sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Reabertura do Museu Machado de Castro

O Museu Machado de Castro reabriu... e está um assombro!

Pátio do Museu Machado de Castro (anos 50)

Já toda a gente sabe que o Museu Nacional de Machado de Castro, em Coimbra, reabriu em pleno esta semana, no dia 11, mas eu não podia deixar de assinalar aqui esse acontecimento!
Após o encerramento para obras de fundo em 2006, só em 2009 ou 2010 abriu parcialmente ao público para visitas ao criptopórtico romano, enquanto se dava continuidade ao trabalho de acabamentos nas salas de exposição e a todo o trabalho de museografia e de expografia.
Numa primeira visita que ali fiz, pareceu-me que estava a ver muitas das peças pela primeira vez, tal o impacto que provoca a forma de as expor nos novos espaços e nos espaços remodelados, mas também acredito que mais brilho lhes foi dado pelas intervenções de conservação e restauro a que foram entretanto sujeitas.
As coleções incluem escultura e pintura antigas, ourivesaria, paramentaria, mobiliário... e para mim a cereja no topo do bolo, a coleção de cerâmica.





Embora tenha apreciado a forma como a faiança está exposta, por ordem cronológica, em dois longos expositores - e os azulejos nas paredes opostas - fico sempre frustrada por se tratar de peças em grande parte já minhas conhecidas e por pensar que haverá nas reservas muitas outras peças interessantes que não são dadas aos olhos do público. Aguardemos as exposições temáticas...
O edifício só por si é um objeto museológico, com mais de 2000 anos de história, por isso houve alguma polémica à volta dos acrescentos que lhe foram feitos, da autoria do arquiteto Gonçalo Byrne, mas eu gostei muito do que vi e da forma como a partir dos novos e dos antigos espaços se apreciam recantos da velha Alta de Coimbra.
Quanto a esta minha pintura, tem uma história engraçada que resolvi aqui partilhar.



Encontrei-a há meses na Feira da Vandoma no Porto, muito suja e com a moldura revestida a gesso a esboroar-se, mas reconheci logo o Pátio do Museu Machado de Castro, ou seja, o antigo Paço Episcopal de Coimbra. O vendedor não sabia do que se tratava, mas enchia a boca com o nome do pintor que ele dizia ser um Pedro Rodrigues e lhe servia de pretexto para carregar no preço.
Pareceu-me logo que o apelido era Dinis mas não o quis contrariar e não comprei o quadro, porque realmente o estado era lastimoso. Alguém a fazer limpeza na casa da avó achou que aquele chaço não tinha valor nenhum e deu-o ao desbarato. Entretanto, falei naquela pintura ao C.A. e passando nós lá já à saída da feira, o preço tinha diminuído para metade e com alguma negociação ficou reduzido a poucas dezenas de euros.
Viemos todos contentes com este tesouro para casa - para mim o mais interessante era ser uma vista do Museu Machado de Castro, mas o nome do pintor também me parecia familiar - e enquanto o C.A. tratava de retirar os restos de gesso e de lixar a moldura, eu limpei a pintura toda, um óleo sobre placa de madeira, com uma cotonete humedecida. Pareceu renascer das cinzas!
Na assinatura lê-se P. Dinis 52 e daí concluí tratar-se do pintor coimbrão Pinho Dinis (1921-2007) e de uma obra de 1952, da sua primeira fase, talvez ainda dos seus tempos de aprendizagem.
Bem, não é o Renoir que a outra comprou por 7 dólares numa feira de rua, o valor comercial até pode ser diminuto, mas foi um achado (e salvamento) que me encheu de satisfação!

Oleiras de Pinho Dinis
Há uma sala Pinho Dinis na Casa Municipal da Cultura, em Coimbra, assinalada pelo seu Auto-retrato, mas preferi acescentar aqui esta bela tela, Oleiras, representando três mulheres na tarefa de pintar loiça numa qualquer olaria coimbrã.

