O tom rosa usado neste exemplar não lhe retira o ar de pertença ao grupo a que chamamos "Cantão popular", habitualmente pintado a azul.
Cá estão em imagens repetidas os elementos habituais: o palácio, a ponte, o salgueiro muito estilizado, as nuvens, os traços paralelos representando a água.
Pelo tipo de pegas, que conheço de outros exemplares, atrevo-me a dizer que será fabrico de Gaia, embora na ausência de marca seja quase impossível identificar a oficina ou unidade fabril que a produziu.
Não nos podemos esquecer que as oficinas e unidades fabris destinadas à produção de cerâmica proliferaram na zona de Porto e Gaia ao longo do século XIX, contando-se ali várias dezenas, tendo muitas prolongado a sua atividade pelo século XX.
Este segundo exemplar, o meu preferido, com a decoração País de Miragaia, tem um formato muito semelhante ao da terrina azul e branca que postei em Fevereiro, os moldes parecem ter sido os mesmos, e só pelo formato, que não conheço em peças marcadas da Fábrica de Miragaia, não me atrevo a atribuír-lhe essa origem, mas é uma hipótese que fica em aberto.
Cá está o edifício com a cúpula, assim como a palmeira, dois elementos caraterísticos do motivo País de Miragaia.
A verdade é que houve outras fábricas da zona, - Fontinha, Santo António de Vale da Piedade e até mesmo Darque em Viana do Castelo - que produziram imitações deste padrão de Miragaia.
As pegas são muito originais e só por si poderão permitir atribuição de origem a quem se dedique ao estudo comparativo destas faianças. As manchas azuis de esponjados, com flores deixadas em fundo branco, são muito caraterísticas da faiança azul e branca da zona do Porto e Gaia.
A tampa com os motivos alternados e uma pega em forma de cogumelo. Aqui, parece-me ainda mais notório que o molde foi o mesmo da tampa da terrina que postei em Fevereiro.
Entretanto, um mês depois de ter publicado esta mensagem, encontrei uma terrina exatamente igual a esta, no formato e no motivo "tipo país", identificada como Miragaia e neste caso com marca. Pertence à coleção do Museu de Arte Sacra de Arouca e está fotografada no catálogo de uma exposição ali realizada em 1998 intitulada "Mostra de Faiança Portuguesa", promovida pela Real Irmandade Rainha Santa Mafalda/Museu de Arte Sacra de Arouca.
Não posso deixar de agradecer à possuidora destas faianças, não só a generosa disponibilização das fotos, mas também o cuidado que teve em fotografar as peças de várias ângulos, de forma a permitir a fácil visualização de todos os pormenores.
Jesus!!!!
ResponderEliminarQue inveja!!!
Adorei as duas terrinas.
O cantão popular em rosa é muito invulgar. Nunca tinha visto nenhum, mas o resultado é encantador. Até a mesa de onde foram tiradas as fotografias é boa e antiga.
Quanto à segunda terrina, da série País, presumivelmente Miragaia, Viana, ou Sto. António do Vale da Piedade também é muito bonita e eu vivo num desgosto de não ter nenhuma. Uma vez vi à uma à venda na Feira-da-Ladra, com a travessa e tudo, mas não tive coragem de perguntar o preço. Não sei porquê. Talvez tivesse medo de parecer demasiado pelintra quando ele me dissesse o preço, ou talvez ficasse com medo de me entusiasmar e gastar umas centenas de euros. Enfim, deixei-a lá ficar, mas ficou-me atravessada na garganta.
Esta Primavera, desloquei-mne profissionalmente a uma grande quinta no Alentejo, onde parte do recheio veio do Norte e imagine que tinham um serviço completo da série País exposto na sala de Jantar!! O serviço de jantar distribuia-se por um escaparate e uma cómoda e o efeito era fabuloso. As peças não estavam marcadas, como esta daqui. Tirei umas fotografias, mas obviamente não as posso publicar.
Desculpe este texto, mas as coisas que mostrou representam para mim uma paixão muito grande. afinal, sou um homem do Norte
Que hermosas terrinas, las dos! Nunca e visto estas bellezas y con diseños orientales! Maria, siempre enseñas cosas muy especiales y unicas! Abrazos,
ResponderEliminarFABBY
Ola Maria Andrade, mais dois belissimos exemplares da faiança portuguesa.
ResponderEliminarCoisa curiosa, existe um post no meu blog armazemdepaixoes onde mostro uma terrina e peço para me ajudarem a chegar a alguma conclusão...a minha terrina tem os desenhos desta rosa (mesmo tipo) e o formato desta azul...pelo que deduzo serem todas da mesma fabrica. Estarei certa?
Se tiver tempo dê uma voltinha por lá para ver se nao tenho razao.
Um beijinho
Marília Marques
Que posso dizer ... são lindas, lindas!! Belas imagens, obrigada pela partilha.
ResponderEliminarPois é, Luís, qualquer destas terrinas também me enche as medidas, mas sobretudo a segunda, com aquele azul, aquela paisagem centrada com as árvores a emoldurá-la, e também por ser mais pequena e muito graciosa.
ResponderEliminarImagino o regalo para os olhos que foi ver um serviço completo desta loiça...
Não tenho visto terrinas País, mas travessas aparecem bastante e eu vou sempre perguntando os preços :) Quando vir alguma mais barata, acabarei por me tentar...
