quinta-feira, 13 de setembro de 2012

A Figueira da Foz e o Bairro Novo

Passada para mim a fase de constante mobilidade estival, é agora altura de rever e selecionar fotografias e de as organizar por pastas no computador, algumas para usar no blogue,  outras... "para mais tarde recordar"...

Figueira da Foz - Avenida Marginal em postal dos anos 70

Um dos temas a que dediquei alguma atenção - e não foi este ano a primeira vez - foram os edifícios interessantes do Bairro Novo na Figueira da Foz.
Em primeiro lugar há que explicar a quem não conheça tão bem a cidade, o que é que se entende por Bairro Novo.
A Figueira da Foz desenvolveu-se ao longo dos séculos como povoação ribeirinha, inteiramente virada para o rio Mondego. Ali se desenrolava toda a atividade portuária, piscatória e comercial. Junto ao mar ficavam dunas, palheiros e pardieiros escassamente habitados e a estrada que levava a Buarcos, esta sim uma pequena localidade virada para o mar.
Só no final do século XIX se tomou a decisão de desenvolver como zona balnear toda a área que vai hoje do Jardim Municipal à Avenida Marginal, onde se situa o picadeiro, a esplanada e o casino. É esse o Bairro Novo.
Há ali vários edifícios  que fazem parte da rota Arte Nova, não por serem afirmações inequívocas desse estilo, mas por haver neles algum elemento decorativo com que o autor do projeto lhes pretendeu dar um ar de modernidade, de acordo com a moda arquitetónica da época.
aqui falei da "Casa das Conchas" e tenciono mostrar outros exemplares integrados na rota.
No entanto, dedico este post a um que, não se filiando nessa corrente - apresenta antes um estilo revivalista, romântico - merece destaque pela localização, pelo inusitado aspeto acastelado e pela história que o liga à construção do Bairro Novo.


 Encontrava-se há décadas num estado lastimável, uma ruína a desfear aquela zona nobre de veraneio, mas este ano estava reservada uma surpresa agradável a quantos frequentam habitualmente aquele local. Embora não estejam ainda concluídas as obras de reabilitação, o edifício apresenta-se agora de cara lavada e aspeto digno.

Foto cortesia do blogue RUIN'ARTE

A meia altura no pequeno torreão pode ler-se a inscrição "Castello Engenheiro Silva", referindo-se ao  primitivo proprietário, um grande entusiasta e impulsionador das obras que resultaram no Bairro Novo.



Estando localizado na Esplanada Silva Guimarães, desde sempre apareceu nos postais antigos dessa zona à beira mar, mas nem sempre teve esta volumetria. Efetivamente, começou por ser o "Palacete Baldaque da Silva", um edifício iniciado no final do século XIX, de rés-do-chão terminando em ameias e com o torreão na esquina, continuado por um muro que dava a volta a parte do quarteirão. Nos anos 20, 30 do século XX, foi aumentado com mais dois andares e alargado, ficando tal  como o vemos hoje.

Foto cortesia do blogue arquivoartigospalhetas

Em cima, vê-se o Palacete Baldaque da Silva em postal de 1910. Do lado esquerdo, ao fundo, consegue-se ver o torreão; em primeiro plano uma entrada no local onde se situa hoje a "Casa das Conchas", que mostrei num post recente.

De volta à Figueira, três semanas depois de ter fotografado o Castello Engenheiro Silva, encontrei-o já concluído, pelo menos no exterior - a remodelação de todo o interior ficará para uma segunda fase.



Ficou bonito, não? E agora aquela frente virada ao mar - que se avista lá longe, é verdade - readquiriu a beleza dos tempos áureos da Praia da Claridade.

8 comentários:

  1. Olá Maria Andrade. Belo post para quem adora a Figueira da Foz, como nós - cidade que faz parte das nossas vidas desde a infância, onde íamos a banhos junto ao relógio ou Buarcos e piqueniques na serra Boa Viagem - eu fui.

