sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Pratos de faiança com jarras de flores


 Os motivos florais abundam na faiança portuguesa dos séculos XIX e XX, não só a compor cercaduras estampilhadas, mas mesmo como  tema central e já aqui mostrei vários pratos com esse tipo de decoração, muitos deles normalmente atribuídos a Coimbra.
Este exemplar de pequenas dimensões - tamanho de prato de sopa - atraiu-me não só pela forma do ramo, mas sobretudo pela presença da jarra.


Este elemento, aos meus olhos, dá-lhe um ar mais ingénuo e também mais arcaico, lembrando-me até uma ingénua natureza morta pintada em faiança. Gostei da simetria, das tonalidades usadas e sobretudo da forma da jarra,  invulgar dentro das representações em faiança que eu conheço.


Neste outro prato que já aqui tinha mostrado, este de maiores dimensões, a composição central de flores é semelhante, mas neste exemplar a jarra é muito menos elaborada, fazendo até lembrar mais um vaso de barro do que uma jarra. 
Para além das faixas amarelas concêntricas, há aqui um elemento decorativo a que não dei atenção na altura e que me faz pensar em fabrico de Gaia. 


São aquelas linhas curvas a azul, tipo rabiscos, de cada lado do vaso, que também aparecem em muitos pratos atribuídos a Bandeira, nomeadamente em pratos de Meninos Gordos, mas também em peças do chamado cantão popular, e no próprio motivo País de Miragaia, nesses casos a representar vegetação. 
A própria opção de adicionar em simetria uma folha verde de cada lado do motivo central, encontra-se muito nas faianças nortenhas do século XIX e é um elemento recorrente, em diferentes tamanhos, nos pratos dos Meninos Gordos das fábricas de Gaia - Fervença, Bandeira, Afurada.
Este é decididamente um prato de faiança do Norte, mas mais do que isso... é difícil dizer.



"Rabiscos" filiformes a representar vegetação, semelhantes aos do meu prato, numa travessa do tipo cantão popular

Voltando às jarras de flores como motivo central nas faianças,  a IF, que muitas vezes visita este blogue e tem deixado comentários inestimáveis sobre faianças, enviou-me entretanto uma fotografia de um Ratinho muito invulgar que encontrou num catálogo de 1996 do Palácio do Correio Velho. 
Flores... dois corações... um par de pássaros... não será difícil detetar aqui uma simbologia ligada ao namoro ou ao casamento, como nos pratos em que aparecem dois corações como motivo central.
Agradeço mais este contributo para que vamos aumentando cada vez mais o nosso conhecimento de motivos e estilos na tão variada e criativa faiança portuguesa de cariz popular.



terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Motivos com rosas em porcelana inglesa antiga - Rose motifs on early English china


Esta semana, em resposta ao desafio lançado pela Sandi de Rose Chintz Cottage,  blogue que está a comemorar dois anos de existência, trouxe para o chá de Tea Cup Tuesday e Tea Time Tuesday peças de porcelana inglesa já bicentenárias, decoradas com rosas.
São tacinhas e pires fundos, modelos muito típicos dos primeiros tempos do fabrico de porcelana em Inglaterra, que, como já aqui referi, seguiam de muito perto as formas e as decorações da porcelana chinesa, neste caso a porcelana Família Rosa, que chegava à Europa através das Companhias das Índias Orientais.




Esta taça e o pires não têm qualquer marca, mas com um pouco de pesquisa na internet identifiquei o motivo como sendo o padrão 311, introduzido pela fábrica de porcelana New Hall em 1795-1800.
Os vários padrões introduzidos iam sendo numerados e registados em livros, os famosos "pattern books", sendo esta fábrica considerada pioneira nesse processo de  numeração e registo, que hoje ajuda a identificar e a datar porcelanas sem marca.
As duas peças foram compradas em Londres, muito baratas considerando a valorização que têm em Inglaterra, numa feira de antiguidades e velharias que se realiza à segunda-feira no Jubilee Market, um mercado coberto junto a Covent Garden.
Entretanto, estando para mim já firmada e fundamentada a atribuição deste padrão a New Hall, qual não é o meu espanto quando encontro um conjunto de taça e pires exatamente igual no Museu Victoria & Albert, atribuído a Coalport e datado de 1805-1814.
Houve cópia entre fábricas? Houve engano de estudiosos? Vá-se lá saber...


