quarta-feira, 3 de julho de 2013

Galheteiros atribuídos a Miragaia

(Ora vamos lá desviar a atenção de manobras políticas e noticiários...)


Este belíssimo galheteiro que aqui apresento em primeiro lugar, pertence a  pessoas amigas que também se perdem por antiguidades e velharias.
Onde quer que vá, os olhos ficam-me logo nestas coisas e como agora ando quase sempre com a máquina fotográfica...
Nunca vi igual em catálogos e não está marcado, mas os meus amigos compraram-no como Miragaia, o que, pelos tons de azul e o  requinte dos pormenores, sobretudo o trabalho da base, me parece muito provável, até do período Rocha Soares, pai.


Também muito provavelmente da Fábrica de Louça de Miragaia é o galheteiro acima, uma das poucas compras que já fiz pela internet, mas com entrega em mão em Coimbra. Apesar de lhe faltar a pega, que é um elemento importante neste tipo de peças, considero que foi uma boa compra! Afinal o vendedor até conhecia o meu marido, de outros contextos, e embora o preço fosse já muito razoável, ele ainda nos fez um desconto ;)
Até o mundo da internet por vezes se torna pequeno...


Comparando as duas fotografias, vê-se bem como as tonalidades de azul se apresentam diferentes, pela incidência da luz em diferente hora e local, o que mostra como são falíveis as comparações de cores por reprodução fotográfica ou via net.
Não está marcado, mas com aquelas flores e a base vazada, tem um ar muito miragaiense, talvez não do primeiro período (1775-1822), mas do segundo período de laboração (1822-1850),  períodos considerados e descritos pelo catálogo Fábrica de Louça de Miragaia, Lisboa, IMC, 2008.
Procurando no MatrizNet, encontrei peças semelhantes na coleção do  Museu Abade de Baçal - uma base sem galheta e um galheteiro completo, ambos sem marca, mas com atribuição a Miragaia com ponto de interrogação..

Coleção do Museu do Abade de Baçal
Tenho pena de não conseguir ver a pega desta base de outro ângulo. Segundo a descrição, na ficha de inventário, tem pormenores  muito interessantes, com peixes a formar as hastes, terminando numa mão que segura uma argola, o que certamente enriquecerá a restante decoração.
Coleção do Museu do Abade de Baçal
Em qualquer das bases os pés são do mesmo tipo, mais um pormenor a apontar para o mesmo fabrico, o que me deixa cheia de satisfação por ter algumas pistas fiáveis em relação à origem do meu galheteiro.



11 comentários:

  1. Olá Maria Andrade
    Faz muito bem desviar a atenção destas manigâncias políticas travestidas de elevação moral e abnegados sentimentos patrióticos. Estou quase, quase a ficar anárquica :) pois cada um que vem é pior do que o outro o, que me leva a pensar se não haverá aqui uma qualquer marca genética que nos fada para esta sina, triste, por sinal. Valham-nos as nossas coisinha de que tanto gostamos:)
    Os dois galheteiros que aqui mostra são muito bonitos e são inegáveis as semelhanças entre a base do seu e a do primeiro que mostra do museu do Abade do Baçal.
    De repente, quando olhei para a primeira foto do seu galheteiro, pus a hipótese das galhetas não pertenceram a esta base, pois as flores que a decoram ficam um bocado tapadas pela própria base. Mas o par de florinhas que enfeitam a base põe de lado essa primeira impressão. Ainda não tenho nenhum galheteiro e é uma peça que me atrai cada vez mais. Tenho visto alguns interessantes, mas qua ainda não tiveram o condão de me deslumbrar o suficente, para "abrir os codões à bolsa". Tenho-os visto caros.
    Beijos e boa semana

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    1. Maria Paula, com as altas temperaturas, tanto atmosféricas como políticas, tivemos mesmo que ir a banhos :). No meu caso, não consegui escapar às primeiras, mas abstraí bastante das segundas, o que já não foi mau...
      Também me interrogo muitas vezes se, como povo, não mereceríamos melhor do que o que temos tido a dirigir os nossos destinos. É que ELES estão lá por vontade da maioria... mas têm retribuído bem essa escolha com humilhações sucessivas, que não só infligem eles próprios como deixam infligir a partir de fora...
      Mas falemos de galheteiros ;)
      Pois é, as florzinhas e a pintura esponjada são os elementos de ligação entre a base e as galhetas deste meu exemplar.
      São realmente peças muito atraentes e ficam muito bem em conjunto, mas geralmente caras. Este meu galheteiro estropiado foi uma exceção, mas afinal não haverá muita gente que se deixe seduzir por peças incompletas ou com defeitos...
      Uma boa senama também para si, espero que a cheirar a férias... :)
      Beijos

