quinta-feira, 15 de março de 2012

Palacete Arte Nova


Na sequência da publicação que fiz da casa Arte Nova da Mealhada, a If - que já todos aqui conhecem como amável e sempre oportuna comentadora deste blogue - enviou-me várias fotos de um belo palacete de Lisboa em que se evidencia o estilo Arte Nova.
Este, por enquanto, é um resistente às investidas do camartelo...  


A fachada do edifício alonga-se por cinco corpos: três terminando em arco com cabeça de leão e pináculo central; dois, cada um com uma varanda, com cimalha reta. Oito urnas em pedra ornamentam a cimalha.
Fica situado numa rua pouco movimentada do Campo Grande e talvez por isso passe um tanto despercebido.
Apesar de um certo ar decadente, que me agrada, parece estar habitado e até tem um aspeto bem sólido. Esperemos que assim continue por muito tempo...


Destaca-se não só pelo rico trabalho de cantaria, mas sobretudo pelos belíssimos painéis de azulejos que foram desenhados, como é caraterístico neste estilo, para se integrarem em espaços específicos da frontaria que pretendem embelezar. Estes, no corpo central, apresentam um motivo com crianças ou putti a ceifar e a colher papoilas.


Sobre as varandas, em ferro forjado, a natureza pujante em forma de cisnes, caracóis e flores, de que se salientam os delicados e exóticos nenúfares.














Mais apontamentos florais em pequenos painéis de azulejos a ocupar espaços mais exíguos e também talhados na pedra das cantarias .
Pelos dados que se encontram na fachada, este palacete foi construído segundo projeto do arquiteto J. Coelho, em 1912, o que corresponde ao período de  influência Arte Nova na arquitetura em Portugal.
É, portanto, um edifício a comemorar o seu primeiro centenário!


Sendo um de vários exemplares Arte Nova  que felizmente ainda se encontram na cidade de Lisboa, nunca o vi referenciado em qualquer publicação ou na internet, e por isso, agradecendo à If o envio das fotos, aqui fica um pequeno contributo  para que seja mais conhecido, apreciado e preservado.

20 comentários:

  1. Um sonho,essa casa
    Pelos menos dosa meus
    Daqueles que serão mesmo isso.Sonhos
    Belíssíma
    Espero que resista ás tais colmeias
    Aqueles que chamam blocos de apartamentos de luxo
    Eu chamo colmeias de abelhinhas
    aaaaanão tem nada mais luxuoso que uma casa dessas. Mesmo bem antiga

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    1. Caro anónimo,
      Muito obrigada pela visita e pelo comentário.
      Também seria um sonho para mim viver numa casa destas, mas já me chega que a possamos todos admirar, não só nós, mas as futuras gerações...
      Tenha um bom fim de semana.

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  2. Que casa linda!!! Sabe que vi primeiro as fotos e depois o texto e achei que esta casa tinha um ar mais lisboeta que aveirense e afinal era mesmo lisboeta.

    Estas casas tem um charme enorme e só cavalgaduras como as que governam as nossas cidades as deixam de demolir. Os interiores são também lindos, com salas enormes, que dariam para fazer vários apartamentos modernos.

    Por causa de uma doação ao Museu, visitei uma destas casas recentemente e o interior era uma graça. Além de ter uma pequena capela num quarto interior, as salas são lindas, com estuques trabalhados e como o prédio faz gaveto, a sala central é oval, cheia de janelas, enfim uma verdadeira graça. São casas que devem dar um enorme gosto em mobilar, sobretudo para gente doida como nós, que gosta de se rodear de velharias.

    Obrigado a si e a IF

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    1. Tem razão, Luís, todos os edifícios que conheço do núcleo Arte Nova de Aveiro são mais verticais, altos e estreitos, nada comparáveis a este.
      E também concordo que a beleza se estende aos interiores e que é um crime destruí-los ou fazer-lhes grandes alterações. Conheço o edifício onde foi instalado o Museu Arte Nova de Aveiro, a Casa Major Pessoa, e apesar da remodelação, mantêm-se ali elementos muito interessantes, lembro-me sobretudo dos estuques e dos trabalhos em ferro em corrimãos.
      Tenho que lá voltar agora que abriu o museu.
      Abraço

