Atraem-me sempre os pequenos objetos de mesa; destes, os saleiros - em loiça, vidro ou metal - estão entre os meus preferidos. Há formatos antigos lindíssimos, desde os de porcelana chinesa que a Vista Alegre tem reproduzido sobretudo em peças comemorativas ou para coleção, até às mais diversas formas em prata com o respetivo interior em vidro azul ou transparente, a formar pares ou em conjuntos de cinco ou mais... e com a minúscula colherzinha a acrescentar ao charme.
Os formatos foram evoluindo e já no final do século XIX, aqui em Portugal, os serviços incluiam um saleiro duplo, formando uma peça dual com pega, à imitação dos galheteiros. Este formato, embora usado por fábricas europeias de prestígio desde o século XVIII, sempre me intrigou como saleiro, porque, se excluirmos a presença da pega, não vejo qualquer utilidade na junção de dois recipientes para sal. Os pares e conjuntos de saleiros iguais justificavam-se para espalhar pela mesa, mas estes duplos (ou mesmo triplos como já vi um de Sévres) não tinham qualquer vantagem - a não ser que se usassem para sal e pimenta ou outros condimentos.
São desse tipo as peças que aqui trago hoje e de três fabricos portugueses distintos: a Fábrica de Porcelana Vista Alegre, A Fábrica de Loiça de Sacavém e a Fábrica Cerâmica Lusitânia.
Comecei por este saleiro da Vista Alegre por, avaliando pela marca (1881-1921), ser possivelmente o mais antigo. Foi um padrão simples e relativamente vulgar nos serviços V.A., sobretudo usado em hotelaria.
O saleiro de Sacavém, já do período Gilman, deverá ter o seu fabrico situado entre 1909 e 1930, por pormenores da marca de que já aqui falei.
Aqui está um velhinho saleiro em porcelana chinesa azul e branca com o tipo de cercadura que o belo prato de faiança da Maria Paula me fez lembrar.
E agora o cúmulo do requinte! O especieiro da baixela Germain em prata dourada do Museu Nacional de Arte Antiga, referido pelo LuísY no seu comentário. Como o nome indica, destinava-se a especiarias que iam à mesa real, como a pimenta e a noz moscada cujos ramos ali estão representados, mas não deixa de ser equivalente aos mais comezinhos e plebeus saleiros duplos de loiça.
Nunca tinha pensado muito nestas peças. Hoje somos ums cavalões, que quando precisamos de sal, vamos a cozinha e trazemos o sal refinado em embalagem de plástico. Era muito mais bonito trazer para a mesa uma peça destas.
ResponderEliminarJulgo que estas peças imitavam os antigos especieiros do Século XVIII. A Baixela Germain tem pelo menos um desses especieiros, com dois compartimentos. Um para o sal e outro talvez para a pimenta.
Pode ver um desses especieiros em prata no matriz, O inventário é o 1843 Our e pertence ao MNAA.
bjos e bom fim de semana
Luís, já fui ver o especieiro da baixela Germain ao MatrizNet e é o verdadeiro suprassumo do requinte!
EliminarJá lá tenho parado na sala a apreciar as pratas mas não me lembrava desta. Estranhei não ter o depósito em vidro para o sal não corroer a prata, como é costume nos saleirinhos de mesa mais pequenos, mas certamente eram sobretudo peças de aparato que nunca viram sal...:)
Pois é, estamos rendidos por razões práticas ao horroroso plástico! Apesar de não faltarem saleiros de loiça, também por aqui ele vai muitas vezes à mesa...
Obrigada e um bom fim de semana também para si.
Olá Maria
ResponderEliminarOs seus saleiros são peças muito especiais. O da VA lembra-me um serviço que havia lá em casa, mas cujas riscas eram em tons de azul. Nao me lembro se tinha saleiro.