Por sua vez este pires sem chávena e sem marca, apresenta o padrão 172 da New Hall, datado de 1785. Dei com os olhos nele num antiquário em Coimbra e lá trouxe mais este tesourinho para casa por um preço muito acessível.
Para quem se interessa por porcelana inglesa antiga, o nome New Hall é incontornável. Não atingiu os picos de excelência em porcelana que se reconhecem noutros nomes como Worcester ou Derby, mas teve, ao longo de cerca de 50 anos de existência, uma produção muito variada com motivos simples e despretensiosos mas muito agradáveis à vista, destinados à mesa da classe média.
O seu iniciador foi Richard Champion, um comerciante de Bristol que, depois de conhecer o fracasso comercial no fabrico de porcelana em Bristol, se estabeleceu em Shelton, no Staffordshire, em 1781 e aí iniciou com sucesso o fabrico de porcelana híbrida de pasta dura, com vários sócios que conseguiu graças ao apoio e prestígio de Josiah Wedgwood, (na altura mais interessado no fabrico de faiança fina de vários tipos).
Só na segunda década de oitocentos esta companhia introduziu a bone china, a fórmula de porcelana tipicamente inglesa, mais branca do que a anterior, e foi também nessa altura que começaram a usar marcas, tendo continuado a laborar até aos anos trinta do século XIX.




 Esta segunda taça com o pires, embora com um motivo do tipo New Hall, apresenta um número de padrão em fração, o que exclui logo a possibilidade de serem  desse fabrico, já que New Hall não usou o sistema de números fracionários, sistema esse que eu já expliquei num outro post. Poderá ser Coalport ou mais provavelmente Ridgway, das primeiras décadas do séc. XIX.
O 2 como numerador deve corresponder à segunda série de numeração iniciada a partir do número 1000, o que significa que este será o padrão 1918. O número 5 deve ser um símbolo de pintor porque no pires é substituído por três pontinhos.
A compra destas peças, ambas com defeitos, tem a sua história. A tacinha, com um cabelo pouco visível, foi comprada há anos, já não me lembro onde, mas sei que me custou 10 €. Há cerca de um ano encontrei em Algés o pires, partido e colado, pela módica quantia de 1€.
De vez em quando há horas de sorte!!!

Mais uma vez, a maior parte da informação que aqui partilho sobre porcelana inglesa baseia-se na leitura de um livrinho precioso que já aqui mostrei, com o título "English Porcelain" de John Sandon.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Mais um livro restaurado

Enquanto não consigo acabar de restaurar o meu "Thesouro de Prudentes" de que já aqui falei - está incompleto e preciso de digitalizar páginas de outro exemplar para o completar -  tenho feito outros trabalhos nas minhas aulas de conservação e restauro de livros na oficina da Rua da Alegria em Coimbra.


Embora tecnicamente este exemplar não entre na classificação de Livro Antigo -  essa categoria apenas inclui os livros publicados até 1800, segundo uns, até 1820, segundo outros - é de facto um livro já antigo quase a perfazer 190 anos,  com data de 1823.
Trata-se de um Novo Testamento impresso numa oficina de Chelsea, em Londres, e traduzido para português pelo padre António Pereira de Figueiredo (1725-1797), segundo a Vulgata, como se pode ver na folha de rosto. Para quem não saiba, entende-se por Vulgata a tradução da Bíblia para latim, levada a cabo por S. Jerónimo entre finais do século IV e o início do século V.

