domingo, 21 de agosto de 2011

Azulejos publicitários na Figueira da Foz

Os primeiros dois painéis de azulejos que aqui apresento podem ver-se nas paredes que ladeiam a entrada sul do Mercado Engenheiro Silva na Figueira da Foz.
É a entrada que dá para o rio e era em frente que se situava o porto de pesca que hoje deu lugar à marina.



À vista nenhum dos painéis está marcado ou datado, mas são obviamente da Fábrica de Sacavém que assim publicitou a sua produção de faiança fina e ao mesmo tempo a produção de azulejos.
A avaliar pelos modelos da loiça representada e pelo próprio design do primeiro painel, muito ao estilo Arte Deco, terão ali sido colocados nos anos 30 ou 40 do século XX e isso mesmo me foi confirmado em conversas que tive com alguns vendedores mais antigos do mercado, inaugurado ainda no século XIX, como se pode ver na entrada principal do lado do jardim público.

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Um dos vendedores,  nascido em 1947, por ali criado já que herdou o negócio dos pais, disse-me que sempre ali conheceu os azulejos, por isso teriam que ser anteriores à década de 50.  Causa-lhe alguma estranheza - e a mim também - terem sido  colocados na entrada à época reservada aos abastecimentos do mercado e não utilizada pelo público em geral. 
Depois falei com uma vendedora, a Sra Leopoldina, nascida em 1934, filha e neta de vendedoras, e ela disse-me ser ainda  miúda quando ali colocaram os painéis, mas não se lembra se ainda nos anos 30 ou já na década de 40.
Também os painéis de publicidade às águas de Carvalhelhos só se conseguem datar por aproximação graças à história da casa comercial onde foram aplicados.


São três painéis iguais, por baixo de igual número de montras da Casa Encarnação, uma antiga loja de mercearias e vinhos que se situa numa esquina da rua Miguel Bombarda, no chamado Bairro Novo, próxima da avenida marginal.


No canto inferior direito pode ler-se a marca ALELUIA AVEIRO, mas quanto a datas, a única certeza que se pode ter é que serão também anteriores à década de 50. A atual proprietária daquele estabelecimento apenas me soube dizer que quando o marido para ali foi trabalhar, no início dos anos 50, já os painéis lá estavam. Disse-me ainda que durante muitos anos a empresa das Águas de Carvalhelhos oferecia contrapartidas, em determinado volume de águas, à publicidade que o estabelecimento assim lhes proporcionava, numa zona nobre do veraneio figueirense.
A Fábrica Aleluia em Aveiro, de que já falei num post recente, parece ter tido uma intensa produção de azulejos na primeira metade do século XX, alguns ao estilo Arte Nova, e felizmente tinham o hábito de marcar os seus painéis.

9 comentários:

  1. Olá Maria Andrade. Mais um belo post que me é tão familiar. Um dos mercados mais bonitos da minha infância,a rivalizar com o de Coimbra, pela fartura de vegetais, frutas, peixe, pregões e gente a ir e vir de cestas, sacos, ceiras e alcofas nas mãos.Em pequenita lembro-me quando ia à Figueira a 1º paragem nas salinas, ainda não havia a estrada nova,casas em madeira velhas, os homens petiscavam enguias fritas, a 2ª paragem no mercado. Os painéis conheço-os desde sempre e acho uma graça a publicidade.
    Durante anos frequentei a colónia balnear da Gala do outro lado na colónia Dr. Bissaya Barreto, os pavilhões eram delicadamente forrados a azulejos da fábrica Aleluia, as colunas com lisos e uns quadradinhos com bonecos. Voltei 40 anos ao local,perdeu o esplendor.
    Beijos
    Isabel

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  2. Os painéis de L. de Sacavém não são muito antigos pois não? Terão talvez 40/50anos?

    É muito interessante imaginar como teriam sido postos e o tempo que demorou... Se não estivessem numerados demorariam imenso tempo... Um puzzle a grande escala...
    Ao contrario dos outdoors esta publicidade é muito mais limpa, e duradoura...