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  2. Mais uma vez um excelente post, alicerçado numa investigação séria. A base do galheteiro é muito bonita e peculiar, com os círculos que se interseccionam de uma maneira tão elegante.
    As galhetas, com a sua decoração de flores, lembram bem outras peças que já nos mostrou sobre Miragaia.
    As imagens dos galheteiros do Museu do Abade Baçal também são muito bonitas. Merecem uma visita, só que com um tempo menos abrasador.
    Um abraço
    If

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    1. Olá If,
      Muito obrigada pela sua apreciação do post e do meu exemplar em particular.
      É engraçado como os três modelos têm em comum, não só o cromatismo, mas também as bases vazadas decoradas a círculos ou ovais. É isso e também o formato dos pés que lhes dá um certo ar de família.
      Realmente,concordo consigo que o Museu do Abade de Baçal tem um acervo merecedor de ser conhecido. E está situado numa bela terra e região para visitar...com menos calor... ;)
      Um abraço

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  3. Vou tendo menos tempo de aqui vir face ao calor e saídas para o campo para ver se esqueço a triste sina que temos de ser "governados" (o verbo está utilizado como alegoria do mal e do vício) por despudorados calculistas e manipuladores, a começar na presidência do "palhaço" (coloco entre aspas porque tenho muito respeito pelos palhaços, que mereciam melhor comparação!) e a acabar pelos do desgoverno, com mira exclusiva mais do bem deles que do coletivo (a profissão de meliante político continua no seu melhor entre a ralé ... os pobres dos ladrões até parecem colegiais).
    Não creio que haja povo tão mau que mereça tal sorte, como a que nos calhou ... ou será que merecemos?
    Prefiro acreditar, porque quero guardar alguma réstea de esperança, que talvez sejamos ingénuos ou pouco conhecedores das manobras destes mestres de mau fazer e pior andar.
    Tenho um amigo de profissão, anarquista convicto - no início julgava que ele brincava, bem rápido me desenganei - que passa a vida a tentar angariar-me, e eu começo a balançar, tal como a Maria Paula! Cada vez há mais, dou conta!

    Mas vamos lá às galhetas, que são de tirar o fôlego a qualquer alma que tenha gosto.
    Nada tenho a acrescentar ao que aqui deixou, baseado que foi num trabalho de pesquisa sério e bem documentado, como sempre nos habituou, mas isto não invalida de forma alguma que não admire qualquer das peças e, por conseguinte, não consiga ficar calado sobre elas.
    O trabalho delicado da base do primeiro, com aquelas argolas que se unem por cadeias, o delicado colorido até ao último galheteiro do Abade de Baçal, que me enche as medidas - de todos seria por este que me perderia.
    São peças de eleição, fico mudo de êxtase perante a forma e a decoração da pega da base deste último galheteiro.
    Consegue-se reconstruir o seu galheteiro a partir dos do Abade de Baçal, no entanto, tal como está, continua a ser uma peça fantástica.
    Sei que os galheteiros são, hoje em dia, perfeitamente anacrónicos para a maioria, pois não conheço ninguém que os utilize, como era hábito ver, quando criança; passaram a ser peças de aparato, como as terrinas, que hoje em dia só servem para completar um serviço ou colocar em exposição. Ainda recordo, quando pernoitava com os meus pais em pensões, à refeição vinha para a mesa a maldita da terrina da sopa de vegetais, de cozido ou canja, fumegante, com um aroma que se espalhava (eu detestava sopa), e de onde todos se serviam ... hoje vem um prato cheio de uma mistela incaraterística a que dão o nome de sopa, aquecida no micro ondas, onde só uma parte está quente a outra ... bem, tem de se misturar com a colher para se ter uma sopa algo tépida!

    Nas minhas deambulações tenho encontrados muitos galheteiros, alguns mesmo fantásticos, mas falta-me a vontade de pagar o preço que me pedem, o qual tem quase sempre três digítos ... não compro, caro está, mas com pena!