Havia e penso que a tenho guardada, mas o local onde está nao me vem à memória, uma mostardeira, também geminada, com tampas e a pequena colher para servir. A sua imagem está presente, bem como o sabor acre da mostarda, que queimava a boca, mas a que nao se resistia ...
Estou como o Luís. O requinte exige que a embalagem de plástico seja banida.
Um abraço
if
Olá If,
EliminarEstas são peças graciosas da era pré-plástico, mas hoje não há como escapar a essa modernice.
A VA tem realmente serviços com riscas neste tom de azul com dourados , mas os que eu conheço e tenho até meio cá em casa, não têm tantas riscas seguidas, portanto este saleiro não fazia parte desse serviço. Quando há pequenas tampas e colherzinhas aumenta o encanto destas peças.
Obrigada pela visita.
Um abraço
Antes de mais muito obrigada à referência feita ao meu post e por mostrar o saleiro cuja cercadura lhe fez lembrar a do meu prato. Há, realmente, elementos comuns nas duas peças.
Os seus saleiros são encantadores. Gosto especialmente do da Lusitânia, embora o de Sacavém seja também muito bonito com aquelas cores de rosa e verde claro. Tenho alguns saleiros, mas todos de fabrico muito mais recente. Algum, até já os mostrei logo no início do blogue, mas mesmo assim, pondero em repescar dois deles e mostrá-los novamente, enquadrando-os com alguma informação que entretanto fui obtendo.
O saleiro do MNAA é de um requinte que nos deixa pasmos!! Quanta arte num objeto de serventia doméstica!Bem sei que "doméstico" não é o termo que melhor ilustra o ambiente por onde"pousaram" e posaram estas magníficas peças, mas para nós, práticos cidadãos do século XXI, é o que ocorre quando pensamos nestes objetos.
Beijos e boa semana, embora saibamos já, que a chuva nos vai continuar a fazer companhia :(
Pois é, Maria Paula, a chuva não nos deixa e para além de tudo o resto... :( afecta-me também a produção do blogue por causa da luz para as fotografias.
EliminarQuanto aos saleiros, são formas bonitas e além disso, para muita gente e também para mim, "small is beautiful".
Acho que faz muito bem em ir repescar essas peças que já publicou e ao dar-lhes um novo enquadramento vai certamente resultar um post diferente e interessante com as belas fotos a que já nos habituou.
Beijinhos
O especieiro da Baixela Germain remata o seu post de forma magnífica e estou convencido, que esta peça e outras das mesma época e do mesmo material, serviram de inspiração aos saleiros que mostrou.
ResponderEliminarBjos
Realmente este foi um belíssimo remate para o post.
EliminarObrigada, Luís, pela lembrança.
Eu que raro presto atenção a este tipo de peça fico encantado quando são colocadas em destaque, pois, desta forma, prestam-se para a apreciação que merecem.
ResponderEliminarDeste tipo de peças em minha casa só me lembro de um conjunto de duas galinhas em porcelana branca e brilhante, que balançavam nos seus estojos igualmente em porcelana (esta em biscuit baço - o contraste era muito bonito), sendo que cada uma era um repositório para o sal e pimenta.
Estas peças deslumbravam-me quando miúdo até que a minha mãe me proibiu de lhe tocar ... eu passava a vida a fazer balançar as galinhas e nem sempre com muito cuidado ... :-)
Ainda bem que apresentou estas peças, pois é raro prestar-lhes atenção.
E acabou com chave de prata ... perdão, de ouro!
Manel
Olá, amigo Manel!
EliminarVejo que já está de regresso à grande cidade! Não sei se o tempo lá pelo seu retiro alentejano esteve melhor do que tem estado por aqui... tem sido uma desolação!
Este tipo de peças pequenas presta-se a alguma fantasia como essa das duas galinhas, que espero tenha sobrevivido na família. Atrai-nos uma primeira e depois compra-se outra e mais outra para lhe fazer companhia e assim se vão formando estes pequenos conjuntos. Mas a última é realmente notável!
Um abraço e bom regresso ao trabalho.