12 comentários:

  1. Respostas
    1. Votos sinceros de um Bom Natal também para ti, Princesa.
      Beijos

      Eliminar
  2. Olá Maria

    O Museu está digno de se ver e merece uma visita propositada e não a correr, de passagem. A última vez que lá estive ainda estava em obras. Foi numa visita de estudo e de investigação.Pelas imagens que publicou não dá para perceber se, na secção de cerâmica, estão expostas as faianças Ratinhas.
    Parabéns pela sua compra.
    if

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olhe If, eu em menos de uma semana já fui duas vezes ao museu, mas conto lá voltar proximamente porque ainda não consegui apreciar tudo em pormenor! ;)
      Quando o tempo melhorar pode-se usufruir de uma bela esplanada e o restaurante também tem uma vista maravilhosa sobre a Alta. Há muitos e bons motivos para a visita!
      Quanto às faianças ratinhas, só lá estão uns 4 exemplares, no topo do expositor que mostro à direita. :(
      Tirei as duas fotos só para dar uma ideia de como está exposta a coleção de faiança.
      Um abraço

      Eliminar
  3. Maria Andrade

    Agora que deixei de ir a Coimbra é que o raio do Museu resolveu reabrir!!!!

    Enfim, fico com pena, pois agora tenho menos oportunidades para ir a Coimbra e olhe que nunca me hei-de esquecer da impressão fortíssima, que me causaram asquelas imagens em pedra de ança, aquelas Senhoras do Ó, quando tinha uns 11 anos e visitei pela primeira vez o Museu.

    Quanto a apenas estarem expostas só algumas peças de faiança, há um certo discurso nos museus, que afirma que só se devem colocar na exposição permanente as peças de excelência. E de facto, entendemos que as melhores peças tem que estar permanentemente expostas. Se vamos a British Museum queremos ver os mármores do Partenon, não é? Mas por outro lado, mostram sempre as mesmas coisas e também as peças menos belas podem ser mais significativas em termos históricos. Finalmente, o século XIX continua a estar de fora das colecções dos museus e é esse aquele que nós conseguimos coleccionar e que gostaríamos que os museus mostrassem peças, para podermos aprender mais sobre elas.

    Bjos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Luís, Coimbra está a menos de duas horas de Lisboa!
      Mas a verdade é que, e por mim falo, desde que nos reduziram as fracas remunerações e se instalou esta psicose da contenção nos gastos, acabamos por viajar muito menos...
      Abstraindo dos meus interesses particulares, até concordo com essa política de os museus exporem as suas melhores peças, ajudando a formar o gosto do público e não tornando a exposição exaustiva e até porventura maçadora.
      Acho é que quem se interessa muito por determinado tipo de arte fica sempre a pedir mais e mais; para esses, uma boa opção seria organizarem-se de vez em quando visitas às reservas de cada coleção... ou então as exposições temporárias, temáticas, feitas com alguma regularidade.
      Esperemos que alguém oiça estas preces...
      Um abraço

      Eliminar
  4. A notícia é ótima. Irei assim que me for possível, pois há tantos e tantos anos que lá não vou!
    E quero ver sobretudo algumas peças de escultura que conheço só de fotografia, para não falar da faiança, claro.
    Tal como Luís refere, há museus que necessitam de ter um núcleo imutável no seu acervo, para que as pessoas não se sintam defraudadas, nas suas expetativas.
    Mas, por outro lado, e conhecendo relativamente bem as melhores peças, fico sempre um pouco sem saber muito bem como relacionar elementos, pois, pouquíssimos de nós tem acesso à aquisição de peças de grande qualidade, para que as possamos comparar e saber situá-las na obra de determinado artista ou época. E são estas, afinal, que pertencem ao principal acervo dos grandes museus.
    As peças a que a maioria de nós tem acesso serão as dos séculos XVIII/XIX, e muitas destas estarão guardadas nas reservas, por serem consideradas de menor qualidade, menos raras e merecedoras de destaque.
    Soube de algumas peças que pertencem às reservas deste ou daquele museu, não porque sejam menos raras, que o serão seguramente, mas porque alguém não gostou delas. Estamos também confinados ao gosto estético dos curadores.
    Pelo que nos temos de contentar com a procura de outras fontes como os museus menos importantes, publicações ou mesmo contatos entre conhecedores. Já não refiro as fontes especializadas de pesquisa, que a essas poucos de nós tem acesso, pois falta-nos o tempo e a disponibilidade.
    Assim, é nos museus de província/municipais ou nas coleções particulares que igualmente vou conseguindo encontrar alguma informação, quando as peças estão bem catalogadas, por conseguinte, nunca é demais viajar por esse país fora.
    Por outro lado, seria muito interessante que cada museu pudesse ter um espaço onde pudessem, aí sim, permitir a rotação, talvez temática (é uma sugestão), das peças que estão nas reservas. Seria agradável repetir idas a um museu e ver coisas que nos eram desconhecidas anteriormente, porquanto nem tudo o que aí vemos tem obrigatoriamente de ser de primeira água!
    Obrigado pela boa nova
    Manel

