Estamos a aproximar-nos do fim de semana do S. Martinho, altura de provar o vinho novo - ou a jeropiga, que eu prefiro - a acompanhar com castanhas assadas, na companhia de amigos, em casa, nas tabernas ou nos tradicionais magustos.
Ainda se celebra muito nas zonas rurais, ao contrário dos centros urbanos onde, nesta altura, só se lembram de festejar o Hallowe'en (uma tradição muito nossa como o próprio nome indica!!!)
É uma celebração desse tipo que vemos nesta pintura de José Malhoa (1855-1933), apropriadamente intitulada "Festejando o S. Martinho", mas mais conhecida por "Os Bêbados". Vê-se um ambiente sórdido de taberna e, como está à vista e consta da descrição do Museu do Chiado, onde se encontra o quadro, mostra um grupo de aldeões bêbedos, sentados à volta de uma mesa com sardinhas, castanhas e vinho. Crê-se que seja gente de Figueiró dos Vinhos, onde Malhoa construiu casa e veio a fixar residência, embora fosse natural das Caldas da Rainha.
É um bom exemplo de pintura naturalista, com aquele quadro bem real e cru da natureza humana a servir de objeto de arte. Para além da cena, adivinham-se vidas extremamente difíceis, deles e delas...
Lembrei-me desta pintura já há meses quando recebi da CC as fotos de canecas e picheiras em faiança ratinha, as segundas num formato igual à que figura no quadro. Resolvi por isso guardar estas fotos para esta altura.
Acho engraçado que este "par de jarras" pareça ainda estar toldado pelos vapores alcoólicos que habitualmente guardavam nas entranhas. Reparem como elas estão tremeliques! :) Com medidas de 21 e 24 cm já levavam razoável quantidade de vinho...
Mas aqui aparecem elas já todas direitinhas, cheias da dignidade da sua função a mostrar as suas belas asas e decoração anexa.
Fazem parte da coleção da CC, que simpaticamente me enviou fotografias das suas picheiras ratinhas com inscrições tecendo loas ao vinho.
Para muita gente, agora como no passado, tinto ou branco, é todo bom!
Eu não me lembro de já ter visto peças destas em faiança ratinha. Com os ambientes que frequentavam e com mãos trémulas a segurá-las, não era fácil contarem com uma vida longa... ;)
Olá Maria
ResponderEliminarExcelente o seu texto e bem enquadrados os canjirões para o magusto.Está de parabéns a CC pela qualidade das peças de sua colecção.É raro ver-se um conjunto tão harmonioso e em tão perfeitas condições.
O bojo esférico permite uma decoração com grafia alusiva ao fim a que se destinava - servir o "vinho bom" ou o "bom vinho".
if
Obrigada, IF, sempre simpática e atenta nos seus comentários.
EliminarEu ainda pensei juntar aqui um prato meu ratinho para as castanhas :) mas achei que ia estragar a harmonia do conjunto, que é realmente muito bom.
Espero que tenha festejado o S. Martinho com boas castanhas e um calicezinho de jeropiga ou de água pé. O meu foi assim ;)
Um abraço
Estas duas peças são absolutamente irresistíveis, e imagino logo a mesa rústica do Alentejo com uma boa sangria servida num destes jarros. Até a refeição saberia melhor ... hehehe
ResponderEliminarQualquer das peças é fantástica e os parabéns à dona e o ter permitido a sua publicação neste seu blog.
Se alguma vez alguma peça semelhante se atravessar no meu caminho, e tiver com que a comprar, seguramente não a deixarei fugir.
Obrigado por tê-las trazido aqui.
Ontem, as minhas castanhas foram comidas em Mora, ainda que não com jeropiga
Manel
Pois é Manel, se já apreciamos as decorações garridas dos pratos e taças ratinhos, as peças desta tipologia com as reservas ainda se tornam mais apelativas.
EliminarE certamente nenhum de nós desdenharia tê-las em cima da mesa...com sangria, jeropiga, água-pé, até com água ;)
Obrigada pela visita e tenha uma boa semana.
