quarta-feira, 20 de maio de 2015

Chávena "Metz" de Sacavém


Todos nós temos na vida muitos altos e baixos que, sobretudo os baixos, nos levam a repensar muita coisa, a fazer balanços, a alterar hábitos, interesses e rotinas. Recentemente achei que devia refrear o entusiasmo pela compra de velharias, sobretudo cerâmica, e desfazer-me de algumas. Tenho conseguido isso, mas depois falta a pica da novidade, da descoberta, que dá por vezes o impulso para novos postes.
No entanto, trouxe há dias esta chávena e pires de café para casa porque: small is beautiful ;) cabe em qualquer lado ;) e para além de a ter conseguido muito baratinha ;) tem algum interesse para partilhar aqui com quem gosta da loiça de Sacavém.


Trata-se do conhecido motivo Metz, mas ao contrário do que aparece no catálogo Primeiras peças da produção da fábrica de louça de Sacavém: o papel do coleccionador, editado pela Câmara Municipal de Loures e que o LuisY citou no Velharias a propósito de um prato seu, num poste muito completo e cheio de interesse, apresenta a estampagem a preto e não nas três cores lá apresentadas: castanho, anil e verde.


Um outro motivo de interesse é o facto de ostentar, apenas no pires,  a segunda marca da Fábrica de Sacavém, correspondente ao período de fabrico 1863-1870. Eu já tinha em casa um prato estampado a verde com este motivo, herdado da minha avó paterna e já com muitas mazelas do uso, mas com uma marca do período Gilman, talvez 2ª década do século XX, o que revela que o motivo Metz foi usado pela fábrica durante décadas.

A marca do pires, a segunda usada pela Fábrica de Sacavém(1863-1870)
Nesta chávena e pires, sobretudo na chávena, nota-se uma aplicação da estampa bastante deficiente, com borrões e linhas curvas, o que se pode dever à falta de experiência neste tipo de trabalho, aliada à dificuldade inerente à estampagem de peças pequenas com zonas côncavas e convexas.

Pormenor do interior da chávena

Em cima a decoração e o formato da asa da chávena
Em baixo, o estafado prato Metz que era da minha avó Marizé (ou bisavó Marcolina?) e a respetiva marca.

Marca Gilman LDA. - 1918?

O catálogo Porta aberta às memórias, editado pelo Museu de Cerâmica de Sacavém, inclui oito páginas com as principais marcas de produção e suas variantes, de que aqui deixo as oito mais antigas.

As oito marcas mais antigas da Fábrica de Sacavém
(em Porta aberta às memórias, p. 440-441)


Os dois catálogos aqui referidos


15 comentários:

  1. Gostei muito, sempre a aprender e a ver se alguma destas marcas se esconde algures !

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    1. É natural que sim, HMJ, se tem em casa loiças antigas vindas da casa da família... Obrigada pela visita.

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  2. O seu "prólogo" ao poste fez-me pensar em paralelo: quanto a livros (ainda hoje comprei mais dois)...
    Gostei da chávena Metz que comprou. Barroca de motivos, no conjunto tem uma dignidade austera, reforçada pelas cores sóbrias.
    E, claro, lá aprendi algumas coisas, como sempre!..:-)
    Uma boa noite!

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    1. Deixe lá, APS, o dinheiro que se gasta em livros é sempre bem gasto. E os livros não se partem... arrumam-se bem em qualquer estante, nem que seja em segunda fila... :). Hoje não, mas ainda este fim de semana comprei dois, um de poesia "sobre" as peças do Museu Machado de Castro e outro da coleção de cerâmica do Palácio de Queluz. ;)
      Tenha também uma boa noite!

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    2. Ai, ai Maria Andrade!
      Parece que em simultâneo vamos vivendo as mesmas fases :)
      Há já algum tempo que jurei a mim mesma que bastava de velharias cá em casa que, devagar devagarinho, já iam chegando ao quarto dos filhos, mas, ainda recentemente comprei placas com números de polícia com o ano de nascimento deles. Lindas, em esmalte azul, mas falta uma :) o que deixa adivinhar que lá continuarei a peneirar os sites de leilões que, em abono da verdade andam muito fraquinhos.Mas, perdi-me :) A sua chávena é muito bonita. Só há pouco tempo despertei para o encanto das peças com estampagem a preto que de facto não são muito vistas.Hoje estou particularmente feliz :) Chega a minha filha:) São só uns dias, mas os suficientes para me sentir como "antigamente"
      Beijinhos

