quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Pratos de Staffordshire da "Shipping Series"


A "Shipping series", que se pode traduzir por série das embarcações, é um padrão decorativo usado em Staffordshire, na Inglaterra, entre 1810 e 1830, a avaliar pelas datas atribuídas aos pratos e travessas desta série que aparecem em leilões online.
O que caracteriza este motivo de faiança inglesa azul e branca, referida como pearlware, sem marca, é a existência de uma reserva ao centro, com embarcações, geralmente num mar revolto sob um céu carregado, e de uma aba com flores, conchas e plantas marinhas, sugerindo paragens tropicais.
Estes pratos são denominados "Fragata I", o prato raso, e "Fragata II", o prato de sobremesa. Nunca vi nenhum de sopa, que teria certamente uma embarcação diferente destas, mas mostro aqui uma travessa com uma bela cena de batalha naval, denominada "Batalha nocturna entre Blanche e La Pique", segundo uma gravura de 1797, que encontrei na internet.


Representa as fragatas Blanche, inglesa e La Pique, francesa, ao largo de Guadalupe no Mar das Caraíbas, durante os confrontos que opuseram os dois países no final do séc. XVIII, na sequência da independência americana, apoiada pelos franceses.
Há travessas com outras cenas, pelo menos três, a que eu já vi referência: "Cena Portuária" (I e II) e "Batalha Naval Diurna"
Por ilustrarem factos históricos, estas peças integram-se numa categoria de  faiança inglesa azul e branca denominada "Historical Staffordshire" que mostra factos e figuras da história inglesa e americana. Lembram-me as magníficas tempestades no mar do pintor inglês William Turner (1775-1851) com obra contemporânea destes pratos e travessas.
Os pratos que comprei, um na feira de Espinho por 45€ e o outro, com esbeiçadelas que já disfarcei, na Vandoma por 3€, em média 24 € cada, não foram nada caros,  mas as travessas atingem preços elevadíssimos, sobretudo as que têm  cenas mais raras. Uma "Harbour Scene II", que se mostra em baixo, foi vendida num leilão da Bonhams por 1.920 libras.

                   

Já depois de ter terminado este post, encontrei num catálogo online um jarro com a mesma decoração, o que achei muito curioso porque nunca tinha visto qualquer peça para além de pratos e travessas. Haverá certamente também terrinas , molheiras e outros formatos de peças, mas estarão com certeza guardadas para deleite particular de coleccionadores ingleses e americanos, sobretudo.

4 comentários:

  1. As peças são muito interessantes, mas não foram elas que me tocaram, antes a menção de um dos meus artistas favoritos, Turner.
    Foi um visionário anterior ao seu tempo, pois muitos dos seus quadros não foram mais que desculpas para estudar o movimento associado à cor, temática que só seria amplamente desenvolvida com os impressionistas, bastante depois da sua morte.
    Um homem que deve ter persistido nas suas buscas contra as tendências vigentes na época, que aprendi a conhecer, primeiro aqui em Lisboa, onde estão duas pinturas dele juntamente com algumas aguarelas, depois na Tate Britain, onde reside o seu maior acervo, pela doação que fez da sua colecção àquela instituição.
    As que se encontram na Gulbenkian são obras que se podem incluir nesta temática que aqui abordou, por pertencerem à série que Turner dedicou às catástrofes naturais e tempestades no mar.
    Apesar do traço com que foram feitos estes pratos estar completamente fora do interesse de Turner, que se comprazia em estabelecer um caos aparente na tela, originado por vórtices e linhas curvas e diagonais que se entrecruzam para voltarem a afastar-se, tudo misturado com uma pincelada cromática que parece aproximar-se das técnicas utilizadas pelos divisionistas de finais do século XIX, as temáticas aproximam-se.
    Muitos parabéns pelas peças, que são muito interessantes
    Manel

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  2. Maria Andrade

    De facto a faiança inglesa é um mundo, com uma variedade que nunca mais acaba de decorações e estes temas marinhos, que a Maria Andrade apresentou são uma verdadeira delícia.

    De facto, nos Estados Unidos adoram esta louça inglesa, que cá se continua a comprar a bons preços.

    A propósito do Turner, que o Manel convidou muito a propósito para o seu blog, convido-vos a espreitar este mini site, feito por ocasião de uma belíssima exposição na Gulbenkian sobre este as aguarelas pintor http://www.museu.gulbenkian.pt/exposicoes/turner/exposicao.htm e que na altura tive ocasião de visitar.

    Abraço e bom fim-de-semana

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  3. Caros Manel e Luís,
    Adorei a forma, muito enriquecedora para este blogue, como o Manel discorreu sobre Turner e agradeço ao Luís o link q me vai permitir admirar mais umas tantas obras deste pintor. Também eu aprecio imenso a obra de Turner, só q não disponho de conhecimentos teóricos q me permitam desenvolver o tema como o Manel o fez. Vi a extensa obra q se encontra na Tate, agora Tate Britain para se distinguir da Tate Modern,
    mas também o vi na National Gallery e no Metropolitan Museum of Art em Nova Iorque. Este museu organizou há dois anos, no verão de 2008, uma grande exposição a ele dedicada, onde reuniram obras de vários museus ingleses e americanos, mas sobretudo da Tate, q penso ser o local onde se concentram mais quadros seus. Poderão ainda visitar a exposição online se pesquisarem no google por William Turner+Met, para não estar aqui a escrever o extenso link q lhe dá acesso.
    Bom fim de semana para os dois.

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  4. Pode aqui ficar a impressão de que valorizo as colecções dos museus estrangeiros e não dou o mesmo valor às colecções portuguesas, nomeadamente à da Gulbenkian. A verdade é q a última vez q visitei a colecção permanente já foi há uns bons anos e na altura não estava particularmente desperta para a obra de Turner.
    Tenho lá voltado para ver exposições temporárias, mas não a pintura da exposição permanente, por isso já não tinha memória das obras magníficas q fazem parte do acervo deste museu e q pude ver agora graças ao link q o Luís aqui deixou.

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