A cidade inglesa de Derby, capital do Derbyshire, mesmo ao lado do famoso e prolífico centro cerâmico de Staffordshire, viu nascer, ainda no séc. XVIII, uma indústria de porcelana que dura até hoje. Foram três as unidades produtoras de porcelana nesta cidade, que se sucederam ao longo de três séculos, começando na mítica Derby Porcelain (1748-1848) e terminando na actual Royal Crown Derby.
Após o encerramento da primeira, dirigida por William Duesbury e seus descendentes, vários dos antigos operários fundaram uma pequena fábrica na mesma cidade, em King Street, onde continuaram a produção de porcelana seguindo os modelos da anterior, passando a chamar-se King Street Factory. A partir de 1862 alargaram as suas instalações e passaram a utilizar a marca mais famosa da primitiva fábrica - um D encimado por dois paus cruzados com pequenos pontos de cada lado, por sua vez encimados por uma coroa - mas acrescentaram-lhe as iniciais S e H, de Stevenson e Hancock os dois sócios da altura. Mais tarde, apenas o segundo continuou à frente da fábrica, mas as iniciais mantiveram-se pelo início do séc. XX, correspondendo agora ao seu nome Sampson Hancock.
Entretanto, ainda no final do séc. XIX, é fundada em Derby uma outra fábrica que começou por utilizar o nome Derby Crown Porcelain Co. e a partir de 1890 adoptou o nome que ainda usa actualmente, Royal Crown Derby.
Página do famoso livro de padrões da primitiva Derby, encontrada em http://www.artfund.org/artwork/7194/four-derby-porcelain-pattern-books
Os livros de padrões ou pattern books, muito utilizados pelas mais conceituadas fábricas de cerâmica inglesas, tendo cumprido a sua função à época, que era a de registar formas e desenhos e facilitar novas encomendas, são hoje auxiliares preciosos para identificar e datar exemplares sem marca. Acontece em muitas peças inglesas antigas terem como única marca o número de padrão, inteiro ou fraccionário, escrito à mão de forma mais ou menos cuidada, em dourado ou em várias cores, sobretudo vermelho. São esses pormenores de cada número que ajudam a identificar e a datar a peça. Mas mesmo existindo a marca da fábrica, como é o caso das minhas chávenas, servem para datar muitos exemplares de fabricantes que mantiveram a mesma marca durante décadas. Estes livros encontram-se geralmente nos arquivos de cada unidade fabril, no caso das ainda existentes, ou em museus e colecções de cerâmica, felizmente abundantes em Inglaterra.
Par de taças e pires de chá comprado na Feira da Ladra. Ostenta a marca Derby anterior a 1800, de cor lilás (a puce mark, em inglês). Note-se que este padrão é o nº 238 da página acima reproduzida.
Chávena e pires de chá comprados num antiquário em Coimbra. A chávena tem um formato muito usado em Inglaterra no séc. XVIII, início do XIX, o chamado bute shape. O padrão corresponde ao número 235 da página do pattern book acima reproduzida, mas como se trata de um formato diferente, foi-lhe atribuído outro número, o 248.
Chávena e pires de chá da fábrica de King Street, comprados na feira de Portobello Road em Londres. O formato aqui é o chamado London shape, largamente utilizado durante o séc. XIX.
Tacinha em forma de coração da Royal Crown Derby, pintada à mão como as anteriores, já do séc. XX. Foi comprada por um preço irrisório na feira de Algés.
Olá Maria Andrade
ResponderEliminarBem vinda de novo a este mundo blogista, as saudades de aprender consigo é fascinante. Espero que desta vez para ficar!
Adorei o seu post. Consigo tenho viajado pela porcelana inglesa que nada sabia, confesso. Gostei particularmente das suas peças inegavelmente belas, delicadas, mui graciosas. Gostei da panólia dos lugares onde foram adquiridas, a última em Algés, abrangente os seus locais de compras.A minha paixão sempre foram as faianças e os vidros "casca de cebola". As porcelanas nunca me entusiasmaram, talvez pela finura, apesar de pintadas à mão não me perco a contempla-las. No caso, estou parecida com a Maria Paula que não apreciava os esponjados, vendo as minhas peças num repente se encantou, eu estou a ir pelo mesmo caminho.Muito pela história da origem da marca Derby e toda a investigação sobre esta porcelana rematou com chave de oiro este post nesta quadra natalícia.Acrescento que a chávena em tons de verde a minha preferida num relance lembrei-me que a reconheci de a ver numa ceia de Natal numa revista há coisa de 30 anos.
Interessante, acho graça a estas memórias.
Boas festas
Beijos
Isabel
Adorei as suas chávenas. Que peças requintadas e delicadas!
ResponderEliminarApreciei a explicação do nº de padrão, que registei na minha cabeça, nab parte dos conhecimentos úteis. Julgo que a nossa Vista Alegre tb os usou, mas nunca vi nada publicado, que mostrasse sistematicamente os números e os respectivos padrões usados por essa Fábrica
Em todo o caso, a Maria Andrade deu-nos a todos uma boa orientação sobre a forma de indentificarmos peças não marcadas através dos nºos de padrão.
Parabéns tb pelas fotos. A primeira em que enquadrou o par de chávenas com as janelas está estupenda. Ficou cheia de simetria e com uma luz bonita.