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    3. Pois é, Maria Paula, as idades aproximadas levam a essa simultaneidade de vivências...
      Eu tenho-me perdido mais pelas feiras de velharias do que pelos leilões on line, mas agora já nem a Feira da Ladra me atrai muito...
      Quanto à estampagem a preto, tem graça que a peça mais antiga que tinha de Sacavém, uma peça de família, era uma molheira Cavalinho preto, com a 3ª marca, mas não morro de amores...
      Então já matou saudades da sua filha? O meu trio de além-mar também chega este fim de semana. Estou em pulgas! :))
      Beijinhos

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  3. Bom dia Maria Andrade
    ainda há pouco tempo estive mesmo ... mesmo ... para adquirir um bule com o mesmo motivo e a mesma marca, mas depois tive o mesmo pensamento que a Maria Andrade: para quê mais coisas na minha casa!
    Esta já rebenta pelas costuras, as paredes faltam-me, para não mencionar o pavimento, o espaço livre é cada vez menos, já estou a construir pisos intermédios, para albergar ainda mais coisas, muitas delas herdadas, claro, pois chega-se a uma altura da vida em que passamos a ter coisas vindas de outras proveniências, infelizmente!
    Bem as dispensava e preferiria continuar a guardar as pessoas do que as coisas delas!
    Já vai o tempo em que tudo o que tinha cabia num único carro, e meio vazio.
    Foi o que aconteceu na minha primeira mudança de casa. O banco traseiro de um carro pertencente a um amigo albergou todas as minhas posses dentro de 2 ou 3 caixas de cartão!!! Na minha última mudança de casa foram mais de 100 as caixas de cartão, enormes e disformes.
    Quanto mais vivemos mais ficamos cheios de tralha e penso muitas vezes se é saudável, mas também, a alternativa qual é?
    Comprar uma "roulotte" e ir viver para o parque de campismo?
    à semelhança do que me foi dado ver há pouco tempo atrás, onde uma pessoa se desfez de todas as suas posses (não sei o destino que lhes deu) e passou a viver numa área de 4 m2 (frisou que mais que isso seria demais e isso levá-lo-ia a resistir à tentação) na parte de trás de um carro, e ia mudando de poiso sempre que lhe desse na gana; abandonou emprego, à família não sei o que lhe fez, mas passou a uma vida nómada.
    Para mim não seria solução, claro, no entanto, quantas vezes questiono o tipo de vida que levo. Não a considero má, e algumas coisas agradam-me francamente, gosto da beleza que me rodeia, mas há algo que não me parece bater certo, só que não parei para pensar de forma cuidada sobre isso, nem sei mesmo se o farei.
    Quero agradecer-lhe o ter aqui regressado, e espero que continue, pois estes seus post são aprendizagens rigorosas e valiosas neste mundo da net cheia de enganos e más informações
    Manel

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    1. Manel, estamos em sintonia quanto a estas dúvidas e reflexões. Tem-me dado muito prazer rodear-me de objetos interessantes e com histórias para contar, alguns são lembranças que trouxe de viagens e depois há os de família - não muitos porque ainda tenho a casa dos meus pais - de que não conseguiria desfazer-me. É inevitável que vamos acumulando coisas ao longo da vida, faz parte dos nossos interesses e da nossa história e eu não seria capaz de viver num espaço pequeno e minimalista, mas quanto a novas aquisições, já estou muito seletiva e ponderada ;)
      No entanto, haja motivação e disposição, terei sempre matéria para continuar os postes. E tenho a agradecer-lhe mais uma vez o incentivo e a amizade.(por falar nisso, já viu o meu e-mail?)
      Um abraço

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  4. Penso muitas vezes como o seu comentador anterior, o Manel. Vamos acumulando tralha para quê? ...
    Mas depois penso que não é errado, pois se nos dá gosto ter as coisas, olhá-las, ir mudando o seu lugar...desfrutando da sua beleza...
    Tenho uma casa relativamente grande e também está demasiado cheia, mas não me vejo a viver numa casa minimalista...gosto das minhas coisas:)

    Enfim...

    Mas o que me levou a deixar um comentário, é o seguinte: ontem vi aqui esses catálogos e fui pesquisar na Wook se havia alguma coisa à venda, mas não há. Tenho algumas peças de louça antiga e nunca me interessei muito em saber mais sobre elas, mas agora com a leitura dos blogues, tenho achado interessante saber mais, de maneira que gostaria de comprar algum livro ou catálogo que me ajudasse. Esses que refere já não se encontram à venda pois não?...