    Um bom tempo de praia, pois só dentro de água se está bem. Eu prefiro outras paragens, pois da praia não sou fã. Aliás não me lembro da última vez que fui à praia
    Manel

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    1. Pois é, Manel, continuamos entregues à bicharada e a bicharada exterior que nos tem humilhado e infernizado a vida - desde as tendenciosas e altamente suspeitas agências de rating até à sinistra troika com as suas visitas de vigilância e controlo - acaba por ver a sua atuação justificada e legitimada pelo baixo nível dos nossos políticos. E não é só a cachopada, nem toda pouco experiente, a portar-se mal; temos a tal fraca figura, há décadas no ativo, com muitas culpas no cartório...
      Quanto aos galheteiros e outras compras de velharias, também eu perco logo metade do interesse quando o preço chega aos três dígitos, mas é difícil aparecerem galheteiros antigos abaixo disso, pelo menos completos. Por isso é que apesar de apreciar muito as formas e achar que fariam uma coleção linda, tenho tão poucos :(
      Também gosto muito do último exemplar do Museu Abade de Baçal, sobretudo pela base com a sua finura de pormenores, mas o primeiro que fotografei parece-me uma peça de exceção.
      Enfim, seriam dois bons acrescentos a qualquer coleção, não acha?
      Achei pertinente a sua observação de que são hoje para muitos meras peças de aparato, embora talvez mais as terrinas, galheteiros ainda se vão usando cá em casa...
      Imagino que as férias por aí já se aproximem. E oxalá nessa altura as temperaturas já tenham baixado, para que consiga usufruir bem do seu Alentejo.
      Não era este ano que diziam que não iríamos ter verão ? LOL
      Um abraço e bom resto de semana.

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  4. Querida María
    Muchas gracias por tu cariño
    Un Beso

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  5. Olá Maria,

    Mais uma vez fiquei de queixo caído, e a morder-me toda, já que, tal como foi frisado, os habituais três dígitos neste tipo de peças deixam-me perfeitamente fora da jogada…
    São uma maravilha! Têm um azul espectacular!
    Mas quanto a “galhetas”, bem que as pregava de bom grado em algumas personagens que por aí pululam…
    Valem-nos cantinhos como o seu, ou o do Luís Montalvão, para podermos abstrair-nos e aprendermos, pois que com outros quejandos que andam por aí, pouco ou nada se consegue assimilar, a não ser a falta de vergonha, e essa não quero de todo aprendê-la!

    Grande abraço

    Alexandra Roldão

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    1. Olá Alexandra,
      Fico muito satisfeita por saber que este cantinho também a ajuda a sentir-se bem e a esquecer outras "cenas" que nos entram pela casa dentro. Acho que temos que decretar uma irrevogável distribuição de galhetas (não destas, que são mal-empregadas) a uns tantos que andam por aí...LOL
      Obrigada pela simpatia.
      Beijos

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  6. Maria Andrade

    Estou de férias no Alentejo e só agora começo a ter tempo para os blogues.

    Em primeiro lugar, parabéns, porque já é pelo menos o seu segundo galheteiro atribuído a Miragaia, que aqui mostra. Realmente estas florinhas são características da Fábrica de Rocha Soares. Eu até prefiro os seus galheteiros aquele que apresenta em primeiro lugar. Mas, isso é porque eu tenho uma paixão pela série País de Miragaia. Um dia quando for grande, hei de ter uma travessa, um prato, uma terrina ou um galheteiro da série País de Miragaia, tanto faz desde que tenha estas florinhas e o edifício no meio, inspirado na Vista para o forte Madura da Herculanum. Se estes porcos não me tivessem roubado dois meses de ordenado teria consigo comprar uma dessas travessas na Feira de Estremoz, cujo preço andava ainda pelos dois dígitos.

    Paciência, terei que esperar por melhor ocasião e até lá continuar a aturar o outro sujeitinho detestável na Presidência da República e o Paulinho como Vice-Primeiro Ministro (que não foi eleito para tal).

    Não acredito que os povos estejam fadados para um destino. Não nos sabemos é organizar-mo-nos em movimentos de participação na vida política e na sociedade. Sentamo-nos a olhar passivamente o que se passa e lamentamo-nos. Contra mim próprio escrevo.

    Bjos

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    1. Obrigada, Luís. Efetivamente são dois galheteiros ao estilo de Miragaia, mas sem certezas porque falta a marca, tão comum em peças desse fabrico. Penso até que podiam ser produtos fabricados em Santo António de Vale da Piedade, quer dos anos em que esta esteve ligada a Miragaia sob a direção de Rocha Soares, quer da época posterior ao fecho de Miragaia em que a Fábrica de Santo António herdou de lá muito espólio, moldes e máquinas, para além dos operários. Seja como for, o nome Miragaia virá sempre à baila...
      Quanto à política, tem razão em relação à nossa passividade, mas eu lembro-me bem de tempos em que as pessoas eram bem mais empenhadas e ativas; só que de desilusão em desilusão e com as máquinas partidárias a dominarem a cena, muitos começaram a achar que já não havia espaço para a intervenção cívica e foram-se alheando cada vez mais...
      Beijos

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