domingo, 14 de julho de 2013

Coimbra mexe...

Coimbra com o Paço das Escolas ao fundo e a Rua da Sofia e seus colégios em primeiro plano

Será que a cidade se encheu de brios depois de a Universidade de Coimbra, Alta e Rua da Sofia terem sido classificadas pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade, fez ontem precisamente um mês?
Já o merecia há muito tempo, penso eu, não só pelo património tangível, edificado, com vários núcleos interessantes cheios de história - só a Biblioteca Joanina merecia o galardão -  mas pelo património intangível, o peso cultural que Coimbra e a sua universidade tiveram no mundo lusófono. Sobretudo por um aspeto que nunca é demais salientar: foi esta universidade, instalada definitivamente em Coimbra no séc. XVI, que formou toda a intelligentsia de língua portuguesa - sublinho, também da África lusófona e do Brasil - até ao início do século XX. Foi por isso um património comum a toda a lusofonia que foi distinguido pela UNESCO.

Biblioteca Joanina, a mais bela jóia da cidade

Há até quem atribua à experiência académica comum, obtida em Coimbra pelas elites brasileiras do século XIX, aos laços de união que elas forjaram nas lutas e cumplicidades juvenis, a unidade política do imenso território que é o Brasil, ao contrário do que aconteceu com a América espanhola que se pulverizou em quase duas dezenas de países independentes.
Mas não foram as áreas distinguidas que me surpreenderam pela sua animação no último Sábado ; foi sim na Baixa que encontrei uma variedade de motivos de interesse, para turistas e residentes, que não esperava ver ali.
Enquanto na Praça Velha decorria uma feira de produtos regionais, com tasquinhas de petiscos e animação com música popular ao vivo, na Rua do Quebra-Costas realizava-se mais uma feira de artesanato, sobretudo artesanato urbano, com um ou outro apontamento musical acústico.

Rua de Fernandes Tomás

Passado o Arco de Almedina em direção à feira, via-se ao lado a velha Rua de Fernandes Tomás (que eu calcorreei tantas vezes quando vivia na Alta...) cheia de sombrinhas em coloridos de croché,  suspensas entre os prédios. Um magnífico e inesperado efeito!
Descendo de novo em direção à Igreja de Santa Cruz ia-se encontrar a entrada toda florida na preparação de um espetáculo de folclore agendado para a noite.

Igreja de Santa Cruz

 Ao lado, no Café Santa Cruz, as portas entupiam de público a assistir, sentado, em pé, onde era possivel arranjar lugar, ao concerto "Coros Ibéricos ecoam em Coimbra", com a participação do Coro Municipal Carlos Seixas e do Coro da Universidade de Valladolid. (Este carismático café é também um dos locais onde se podem ouvir fados ao fim de semana.)

Praça 8 de Maio
O coro espanhol atuou com os seus elementos espalhados pela sala, contando com a boa acústica do local e surpreendendo o público com a fantástica sonoridade e o inusitado da atuação. Foi um belo momento musical ao final da tarde!

Café Santa Cruz

Deixei para o fim o local por onde comecei este variado programa de sábado em Coimbra:
A visita à exposição "Folhas de Clausura", a decorrer na galeria superior dos claustros do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, apresentando um trabalho de conservação e restauro de livro antigo do acervo bibliográfico que pertenceu às freiras clarissas daquele convento. Pode ser visitada até ao dia 28 de Julho, mas voltarei a falar dela com mais pormenor.

Exposição no Mosteiro de Santa Clara-a-Nova

And last but not least...
Resta-me confessar qual foi o principal motivo que me levou à cidade neste dia: nem mais nem menos do que a festinha de final de ano do infantário do meu...formiguinha elétrica! :) 
Era ver o auditório cheio de embevecidos pais e avós a assistirem às incipientes atuações em grupo das suas crianças. É que tudo neles tem graça e não há ensaio que resista à espontaneidade e inocência dos mais pequenos, a começar pelas expressões de espanto naquelas carinhas larocas, quando se abrem as cortinas do palco e enfrentam o seu derretido público a aplaudir com entusiasmo...  Que ternura imensa!!!