    Obrigada.

    Desejo-lhe um bom fim-de-semana:)

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    1. Afinal, Isabel, andamos todos a colocar-nos as mesmas questões quanto à tralha que fomos acumulando :)
      Também sempre tive muito espaço para colocar as coisas de que gosto e umas vão sendo destronadas por outras, mas há sempre onde arrumar. O problema é que gosto de ter muita coisa à vista, é como diz, dá prazer apreciá-las, tê-las ao alcance dos olhos, e isso é que pode tornar essa presença excessiva para outras pessoas...
      Sempre me interessei por saber mais sobre os objetos que tenho em casa, quando percebo que têm que contar, e o blogue reflete bem isso. O Google e os livros dão realmente uma ajuda e estes catálogos são preciosos para conhecer a produção de Sacavém. Devem estar acessíveis no Museu da Cerâmica de Sacavém , foi lá que comprei o "Porta aberta às memórias". Quanto ao outro, comprei-o aqui perto, numa exposição de louça de Sacavém, há uns dez ou mais anos, não sei se ainda o têm lá no museu.
      Obrigada pela visita e um bom fim de semana também para si.

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  5. Savavém teve uma produção vasta e tão longa no tempo que estamos sempre a descobrir novos motivos decorativos ou novas variantes dos mesmos. Acho o Metz particularmente encantador e esse pormenor de as faixas decorativas estarem desacertadas, só lhe dá um certo sabor de peça única. Tenho um prato de Massarelos, que já apresentei no blogue, que sofreu do mesmo desacerto e só tem mais piada por causa disso.

    Como colecionador amador também passo por essas crises, em que me atormento por causa de tudo aquilo que acumulei e naquilo que transformei a minha casa, um sítio pouco prático para se viver e muito difícil de limpar. O meu vizinho da frente, que um minimalista, aspira a casa dele num quarto de hora e eu para fazer a mesma operação, tenho que quase que tirar um dia de folga no emprego.

    Corremos todos o risco de nos tornar acumuladores. Por motivos profissionais, visitei recentemente a casa de uma senhora, que além de colecionadora era acumuladora e quando morreu, os senhores do 115, viram-se gregos para desobstruir o corredor e fazer passar a maca.

    Enfim, há que encontrar um equilíbrio entre o gosto de colecionar, que é muito interessante, porque estudamos as peças e acrescentamos o nosso conhecimento e uma certa necessidade de contenção, para não nos tornarmo-nos acumuladores.

    Bjos

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    1. Luís, acho que não corremos o risco de nos tornarmos meros acumuladores porque não é qualquer objeto que nos interessa levar para casa, são sempre peças especiais por um motivo ou por outro. Já conhecemos o suficiente para sabermos distinguir entre o que é só lixo recente e o que pode ter algo a dizer pela idade, pelo estilo, pelo fabrico...
      Mas há realmente necessidade de contenção e eu ando nessa onda, até porque hoje em dia os preços desceram muito e as tentações são maiores... ;) De qualquer maneira, nas próximas semanas vou estar tão ocupada que nem me lembro das velharias :)
      Beijos e uma boa semana de trabalho, com essa magnífica vizinhança aí no MNAA!

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  6. Querida Maria A.

    Só para deixar um alô e um abraço.

    Dizer que Sacavém sempre alegra a vista e a vida.

    E antecipar que adquiri a muitas custas um grande e anitigo vaso de jardim ou de platibandas azul e amarelo com pegas em cara de leão e parreiras em relevo, inteiro. Pena que não marcado. Mas com todo jeito de SAVP ou Miragaia e alguns mais. Depois eu mostro.

    Vou voltar para apreciar e aprender sobre os diversos selos da Sacavem.

    Um abraço.

    ab

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    1. Obrigada, Amarildo. Fico à espera de ver o seu vaso com filiação nessas faianças do Porto e Gaia que tanto nos encantam!
      Um abraço também para si.

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  7. Há anos na net, e só hoje encontro o seu blogue. Precisava duma ajudinha em algumas peças que tenho e não conheço. Acabo de ser operada e como não sei quanto mais viverei - com pensamento positivo - preciso de seleccionar o que quero e o que tenho de vender. Além disso, embora com 78 anos, sou voluntária numa Associação de ajuda animal e dão-nos objectos que seria pecado vender por 1 euro. Ajuda-me?

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