A folha de rosto, uma das mais afetadas por  manchas de humidade  que não consegui remover

Encontrei-o na feira de Algés com muito mau aspeto, ao preço de 1€. Tinha a lombada quebrada e toda metida para dentro, com falta de pele, e toda a capa estava em mau estado. No entanto, ao folheá-lo, vi que por dentro, exceptuando a sujidade e as dobras nas páginas, o estado era bom.

O estado em que se encontrava a capa original

Está completo com todos os livros que compõem o Novo Testamento - Evangelhos de S. Mateus, S. Marcos, S. Lucas e S. João; Actos dos Apóstolos; Epístolas de S. Paulo, Apocalipse - e foi encadernado in-oitavo, tornando-o um livro pequeno mas volumoso, de 848 páginas.
 Depois da higienização, isto é, limpeza da sujidade página a página com uma trincha, foi-lhe retirada a capa original, já incompleta e muito quebradiça, e refez-se a lombada, aplicando-se um novo transfil e talagarça. Esteve na prensa uma semana para lhe corrigir a deformação da lombada e entretanto fez-se uma nova capa em pele de carneira.
Embora haja sujidade entranhada causada por humidade e outros agentes, nem sequer pus a hipótese da lavagem das folhas, dada a morosidade do processo num livro com tão elevado número de páginas.
Finalmente pela primeira vez, estive a aprender a usar os ferros para aplicar letras e ornatos sobre a pele. É um trabalho de precisão manual, que não é fácil deixar perfeito.
Embora goste muito de ver os dourados nas encadernações, após ensaios em bocados de pele,  não me agradou o efeito com ouro, demasiado brilhante, por isso resolvi aplicar os ferros só a queimar a pele e o resultado ficou mais a meu gosto.
O toque final foi a composição das palavras Novo Testamento, com tipos móveis, para serem gravadas na lombada.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Chávenas Arte Déco da Coimbra S.P. - Coimbra S.P. Art Deco cups


Aproxima-se mais uma terça-feira em que vou participar nos eventos ligados ao chá, Tea Time Tuesday e Tea Cup Tuesday, desta vez com porcelana portuguesa da Coimbra S.P.
A Sociedade de Porcelanas de Coimbra tem muito modelos de chávenas de chá e de café ao estilo Arte Déco, mas geralmente corta a rigidez das linhas geométricas típicas deste estilo com cores e desenhos mimosos, como é o caso destes dois exemplares.

 

Aqui não há arestas vivas, cores contrastantes ou formas muito inovadoras, mas o estilo parece-me bem reconhecível.
Para além da forma de ambas as asas, igual à do conjunto SP que aqui mostrei há cerca de dois meses,  reconhecem-se as linhas Arte Deco nas nervuras da chávena e pires de chá e na forma poligonal da chávena e pires de café.


Ambas apresentam barras em tons pastel de azul e de verde, delimitadas por filetes a ouro e são decorados por delicados raminhos de flores, no caso da azul, a decorar também o fundo da chávena.
Como a Sociedade de Porcelanas manteve o mesmo carimbo ao longo de décadas, só pela forma me atrevo a datar ambos os exemplares das décadas de 30 ou 40.


O conjunto de chá com a barra verde, embora com defeitos na chávena, apresenta  pormenores na marca  que me convenceram logo à compra, uma vez que não tinha ainda visto exemplares com este tipo de anotações, muito claras, tanto na chávena como no pires. Como qualquer pessoa perceberá, trata-se do modelo Tânger, o pires nº 2 será o tamanho de chá e os restantes dados são a referência desta decoração.
Tenho variadas peças e um ou outro serviço SP, mas com estas anotações escritas à mão só tenho estes 2 exemplares, chávena e pires, e um conjunto de pires que comprei na altura do encerramento da fábrica (2005) que me parecem ser amostras para decorações ou para ensaio de cores.



 Este é o único que, para além das anotações no verso, também tem números e letras na parte da frente; julgo  tratar-se de uma peça para uso interno, com instruções para decoração.



quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Leiteira inglesa - "creamware" ou "pearlware"?