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  3. Olá Maria
    O seu texto enquadrou lindamente as imagens desse palacete lisboeta, tão escondido, mas bem evidente, no movimento constante do Campo Grande. A delicadeza das figuras dos azulejos contrasta com o trabalho riquissímo das cantarias das fachadas e dos ferros da varanda. São patentes as características da Arte Nova, tão do agrado da burguesia urbana, que queria exibir o seu poder económico. Em Lisboa podemos apreciar outros exemplares mais conhecidos, como a Casa Museu Anastácio Gonçalves ou o Palácio Beau Séjour.Mas quantos outros exemplos, menos ricos, mas tão marcantes como outros, existem pela cidade, escondidos, mas à espera que alguém os revele e lhes dê, novamente, o relevo que merecem.
    Cumprimentos
    if.

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    1. Cara If,
      Ainda bem que acha que o texto não desmereceu as belas fotografias que me enviou, apesar de eu não conhecer o edifício e não ter conseguido fazer melhor.
      Conheço sim a Casa Malhoa, por fora e por dentro, por lá estar instalada a Casa Museu Anastácio Gonçalves, um exemplar magnífico e felizmente bem preservado. Quanto ao Palácio Beau Sejour, não sei se conheço mas não estou a identificar pelo nome.
      A verdade é que, se em Aveiro o núcleo Arte Nova conta com mais de 20 edifícios, imagino quantos não haverá espalhados por essa Lisboa... E são olhares como o seu que podem ajudar a revelá-los.
      Um abraço

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  4. Minha Qerida amiga

    Linda casa a que aqui mostra =D como sempre a apostar no melhor para os leitores..

    Espero q esteja bem =) e todos os outros colegas

    Um graaaande bjinho
    Tenho muitas saudades deste planeta

    Bjinho

    Flávio Teixeira

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    1. Olá Flávio,
      Bem aparecido seja! Que tem sido feito de si?
      Sabe que já tenho ido ao seu blogue ver se há novidades, mas até hoje tudo na mesma...
      Esteve ausente em parte incerta? :)
      Seja bem vindo!
      E obrigada pelas suas palavras amáveis.
      Um abraço

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    2. Ola Maria Andrade
      Sem computador durante imenso tempo
      E com o curso a findar.. Fico sem tempo.
      Comecei a trabalhar e o tempo q me resta.. É para dormir que sabe deus q bem preciso...

      Tenho que postar algo novo.. Chegaram umas peças, como nao pode deixar de ser (Vista Alegre) que a Maria Andrade vai adorar.

      Um bjinho

      Flávio

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    3. Olá Flávio,
      Eu sei que é muito difícil conciliar as tarefas da vida ativa com a frequência deste mundo virtual.
      Cá fico à espera das suas novidades. E se são Vista Alegre ainda melhor :)
      Beijos

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  5. Olá Maria Andrade,
    É verdade! Ando mesmo sumido dos blogs, nos comentários, mas não nas visitas. Tenho acompanhado todos os posts de meus amigos, só não tenho tido quase tempo de comentar, e escrever qualquer bobagem não vale de nada.
    Estes últimos meses foram corridos, muita coisa para cuidar no "mundo real", não tenho podido me dedicar tanto quanto gostaria aos blogs e sites.
    Mas aproveito para dizer que quando vi este seu magnífico post, me deu vonta de correr todo o Campo Grande atrás desta casa, e outras mais assim se ainda houver, quando eu regressar agora no final do mês à Lisboa. Mas o tempo é curto, e não sei se darei conta. Ao menos há aqui as suas belas fotos, que já me deixaram encantado.
    Eu acho que uma casa como estar deveria ser comprada pelo Manel ou Luis, que aí sim teriam espaço suficiente para suas coleções de antiguidades!
    beijos!!

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    1. Olá Fábio,
      Pois é, habituamo-nos à presença dos amigos deste mundo virtual e depois estranhamos a ausência quando os afazeres da vida real não lhes permitem uma maior frequência deste meio.
      Ainda no último post falei de si, a propósito da comemoração de uma ano da minha adesão ao Tea Cup Tuesday.
      Esta casa é realmente um encanto e qualquer um de nós, amantes de velharias, se iria comprazer a decorá-la, enchendo-a dos nossos tesouros :).
      Claro, o Manel ou o Luís, como lisboetas, estariam mais a jeito...
      Desejo-lhe uma boa viagem até Portugal e, já sabe, se vier para os meus lados...
      Bjs.

