terça-feira, 18 de agosto de 2015

Fruteiro ou cesto para castanhas em faiança inglesa Herculaneum



Ainda não estamos no tempo das castanhas, mas a verdade é que o que apresento aqui hoje é o que os ingleses chamam (ou chamavam...) chestnut basket and stand ou, com menos rigor, fruit basket and stand.
Já aqui tenho referido que a produção cerâmica inglesa no tempo da Revolução Industrial foi muito abundante e variada. Para satisfazer o gosto e o requinte da próspera burguesia industrial interna, assim como todo o mercado espalhado pelo Império, os fabricantes não se poupavam a esforços, e conceberam novas formas e novos produtos que hoje nos surpreendem pela especificidade do seu uso à mesa.



Estes cestos e respetiva base, vasados neste caso, mas também muitas vezes encanastrados, como já aqui mostrei, eram efetivamente usados para levar à mesa castanhas, mas também outros frutos, secos ou frescos, em vez dos tradicionais cestos de vime, destinados ao serviço das camadas menos abonadas da população.



Trata-se da pasta chamada pearlware, com os típicos tons azulados nas junções e dobras, aqui numa bonita moldagem que aparenta concheados, embora o objetivo fosse imitar cestaria.
Encontrei estas peças, um par de cestos e de bases, há cerca de um ano,  expostas no chão à mistura com outras loiças e tralhas, na Feira de Velharias de Coimbra. Reconheci logo a forma, mas quando peguei num exemplar e virei para ver a marca, exultei mesmo! Era o nome Herculaneum, já bem meu conhecido, que estava bem legível gravado na pasta.


Isso confirmava-me logo duas coisas - que as peças eram indubitavelmente inglesas e que foram fabricadas em época anterior a 1840, a data de encerramento da Herculaneum Pottery de Liverpool.
Sempre foi uma das minhas marcas míticas, não só por ser da Herculaneum a decoração View at the Fort Madura que esteve na origem da bem conhecida paisagem País de Miragaia, mas também pelo seu fabrico de porcelanas para o chá, hoje peças raras e muito valorizadas.


Estas loiças são muito delicadas, em faiança bastante fina, mas sem qualquer beliscadura, apenas manchadas em algumas zonas, sobretudo no interior dos cestos. Não devem ter tido muito uso, já que resistiram assim intactas quase duzentos anos, no mínimo 175!

O exemplar à venda na Worthpoint, com a mesma decoração featheredge (orla em plumas)
São peças já difíceis de encontrar, mesmo no mercado online, sobretudo em par, e só encontrei um exemplar de um cesto, sem base, desta forma e fabrico, num site de leilões americano, o WorthPoint, atribuindo a peça a um período entre 1795 (pouco depois da fundação da Herculaneum) e 1815, mas a marca é diferente desta, com apenas a inicial maíúscula, o que deve ter determinado essa datação mais recuada.

Um outro formato de cesto e base da Herculaneum
Quase um mês depois, lembrei-me de acrescentar aqui uma foto que tirei na Casa-Museu Egas Moniz em Avanca, que já publiquei num poste sobre a referida casa. Numa mesa com várias peças inglesas creamware, apresentadas como Wedgwood, vê-se à esquerda um cesto e base no formato do meu par Herculaneum e à direita mais um exemplar  num outro formato muito comum no século XIX e de que já falei aqui num outro poste.



9 comentários:

  1. São sempre um prazer, os seus postes, Maria, pelo desenvolvimento das explicações e pelos ensinamentos que a leitura fornece.
    Muito diferente e creio que nacional, tenho uma peça utilitária, mas para mim duvidosa da função que desempenhava: a base superior tem furos (para azeitonas? para cálices [de aguardente?] lavados ficarem a secar?).
    Talvez a venha pôr, futuramente, no Blogue.
    Um bom final de dia!

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    1. É sempre muito agradável, caro APS, contar com a sua visita e com a sua apreciação favorável, apesar da minha pouca assiduidade no blogue ultimamente.
      Fiquei muito curiosa em relação à sua peça de faiança! Espero que brevemente a encontre no ARPOSE!
      Goze um bom sunset a partir da sua varanda, que já sei que tem flores... e vistas bonitas!!!