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Manel, penso que a principal vocação deste museu sempre foi a escultura antiga em pedra, muita em pedra de Ançã, e lá está o nome do patrono a lembrá-lo. Nessa área a coleção exposta é fabulosa, muito representativa!
      No que diz respeito à faiança, alguns dos nossos principais museus - em Lisboa o MNAA; no Porto o MNSR e em Coimbra o MNMC - acabam por ter em exposição muitos exemplares do século XIX, mas só dos melhores fabricos e não tantos como nós gostaríamos de ver...
      Como também aqui refere e eu concordo inteiramente,podia haver rotatividade das peças das reservas em exposições temporárias ou então serem possibilitadas de vez em quando visitas guiadas ao espaço das reservas. Eu própria já visitei dois ou três desses espaços, só que nem sempre estão organizados de forma a permitir visitas...
      Estou certa que vai adorar revisitar o MNMC!
      Um abraço

      Eliminar
  5. Cara Maria Andrade, também já fui visitar o nosso museu. Magnífica reconstrução! A parte da escultura antiga é de tirar a respiração, também a ourivesaria ganhou novo destaque neste novo museu. No que se refere à nossa amada faiança tenho a dizer «DECEÇÃO!!!!». Julgo que foi uma oportunidade perdida para a faiança coimbrã ocupar o lugar que merece na produção nacional! Achei bom o critério de exposição, por ordem cronológica, mas acho absolutamente inadmissível que não haja um espaço com a produção coimbrã em destaque. Temos a pintura em Coimbra no tempo de..., a escultura em Coimbra no tempo de..., a ourivesaria em Coimbra no tempo de... mas se quiser saber mais sobre a família Brioso, Vandelli, ou os humildes ratinhos, que levam centenas de visitantes a Castelo Branco ou Portalegre, ABSOLUTAMENTE NADA aprende neste reaberto museu. Estou profundamente dececionada quanto a esse aspeto. Quanto a tudo o resto merece a visite de todos. Beijinhos, CC

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Cara amiga CC,
      A minha primeira reação ao ver a faiança exposta foi semelhante à sua, embora já estivesse preparada para não encontrar grandes novidades. Também desejava que a faiança coimbrã tivesse mais destaque, sobretudo a faiança ratinha e outros fabricos menos conhecidos do séc. XIX, porque quanto a Brioso e Vandelli, a avaliar pelo que encontro no Matriznet, não sei se haverá muito mais nas reservas do museu. Mas acho que se justificava aqui uma mostra mais extensa da produção coimbrã, como existe, por exemplo, no Museu Soares dos Reis em relação à faiança do Porto e de Gaia.
      Temos que formar o “lobby” da faiança! Lol
      Um abraço

      Eliminar
  6. Muito obrigado pela Refª ao meu Avô Pinho Diniz
    Cumprimentos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Não há de que agradecer. É com muito prazer que aqui partilho a obra do seu avô.
      Cumprimentos

      Eliminar