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  6. A casa é fabulosa, faz logo pensar na magnificência dos interiores; no entanto, as caraterísticas associadas ao estilo Art Nouveau aparece somente nos ferros e revestimentos, como é hábito na nossa arquitetura da época.
    Claro que, apesar de na maioria dos países europeus, só se manifestar como movimento decorativo, sobretudo no domínio das ditas "artes menores", a verdadeira Art Nouveau, aplicada à arquitetura, está longe dos exemplos portugueses; naquela, a revolucionária, que se traduziu igualmente numa nova estética estrutural e funcional, englobando, em paralelo, uma mistura eclética e historicista de "ismos", a estrutura assume um papel vanguardista e surpreendente, como foi o caso das construções de Gaudí, Domenech i Muntaner (há bem pouco tempo passei um serão inolvidável numa das salas de espetáculo mais fantásticas dele, o Palácio da Música Catalã), Guimard, Horta, Van de Velde, Berlage, Otto Wagner (Viena é uma sinfonia de boa arquitetura deste período), e Hoffmann (a Palácio/casa Stoclet em Bruxelas é absolutamente fantástica!), para só mencionar alguns.
    E, quando aos materiais tradicionais, se adiciona a arquitetura do ferro, então o efeito é deveras surpreedente com Labrouste (o interior da biblioteca de Sta. Genoveva, em Paris, parece uma floresta encantada), Fonseré i Mestre com o mercado do Born em Barcelona (este devoluto até há pouco, mas creio que o projeto de remodelação deve estar concluído, pois é demasiado belo e representativo para ser destruído, agora que quase despareceram quase todos os mercados em ferro e vidro europeus) culminando com as construções saídas da Escola de Chicago, sobretudo de Sullivan. Do mesmo período, finais de século XIX, inícios do XX, é de referir uma das estéticas que mais aprecio da arquitetura americana, ainda que com raízes na inglesa: o "shingle style"! Muito interessante! Foi uma das influências desse deus em que se transformou Lloyd Wrigth!
    Em Portugal só alguns, poucos, arquitetos se aproximam, duma forma muito cautelosa e pouco arrojada, destes vanguardismos (nós nunca fomos dados a grandes choques de mentalidades nem a arrojos que pusessem em causa a mentalidade tradiconal burguesa, lá isso é verdade), mas isto em nada diminui a beleza das suas edificações, como Raúl Lino (um mimo no que toca à arquitetura doméstica em Portugal desta época - a sua própria "Casa do Cipreste", em Sintra, é fundamental para o conhecer na intimidade e nos princípios estéticos que o nortearam), Ventura Terra (aquele que mais me agrada na arquitetura civil pública - os principais liceus da época são dele, a remodelação de S. Bento, a Voz do Operário, a Maternidade Alfredo da Costa e uma quantidade de casas galardoadas com o Prémio Valmor), Adães Bermudes (é dele o projeto modulado para as escolas primárias) ou Marques da Silva, ativo lá mais para o Norte, sobretudo no Porto (são dele os Liceus do Porto, da época, a Casa de Serralves ou o Santuário da Penha em Guimarães, por exemplo - espero não estar enganado, mas creio que apresentou há bem pouco tempo uma casa dele, aí, na sua região).
    Já me alonguei outra vez, como não pode deixar de ser ...
    Quanto a possuir uma casa destas, como sugere o nosso amigo Fábio, bem que é aliciante, mas prefiro os espaços intímos, facilmente assimiláveis e os quais posso manobrar em individual. Não quero viver rodeado com batalhões de gente assalariada ... seria o meu pesadelo!
    Como dizia uma familiar minha: "Se quiseres fazer mal a uma pessoa não lhe dês uma criada, dá-lhe duas!".
    Manel

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  7. Afinal a casa que apresentou não era de Marques da Silva, mas de Jaime Inácio dos Santos. Confusão minha.
    Manel

