Interior, 1914
Bule Wedgwood em biscuit negro ou black basalt (1813-1815) 
Segundo texto do catálogo, este bule faz parte de um serviço comemorativo da batalha de Vitória que marcou o final da Guerra Peninsular, motivada pelas invasões napoleónicas em Portugal e Espanha.

Veloso Salgado, Juventude, 1923
Porcelana da Vista Alegre num modelo usado por toda a Europa no final do século XIX 
Nesta exposição, encontravam-se objetos de diversos materiais, predominando naturalmentemente os materiais cerâmicos. Mas, para além dos serviços em prata,  havia chávenas e pires em tartaruga, em laca policromada e até em palhinha. Houve, no entanto, um material que não consegui ver na exposição: o esmalte.
Por isso, vou aqui acrescentar uma pequena taça e pires no chamado esmalte de Cantão e assim acabar o post com um toque pessoal, esperando que tenham gostado das imagens da exposição que selecionei para hoje.






segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Exposição "O CHÁ de oriente para ocidente" - I - Exhibition: "TEA from East to West" - I

Bule em formato de flor de lótus - família rosa, período Qianlong (1736-1795)
Na minha última ida a Lisboa fazia parte do programa visitar a exposição sobre o chá, patente no Museu Fundação Oriente. As expectativas que levava tiveram resposta à altura, pelo que recomendo vivamente esta exposição a quem a possa visitar até 13 de Janeiro de 2013.
Porque acho que a exposição merece ser divulgada, mesmo além fronteiras, resolvi hoje trazer peças de porcelana chinesa ali expostas para o chá de Tea Cup Tuesday, Tea Time Tuesday e Tuesday Cuppa Tea.
Para além dos painéis informativos e ilustrações que contam a história do chá - começando com as variedades da Camellia sinensis e as classes de chá resultantes do seu processamento - estão em exposição cerca de 250 objetos ligados ao chá, entre porcelanas, pratas, pintura e mobiliário.
Também ali se menciona o papel que teve o porto de Lisboa no século XVI, ao receber esta mercadoria, até então desconhecida na Europa, e ao fazê-la chegar a outros países.

Recipiente em madeira lacada a vermelho para lavar as chávenas de chá e deixá-las a enxugar (China, séc. XIX)
Obviamente que o que aqui vou mostrar só consegue dar uma pequena ideia do que se pode admirar in loco e é claro, tudo filtrado pelo meu gosto pessoal, mas também pela facilidade maior ou menor em conseguir tirar as fotografias.
Optei por mostrar apenas porcelana chinesa, a mãe de todas as porcelanas, sendo a maioria das peças expostas pertença de um colecionador português, Luís M. da Graça.  Admito, no entanto, vir a fazer outro post com porcelana europeia, pintura e mobiliário que fotografei na exposição.

Bules e taças em porcelana branca ou blanc de Chine (China, séc. XIII-séc. XVII)
Bules em porcelana branca decorada a azul cobalto sob o vidrado (China, séc. XVII- XVIII)
Bules em porcelana decorados a imari chinês na fila da frente e com esmaltes da família verde em segundo plano (China, séc. XVII e XVIII)
Porcelana decorada em grisaille (China, séc. XVIII)

 Bules em porcelana decorada a azul soprado, a chocolate ou Batavia e em preto, alguns com reservas de flores (China, séc.  XVIII)


Espero que os apreciadores de chá que me visitam e todos os apreciadores de arte em porcelana se tenham sentido inspirados por esta pequena amostragem do que se pode admirar na exposição do Museu Fundação Oriente.