segunda-feira, 25 de março de 2013

Flores de roseira brava - Wild rose flowers



 Uma das minhas motivações para acumular objetos de loiça, a maior parte ligados ao chá, é dar guarida a peças de boa qualidade, belas e apreciadas à nascença, mas que ficaram desprezadas por algum tombo que deixou estrago, ou pela perda do seu complemento, chávena ou pires.
One of my motivations to accumulate china objects, most of them tea related, is to give shelter to good quality pieces, beautiful and appreciated at birth, but left uncared due to some fall  that resulted in damage or to the loss of the matching part, cup or saucer.


Depois, aqui no blogue, procuro dar-lhes de novo um certo glamour, pela história que podem contar,  pela temática da decoração ou pela companhia que lhes consigo arranjar, para participarem em mais um chá à terça-feira. Hoje mais uma vez com Tea Cup Tuesday, Tea Time Tuesday e Tuesday Cuppa Tea.
Then, here in the blog, I try to give them some glamour again, through the story they can tell, the theme of the decoration... or the company I find for them :) so they can participate in another tea on Tuesday. Today, once again with Tea Cup Tuesday, Tea Time Tuesday and Tuesday Cuppa Tea.



Esse é o caso da chaveninha com três delicados pés dourados, decorada com flores e folhas sobre um suave fundo azul claro, que comprei por 2 ou 3 euros, sem pires e sem qualquer marca.
Não queria mostrar a menina assim de pernas para o ar ;) mas só desta maneira se podem ver os três pezinhos em que ela assenta.
That's the case of the little cup with three delicate gilded feet, decorated with flowers and leaves on a light blue ground, which I bought for 2 or 3 euros, saucerless and unmarked. I didn't mean to show the girl turned upside down ;) but only this way can one see the three little feet on which she stands.



Reparei há pouco tempo que as flores pintadas à mão que embelezam a chávena são de rosas bravas, muito semelhantes às dos raminhos usados para enquadrar a paisagem ribeirinha de chávenas de porcelana Vista Alegre, que cá tinha em casa. 
Not long ago I noticed that the hand painted flowers that embelish the cup are wild roses, very similar to the ones used to frame the waterfront landscape on Vista Alegre cups, which I already had at home.


A paisagem, incluindo o pormenor da ponte de madeira, lembra-me  os arredores da Fábrica Vista Alegre em Ílhavo, junto a um prolongamento da ria de Aveiro.
The landscape, including the detail of the wooden bridge, reminds me of the surroundings of Vista Alegre factory, in Ilhavo, close to a stretch of Aveiro sound.


Esta chávena V.A. é de uma porcelana muito fina, bem translúcida, colorida à mão, num conjunto já centenário ou quase, uma vez que a marca foi usada entre 1881 e 1921.
This V.A. cup was made in a very thin porcelain, quite translucent, hand coloured, in a set that is centennary or nearly so, since its backstamp was used between 1881 and 1921.



E chegada a primavera, por enquanto chuvosa e triste aqui para os meus lados, não tardará muito que comecem a florir as roseiras bravas, que se agarram a muros e a sebes e vão alastrando com belos tufos de flores singelas ou dobradas.
And once Spring has arrived, rainy and sad around here for the time being, it won't take long before  wild roses start to bloom, clinging to walls and hedges and spreading in beautiful flower clusters, either single or double.



São destas assim dobradas as que vão colorir a minha sebe, talvez daqui a um mês...
Mas até lá, terá que vir muito sol!!!
They're like these doubles the ones that will colour my hedge, in a month, maybe...
But until then, there must be a lot of sunny weather!!!




Desejo a todos os que me visitam uma boa semana pascal, para muitos em merecidas férias... mas não comam muitas amêndoas! :)
I wish a good Easter week to all those who come to visit, many of them enjoying well deserved holidays...but don't eat too many almond eggs! :)

sexta-feira, 22 de março de 2013

Saleiros

Atraem-me sempre os pequenos objetos de mesa; destes, os saleiros - em loiça, vidro ou metal - estão entre os meus preferidos. Há formatos antigos lindíssimos, desde os de porcelana chinesa que a Vista Alegre tem reproduzido sobretudo em peças comemorativas ou para coleção, até às mais diversas formas em prata com o respetivo interior em vidro azul ou transparente, a formar pares ou em conjuntos de cinco ou mais... e com a minúscula colherzinha a acrescentar ao charme.