Abraços e bom Natal
O Luís, que tem uma memória e um poder de observação digno de nota, lembrou-se de um livro que me tinha oferecido há uns tempos sobre "English Style and Decoration - a sourcebook of original designs", de Stafford Cliff (obra que muito prezo pela sua qualidade eclética de temas e pela forma cuidada como apresenta as ilustrações), onde aparecem várias páginas de modelos, devidamente numerados, destinados à decoração de peças de porcelana.
ResponderEliminarLá estavam elas! Nunca as tinha estudado devidamente, mas, graças a este seu post, foram esquadrinhadas com mais cuidado.
A qualidade das peças é fantástica e a sua elegância digna de nota.
Bem vinda e não quero deixar passar a ocasião sem lhes desejar uma tranquila época natalícia com um novo ano mais auspicioso, se possível for
Manel
Caríssimos Isa, Luís e Manel,
ResponderEliminarNão imaginam o bálsamo q foi para mim receber tão simpáticos e calorosos comentários, ser assim acolhida depois de uma ausência q à parida não esperava ser tão prolongada.
Ainda bem q gostaram das minhas peças e q este post lhes deu informação útil.
Estive no Brasil três semanas, de visita ao meu filho e namorada, mas levei o portátil e sempre q pude segui os vossos posts e comentários. Pensava até fazer posts a partir de lá, mas acabou por não dar. A viagem correu muito bem, vimos locais maravilhosos,tivemos um grande apoio do nosso filho, só q por cá houve um incidente em nossa casa q nos tirou grande parte da disposição e tranquilidade. Aos poucos vai-se readquirindo a paz de espírito, é assim q tem q ser...
Aproveito para lhes retribuir os votos de Boas Festas e também um Ano Novo cheio de felicidade.
Cara Maria Andrade,
ResponderEliminarUm espetáculo este post! Que chícaras LINDAS! E que delícia os padrões estarem ilustrados justamente na página que há no site da Derby!
Parabéns pelas preciosidades.
abraços
Fábio
Caro Luís,
ResponderEliminarEu tenho um catálogo de um leilão da Vista Alegre que possui reprodução de algumas poucas fichas de catalogação de padrões decorativos da fábrica.
Se quiser, posso lhe mandar por email.
abraços,
Fábio
Olá Fábio,
ResponderEliminarBem-vindo ao meu blogue e obrigada pelos seus comentários.
Também eu achei uma feliz coincidência ter encontrado nesta página a ilustração e numeração dos dois padrões decorativos, precisamente das minhas mais antigas peças Derby. É curioso q já tenho estas porcelanas há uns bons cinco ou seis anos, já tinha visto esta página do livro da Derby mais do q uma x, inclusive no seu blogue, mas só quando copiei a página para fazer o post é q reparei q estavam lá os padrões das minhas chávenas. Foi mesmo a calhar e uma verdadeira emoção!
Apareça sempre
Um abraço
A chávena com asa de Derby, pintada a verde e dourado é maravilhosa! Curiosamente nunca conheci ninguém que me conseguisse dizer porque é que em Portugal quase só se encontram chávenas sem asa de produção inglesa... seria um tipo de objecto mais parecido com o formato chinês, e por isso mesmo mais próximo do gosto português? Afinal muitas destas peças eram exportadas para cá, e a opinião do consumidor teria com certeza o seu valor. Nos inícios do século XIX, e até já nos finais do XVIII, já eram habituais (diria até mais comuns) as chávenas com asa em Inglaterra. Voltando agora à chávena a verde e dourado; é um dos meus padrões favoritos, e que infelizmente ainda não consegui encontrar. Parece estar em óptimo estado de conservação, o que é muitas vezes raro. Gostei muito!
ResponderEliminarDe novo, seja bem vindo ao meu blogue!
ResponderEliminarSabe, Manel, eu tenho uma teoria para a questão q levanta sobre encontrarem-se por cá mais chávenas inglesas sem asa, isto é, tacinhas de chá. É q os fabricantes ingleses, sobretudo no final do séc. XVIII e início do séc. XIX, fartaram-se de imitar a porcelana chinesa de exportação, mais conhecida cá por "Companhia das Índias". Assim, muitos dos nossos antiquários e vendedores quando vêem esse tipo de tacinhas inglesas, compram-nas como "C.ª das Índias" ou para vender como tal. Eu q adoro porcelana inglesa antiga e até gosto muito desse formato sem asa, vejo muitas peças q não compro porq estão à venda como Cª das Índias e por isso por preços inflaccionados, para mim.
Nos finais do séc. XVIII/inícios do séc. XIX, havia fabricantes ingleses q seguiam mais os modelos orientais, mas outros fabricaram muito a "bute shape"(Spode, por exemplo) q é o formato da tacinha mas com asa, e um pouco mais tarde a "London shape" q também mostro aqui.
A minha chávena Derby a verde e dourado está realmente em muito bom estado de conservação e tem uma marca bastante antiga, por isso é uma das vedetas da minha pequena colecção.
Tenho ainda muitas peças para mostrar, só q o tempo não é elástico e tenho outros gostos para além da porcelana, como já deve ter reparado.
Espero continuar a contar com os seus comentários!