quinta-feira, 12 de abril de 2012

As rosas de Mackintosh


Charles Rennie Mackintosh (1868-1928) foi um arquiteto escocês nascido em Glasgow, também designer de interiores e de mobiliário, considerado um líder do movimento Arte Nova em solo britânico.
No entanto, para muitos, ele foi além do seu tempo, criando um estilo original que introduziu o desenho modernista na arquitetura e nas artes decorativas.

A sua obra mais emblemática e a sua primeira encomenda foi o edifício da Glasgow School of Art (Escola de Arte de Glasgow), uma instituição em que ele próprio foi aluno embora, obviamente, num edifício anterior.
Todo o projeto incluiu a decoração dos interiores, para o que contou com a parceria da sua companheira, a artista Margaret Macdonald Mackintosh.
Vem tudo isto a propósito de, numa recente viagem que fiz à Escócia, ter tido a  oportunidade de visitar Glasgow e ter passado numa volta de autocarro turístico do chamado City Tour junto a este carismático edifício.
A fachada principal lembra, propositadamente, um edifício industrial, com muitas e enormes janelas quadrangulares rasgadas em paredes austeras de pedra escura. No entanto, logo na entrada veem-se trabalhos em ferro e outros pormenores arquitetónicos ao estilo Arte Nova.
Estando a viajar em grupo, não tive possibilidade de visitar o interior, minha grande frustração, mas trouxe da Escócia um souvenir que quero partilhar aqui com os meus amigos e pacientes leitores, muitos certamente apreciadores como eu da estética Arte Nova.



Não é mais do que um calendário de 2012 mas com cada um dos meses acompanhado de um desenho de Mackintosh ou da sua mulher Margaret, o que resulta num pequeno album de desenhos desta dupla de artistas.
Muitos dos desenhos apresentam rosas estilizadas que se tornaram conhecidas e facilmente identificáveis como rosas de Mackintosh.

Desenho para uma sala de música (pormenor)

Painel de gesso (pormenor)

Pormenor de um stencil de parede para a Hill House

A Rosa Branca e a Rosa Vermelha (pormenor)

Estas rosas passaram a figurar nas mais variadas decorações Arte Nova, em loiças, encadernações, ferros forjados, vitrais ... e eu até já tinha em casa peças com elas decoradas sem as relacionar com Mackintosh.


É o caso destas placas de majólica, bases para copos que tinha como sendo de fabrico alemão - têm uma marca que nunca consegui identificar - mas que entretanto, pelo desenho das rosas, admiti poderem ser inglesas ou mesmo escocesas. Com o comentário dos AM-JMV tive a confirmação de que são realmente alemãs e de cerca de 1910.


Também um livro do poeta inglês Alfred Lord Tennyson (1809-1892), datado de 1903, apresenta uma encadernação Arte Nova com um magnífico desenho na capa.


 Em baixo, nas guardas e nas páginas de rosto, belas composições com rosas de Mackintosh.



Não é aqui altura para falar dos poemas lindíssimos que integram esta obra, mas quem sabe, numa outra ocasião...

  


8 comentários:

  1. Mais uma vez me toca de perto com este arquiteto, e esta obra em particular.
    Mackintosh, com a sua mulher e cunhada, formaram um conjunto de artistas que dominaram o conceito de Arte Nova na Escócia.
    Apesar de não parecer à primeira vista, e nem sempre esta associação ser feita nos livros de história da arte, sinto-me igualmente compelido a associar alguns princípios compositivos, sobretudo uma austeridade quase monástica na composição dos quadros de Whistler com a simplicidade de composição da arquitetura e decoração de interiores de Mackintosh.
    Em certa medida a sua obra também me faz recordar a de Mackmurdo, só que a deste arquiteto e artista plástico, é virada sobretudo para a arte italiana, país pelo qual se apaixonou, onde viveu, estudou e pesquisou durante anos consecutivos. Bebem, direta ou indiretamente, de uma fonte comum, que foi Ruskin, o eminente professor de Oxford, que influenciou toda uma geração de artistas com as suas ideias revolucionárias para a época.
    Mackintosh é algo mais depurado na sua obra de arquitetura (não sei se chegou ver o célebre edifício com os "Willow Tea Rooms" em Glasgow), o que constitui um movimento de vanguarda para a época.
    O painel de gesso que aqui apresenta trouxe-me também à memória a obra de Klimt.
    Aliás, esta arquitetura depurada está mais próxima da "Sezession" austríaca do que a arquitetura inglesa do período, dominada pelos ideais neogóticos de Shaw ou Webb, este último ligado ao movimento "Arts & Crafts", como sabe, sobretudo com a "Red House" de Morris.
    Gostei muito, e agradeço-lhe, que aqui tivesse trazido uma das minhas referências em arquitetura
    Manel