Os formatos foram evoluindo e já no final do século XIX, aqui em Portugal, os serviços incluiam um saleiro duplo, formando uma peça dual com pega, à imitação dos galheteiros. Este formato, embora usado por fábricas europeias de prestígio desde o século XVIII, sempre me intrigou como saleiro, porque, se excluirmos a presença da pega, não vejo qualquer utilidade na junção de dois recipientes para sal. Os pares e conjuntos de saleiros iguais justificavam-se para espalhar pela mesa, mas estes duplos (ou mesmo triplos como já vi um de Sévres) não tinham qualquer vantagem - a não ser que se usassem para sal e pimenta ou outros condimentos.


São desse tipo as peças que aqui trago hoje e de três fabricos portugueses distintos:  a Fábrica de Porcelana Vista Alegre, A Fábrica de Loiça de Sacavém e a Fábrica Cerâmica Lusitânia.



Comecei por este saleiro da Vista Alegre por, avaliando pela marca (1881-1921), ser possivelmente o mais antigo. Foi um padrão simples e relativamente vulgar nos serviços V.A., sobretudo usado em hotelaria.



O saleiro de Sacavém, já do período Gilman, deverá ter o seu fabrico situado entre 1909 e 1930, por pormenores da marca de que já aqui falei.



O saleiro Lusitânia, com nítidas formas Déco e com decoração floral adequada ao estilo, deve ser o mais recente, anos 30 ou 40 do século XX.


Aqui está um velhinho saleiro em porcelana chinesa azul e branca com o tipo de cercadura que o belo prato de faiança da Maria Paula me fez lembrar.


E agora o cúmulo do requinte! O especieiro da baixela Germain em prata dourada do Museu Nacional de Arte Antiga, referido pelo LuísY no seu comentário. Como o nome indica, destinava-se a especiarias que iam à mesa real, como a pimenta e a noz moscada cujos ramos ali estão representados, mas não deixa de ser equivalente aos mais comezinhos e plebeus saleiros duplos de loiça.


terça-feira, 12 de março de 2013

Telhas de faiança da Fábrica das Devezas


Já aqui falei por mais de uma vez nos beirais da Casa-Museu Teixeira Lopes em Vila Nova de Gaia, mas ainda não tinha partilhado as fotografias que lhes tirei na última visita. Hoje a casa e um edifício anexo albergam várias coleções que vão da escultura à cerâmica, podendo-se aqui apreciar um bom acervo de faiança portuguesa, sobretudo gaiense, capaz de deslumbrar qualquer apreciador de faiança antiga.
É bem conhecida a ligação do escultor António Teixeira Lopes (1866-1942) à Companhia Cerâmica das Devezas, fundada em 1865, de que o seu pai foi co-fundador e sócio.



Tendo esta casa sido construída no final do século XIX para residência e ateliê do escultor, segundo projeto do seu irmão, o arquiteto  José Teixeira Lopes, é obrigatório deduzir que os materiais cerâmicos de construção terão vindo da Fábrica das Devezas, com sede em Vila Nova de Gaia, aliás não muito longe deste edifício, e à época já com uma importante sucursal na Pampilhosa do Botão.


E seguindo a mesma lógica, podemos com segurança atribuir o fabrico das telhas ou telhões que formam estes beirais à mesma empresa cerâmica, embora não apresentem a terminação em relevo branco que já vimos noutros com o mesmo padrão, que lhe são atribuídos.
Aqui fica a evidência de que as telhas destes beirais são exatamente iguais às de outros três que mostrei em posts anteriores, dois no Porto - em S. Roque da Lameira e na Ribeira - e um em Ovar.



O que foi para mim uma surpresa constatar foi o formato muito mais estreito das telhas que se sobrepõem às que ficam visíveis no beiral. Foi-me dito por um vendedor de velharias que essas não têm qualquer decoração, serão brancas, o que me parece lógico, mas quanto ao tamanho ou formato pensava eu que seria o mesmo, o que as fotos acima desmentem.