Há uma variada nomenclatura relativa ao tipo de pasta usado na faiança  inglesa desde o século XVIII que eu confesso ter muita dificuldade em dominar. Vou-me socorrendo de livros que tenho sobre o assunto, mas sem nos passarem várias peças pela mão, é difícil ter certezas.
Estas distinções podem parecer um preciosismo, mas em peças não marcadas, como são quase todas, podem dar um valioso auxílio à datação.
Sei que a primeira fórmula a ser desenvolvida em faiança fina para competir com a porcelana foi o creamware, como o nome indica uma faiança  de cor creme, introduzida no fabrico cerâmico a meados do século XVIII. Durante muito tempo pensei ser essa a pasta desta minha leiteirinha.
Acontece que ao fotografá-la agora para o post, detetei uns tons azulados em certas zonas do vidrado, o que carateriza o pearlware, desenvolvido mais para o final do século, basicamente um creamware com acrescento de caulino e vidrado com óxido de cobalto - daí o tom azulado - e já não com óxido de ferro. Pretendia-se obter faiança num tom mais próximo do branco,  tendo Josiah Wedgwood (1730-1795) um papel  determinante na introdução dessa pasta a que ele chamou pearl white.


A leiteira tem um formato que vem das baixelas de prata -  com a secção em losango,  e todo o bojo com  uma moldagem espiralada - muito usado na cerâmica inglesa deste tipo no final de setecentos e início de oitocentos, sobretudo nos bules, as peças que tenho visto mais. Apresenta uma reserva florida de cada lado do bojo, ao estilo das porcelanas chinesas "família rosa".
Numa fabulosa coleção de bules ingleses antigos integrada nos museus Norfolk - Norfolk Museums & Archeology Service - encontrei um com o mesmo tipo de molde, ou seja,  secção em losango, corpo com espiras e reentrância em meia cana entre o corpo e a base,  atribuído a Don ou Mexborough de Yorkshire.



Um outro nome que é associado a peças deste tipo do início do século XIX (geralmente datadas entre 1800 e 1806)  é o de Thomas Harley de Staffordshire mas o bule da coleção dos museus Norfolk que lhe é atribuído já é decorado, não com pintura à mão, mas pelo processo de estampagem ou transfer printing.




Voltando à leiteira, quando a encontrei há uns anos na Feira de Algés não conhecia nada sobre este tipo de faiança e nem sequer sabia que era inglesa. No entanto, houve algo que me atraiu nela e acabei por acertar na mouche. Claro que preferia ter encontrado um destes bules, mas estes são à partida mais valorizados e estão certamente mais a recato, em coleções ou nos armários dos antiquários. Como não dou muito dinheiro por estas coisas, vou continuar a esperar por um dia de sorte...
Acho que de vez em quando ao olhar para certas peças, mesmo sem saber nada sobre elas, tenho um feeling de que estou na minha área de eleição...  :)

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Afinal o prato com a coroa... era do Espírito Santo!!!

Bandeira do Espírito Santo de uma irmandade açoriana
Mostrei aqui, há pouco mais de um mês, um prato de faiança decorado com a coroa real, tendo como intenção assinalar a comemoração do Dia da Restauração a 1 de Dezembro de 1640.
Era minha convicção que a coroa real e aquele raminho num azul tão monárquico se destinavam a prestar tributo à monarquia portuguesa e foi nesse pressuposto que desenvolvi todo o texto.


Estranhava apenas que todos os outros exemplares que conhecia, assim como o belo conjunto  que vim  a acrescentar ao post por cedência de fotos de uma colecionadora amiga, para além da coroa apresentassem outros símbolos reais, como as bandeiras e as armas reais.
Na altura o Mercador Veneziano enviou-me fotos de pratos só com a coroa, mas não lhes encontrei grande afinidade com o meu, quer em termos cromáticos, quer decorativos, por serem  a azul e branco e com cercaduras muito diferentes.