Cara Maria, bom dia,
ResponderEliminarcheguei atrasada à sua comemoração mas ainda assim não posso deixar de a felicitar pela ideia que teve. Andei a pesquisar em artigos da época e em todos eles estas peças são denominadas por «picheiras para vinho». Para ter uma ideia, em 1886, 45 bacios custavam 1£800réis, 29 tigelões 1£600 réis e 10 picheiras para vinho 1£200 réis. Julgo que o preço algo elevado em comparação com outros objetos utilitários e ainda a sua fragilidade poderão estar na origem da dificuldade em encontrar estas peças. Tenho falado com imensas pessoas no Alentejo sobre o assunto, todas elas viram centenas ou milhares de pratos ratinhos durante décadas de procura/negócio todavia «picheiras» apenas uma encontrada em Estremoz. Curiosamente a primeira peça ratinho que eu e o meu marido comprámos foi uma «picheira» que se juntou à palangana oferecida pela nossa Avó Balbina. Um beijo para si e outro especial para a Avó que tendo partido está sempre no nosso coração e memória... CC
Olá CC
EliminarVeio muito a propósito esta sua achega sobre o nome a dar a estes recipientes com bico para servir vinho. Pelo menos à volta de Coimbra usou-se muito o termo "picheira", mas perante a variada terminologia que se encontra para este tipo de objetos eu acabava por vacilar entre vários nomes.
Gostei muito dessa nota pessoal sobre o começo da vossa coleção.
Mais uma vez obrigada pela cedência das fotos e agora também por este útil esclarecimento.
Tenha um bom resto de semana.
Um abraço
Maria Andrade
ResponderEliminarAinda não tenho o teclado arranjado e como tal os comentários aos blogues vizinhos andam atrasados.
A associação dos Ratinhos com a pintura do José Malhoa é perfeita. Aliás, há uma das suas telas, que já apresentei no blog que representa mesmo uma faiança ratinho.
Desde que trabalhei na organização de uma exposição do Malhoa no Brasil, passei a apreciar este pintor considerado demasiado académico. É verdade que em relação a um Amadeo Sousa Cardoso, que na mesma época pintava coisas extraordinárias, o Malhoa é antiquado. Mas, muitos dos quadros de Malhoa estão cheios de uma luz muito portuguesa. Adoro a Praia das Maças, o Milho ao Sol, as Azenhas do Mar e mesmo a Clara, que me recorda a luz de Outeiro Seco e a minha infância.
Quanto à Picheira, há na língua portuguesa uma série de palavras derivadas de Pichel para designar tipos de vasilhame. Em Trás-os-Montes, na Terra Fria junto à fronteira usam o termo pichorro ou pixorro segundo uma orografia mais galega, para designar um recipiente onde se aquece o chocolate. Enfim, como o clima é muito frio, havia o hábito de beber chocolate quente, normalmente contrabandeado de Espanha
Um bom S. Martinho muito atrasado
Bem, Luís, o S. Martinho já passou mas por aqui ainda se comem castanhas assadas com jeropiga e ainda se fazem magustos!
EliminarQuanto à pintura de Malhoa ser associada aos ratinhos, é quase inevitável e também me lembro de o Luís ter mostrado "A sesta" onde está mesmo um alguidar ratinho.
Nesta pintura "Os Bêbados" não está propriamente uma picheira ratinho, mas quase...
É curioso que quando ele retrata o mundo rural parece inspirar-se nos romances mais populares de Júlio Dinis e a tela “Clara” , a lembrar uma das pupilas do Senhor Reitor, será um exemplo disso.
Também acho que o Amadeo de Sousa Cardoso se situa noutro patamar, mas quem aprecia arte popular e faiança rústica,sente necessariamente uma atração por estes ambientes retratados por Malhoa.
Tenha uma boa semana (e veja lá se arranja esse teclado porque os seus comentários fazem aqui falta ;))