Muitos príncipes europeus desde o séc. XVI, com a chegada dos primeiros navios portugueses a Lisboa carregados de riquezas orientais, viviam deslumbrados com a beleza das porcelanas da China. Já antes chegavam porcelanas chinesas à Europa, através sobretudo do mercado árabe, mas nunca se tinha visto tanta quantidade e diversidade. Os membros da alta nobreza europeia passaram a coleccionar belos exemplares para os seus gabinetes de curiosidades mas ansiavam ter a sua própria produção. Instalavam pequenas manufacturas junto aos seus palácios, só que não conseguiam chegar à fórmula mágica da verdadeira porcelana - vítrea, resistente, deslumbrante. Faltava-lhes um ingrediente fundamental, o caulino, que os chineses, certamente por acaso, já tinham descoberto e usado no fabrico de porcelanas desde o longínquo séc. VII ou VIII., de acordo com relatos árabes do séc. IX.
Finalmente, na primeira década do séc. XVIII, um químico, ou alquimista, ao serviço de Augusto o Forte da Saxónia, Johann Friedrich Böttger, descobriu e utilizou caulino nas suas experiências e pôde então fabricar a primeira verdadeira porcelana europeia. A manufactura foi instalada em Meissen em 1710, foi imitada por toda a Europa e produz porcelana até hoje. Em Portugal designa-se frequentemente por porcelana de Saxe.
Arlequim de Kändler, 1740 |
Não é exactamente verdade. O caulino é uma pedra relativamente comum na europa e sabia-se que deveria ser usado no fabrico da porcelana. A dificuldade estava em saber qual o outro ingrediente ou ingredientes que compunham a pasta. O caulino tem uma temperatura de fusão que ronda os 1700o e para poder apresentar a dureza caracteristica da porcelna à temperatura de 1300, tem de ser misturado com feldspato e silíca. Em vez destes dois componentes, os chineses usavam e usam um material muito particular ao qual dão o nome de petunzen, rico, precisamente, em feldspato e silica. Era este o segredo que os ocidentais desconheciam. Mas Bottger também desenvolveu a tecnologia necessária para aumentar a capacidade térmica dos fornos, fazendo com que estes pudessem chegar a temperatura de maturação da porcelana (1300 graus).
ResponderEliminarCaro anónimo
ResponderEliminarAgradeço-lhe o cuidado em vir aqui partilhar os seus conhecimentos técnicos relativamente ao fabrico de porcelana.
Acontece que a versão da história que aqui partilhei, embora contada de uma forma ligeira e despretensiosa, é a que ouvi a especialistas em cerâmica e antiguidades em programas da BBC e também li em livros da especialidade que tenho. Segundo estes especialistas, a descoberta da porcelana na China deveu-se ao acaso feliz de terem encontrado barros brancos contendo caulino e feldspato, resultando quase por acidente a porcelana. Na Europa, claro que existia caulino, nem de outra forma se compreenderia a facilidade em produzir cá porcelana, só que até ao séc. XVIII, mesmo depois de se suspeitar que era esse um dos ingredientes chave para a produção de porcelana como a chinesa, não eram conhecidas jazidas desse minério, daí que, quer em França, quer em Itália, ou em Inglaterra, a primeira porcelana fosse de pasta mole ou tenra, a partir de várias fórmulas, mas sem caulino. Só na Alemanha, em Meissen, a fórmula com caulino e certamente com feldspato e outros ingredientes foi utilizada no início do séc. XVIII.
Claro que depois haverá outros aspetos técnicos como a temperatura dos fornos e a proporção dos vários ingredientes que também serão determinantes para a produção de porcelana, mas essas não são questões para pessoas leigas como eu.
Como tem gente chata heim???
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