Ele tinha-os fotografado num dos seus catálogos e enviou-me também as descrições de ambos, que atribuiam o primeiro a Gaia e o segundo a Coimbra
Estava tão interessada em encontrar afinidades que me ajudassem a determinar o local de fabrico do meu prato, que não me detive noutras reflexões sobre os motivos simbólicos. Afinal eu já conhecia aquela coroa em contextos que já nada têm a ver com a monarquia, mas foi o Mercador Veneziano que me pôs à frente dos olhos essa nova pista.


Enviou-me fotos de um outro livro seu intitulado "A Cerâmica Terceirense" de Jácome de Bruges Bettencourt e eu pude constatar que este tipo de decoração, embora geralmente monocromada,  era usada em pratos destinados ao culto do Espírito Santo, introduzido em Portugal pela "Rainha Santa" Isabel de Aragão, mulher de D. Dinis, em tempos  festejado por todo o país, mas hoje sobretudo arreigado em terras açorianas, ou naquelas para onde foi levado pelos emigrantes açorianos no Brasil e nos E.U.A.


Só nessa altura reparei que a coroa do meu prato tem desenhado ao centro, por baixo da cruz, o que se pode entender como o corpo estilizado de uma pomba com as asas abertas, mas nenhum dos outros pratos apresenta essa caraterística.
São peças que se destinariam à recolha de esmolas - não de dinheiro mas pedaços de carne ou de pão que depois eram servidos no bodo -   sendo os alimentos servidos gratuitamente a toda a população, originalmente aos mais pobres da comunidade, em compridas mesas ao longo da rua, daí a origem da expressão "bodo aos pobres".
Mesa do bodo com o Império ao fundo -Vila da Calheta, S. Jorge, 1959
Estou ligada aos Açores e a estas festividades por dois períodos da minha vida: ainda criança, vivi  meio ano na vila da Calheta da ilha de S. Jorge e aí tive a experiência de ser coroada com a coroa imperial do Espírito Santo numa das coroações integradas nos festejos que se realizavam na Primavera. Ali era escolhida uma criança para desempenhar as funções de imperador e ser coroada, no fim da missa de festa.


Colocação da coroa, aqui só para a fotografia

Cortejo da coroação dirigindo-se à igreja

Mais tarde na cidade de Angra, onde vivi dois anos da minha adolescência, assistia à festas que se realizavam a partir de Maio quase todos os fins de semana nas diversas freguesias, incluindo touradas à corda, e passava diariamente, nas minhas idas para o liceu,  por um destes Impérios do Espírito Santo, edifícios muito ingénuos e garridos, sobretudo na Terceira, onde se centram as atividades de cada irmandade e que nos dias de festa
estão todos abertos e engalanados.

Império de S. Bento na cidade de Angra

Aqui no continente, embora ainda haja várias localidades que realizam festas de culto ao Espírito Santo - sendo a mais conhecida a Festa dos Tabuleiros em Tomar - só tenho conhecimento de uma localidade onde as festas têm ainda hoje caraterísticas semelhantes às dos Açores: Colares no concelho de Sintra, a avaliar por um programa das festas que li num site da internet.
Voltando ao meu prato com a coroa, permanece a dúvida de onde terá sido o seu fabrico. A decoração é muito diferente da dos exemplares açorianos aqui mostrados, para mim tem um ar nortenho, por isso talvez se destinasse a celebrações em terras continentais, mas quais?
Quem se interessar pelo tema do culto ao Divino Espírito Santo, poderá ficar a saber mais em:http://pt.wikipedia.org/wiki/Irmandades_do_Divino_Esp%C3%ADrito_Santo

Um agradecimento muito especial ao Mercador Veneziano que me sugeriu esta interessante pista, sendo o responsável por algumas (re)descobertas que fiz e por me fazer revisitar outros tempos, outros lugares...

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Porcelana alemã alusiva à época - German porcelain evoking the season

O Natal e o fim de ano já lá vão, mas a época festiva só termina a 6 de Janeiro, o Dia de Reis, especialmente importante para os nossos vizinhos espanhóis e de uma maneira particular para as suas crianças que recebem nesse dia as tão desejadas prendas.


