terça-feira, 2 de novembro de 2010

Pratos de faiança com motivos florais

Um bom tema para iniciar o mês de Novembro. Já que as flores estão a acabar nos jardins, temos de nos rodear de flores de outra natureza.
Estes pratos grandes, tipo palangana, serão todos do final do séc. XIX, princípio do séc. XX.
Para além dos diferentes motivos centrais, acho muito interessante a variedade de cercaduras  inventadas pelos artistas populares que criaram as decorações destes pratos. É raro encontrarem-se duas iguais e é essa  grande originalidade, o carácter único de cada prato, que lhes dá sedução, para além da beleza da composição, simples e ingénua, quase infantil.

Este foi o primeiro prato grande de faiança que comprei, já lá vão uns doze anos. Foi  num antiquário da Mealhada, o Sr. Américo, que me fazia uns descontos no tempo em que as antiguidades estavam muito inflaccionadas, mas este prato, considerando que está gateado atrás, não foi nada barato. Atraiu-me nele sobretudo o grande vaso ou cesto de flores, a lembrar-me o cesto de flores do brasão da vila de Condeixa. Não sei se é de fabrico coimbrão ou se é fabrico do Norte, mas o tom de amarelo vivo  lembra Fervença ou Bandeira.

Este é talvez o meu prato de flores preferido. Os tons fortes, sobretudo o cor de laranja,  também lembram fabrico de Vila Nova de Gaia, Fervença ou Bandeira, mas vá-se lá saber ao certo. Foi comprado num antiquário de Aguiar da Beira, junto à estrada para Viseu. Parecia impecável quando o comprei mas a verdade é que passado algum tempo notei-lhe um cabelo. Não sei se estalou com  alguma diferença de temperatura durante a viagem ou já em casa.

Este outro está impecável mas tem uma decoração singela  numa pasta amarelada, diferente de todos os outros, certamente pelo tipo de vidrado que foi utilizado. Foi comprado no mesmo antiquário do anterior, numa outra ida à Beira Alta.

Mais um prato com tons pouco vistosos mas em excelente estado de conservação. Foi comprado num antiquário de Lamego, durante um fim de semana que lá passámos e eu quis trazer um "recuerdo". Este já é mais do tipo que eu associo a Coimbra, princípio do séc. XX.

A típica decoração de flores de Coimbra, pelo menos tanto quanto eu consigo identificar. É o exemplar de maior diâmetro (38cm) e é muito raso, ao contrário de todos os outros. Foi comprado numa ida para a Figueira da Foz num antiquário perto da Tocha, o Sr. Lucas e a simpática sobrinha Marisa, agora já formada em Direito, mas ainda uma entusiástica vendedora de velharias. Acho-o muito parecido com vários pratos da Maria Isabel, do blogue "Lérias e Velharias".

Finalmente este grande prato, embora sem marca, tem as flores, as folhas em pluma e o azul cobalto característicos da Fábrica do Cavaco - Gaia. Comprado pelo meu marido na feira de Coimbra, num dia em que resolveu alargar os cordões à bolsa... A figura que apresenta no centro parece-me de lavrador em traje domingueiro, só que não consigo identificar o objecto que leva pendurado na mão esquerda. Será um relógio de bolso? Mas porquê naquela posição? Outra coisa que me intriga é o tom vermelhusco que lhe puseram na cara, mas não na mão se a intenção fosse ser esse o tom de pele. Será que quiseram representar um bêbedo? É certo que ao Domingo os homens nas aldeias costumavam ir para casa com um grãozito na asa...
Aceitam-se palpites...

10 comentários:

  1. Olá Maria Andrade, parabéns, a colecção de pratos apresentada é de fazer inveja aos amantes de faianças.
    Todos inegavelmente deslumbrantes, cada um ao seu estilo.
    Para mim o 1º julgo ser da fábrica Bandeira, porque os verdes da fábrica Fervença são de um brilho no vidrado que os tornam únicos.
    Quanto ao 2º prato inclino-me para uma das muitas olarias de Aveiro, pelo filete preto na bordadura seguido da lista avermelhada e a risca grossa em ocre ao centro.
    O 3º pode muito bem ser de Coimbra, tenho um com um pássaro e bordadura em azul com semelhanças na singeleza.
    Quanto ao 4º e 5º não há dúvidas, são de Coimbra, um deles muito parecido com um dos meus, diria mais saíram da mesma olaria e provavelmente dos finais do século XVIII,a estrutura do motivo central, das pétalas é único, diferenciado, fino.
    Bem, quanto ao último é de facto um genuíno Cavaco de Gaia.
    O motivo é bem característico da vida do quotidiano à época, homem em traje domingueiro de colete vestido abafa as mágoas na taberna ,a vermilhão na tez dá mote à expressão" está com os copos" a caminho de casa "pobrete mas alegrete" solta a voz a cantarolar ao mesmo tempo que baloiça a corrente do relógio como se dela fizesse música.
    Muito bom gosto e requinte nas aquisições.
    Viajei no tempo ao admira-los, também me convidou a entrar nos antiquários, um mote que me inspira a descobrir.
    Beijos
    Isabel
    Beijos