    Sempre senti haver rivalidades entre as duas terras - Figueira e Buarcos - para mim no início do século XX eram vilas similares em matéria de cultura, porque praia tinham as duas. Em 1914 um incêndio deflagrou no teatro D. Carlos onde hoje são os Paços do Conselho sendo que o teatro Trindade em Buarcos foi inaugurado em 1910 edificado num antigo celeiro de frades crúzios onde havia já um teatro -o que revela um grau cultural nessa altura já vincado na região.

    Quanto ao "Castello Engenheiro Silva" no Picadeiro - pois bem me lembro dele a cair...de velho com a torre ferrugenta. Fico muito feliz de saber que foi restaurado e de novo resplandece as vistas a quem visita a Figueira. Para quem não sabe nele viveu a menina e moça, mais tarde actriz Rosa Lobato Faria com a família enquanto o pai desta ai trabalhou - ouvi-a contar numa entrevista,falou ainda das fugas que fazia com as irmãs ao Casino velho...

    As minhas viagens de antanho com tanta curva e contracurva até passar o Paião, o chauffer só parava nas Salinas junto a uns casebres em madeira a cair de velhos onde funcionava uma tasca - enguias fritas, carapaus de escabeche, petinga frita com laranjada e copos de vinho para os homens. De novo de abalada já na Gala sentia a maresia,o casario diferente tipo terraços como no Algarve com estatuetas nos remates do telhado e azulejos nas fachadas, as pontes com arcos meia lua, e logo a perder de vista a seca do bacalhau na direção da antiga ponte e, só se parava junto ao mercado, onde o peixe, as flores as frutas e as hortaliças se misturavam com um vaivém de gente.
    Era um dia fascinante ir à Figueira!
    O meu passado na cidade é maravilhoso, espero acabar por lá os meus dias se herdar a casa da minha mãe...
    Obrigada por me fazer recordar tempos bons de antanho.
    Beijos
    Isabel

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá M. Isabel
      É natural que a Figueira da Foz faça parte das memórias de infância e juventude de muitos de nós, sobretudo os da zona centro. Naquele tempo ainda não havia por aqui o hábito de rumar ao Algarve e a Figueira, mesmo com a água fria e tardes ventosas, fazia as delícias de muitas famílias.
      Quanto a esta casa, a satisfação de a ver recuperada compensou este ano os desgostos de assistir ao desaparecimento e degradação de outras, a que já me tenho referido.
      Obrigada pela informação que aqui partilhou, assim como o desfiar das suas memórias figueirenses...
      Bjs.

      Eliminar
  2. Bela surpresa, Maria Andrade, bela supresa.
    Afinal o "Castelo" sempre está a ser reparado!
    Saudações!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Caro MAFLS,
      Percebi num comentário seu que se referia a este prédio e que não tinha conhecimento da sua reparação.
      Foi isso que me fez pensar neste post ;)
      Obrigada pela deixa!

      Eliminar
  3. Maria Andrade

    No meio de tanta desgraça é bom que aconteça algo positivo, como o restauro desse palacete e não há dúvidas que as denúncias que o Gastão Brito e Silva fez no Ruinarte devem ter contribuído para que finalmente restaurassem o edifício. Já tive o gosto de o conhecer pessoalmente e admiro o trabalho sério que faz no seu blog.

    Gosto dessas suas incursões pelo património do centro.

    Bjos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Luís, não sei se a voz do Ruin'arte foi ouvida pelos autarcas da Figueira, mas deve ter sido ouvida pelo S. Pedro porque 2 ou 3 semanas depois desse post, abateu-se uma tempestade sobre a Figueira que fez cair o zimbório em forma de pirâmide metálica. Essa deve ter sido a causa próxima da decisão de intervenção "rápida", dada a perigosidade do edifício naquelas condições.
      Há outras situações graves na zona da Figueira, sendo a mais gritante a do Mosteiro de Seiça e até tenho fotografias, mas já vi que o Ruin'arte também já abordou essa ruina...
      Afinal há tantos casos desses pelo país fora!!!
      Bjs.