    Um abraço
    Flávio

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  3. Olá Maria Isabel,
    Fotografei estes painéis precisamente por também estarem muito ligados às minhas memórias de infância e adolescência, são lugares da Figueira de que me lembro desde tenra idade, já que ali fiz praia com os meus pais em anos sucessivos até aos meus quinze anos. A partir daí a frequência foi mais intermitente, mas como também ali tenho ligações familiares, nunca perdi o contacto com a cidade e de há vinte anos para cá voltei a ser mais assídua nas férias.
    Gostei muito de ler estas suas reminiscências da infância e ainda bem que os azulejos lhe fizeram reviver esses tempos já longinquos de que guarda recordações agradáveis...
    Beijos

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  4. Olá Flávio,
    Quanto à idade dos painéis, basta fazer as contas... ;) Se ali foram colocados nos anos 40, como tento explicar no texto, poderão ter agora perto de 70 anos!
    Não são antigos, mas como publicidade é realmente muito duradoura, já dura muito para além do encerramento da fábrica...
    Abraços

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  5. Não querendo por em causa a palavra das sua fontes mas referia-me ao 2º painel..

    acho que sera mais dos anos 60 por ai..

    um abraço =D

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  6. Olá Maria
    Interessantíssimos os seus painéis publicitários e que infelizmente vão rareando pelas nossas terras. Além da publicidade, demonstram uma tendência que foi importante em determinada época do século passado, representativa da nossa categoria e qualidade na produção azulejar.Lisboa tem alguns painéis sobejamente conhecidos mas, há tempos, encontrei dois que devem ter passado despercebidos aos estudiosos.Publicitam uma Casa de Chás e Cafés
    e uma Casa de Penhores.
    Cumprimentos
    if.

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  7. Olá If,
    O que torna estes painéis interessantes é mesmo o seu cariz publicitário, acabam por dar um pequeno retrato da época, que afinal não é muito longínqua.
    É pena se esses que existem em Lisboa não são devidamente sinalizados, fotografados e estudados, porque corre-se o risco de virem a desaparecer e lá se vai um pouco de história do quotidiano...
    Já que os conhece, talvez pudesse fotografá-los e procurar saber a época e o fabrico.
    Apareça sempre.
    Um abraço

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  8. Se há coisa deliciosa de se ver é anúncios publicitários antigos. Creio que toda a gente gostas de desfolhar revistas do passado, ver os anúncios das lacas, com as senhoras de penteados a desafiarem a lei da gravidade, reclames a automóveis com três velocidades e publicidade demonstrando os benefícios do tabaco.

    A Maria Andrade trouxe-nos o prazer de ver anúncios antigos, mas em forma azulejar, uma arte que em Portugal é quase sempre original.

    Quanto ao comentário do Fábio, os azulejos representando figuras complicadas eram desde épocas remotas assinalados no verso com um sistema alfanumérico, estilo A1, B1, para permitir aos serventes montar os paineis sem engatarem o desenho todo. já apanhei vários azulejos do século XVIII com esses códigos ainda vísiveis. O Cargaleiro até conncebeu um motivo de azulejo de padrão inspirado nos códigos alfanuméricos patentes no verso dos antigos azulejos.

    Abraços

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  9. Luís, essa questão da colocação dos azulejos a formar painéis grandes já me tinha ocorrido, mas pensava que haveria um desenho em papel ou em tela para guiar os assentadores, como se faz com os puzzles. Assim, como explica, o processo era muito mais eficaz, porque de outra maneira haveria sempre aqueles rapazotes distraídos que nem para o desenho olhavam e depois saía asneira pela certa...
    Não conheço esses azulejos do Cargaleiro, mas quero ir visitar o recém-aberto museu com peças dele em Castelo Branco, não sei se lá haverá exemplares desses.
    O que sei através de uma amiga nossa é que lá está patente uma exposição de ratinhos que não quero perder...
    Um abraço

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