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  2. Pois é, Maria Isabel, todas estas atribuições não passam de palpites, certezas dificilmente as teremos alguma vez, à excepção do prato Cavaco porq há muitos marcados e podem-se tirar semelhanças.
    Só não concordo consigo quando diz q os pratos das flores são do séc. XVIII. Se assim fosse já teriam 250 a 300 anos,não apareciam à venda nesta quantidade e por estes preços. Nenhum destes pratos tem características de setecentos, nem na pasta nem na decoração, quando aparecem nos leilões são sempre datados do séc. XIX ou XX.
    Quanto aos antiquários, nem todos vendem só altas antiguidades, muitos são bastante modestos, também vendem nas feiras e têm peças a preços módicos. É nesses q eu compro de vez em quando alguma coisa.
    Obrigada por todas as suas achegas e simpáticas apreciações.
    Beijos

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  3. Maria A.
    Votei!
    Gosto sempre de ler os comentários, vejo neles uma óptima forma de evolução, aprendizagem e conhecimento.
    Claro que tem toda a razão quando evoca que as sugestões de atribuição da idade das faianças não passam de meros palpites.
    Acontece que só destronando palpites, lendo, vendo e através do diálogo se chegam a conclusões???Mesmo assim, tenta-se!
    Gosto de ver os sites dos leiloeiros, há muito que percebi que pouco ou nada sabem da nossa faiança que não está marcada.
    Anulam-se a dizer faiança do norte, ora o norte teve mais que muitas olarias e de muita nomeada, da mesma forma na atribuição da idade da peça.
    Quando eu digo julgo que poderá ser do séc XVIII, é por confronto de muitas outras peças, analisando a textura da massa, da cor, do vidrado, mas certezas, essas não tenho.
    Também não corroboro o facto de que se fossem peças muito antigas teriam outro valor, claro, se os vendedores tivessem essa certeza. Geralmente quando adquirem as peças em leilões o que ouvem dizer ..esta peça era da minha avó e assim atribuem a idade referente ao séc XIX ou principio de XX.
    Mas ele há peças que por motivos vários foram passando de geração em geração e perdeu-se o fio à meada e são de facto mais antigas do que era suposto serem.
    Veja, ultimamente tenho adquirido pratos da Companhia das Índias, o chamado Cantão, pratos com 200, 250, 300 anos, o preço, claro que partidos com gatos, ou simplesmente colados, desde os 5; 10; 15;20€.
    O mês passado comprei um Mandarim com uma pequena esbeiçadela no rebordo por 5€, ainda um mais pequeno pelo mesmo valor, seguramente de 18..
    Se com facilidade conferimos à loiça chinesa a sua verdadeira idade e identidade, porque razão não o devemos também fazer à nossa, e não a desvalorizar, achando sempre que é recente...
    Bem sei que falo sem conhecimento dos vários catálogos de loiça portuguesa que felizmente existem.
    Desculpe-me, é este o meu jeito de espicaçar e valorizar aquilo que é nosso.
    Estarei eu enganada?
    Obrigada por me fazer raciocinar e explorar realidades que cega não vejo
    Beijos
    Isabel

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  4. A decoração do penúltimo prato tem um certo "perfume" às peças da "Companhia das Índias" sobretudo às associadas à "família rosa".
    Claro que não é, mas na Europa houve a tendência da cópia da porcelana e motivos orientais, só que, em Portugal, essa cópia não é integral, como foi por vezes feita noutros países, antes há uma interpretação regional que lhe confere uma beleza que surge do improviso e da "telha" do artista.
    Há algo na nossa forma de ser que nos impede de copiar "ipsis verbis", e ainda bem!
    Manel

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  5. Ola Maria Andrade!

    São lindas as suas peças, Obrigado pela partilha! Nem sei de qual gosto mais...só sei que com passar dos dias o meu gosto por Faiança portuguesa aumenta (por mais impossivel que isso me pudesse parecer). Mas gosto mesmo muito do penultimo e do segundo...e do primeiro...e de todos pronto!!! :-)

    Quanto ao assunto do motivo das peças da Vista Alegre que colecciona, fiquei de confirmar o meu palpite quanto ao nome e ja confirmei, é de facto o "Silvinhas"!!! Nunca o vi publicado pela Vista alegre mas é o que aparece em leilões e o que alguns conhecidos meus, entendidos no assunto, confirmaram.