É também destas pequenas alegrias que vamos vivendo...
Um abraço
Olá! Eu tenho uma terrina igual à segunda mas em tamanho normal(grande)! Foi uma peça herdada da minha bisavó! Ela tem uns "agrafos" que antigamente colocavam para fechar as rachadelas!
EliminarOlá Fabby,
ResponderEliminarÉ um prazer ver-te aqui de novo!
Assim, aos poucos, vais conhecendo alguma porcelana e faiança portuguesas.
Ainda bem que gostas.
Beijos
Olá Marília,
ResponderEliminarFui rever a sua terrina, um belo exemplar que não comentei na altura por já não ir acrescentar nada ao que disseram os nossos amigos.
O que é certo é que ela é do tipo desta rosa, o chamado "Cantão popular", e também me parece da mesma forma e tamanho, só vejo diferença na pega da tampa que é do tipo da da terrina azul. É minha convicção que estas versões do motivo "Cantão" são mais recentes do que o motivo "País", mas sem grande fundamento.
Quanto a serem todas da mesma fábrica, podem ser ou não, porque a verdade é que havia uma certa promiscuidade entre as unidades fabris e na zona à volta do Porto havia às dezenas e copiavam-se umas às outras. Podermos atribui-las a uma zona geográfica já não é mau...
Fazem falta mais estudos sobre faiança portuguesa, até lá, não havendo marcas, vamos dando uns palpites...
Abraços
Olá Sandra,
ResponderEliminarObrigada pelo seu comentário.
As peças são realmente lindas e foram bem fotografadas, mas esse mérito não é meu... Limitei-me a apresentar as belas damas :)
Volte sempre.
Abraços
Ola Maria!!
ResponderEliminarSão muito bonitas! A vermelha é imensamente semelhante á que vi á uns anos!!!
A que eu vi talvez tivesse um vermelho mais forte! Só tinha os traços um pouco mais finos!
Tudo de bom e um abraço
Flávio
Son realmente preciosas y se aprecian muy bien todos los detalles de su decoración como si las tuviera en mis manos
ResponderEliminarUn Abrazo
Olá Flávio,
ResponderEliminarAs terrinas com o motivo Cantão neste tom rosa ou mais avermelhado vêem-se pouco, mas são realmente bonitas e talvez mais atraentes por serem mais raras.
A nossa produção de faianças foi muito variada e encontram-se peças encantadoras, como estas.
Ainda bem que gostou.
Abraços
Hello Maria Andrade,
ResponderEliminarI am faszinated from Portogese Fayence. I realized that first when I visited Lisaabon, but there I saw only modern Fayence. Nice but not the same quality as you show us here. Those pieces are really outstanding. Love the decor. You always have vers interesting posts.
Best greetings, Johanna
Belas peças! De ficar em contemplação.
ResponderEliminarApesar de não ser fã da coloração rosa, reconheço-lhe a raridade e, se a visse a preço razoável, não a deixaria escapar, mas a outra terrina é realmente a rainha deste seu post.
Uma peça espantosa bem merecedora de toda a admiração que a nossa faiança de antanho merece, como bem reconheceu a sua comentadora Johanna. Mas porque razão o nosso comércio insiste em "impingir" "gato por lebre"? (e cobrando preços de lebre!).
Porque se vêem as montras cheias de horrores quando a nossa tradição é tão rica e criativa?
Exceptua-se a Cristina Pina que vai levando a sua faiança lá para os lados do Castelo, mais precisamente em S. Vicente com o seu pequeno atelier que mais parece uma caverna de Ali-Baba e onde ainda se podem apreciar peças lindíssimas, que estas sim, se inserem na nossa tradição.
Agradecimento a si e a quem connosco partilhou as peças
Manel
Esqueci-me de salientar que a terrina que possuo da "Herculaneum Pottery" que ostenta o motivo denominado "View in Fort Madura" o qual deu origem a este "país" (o Luís já a apresentou no seu blog) possui a tampa exactamente com o mesmo tipo de pega, que a mim me parece a estilização de uma palmeira. Mas isto devo ser eu a ver mais do que me é dado ...
ResponderEliminarManel
Olá Manel,
ResponderEliminarCom tantos comentários que tive ao último post, ainda não me tinha apercebido destes que aqui deixou…
Efetivamente a nossa faiança mais recente, vendida em lojas de artesanato para turistas, não respeita muito a melhor tradição cerâmica portuguesa nem faz jus à sua autenticidade e beleza.
Já tinha lido sobre o atelier da Cristina Pina, no blogue do Luís se não me engano, ainda bem que também aqui vai sendo divulgado. Não conheço, mas procurarei lá passar na próxima ida a Lisboa.
Fui rever a sua bela terrina Herculaneum ao blogue do Luís e a pega da tampa é mesmo muito parecida com esta da terrina azul com o motivo País.
Também tenho dois pratos rasos da Herculaneum Pottery com a cena “View in the Fort Madura”, um em transfer-print normal, com um fundo muito claro, certamente em "pearlware", mais antigo, e outro na técnica "flow blue", usada só a partir de 1830...
Mas isso é uma conversa que talvez desenvolva num outro post.
Foi um prazer vê-lo por aqui de novo.
Um abraço