sábado, 9 de abril de 2011

Apontamentos Arte Nova na Curia - III


O GRANDE HOTEL DA CURIA


O Grande Hotel da Curia incorpora um dos mais antigos edifícios construídos na estância termal da Curia para exploração hoteleira. É constituído por três corpos, correspondentes às sucessivas fases de construção que sofreu durante o século XX.

Postal da colecção do meu amigo Alberto Simões
Começou a sua existência como Villa Figueiredo, mas ao ser tomado à renda pelo grande hoteleiro e impulsionador da Curia Conrad Wissman, foi sujeito a remodelações e inaugurado já como Grande Hotel em 1907.


Nessa altura era constituído por apenas um corpo que se vê nos postais acima , e de que se vêem em baixo os andares superiores.


Tratando-se de um edifício projectado e construído no início do século XX é natural que tenha sofrido influência do gosto dominante à época, a estética Art Nouveau.
O revestimento a telhas de lousa nas paredes das águas-furtadas, assim como o friso de azulejos junto ao beiral, são duas soluções arquitectónicas e decorativas  muito usadas no período Arte Nova. As telhas lembram escamas de peixe, os azulejos apresentam motivos florais, num e noutro caso linhas orgânicas tanto do agrado dos criadores desta corrente artística.

Em mais este postal da colecção Alberto Simões, vê-se o resultado da primeira ampliação do hotel concluída em 1914.


 Ficou assim a parte central da nova fachada sobre o que é hoje a entrada principal. Mais um belo friso de azulejos Art Nouveau e ferros forjados a formar flores estilizadas, iguais aos do primeiro edifício.


O remate superior das janelas em semi-círculo, a conferir um desenho de curvas tão utilizado pela arquitectura deste período,  já poderá antecipar o gosto pelas formas geométricas Arte Déco. 



Nestas grandes janelas da sala biblioteca no rés-do-chão, resultantes de um acrescento mais recente - anos 30 ou 40? - vêem-se  as mesmas linhas curvas e características mísulas com elementos florais,  procurando-se assim manter o estilo dos anteriores edifícios.


A entrada coberta, de que se vê o aspecto exterior na primeira fotografia, foi um acrescento de final do século XX, mas a porta datará do período de ampliação em 1914.


 O belo lustre central, assim como dois mais pequenos, um de cada lado, a complementá-lo, também ilustram bem o gosto da época. Lembram as franjas dos vestidos das "flappers" americanas nos loucos anos vinte.


No interior, o acesso aos andares superiores fazia-se por um  elevador com habitáculo em madeira  numa estrutura de ferro, que ainda lá está embora desactivado.



Também não resisti a fotografar os lavatórios da casa de banho das senhoras no rés-do-chão, com encantadoras loiças decoradas com ramos de flores, assentes em suportes de ferro forjado. Como se pode ver, infelizmente com pouca nitidez, os espelhos têm uma barra de azulejos Arte Nova.

Seguir-se-ão outros postes sobre a Curia, seguindo esta etiqueta.




14 comentários:

  1. Adorei os azulejos art nouveau da 6a foto.
    abs

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  2. Olá Fábio!
    É verdade q são muito bonitos estes azulejos Arte Nova com fundo azul.
    Só tenho pena de não saber onde foram produzidos.
    Abraços

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  3. Sou suspeito. Gosto desta arquitectura, tenho uma fraquinho pela elegância decadente das termas. Mostram bem um período em que a praia ainda não era uma obrigação, em que as pessoas endinheiradas passavam longas temporadas nas suas curas de águas. Gostei do seu post, porque evocou esse mundo.

    Os postais antigos foram uma boa escolha e o pormenor da janela antepenúltima fotografia é extremamente elgante. Os lustres art deco são também um espanto. Só eles davam um belo post, desde que pudesse subir a um escadote para descobrir alguma marca de fabrico. Mas, presumo, que o hotel não visse com bons olhos, uma senhora desconhecida pôr-se assim a subir a um escadote.

    Em todo o caso os lustres remataram o seu post de forma perfeita.