Aqui está uma telha decorada deste tipo que integra a coleção do Museu Nacional do Azulejo (MNA). Tem de medida 63cm de comprimento e 17cm de largura.
E agora passo a apresentar duas telhas de beiral ou telhões que encontrei à venda no Porto há pouco tempo.


Na decoração são totalmente diferentes de todas as que vi até à data, aplicadas em beirais ou não. Lembram azulejos em azul e amarelo, com um remate muito bonito nas mesmas cores.
Pareciam-me mais  curtas do que  todos os outros exemplares que conheço - 58cm x 15cm e 59cm x 17cm -  mas afinal o exemplar acima do MNA tem medidas semelhantes , ao contrário de outros telhões do museu que, com a mesma largura, chegam a ter mais de 1m de comprimento.


Tal facto levou-me a pensar que podiam ser fabrico das Devesas, tal como o exemplar que mostrei acima igual aos telhões da Casa-Museu Teixeira Lopes. Mas há no MNA um outro telhão com as mesmas medidas marcado Santo António de Vale da Piedade. E agora?
E para terminar, só mais uma curiosidade: segundo as descrições destes materiais que encontrei na base de dados  do MNA, os beirais a azul e branco foram inspirados na China antiga.
Mais uma vez, a China como fonte longínqua de inspiração...

segunda-feira, 4 de março de 2013

Azul e flores para o chá - Blue and flowers for tea


Estou a precisar muito de sol, céu bem azul, muitas flores... ou seja, da nossa primavera, que tarda mas já se vai anunciando, para nos aliviar de um inverno prolongado e sombrio e de uma atmosfera bem deprimente que nos tem rodeado...
I'm in absolute need of sun, deep blue sky, plenty of flowers... in short, of our spring which is delayed but is already announcing itself ,to relieve us of a long and somber winter and of a rather depressing atmosphere that has been surrounding us here...


À falta de muitas flores no jardim - só algumas camélias, magnólias, miosótis, narcisos, amores-perfeitos - trouxe hoje para o chá, partilhado  com Tea Cup Tuesday, Tea Time Tuesday e Tuesday Cuppa Tea, um trio de porcelana inglesa com um motivo de rosas, a que juntei uma toalha bordada cheia de flores.
With the shortage of flowers in the garden - only a few camellias, forget-me-nots, magnolias, daffodils and pansies - I've brought to today's tea, shared with Tea Cup Tuesday, Tea Time Tuesday and Tuesday Cuppa Tea, an English porcelain trio with a rose motif, to which I added an embroidered table cloth with plenty of flowers.


Muitas pessoas se encantam por estes panos bordados de há 60 ou 70 anos e procuram-nos, agora por tuta e meia, nas feiras e lojas de velharias e usados.
A lot of  people are delighted by these embroidered linens made 60 or 70 years ago and look for them, now real bargains, in flea markets and in charity shops.



Eu, que também aprecio estes trabalhos, tenho a sorte de poder ir buscá-los às gavetas da minha mãe que passou a vida, desde menina, a bordar, a tricotar, a crochetar... e a encher gavetas :)
I, who am also very fond of these works, am lucky to have the possibility of finding them in my mother's drawers, for she spent her life, from a very early age, embroidering, knitting, crochetting... and filling drawers :)


Este trio de porcelana ostenta a marca Royal Stafford, criada em 1912 pela firma Thomas Poole, mais tarde Thomas Poole &Gladstone, sediada em Longton, Staffordshire.
This porcelain trio bears the Royal Stafford backstamp, which was created in 1912 by Thomas Poole company, later Thomas Poole & Gladstone, located in Longton, Staffordshire.

E para o chá de hoje escolhi umas folhas de erva-cidreira ou melissa, que colho e seco todos os anos,  a que gosto de juntar um pouco de mel.
And for today's tea I've chosen lemon balm leaves, which I harvest and dry every year, to which I like to add a little bit of honey.


Enquanto a primavera não chega com todas as suas bençãos, aqui fica um chá quentinho rodeado de flores... pintadas e bordadas ... a que acrescento agora as flores do jardim
While spring doesn't come with its array of blessings, here is a pretty hot tea surrounded by flowers... both painted and embroidered...  to which I now add the garden flowers.