    Um abraço

    Marília Marques

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  6. Cara Maria Isabel,
    Quando digo q estes pratos não podem ser do séc. XVIII, não pretendo de maneira nenhuma desvalorizar a nossa faiança. Pelo contrário, estou a reconhecer q a nossa faiança do séc. XVIII - a da Real Fábrica de Loiça ao Rato, da Fábrica do Juncal, do Brioso e do Vandelli em Coimbra, de Darque em Viana do Castelo, do primeiro período de Miragaia, e outras - cada uma com as suas características, já bem estudadas, é de tal maneira valorizada, muita dela marcada, q não aparece à venda por estes preços módicos em qualquer feira de velharias. Para já não falar da do séc. XVII, os pratos de aranhões, rendas e contas ou então de desenho miúdo em muitos casos imitações da porcelana chinesa do período Ming, mas por vezes mais valorizadas q o original.
    Toda esta faiança, altamente apreciada mesmo a nível internacional, encontra-se nos museus portugueses, M.N.de Arte Antiga, M.N.Machado de Castro, M.N.Soares dos Reis, M. Municipal de Viana do Castelo, ou então em boas colecções privadas q implicaram avultados investimentos nestas peças. É como quem investe num quadro ou noutra obra de arte. Quem me dera poder ter faiança desta em casa, só se fosse um prato todo partido e colado e mesmo assim teria de desembolsar umas centenas de euros...
    Só tenho uma peça q poderá ser do séc. XVIII, da Fábrica do Rato mas não está marcada. É uma mísula em faiança marmoreada com uma fractura mais ou menos disfarçada.
    Bem, já chega de conversa, q tenho o chá quase frio...
    Estes bate-papos são muito estimulantes, obrigada por me ter dado a deixa para discorrer sobre tudo isto.
    Beijos

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  7. Caro Manel,
    Bem-vindo ao meu blogue e obrigada pelo seu comentário.
    Não sabia q estava a impedir a recepção de comentários de anónimos, ainda bem q o Luís me chamou a atenção. Entretanto já fui perdendo o seu contributo em muitas peças q estão para trás e tenho pena, sobretudo nas de faiança inglesa.
    Quanto às nossas cópias, no séc. XVII fizemos muitas, mas resultaram muito diferentes do original chinês desde logo pela diferença da pasta utilizada, a grosseira faiança em vez da fina porcelana. De qualquer forma, não perderam em beleza e em qualidade e como sabe são muitíssimo apreciadas internacionalmente.
    Um abraço e volte sempre.

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  8. Cara Marília
    Muito obrigada pelas suas simpáticas palavras, mais uma vez, e pelo cuidado em procurar saber, para me confirmar, o nome daquela decoração Vista Alegre. "Silvinhas" é um nome bonito e simples, ajusta-se bem àquela decoração.
    Quanto ao gosto q partilhamos por faianças, vai-nos ajudando a preservar peças, mesmo em mau estado, e assim contribuimos para aumentar os conhecimentos nesta fantástica área das artes decorativas.
    Deve andar muito atarefada porq não tem "alimentado" o seu blogue...
    Beijos e vá aparecendo, aqui ou lá.

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  9. Fiquei encantado com os seus pratos com motivos florais e a olho nú, também me parecem do século XIX. Pelo menos, a julgar do que conheço de museus e catálogos de exposições.

    Há um fenómeno que é mais psicológico que outra coisa, que nos leva a atribuir mais antiguidade do que aquilo que realmente elas tem, às peças de caracter ingénuo. Quem detectou pela primeira vez esse fenómeno, pelo menos em Portugal, foi o Ernesto de Sousa, na obra Para o Estudo da Escultura Portuguesa. Já citei esse exemplo no blog da Maria Isabel, de no Minho existirem esculturas em granito, de caracter popular, feitas no início do século XIX, que reproduzem soldados franceses do tempo das invasões e que são semelhantes aos guerreiros lusitanos.

    Há pois uma certa tendência a atribuir mais idade à loiça ingénua do século XIX.

    Quanto às marcas, só Deus sabe...

    Abraços

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  10. Pois é, Luís, as colecções dos museus e respectivos roteiros e catálogos de exposições, juntamente com obras belíssimas como a "Cerâmica Portuguesa" de José Queirós ou a "Faiança Portuguesa, Séculos XVIII-XIX" do Artur de Sandão, vão-nos educando a vista e ajudam-nos a ganhar alguma sensibilidade para certas diferenças, embora nem saibamos explicar bem quais são...
    Bom fim de semana

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