sexta-feira, 6 de abril de 2012

Azulejos na torre da igreja


Quando há dias o LuisY mostrou uma torre sineira de Fronteira revestida a azulejos azuis e brancos, lembrei-me que também eu tinha andado a fotografar há tempos a cúpula da torre sineira da igreja de Condeixa, igualmente com revestimento azulejar a azul e branco.


Em resposta ao desafio que ele me lançou, fui rever as fotos para aqui as partilhar mas não consegui nenhuma em que se vissem bem os azulejos. Na altura, andei empoleirada em locais mais altos, fiz zoom o mais possível mas mesmo assim... 


Achei curioso que, sendo estes azulejos bem mais elaborados que os de Fronteira, não tenham o impacto visual que os de lá conseguiram com um desenho geométrico tão simples. Mas penso que o próprio desenho da cúpula de Condeixa, com respetivos pináculos, os prejudica um pouco, já que os torna menos acessíveis ao nosso olhar.
Ao editar a fotografia anterior, ampliando-a, reparei que parece ter havido aqui aproveitamento de azulejos do século  XVIII, alguns barrocos, outros neoclássicos, provavelmente recuperados do antigo edifício, uma vez que o atual é uma reconstrução da segunda década do século XIX.




Efetivamente, esta Igreja Matriz de Condeixa-a-Nova tem hoje um traçado neoclássico mas a  sua construção, no lugar de um templo mais antigo, foi ordenada por D. Manuel I, ficando as obras a cargo do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra que as concluiu em 1543.
Veio a ser saqueada e incendiada, como aliás grande parte da vila e seus palácios, pelas tropas de Massena, durante a 3ª invasão francesa, uma verdadeira tragédia para as gentes de Condeixa. A reconstrução posterior  conferiu à fachada o aspeto atual que se vê em baixo.

Foto retirada da net
Foi nesta igreja que fui batizada, aqui se casaram os meus pais e alguns dos meus antepassados e também aqui assisti a cerimónias fúnebres por  familiares e amigos.
Nesta época, recorda-me os domingos de Páscoa festivos que ali passava na infância e adolescência enquanto os meus avós eram vivos e se realizava a Visita Pascal. Era um autêntico frenesim que se apoderava da minha avó paterna, a mais dada às práticas religiosas, sempre atenta para que toda a família estivesse presente para "beijar o Senhor", geralmente ao fim da tarde, e sempre à espreita para ver quando o "Senhor" chegava ao fundo da rua ao som da campainha que o anunciava...

É altura para desejar a quem me visita um bom Domingo de Páscoa, com ou sem as vivências da Páscoa tradicional.

10 comentários:

  1. Olá Maria Andrade
    De facto estes azulejos não conseguem produzir o mesmo efeito visual dos azulejos com motivos geométricos. Estive a reparar bem na quarta fotografia e parece-me que não se conseguiu completar o esquema inicial, optando-se depois por preencher o espaço sobrante sem preocupações que não fossem o de revestir a parede na totalidade.

    A última parte do seu post, fez-me sentir saudades da minha terra e lamentar nunca poder dizer o que a Maria Andrade disse, sobre o ser batizada na mesma igreja em que se casaram os seus pais etc, etc.Para o bem e para o mal,tive uma vida com um certa itinerância,e as raízes foram-se :)Não me sinto de lado nenhum. Bem, agora, com os filhos bracarenses de gema, já é um bocadinho diferente :)

    As nossa recordações da Páscoa são muito idênticas.Eu acrescento a mesa posta com iguarias esperando pelo compasso, a côngrua num envelope, flores pelo chão, do portão até à entrada, enfim gratas recordações. E agora, ala que se faz tarde, pois amanhã terei a casa cheia :)
    Beijos

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    1. Olá Maria Paula,
      Depois de ler o seu comentário ocorreu-me que o único critério que deve ter presidido à colocação dos azulejos nesta cúpula, aparentemente sem preocupações estéticas, terá sido o aspeto utilitário de material isolante para evitar infiltração da humidade da água da chuva. Ou então houve danos provocados por temporais e os azulejos foram substituídos ao acaso...
      Quanto ao cenário que compôs da mesa decorada para a visita pascal, as flores no chão (e até me lembro das que se usavam nas jarras) tudo isso me é igualmente familiar.
      E olhe que a minha juventude a partir dos 6 anos de idade também foi feita de itinerância, no continente e ilhas, devida à mobilidade profissional do meu pai. Talvez a diferença é que a família não nuclear estava toda em Condeixa e essa era a base onde regressávamos quase sempre em épocas festivas.
      Que tenha um bom domingo em ambiente familiar que o meu também vai ser assim mas só com os mais chegados.
      Beijos

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  2. Maria Andrade

    Julgo que no passado houve o hábito de revestir cúpulas de torres sineiras a azulejos. O Fábio Carvalho há bem pouco tempo enviou-me umas fotografias da cúpula de uma velha igreja carioca, revistida a azulejos bicha-da-praça, provenientes da Viúva Lamego. Talvez os azuis e brancos evocassem as alturas celestes.