Por isso, vou hoje participar nos eventos do chá de terça-feira  - Tea Cup Tuesday, Tea Time Tuesday e Teapot and Tea Things Tuesday - com duas peças (aliás três) de porcelana alemã, decoradas para evocar o inverno e esta época festiva.
Trata-se de uma chávena e pires Waldershof e de uma jarra Rosenthal, em ambos os casos fabrico alemão de meados do século XX.



Na chávena percebe-se a influência da estética Arte Déco pelo formato da asa. A decoração é leve, uns toques de dourado à mistura com tons outonais, apenas cortados pelo belo tom de azul de uma ou outra estrela.





Na marca lê-se Waldershof Bavaria e Germany, com um N e  uma coroa, a lembrar o N coroado da porcelana de Nápoles que foi imitado por vários fabricantes alemães nos séculos XIX e XX.
A Waldershof foi fundada na Baviera em 1916 e dedicou-se ao fabrico de peças para a mesa durante várias décadas do século passado.


Na jarra pode-se apreciar a elegância, a excelência da porcelana Rosenthal. Tenho várias pequenas peças deste fabrico, mas esta é a minha preferida e foi comprada por tuta e meia há meia dúzia de anos numa loja de artigos usados.
É o modelo Inka, como se vê no carimbo, uma produção dos anos 50 com uma decoração muito leve, um cromatismo muito contido de rosas e cinzentos  que eu acho de muito bom gosto.



Para além da marca a verde e da numeração que se vê impressa a dourado, há também um número inciso na pasta, o 2119.1, mas não sei qual o significado destes números.
Fundada em 1879 por Phillip Rosenthal na região de Selb na Alemanha, o nome Rosenthal é conhecido em todo o mundo ligado ao melhor fabrico de porcelana e de vidro.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Jarra de altar em faiança azul e branca



Encontrei esta jarra de altar com forma de balaústre num antiquário do Porto. Já aqui tinha mostrado outra com a mesma forma, mas com tamanho e decoração diferentes, embora as riscas verticais do pé se mantenham.
Apesar de partida, faltando-lhe um bocado na aba da abertura, que entretanto já preenchemos grosseiramente, cativou-me a forma e a decoração, naquele azul cobalto a lembrar muita da produção oitocentista do Porto e de Gaia.


Mas o que me fez definitivamente comprá-la foi a inscrição "S. Pedro" que ostenta no bojo. Pensei imediatamente na Igreja de S. Pedro de Miragaia e daí na possibilidade de ser um produto  da Fábrica de Miragaia...
Lembrava-me de ter visto jarras deste género não só nos altares daquela  igreja, mas também no museu anexo e por isso, logo que pude, fiz uma nova visita à igreja de Miragaia, verificando então que as suas belas jarras de faiança azul e branca têm como inscrição as iniciais S.P.M. (S. Pedro Miragaia).


Comecei  a pensar que a jarra devia ter pertencido a uma outra igreja ou capela que venerasse aquele santo e com um pouco de pesquisa, fui parar à outra margem do rio Douro, mais precisamente à freguesia da Afurada em Vila Nova de Gaia, terra de pescadores, que tem como padroeiro S. Pedro.
A atual igreja de S. Pedro da Afurada é muito recente e moderna, mas foi construída para substituir a capela da Afurada, destruída pelas cheias do Douro, tendo ficado no estado que se vê em baixo, na grande cheia de Dezembro de 1909.


Há assim a possibilidade de que esta minha jarra tenha sido salva da destruição que afetou a capela e, quem sabe, seja uma peça  produzida pela local Fábrica da Afurada.
Mas Fervença, Bandeira, Torrinha e, sobretudo, Santo António de Vale da Piedade, também não estavam longe; pelos azuis intensos, com pinceladas muito visíveis, a última destas hipóteses parece-me bastante plausível.

A mesma forma de balaústre nas duas jarras de altar