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  8. Caro Manel,
    Muito obrigada pelo rico comentário que se deu ao trabalho de aqui deixar.
    É verdade que estes movimentos estéticos surgidos além Pirinéus demoraram sempre algum tempo a chegar a Portugal e quando chegavam já vinham um pouco diluídos,sem a ousadia e a exuberância dos originais, por isso é que não temos exemplares Art Nouveau tão caraterísticos como os que encontramos noutros países europeus.
    Nesta casa, para além dos ferros e dos revestimentos, noto-lhe influência Arte Nova no desenho das janelas duplas, com as cantarias em arco também na parte inferior, e como são três, acaba por ser um aspeto bem marcante da fachada.
    Onde me parece que podemos encontrar edifícios mais caraterísticamente Arte Nova é em Aveiro, à beira da Ria, dois ou três exemplares, entre eles o que alberga o Museu Arte Nova.
    Há que vir passear para estes lados...
    Um abraço

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  9. Tem absoluta razão Maria Andrade! Aveiro é, entre as principais cidades portuguesas, a que pior conheço, melhor dizendo, não conheço de todo, exceto o centro e pouco mais, e isto porque é paragem obrigatória quando vamos à Vista Alegre!
    Uma vez, o Luís e eu saímos de Coimbra com o fito se chegar a Aveiro ... nunca lá chegámos, claro!
    Encontrámos várias lojas de velharias pelo caminho e perdemo-nos nelas ... comprei quilos de cera para mobiliário, "home made", de belíssima qualidade, que ainda hoje continuo a usar, e sempre com satisfação!
    O Luís comprou mais cacaria, tal como eu, e ... era já demasiado tarde para chegar até ao Museu de Aveiro, que era o nosso destino primordial.
    Regressámos após termos descoberto uma quantidade impressionante de belas peças de arquitetura de transição de século (a maioria era, no entanto, de início de século XX), ainda que já devolutas, na sua maioria. Tentámos espiolhar, mas eram em número incomportável com o tempo disponível que tínhamos.
    Se parássemos em todas, necessitaríamos de uma semana inteira, pois gostamos de meter o nariz em tudo o que é casa antiga devoluta (o Luís sempre a fotografar furiosamente!), porque, nas outras, compreensivelmente, não nos permitem fazê-lo!
    Agora que abandonei a região centro, já se tornou mais difícil que o faça, no entanto, nunca se sabe. Far-lho-ei saber, se tal situação se predispuser no meu/nosso horizonte, pois, como julgo que deve imaginar, será com o maior prazer que farei questão em a encontrar (ainda que não fosse por tudo o que leio seu, a sua curiosidade eclética, o seu dinamismo em relação à vida, ainda que não fosse por isto tudo, o Luís fala de si nos mais elevados termos).
    Mas viajar, sem parar aqui e além, e mais além, ver tudo o que desperta a curiosidade, é-me muito difícil, e, auto-estrada, é algo que evito cuidadosamente!
    Manel

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  10. Sempre generoso, Manel, nas suas apreciações a meu respeito! Muito obrigada (a si e ao Luís)
    A Bairrada é uma bela zona para fazer uns passeios de descoberta (e para comer bem...), por isso quando se decidir(em) a vir para estes lados, avise com alguma antecedência porque andamos muito vadios ao fim de semana... :) e teria muita pena se não se proporcionasse um encontro com pessoas que já estimo muito.
    Tenha um bom fim de semana

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  11. Cara Maria de Andrade,
    Muito obrigado de mostrar esse palacete para quem gosta de arte Nova e um grande prazer de ter conhecimento de novos lugares onde permanecem azulejos arte novo tão desprezados durante tanto tempo e hoje , muitas vezes enfrentando muitos perigos.
    Isso junta os esforços de Feliciano David e Maria Gracete e tanben de Antonio José de Barros Veloso e Isabel Almasqué para chamar atenção sobre essa parte do património português e europeu.
    Calorosos cumprimentos.
    Michel Hospital

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    1. Caro Michel Hospital,
      Muito obrigada pela visita e pelo comentário.
      Apreciei a referência a nomes de entusiastas e colecionadores de azulejos Arte Nova, Feliciano e Maria Graciete David; os outros dois não conhecia, mas sei agora que são os autores da obra "O azulejo português e a Arte Nova", por isso obrigada por também os referir aqui.
      Cumprimentos

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  12. Qualquer semelhança com o palacete da Rua do Bom Jardim, projeto de Antonio Rigaud Nogueira, seria mera coincidência, talvez pelo fato de que esse era o estilo da época. As semelhanças são visíveis, basta conferir.

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