                                                                                             

sexta-feira, 1 de março de 2013

Várias famílias de Cantão Popular


Ainda não há muito tempo, prometi ao LuísY do Velharias - grande entusiasta de Cantão popular que já conseguiu reunir uma boa coleção e fazer alguma sistematização dos vários tipos e  fabricos - que faria um post com os exemplares que fui reunindo, mesmo sendo alguns já bem conhecidos, para ajudar a compor a cena toda deste tipo de faiança.
São peças que também me atraem pela história do motivo - a adaptação das cenas Cantão, popularizadas pelo padrão inglês "willow", o salgueiro ou chorão -  pela ingenuidade da composição e pelos tons de azul intenso sobre o branco ou creme da pasta vidrada.
Como estão dispersos pela casa, alguns em paredes um pouco escuras, para não ter que os tirar todos do lugar para os fotografar, aproveitei um dos dias  de sol desta semana para lhes tirar o retrato "in loco"... mas acabei por ter de ligar a luz!
Neste conjunto há alguns que são fabrico de Aveiro, o do canto superior esquerdo marcado S. Roque e os dois iguais em cantos opostos, embora sem marca, têm a decoração típica das Faianças da Pinheira.


O único prato cuja decoração nunca vi noutro, é  este do canto inferior direito, numa pasta mais escura e com uma cercadura invulgar para este motivo decorativo, mas já não me lembro quando ou onde o comprei.  Embora com pormenores diferentes, a paisagem estilizada não difere muito da dos dois de Faianças da Pinheira.



Penso que a taça oval de aba ondulada e recortada que está ao centro será a peça mais antiga destas cinco, mas certamente já do século XX como todas as restantes. Aqui aparece a ponte bem definida mas sem figuras e entre os edifícios orientais a vegetação está reduzida ao mínimo, com uns traços na vertical cortados por outros curvos.

                  

Este jarro (ou caneca, ou infusa...) retoma alguns elementos decorativos da taça oval com uma grande profusão de traços, cruzados ou em arcos concêntricos a representar água e vários olhos, pestanudos ou não, que já foram núvens ou ilhas... Aqui as árvores,  ao contrário das dos  pratos anteriores, que lembram paraquedas, parecem uns grandes catos estilizados.


 E mais uma vez nesta travessa grande (cerca de 45 cm) os elementos decorativos são semelhantes.
Esta é a única peça que posso datar com alguma precisão porque foi comprada nova, pela minha mãe, no início dos anos 70, logo o fabrico não andará longe dessa data.
Eu diria que estão aqui quatro ou cinco famílias de Cantão popular e que o jarro e a travessa grande pertencem à mesma família, mesmo que possa não ser o mesmo fabrico e possam estar separados por décadas na origem. 
Era deste tipo um jarro que vi numa visita à reservas do Museu Santos Rocha da Figueira da Foz, que na ficha antiga de papel que tinha junto era atribuído a oficina de Carritos, uma aldeia mesmo à entrada da Figueira da Foz, na estrada por onde antigamente se vinha de Coimbra. Não consegui saber mais nada sobre essa hipotética oficina, mas acredito que ficando tão próxima do Museu da Figueira, quem escreveu a ficha devia ter conhecimento da sua existência.
Há ainda quem diga reconhecer de entre estas  decorações algumas vindas da região de Mortágua, mas disso é que, apesar de estar perto, não sei mesmo nada.




Por coincidência, no dia seguinte a esta publicação, em passagem rápida por uma feira de Coimbra, encontrei esta chávena que me foi oferecida por 1 euro! A pintura toda à mão é bastante tosca , mas a pasta é do tipo industrial, mais fina do que a das restantes peças sem marca. A história que me contaram foi que era o que restava de um conjunto que pertenceu a uma senhora de Mira, que teria agora perto de cem anos, e que fez a sua vida toda naquela zona, entre Mira e Cantanhede, onde terá comprado esta loiça. Neste caso até há uma marca, embora para mim indecifrável, aparentemente um MA.



Basicamente fica-me a convicção de que este tipo de Cantão popular, já muito estilizado ou simplificado, que se vulgarizou ao longo do século XX, terá origem em terras da zona centro-norte do país - Aveiro, Figueira da Foz, Mortágua... 
Falta-me ainda mostrar dois ou três exemplares, mais antigos, esses já de terras do Norte, mas vou deixá-los para outro post para as coisas ficarem mais arrumadinhas. :)