    No caso de Condeixa-a-Nova, este fim foi realizado com azulejos reaproveitados de obras no interior da Igreja. O efeito não é tão espectacular como em Fronteira, mas ainda assim é curioso e sempre foi uma maneira interessante de reutilizar azulejos antigos.

    bjos

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    1. Luís, fosse qual fosse a intenção destes revestimentos azulejares - mística, estética, de isolamento ou as três juntas - são sempre um valor acrescentado ao nosso património edificado.
      Eu agora ando sempre à procura de mais cúpulas com azulejos... :)
      Um abraço

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  3. Oh Maria, your posts are always so beautiful and special! I love the azulejos, specially from Portugal! We love them too for revestimentos de cupulas de iglesias y monasterios. Bello!
    The stunning tea`pot has me drooling over. You have the most beautiful things my friend. Hope you had a very blessed Pascuas de Resurreccion! Hugs,
    FABBY

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    1. Oh, Fabby, your comments are always so warm and friendly! :)
      I know you also have azulejos em iglesias y monasterios, from the strong Spanish heritage... And the oldest ones, both in Portugal and in Spain, come from our common moorish ancestry.
      Thanks, Fabby.
      Hugs

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  4. Veja lá como as coisas são ... passei centenas de vezes, senão milhares, por Condeixa, e nunca me lembro de ter visto estes azulejos! Aliás, uma miscelânea de aproveitamentos que até resultaram bem!
    O que eu adorava passar por Condeixa, pois era significado de bolos comidos numa cafézinho central, e visita certa a Conímbriga, um dos meus passeios favoritos, desde sempre.
    E cerejas! O meu pai comprava montes de cerejas, no tempo delas, não é como hoje em que todas as frutas se vendem em qualquer altura do ano ... vêem sei lá de onde, até da Cochinchina!
    Era uma altura em que a fruta me sabia a fruta e não a água deslavada (aliás, é preferível beber água pura)!
    Obrigado por me ter aberto os olhos para coisas que me tinham passado de todo!
    Como os nossos olhos são seletivos!
    O saque da região durante a retirada da 3ª invasão faz-me lembrar outra igreja, se bem que esta com pior história e um futuro vazio, como a matriz dita de Santa Maria do Castelo, junto ao castelo de Pombal ... resta uma das capelas, a da epístola, e mesmo esta já arruinada e com as belíssimas cantarias que a revestiam, pilhadas! Sei que uma grande parte das decorações que a revestiam foram passadas para as igrejas da parte central da cidade, como a do Convento do Cardal, mas ainda assim, é uma dor de alma!
    Agradeço-lhe os desejos de boa Páscoa, ainda que tardiamente, e nem sequer vou a tempo de lhe desejar o mesmo, mas espero que a época lhe tenha corrido bem!
    Manel

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  5. Olá Manel,
    Já sabia que esteve uns dias de férias no seu ninho alentejano e agora estou muito satisfeita por o ter aqui de volta.
    Não admira que nunca tenha reparado nestes azulejos, eu própria só há pouco tempo os vi com olhos de ver... :)
    Condeixa sempre foi uma terra muito farta, com dois mercados semanais abastecidos pelas hortas e pomares férteis dos arredores e sempre com peixe fresco da Figueira.
    A minha mãe, coitada, habituada a esta fartura, sentiu-se quase desterrada quando desembarcámos na longínqua ilha açoriana de S. Jorge, mais propriamente na vila da Calheta, há mais de cinquenta anos. É que nem peixe fresco conseguia comprar na maior parte dos dias... A seguir fomos viver para Oleiros, na Beira Baixa, o que melhorou em termos de distância à santa terrinha, mas quanto a mercados e fartura a coisa não melhorou muito. Valeu-nos nos dois casos aquela gente sã e acolhedora que sempre procurava remediar as faltas...
    Na minha infância, já não deve estar lembrado, todo o tráfego rodoviário de Lisboa ao Porto passava por dentro de Condeixa (como passava por dentro de Pombal). A Estrada Nacional nº1 atravessava a vila de uma ponta à outra e passava mesmo em frente a esta igreja. Um pouco à frente havia a cortada para Conímbriga pela estrada que dava acesso ao interior e ia ter a Tomar.
    Passava à minha porta, uma rua cheia de vida... mas também de trânsito. A criançada brincava na rua, isto é, em largos à beira da estrada, mas todos tinham ordens expressas para pedir sempre a um adulto para os atravessar e assim se evitavam muitos acidentes...
    Veja só as memórias que se ressuscitam com estas conversas!
    Um abraço

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  6. Também próximo de si, será de notar igualmente a cúpula que cobre a Sé Velha de Coimbra, com revestimento azulejar bicolor.
    Também uma das cúpulas da torre da fachada da Sé de Évora é revestida de azulejo, aliás, chama-se mesmo a "torre dos azulejos".
    Manel

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  7. Sim, Manel, essa cúpula da Sé de Coimbra em azul e branco é uma maravilha, com um brilho invulgar, mas nunca a fotografei.
    Quanto à Sé de Évora, ainda no ano passado por esta altura lá andei a fotografá-la mas não captei essa torre dos azulejos. Fica para a próxima...

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