6 comentários:

  1. Olá Maria Andrade
    Gostei de ler o que escreveu sobre Coimbra, cidade que já não visito há algum tempo. Volta e meia, vejo-a do comboio, ou ao longe, pelas novas rodovias que nos afastam do seu centro. Tudo tem vantagens e desvantagens. Agora mais dificilmente passamos no centro das cidades. Só se lá formos propositadamente. Lembro-me de que Coimbra era paragem obrigatória nas viagens de, e para Lisboa. E como sabia bem o passeio pela rua da Sofia com as minhas três crianças correndo desalmadamente, desforrando-se de tantas horas presas no carro :)
    A biblioteca Joanina é uma joia que imperdoavelmente não conheço. Aliás, conheço muito mal toda a cidade de Coimbra. Estou morta por visitar o mosteiro de Santa Clara-a-Velha e o museu Nacional Machado de Castro. A ideia dos guarda-chuvas a servirem de toldos é muito gira. Já tinha visto, mas não com guarda-chuvas feitos de crochet.
    Espero que o Gabriel se tenha saído bem na sua atuação :) O melhor destas festas é o improviso das crianças, que como muito bem diz, são momentos de ternura, e deleite para os familiares babados e para nós, os educadores também. É sinal que se trabalhou bem, que a criança está ali, feliz, autónoma, independente e capaz de resolver problemas.
    Beijos

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    1. Olhe, Maria Paula, esses três programas - Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, Museu Machado de Castro e Biblioteca Joanina - valem bem uma vinda de fim de semana a Coimbra. Se precisar de companhia, diga, que eu estou sempre com um pé cá e outro lá :)
      Quanto à festa do Gabriel, admiro muito a criatividade e paciência das educadoras (neste caso são só mulheres) para conseguirem montar aquele tipo de espetáculo. Constroem uma história com texto, música e dança, fatiotas adequadas e depois têm que marcar o ritmo e controlar a pequenada em palco. É giríssimo, mas a Maria Paula deve saber muito bem o trabalho que dão essas coisas...
      E as crianças deliram, vê-se que estão felicíssimas!
      Ainda bem que gostou do post.
      Beijos

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  2. Coimbra bem merece o galardão da UNESCO. Só o complexo da Universidade é fantástico e depois como refere é a importância cultural daquela cidade. Quando há muito anos tratei a biblioteca memorial de António Sardinha pude traçar quase estatisticamente o perfil de um homem importante na vida portuguesa dos finais do XIX, inícios do XX. Tinha passado pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, na mocidade tinha escrito uns opúsculos de poesia e na maturidade transformava-se num estadista, num escritor, num político, num economista, jornalista ou num historiador. Coimbra foi onde se formaram durante séculos gerações de portugueses.

    Talvez esta classificação da UNESCO faça a Câmara Municipal de Coimbra e os seus cidadãos mais conscientes do seu património, que está muito estragado e descuidado, sobretudo na Baixa. Há muitos anos lembro-me de passear ainda com a minha ex-mulher por um bairro antigo nas traseiras do Astória, um pouco ao género de Alfama, onde ainda existiam casa quinhentistas. Voltei lá há cerca de uns 3 anos e o bairro parecia que tinha sido bombardeado. Das casas quinhentistas não havia traço.

    Enfim, talvez a Coimbra se continue a perdoar tudo, enquanto houver a Torre do Anto.

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  3. Luís, é realmente uma pena, mas as cidades antigas têm muitas zonas degradadas que mereciam melhor sorte...
    Coimbra tem sofrido alguns atentados, o pior dos quais continuo a achar que foi a destruição de parte da Alta durante o Estado Novo. Foi uma área ainda considerável de ruas, vielas e largos, com alguns edifícios históricos, que desapareceram para se construir uma espécie de Campus Universitário... à maneira anglo-saxónica! A Torre de Anto por acaso escapou, não foi para esse lado o camartelo...
    Quanto à Baixinha, tem havido alguma recuperação, mas durante muitos anos os edifícios foram-se degradando por ser uma zona pobre, essencialmente de comércio, com cada vez menos residentes e os poucos geralmente idosos.
    De qualquer forma Coimbra tem zonas novas muito airosas e a beira rio é muito agradável. Tem que vir com tempo!
    Bom fim de semana.

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  4. Concordo. Aquela Alta de Coimbra é o Estado Novo no seu pior. E eu até aprecio a solidez das construções daquela época, mas aquelas construções da Alta foram um desastre.

    Quanto à biblioteca é fantástica. Li há pouco tempo o livro de uma senhora brasileira, Lilia Moritz Schwarcz, ""a longa viagem da biblioteca dos Reis, que conta que a antiga biblioteca Real instalada no torreão de Filippo Terzi, no Paço real em Lisboa, era tão luxuosa como a de Coimbra. A estanteria em madeiras exóticas era também uma encomenda de D. João V e perdeu-se tudo no terramoto. Enfim, estou como a Maria Isabel, a derivar para todos os lados.

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    1. Vem até muito a propósito o que diz sobre a Biblioteca Real, nunca tinha ouvido falar dessa riqueza, mas é lógico que fosse assim. Se D. João V mandou construir aquela em Coimbra, como não seria a que tinha em Lisboa no Paço Real!
      Não consigo imaginar a riqueza e o valor do que se perdeu com o terramoto, mas logo no início do XIX outras perdas se lhe juntaram...

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