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  2. Que peça invulgar!!!

    Hoje, com o uso do pyrex, do micro-ondas e do Tupperware e suas imitações perdemos o conhecimento da utilidade, de uma percentagem significativa, das peças que no passado constituíam um serviço completo de jantar ou café. Este chestnut basket and stand é uma dessas peças de que temos dúvida acerca da sua utilidade inicial. Normalmente um fruteiro ou um cesto para o pão, que seriam as primeiras coisas que me viriam à cabeça, nunca apresentam travessa.

    O facto de ser da Herculaneum Pottery e de ser tão antigo só lhe aumenta o prestígio. Faço o ideia do preço pelo qual não deve ter sido vendido no Worthpoint.

    Bjos

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    1. Luís, a utilidade destas peças está bem indicada no nome que lhes deram, sempre que aparecem cestos e bases ovais vasados é quase certo que lhes chamem chestnut basket and stand. O que me surpreende é haver formas específicas e requintadas para levar à mesa uns simples frutos secos, tão populares como são as castanhas.
      Os preços de peças semelhantes que tenho visto nas vendas online, geralmente americanas, são sempe superiores a 10 vezes o que paguei por estas, mas não sei qual era o preço do exemplar do Worthpoint. Realmente vale a pena conhecer e reconhecer nas nossas feiras de velharias certas loiças de origem inglesa. E neste caso, que é um par da Herculaneum Pottery, podiam até ser mais valorizadas pelo mercado!
      Beijos

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  3. Que magnífica peça Maria Andrade. Herculaneum sempre sobressaiu pela qualidade daquilo que fabricou.
    Pioneiros na procura pela qualidade e originalidade no que produziram, acabaram por sobressair no meio daquele mundo que foi a produção de faiança inglesa nos séculos XVIII e XIX.
    Todas as peças que vejo marcadas são sempre de uma beleza refinada e elegante, como é o caso desta sua peça.
    Claro que a sua forma, vazada, fez dela uma peça de aparato, com um uso muito reduzido, o que deve ter contribuído para conseguir ter chegado até hoje, quase 200 anos depois (!!!!), incólume.
    Quem sabe se o/a anterior dono/a acabou por não lhe encontrar uso mais utilitário e guardou-a num qualquer armário, onde ficou esquecida por mais de um século???? Se assim foi, foi por bem.
    Eu tenho algumas peças que, por não lhes encontrar uso mais funcional, ficaram relegadas para uma qualquer prateleira.
    Qualquer dia alguém lhes dará uso, como atirá-las a uma parede, por exemplo, como fazia a elite americana, nas suas festas de início do século XX, com as fantásticas porcelanas europeias dos séculos XVIII e XIX, apologista que era do dadaísmo e dos movimentos niilistas tão em voga na época.
    Continuação de um bom tempo estival, pois calor não falta
    Manel

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    1. Sim, Manel, a Herculaneum sobressaiu e nem sequer se situava nas cidades oleiras do Staffordshire, onde a produção cerâmica mais se desenvolveu e onde proliferaram nomes de fabricantes quase míticos, como Wedgwood, Davenport, Spode, Minton...and so on and so forth.
      Estas peças foram certamente bem preservadas e até consegui saber que eram provenientes de uma casa da Figueira da Foz. Certamente o facto de ser uma cidade portuária favoreceu a chegada aqui destas loiças de origem inglesa.
      Não sabia que os dadaístas americanos se tinham dado a esses requintes de malvadez de partirem boa porcelana contra a parede, mas espero que na minha descendência não haja ninguém com essas tendências!!! ;) Eu até me virava no túmulo!!! LOL
      Aqui na Figueira não se sofrem grandes acessos de calor, tem estado qb...

      Um abraço

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  4. Boa tarde. Há dois dias introduzi uma pergunta mas não sei se saiu como martagaspar ou se nbão foi publicada por não recordar a password do google. Por isso coloco anónimo. Como posso contac´ta-la, Maria andrade?

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    1. Olá Marta Gaspar!
      Não tenho andado muito por aqui, daí a minha demora a responder-lhe. O meu contacto de e-mail está no meu perfil: andrade.maria82@gmail.com. Fico a aguardar.
      Cumprimentos

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