Quando visitei Ouro Preto, a antiga Vila Rica, hoje cidade Património Cultural da Humanidade, em Minas Gerais, Brasil, não pude deixar de fazer uma visita ao Museu do Oratório, um magnífico acervo doado ao Estado brasileiro pela colecionadora Angela Gutierrez.
Desta colecionadora brasileira já aqui falei noutros posts a propósito da sua magnífica coleção de Sant' Anas.
O Museu do Oratório está instalado neste edifício, um anexo da Igreja do Carmo, mesmo ao lado do Museu da Inconfidência, e aí viveu durante algum tempo, no século XVIII, o "Aleijadinho", nome por que ficou conhecido o artista António Francisco Lisboa, Patrono da Arte no Brasil, natural de Ouro Preto.
Ali se encontram 163 oratórios distribuídos por vários espaços segundo a sua tipologia - de viagem, populares e eruditos - que datam do século XVII ao século XX, assim como as 300 imagens que também compõem o acervo.
Reprodução em miniatura do Profeta Joel, uma das grandiosas estátuas do "Aleijadinho" no Santuário do Senhor do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, Minas Gerais |
De entre os oratórios de viagem, encantaram-me particularmente os chamados oratórios bala, com um formato muito invulgar, que lembra precisamente uma bala, para se poderem adaptar facilmente a espaços disponíveis na bagagem, que era transportada no dorso de animais, nas longas viagens através do interior do Brasil pelos chamados tropeiros.
Nos séculos de colonização portuguesa, no interior do Brasil, quase todas as famílias de fé cristã tinham um, já que viviam por vezes a grandes distâncias de igrejas ou capelas e assim tinham a sua "capelinha" para devoção privada.
Nos séculos de colonização portuguesa, no interior do Brasil, quase todas as famílias de fé cristã tinham um, já que viviam por vezes a grandes distâncias de igrejas ou capelas e assim tinham a sua "capelinha" para devoção privada.
Interior de um oratório bala da coleção do Museu do Oratório |
Em geral são muito coloridos, arte popular em madeira pintada, por dentro e por fora, decorados com flores e com uns toques de dourado.
Ainda hoje se fazem e vendem-se não só na loja do museu, mas nas lojinhas de artesanato que abundam nas ruas principais de Ouro Preto.
São peças artesanais verdadeiramente encantadoras e logo me apeteceu trazer um, mas limitada pelo espaço na bagagem, procurava um oratório bala, por nunca ter visto aquele formato antes, mas em tamanho pequeno. Finalmente encontrei este que correspondia ao tamanho que eu queria, mas só era pintado por dentro, já que sendo feito da nobre madeira de jacarandá, o artesão quis deixá-la à vista.
Como a altura no interior é reduzida, só dá para imagens pequenas e por isso vive lá este tosco Santo António com o Menino, em terracota, para mim com o encanto que lhe dão as marcas deixadas pelo tempo.
Olá Maria Andrade.
ResponderEliminarBelíssimo post.
Gosto de oratórios, simples.
Não conhecia este modelo "bala", achei-o uma gracinha, lindo.
Interessante a madeira usada, Jacarandá.
São as novas árvores decorativas das avenidas no programa polis, de floração em cachos alilazados.
Gostei do seu Santo António com mazelas, dá-lhe uma certificação de autenticidade e nobreza no conforto azul celeste do oratório bala.
Beijos
Isabel
Cara Isa,
ResponderEliminarSe gosta de oratórios iria adorar aquele museu de Ouro Preto. Há-os lá muito simples, de arte popular, com cores garridas e também se podem ver os mais ricos e sofisticados dos conventos e casas nobres.
Também adoro essas árvores de jacarandá que cá florescem nesta altura com flores de um lindo lilás carregado. Em Coimbra sempre as conheci em flor na altura de estudar para os exames...
Penso que é essa madeira que se convencionou chamar pau-santo, ou pelo menos é uma das espécies que dá essa madeira de alta qualidade.
Então gostou do meu Santo António mesmo assim mal tratadito? Nós que gostamos de velharias apreciamos sempre este "look" bem batido pelo tempo. :)
Beijos
O Sto. António ficou lá bem e a madeira de Jacarandá ou pau-santo é linda. o formato em bala é muito curioso. Pessoalmente, acho que ficaria melhor forrado por dentro com um damasco vermelho ou amarelo, mas talvez por ser trisneto de padre, tenho um gosto demasiado eclesiástico.
ResponderEliminarVi uma exposição de parte da colecção de Angela Gutierrez no Museu S. Roque, em Lisboa, e nunca mais me esqueci daquele conjunto de peças maravilhosas. Talvez um dia possa ter dinheiro para visitar Ouro Preto e perder-me naquelas igrejas.
Concordo consigo, Luís, o que me agrada menos no oratório é a decoração do interior. Acho que não está nada de acordo com a madeira do exterior e as flores são demasiado grandes. Mas agora que falou num forro de damasco, quem sabe se um dia meto mãos à obra e o forro mesmo!!! A habilidade não é muita, mas com calma e paciência talvez consiga...
ResponderEliminarObrigada por mais esta pertinente sugestão.
No Gato Preto vendem uns naperons ou pequenas toalhas em damasco, baratas e que dão lindamente para forrar pequenas superficies. o Manel, que faz restauro de móveis e estofa-os, já usou tecidos do Gato Preto...
ResponderEliminarNormalmente usa-se cola de tecido
Abraços
Luís, agradeço-lhe imenso estas dicas que me vão ser muito úteis.
ResponderEliminarTambém já me ajudou a resolver o problema que eu estava a ter de não conseguir comentar com a conta do Google. Era mesmo só tirar aquele v, como me sugeriu.
Um abraço