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    1. Olá Manel,
      Gosto imenso de o ver aqui discorrer sobre temas de História de Arte, área em que dou sempre uns passos titubeantes, e a referir alguns nomes que, sendo-me familiares, apenas conheço superficialmente.
      John Ruskin, por exemplo, só o conheci através da série televisiva da BBC que passou há pouco na RTP 2 sobre os pintores Pré-Rafaelitas. Já conhecia o William Morris, sobretudo pelos trabalhos magníficos para texteis e papel de parede no âmbito do movimento Arts and Crafts, mas também me surpreendeu ele aparecer na série como discípulo dessa “irmandade” de pintores, nomeadamente de Rossetti.
      Muitas vezes os nomes estão soltos na caixinha da nossa memória e falta-lhes um melhor enquadramento de época e estabelecer relações com outros nomes seus contemporâneos.
      Mas com esta espécie de tertúlias que se vão fazendo por aqui, a coisa vai melhorando...:)
      Não visitei os “Willow Tea Rooms” em Glasgow - passei lá pouco mais de meio dia por isso foi o circuito de autocarro e pouco mais até porque fecha tudo entre as 5.00 e as 6.00 – mas um dos desenhos do calendário mostra um painel de vidro que é de lá.
      Enfim, há pano para mangas para uma outra visita, mais demorada, à cidade... ;)
      Um abraço

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  2. Olá Maria,
    Ora aqui está um tema que muito nos apraz. Será a presença da obra de decoração de interiores, brancos e estilizados, e do próprio casal Mackintosh na exposição da Secessão Vienense de 1900 que irá exercer uma forte influência nos artistas austríacos e, depois, na Secessão Alemã sua congénere. As influências foram, evidentemente, mútuas.
    Não temos qualquer dúvida de que as suas bonitas bases para copos sejam alemãs e devem ser de c. 1910. A estilização das rosas mackintoshianas é um leit motiv que perdurará durante três décadas, pelo menos, na arte ocidental. Veja o nosso post sobre Max Laeuger, onde a estilização das rosas aparece em toda a sua pujança.
    Bjs

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    1. Olá AM-JMV,
      Mais um comentário que me enche de satisfação por vir acrescentar informação relevante ao texto que alinhavei.
      Referem, tal como o Manel já o tinha feito, a ligação de Mackintosh ao movimento da Secessão austríaco, algo que eu desconhecia. Nem sequer sabia que havia uma Secessão Alemã, julgava que o movimento correspondente seria o Jugendstil...
      Assim, não admira que nas artes decorativas alemãs surjam as rosa estilizadas de Mackintosh e então confirma-se a minha convicção inicial de que as bases para copos seriam de fabrico alemão. Vou alterar o texto.
      Já fui ver o vosso post sobre Max Laeuger e realmente as rosas são as mesmas... e a jarra é magnífica.
      Muito obrigada por mais esta achega.
      Um abraço
      Beijos

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  3. O estilo Secessão, que toda a gente identifica com a Áustria é um movimento que germinou por todas as capitais do Império austro-hungaro e é possível encontrar belíssimos exemplares desse estilo em Praga ou Budapeste. o estilo foi ainda para mais longe e chegou a Riga, que é uma das capitais europeias da arte nova.

    Bjos

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    1. Luís, sintético como sempre, trouxe aqui mais uma achega esclarecedora sobre este assunto.
      Tem lógica que movimentos semelhantes aparecessem noutras cidades europeias do Império Austro-Húngaro para além de Viena e que tenham adotado o nome Secessão. Afinal secessão significa separação e o objetivo era marcar bem o corte com as correntes mais tradicionais e conservadoras.
      Penso que a Secessão Austríaca terá ficado mais conhecida por ter à frente nomes como Klimt e por ter aquela magnífica sede, a Sezession Haus, para as suas exposições, no centro de Viena.
      Mas para o comum dos mortais o termo mais conhecido e conotado com todas essas manifestações artísticas é sem dúvida Arte Nova.

      Abraços

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  4. Há um certo imperialismo na história da arte que centra tudo em Paris, Londres ou Nova Iorque e menospreza movimentos arísticos em países mais pequenos ou daquelas nações cuja língua não domina tudo e todos.

    Epreite este link para ver os prédios de Riga http://www.szecesszio.com/category/latvian-jugendstil-in-riga/
    ou ainda um outro link para apreciar o estilo Secessão de Budapeste http://www.szecesszio.com/category/hungarian-secession-pictures/

    Também tenho um fascínio pelo Leste Europeu, que ficou esquuecido do Resto da europa nestes últimos anos

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    1. Parece-me absolutamente verdadeiro o que o Luís diz sobre os imperialismos culturais; há tendência, não só para menosprezar o que vem de áreas periféricas e mais pequenas mas até para ignorar totalmente o que aí se produz...
      Já fui visitar os links que aqui deixou e fiquei maravilhada com os edifícios de Riga. Quanto aos de Budapeste, já lá estive e lembro-me de ter visto alguns, mas o conjunto da capital da Letónia é extraordinário!
      Uma das minhas viagens de sonho é percorrer as capitais das Repúblicas Bálticas e ir até S. Petersburgo e agora aguçou-me mais o apetite ;)
      O problema é que os tempos estão muito difíceis para extravagâncias...

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