      Eliminar
  4. Das minhas épocas na Figueira não me recordo deste edifício, mas que ficou lindo, não tenho dúvida, apesar de confessar, a medo, que não gosto muito dele (mas gosto muitíssimo menos dos mamarrachos, das mais diversas formas, onde se avolumam as torres, que hoje se fazem para habitação, por isso, este, por comparação, até parece fantástico); pelo menos está de boa saúde, e recomenda-se, o que é sempre bom saber.
    Interessante ter ido buscar esta imagem ao Ruin'arte, pois é um blog com um trabalho surpreendente; assim acorde sensibilidades para o nosso património desvalido.

    Quanto à Figueira propriamente dita, lembro o horror que era ir para lá na época estival, dos ventos frios, do banheiro que me levava aos berros a mergulhar nas ondas de água gelada, dos dias nublados em que a praia se tornava impossível, enfim, um sem número de desgraças que me fazem não ir à Figueira há, seguramente, mais de 35 anos, e não conto colocar lá pé a não ser que tenha algum motivo de força maior.
    Não me deixou saudades nem vontade de regressar.
    Também sei que ninguém a isso me vai obrigar, por isso sinto-me a salvo.

    Estive lá próximo, na Murtinheira, por ocasião do casamento de um dos meus sobrinhos, há cerca de 2 anos, numa grande propriedade pertença da família da esposa dele, toda em encosta virada ao mar, mas não coloquei o pé na água ... e não me senti sequer à vontade no local ("gato escaldado de água fria tem medo" lá diz o ditado). Vim embora e achei que nada daquilo tinha a ver comigo!
    Quem me tira as águas quentes do Mediterrâneo tira-me tudo!

    Para além disso, a Figueira, como local, também não a considero muito aprazível, pois já se cometeram tantos estupros arquitetónicos que prefiro nem ver ... se puder escolher prefiro coisas mais interessantes e que me façam querer voltar uma, duas, três ... as vezes que me forem possíveis.

    Espero que não me leve a mal este desabafo sobre esta localidade que tão carismática é para tanta gente e que se tornou importante para muito mais, mas já se torpedeou demais a nossa costa para que ela possa ser vista com os olhos da alma!
    Manel

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Manel, de modo nenhum posso levar a mal a sua falta de simpatia pela Figueira. Eu própria, quando comecei a poder decidir os meus destinos de férias, durante muitos anos fugi dela a sete pés. Não porque tivesse más recordações de infância, pelo contrário, mas passei a preferir outros ambientes e quando ainda tinha como destino "ir a banhos", por mim ou depois pelos meus filhos, rumava sempre a outros locais mais a sul... Ali raramente ponho os pés na água e o meu marido nem à areia vai! :)
      Mas agora que já não "trabalho pró bronze", como cidade de lazer, acho o ambiente agradável: dá para fazer grandes caminhadas (basta querer ir junto ao mar para se andar bastante :))encontro familiares e amigos, tem uma biblioteca bem apetrechada, vai-se a um ou outro espetáculo... e ao contrário da sua impressão, se excluirmos a marginal até Buarcos e uma construção desenfreada em zonas novas, tem sido razoavelmente preservada. Encontro ali muitos exemplares arquitetónicos interessantes e todo o núcleo do Bairro Novo mantém um certo carisma (na minha modesta opinião de leiga, claro)com um ou outro mamarracho lá pelo meio.
      Quanto ao blogue Ruin'arte, é realmente um importante veículo de denúncia do abandono a que está votado muito do nosso património edificado, com ótimas fotografias e textos muito bons. Quem dera que os alertas dele fossem levados em conta...
      Obrigada pelo seu comentário.
      Um abraço

      Eliminar