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  4. Faltam algumas peças originais aos candeeiros, mas de facto, fica caríssimo mandar reproduzir à Marinha Grande tulipas, pingentes e balões de candeiros antigos

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  5. Mea culpa, mea maxima culpa, mas falta-me o tempo para vir ao seu blog, e sou eu que perco, pois nunca lhe faltam peças interessantes e até curiosas; neste caso, exemplos de arquitectura com um cunho algo eclético que me agradam.
    E como não consigo ficar "calado" quando aparece arquitectura, lá vou entrar num relambório, mas este período é mágico pois é o fermento dos movimentos contemporâneos.
    Sabe que em Portugal, e os manuais de história da arte referem-no, há alguma falta de exemplares de arquitectura dita "Art Nouveau", ao estilo do organicismo "étnico" (este termo é utilizado por mim para definir as influências das construções de terra do Norte de África, misturada com a arquitectura árabe ibérica) dos catalães Gaudí ou Muntaner, e aquilo que se convencionou denominar de "modernismo" (se bem que o nosso conceito deste termo é diferente), do génio dos belgas Van de Velde, ou Horta, ou ainda o espanto que nos induz o francês Guimard, quando aplicam os conceitos da "Nova Arte" à própria estrutura edificada.
    Mas foi um período muito curto, até considerado por alguns como algo decadente, que teve poucos seguidores, e a tensão e convulsões sociais que deram origem à I grande guerra terminou com eles.
    No entanto há vias que sobreviveram e até frutificaram, como as linhas mestras espartanas e esquadriadas estabelecidas pelo escocês Charles Rennie Mackintosh, na dita Escola de Glasgow ou no "Tea Room" da mesma cidade (à qual este edíficio que apresenta está um pouco aparentada), em linhas um pouco mais consentâneas com as novas ideias apregoadas pelo austríaco Adolf Loos (eles nascem e morrem com pouco tempo de intervalo), e noutro campo distinto, o Arts and Crafts de Philip Webb com a sua confraria que se juntou em torno da Red House (cujas ideias se desenvolveram nos Estados Unidos na "Chicago School" e, de forma mais particular, no "Shingle style"), mais próxima de Ruskin, integrando artistas de campos distintos como Morris, Burne-Jones e Rossetti (alguns destes integraram também a Irmandade dos Pré-Rafaelitas).
    O que se passa na Áustria será a via que conduzirá aos conceitos que orientaram os ditos movimentos modernistas da arquitectura europeia, cuja influência se fará sentir através da Bauhaus.
    Em Portugal, como país periférico que sempre fomos, e até algo esquecido neste vendaval de ideias que assolava o resto do continente, a história da "Arte Nova" é incipiente, reduz-me a meia dúzia de exemplares, e mesmo nestes, os conceitos traduzem-se no campo decorativo (azulejos, ferros forjados, decorações apostas aos vãos e pouco mais).
    Este edíficio é muito interessante por mostrar vias de influência mais fortes, fugindo àquela decoração associada à "arte Nova", tipo "bolo de noiva".
    Muito obrigado por no-lo ter mostrado, que é sempre refrescante, e peço desculpa pelo arrazoado, mas é algo que me interessa.
    Manel

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  6. Olá Luís,
    Andava a descurar um projecto q tenho desde o início do blogue q é o de mostrar o património edificado da Curia, mas o inverno não é muito propício a fotos de exterior e por isso fui adiando.
    É um património q, tal como noutras estâncias termais, merece ser conhecido e preservado, são verdadeiras cápsulas do tempo ali conservadas.
    Vivo muito próximo, quer destas termas, quer das do Luso e considero um privilégio poder usufruir deste ambiente durante todo o ano.
    Como gosto muito de Arte Nova, andei a tentar mostrar os sinais dessa moda estética, mas em geral estes edifícios são muito ecléticos.
    Aqueles lustres também me atraem muito, como acrescentei no post, fazem-me lembrar as “flappers”, “The Great Gatsby” e todo aquele ambiente louco e de euforia q se viveu nos Estados Unidos durante os “Roaring Twenties”.
    Ainda bem q gostou.
    Abraços

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  7. Olá Manel,
    O seu “arrazoado”, como lhe chama, é sempre muito estimulante e fez-me lembrar muitos nomes q admiro ligados a estes movimentos de inovação nas artes q duraram apenas 3 ou 4 décadas mas tiveram uma expressão muito forte em vários países.
    Até acho interessante terem assumido nomes diferentes: Art Nouveau em França, Jugendstil na Alemanha, Secession na Áustria, Modern Style na Inglaterra , embora aqui tenha tido mais expressão o seu precursor Arts and Crafts com nomes q refere como Charles Rennie Mackintosh e William Morris.
    O seu comentário ajudou-me a organizar alguns conhecimentos dispersos e fez-me lembrar uma ida a Viena onde fiquei deslumbrada com a Casa da Secessão, a bela cúpula dourada e a magnífica inscrição “DER ZEIT IHRE KUNST DER KUNST IHRE FREIHEIT” (ao tempo a sua arte, à arte a sua liberdade). Também me fez lembrar Gustav Klimt, iniciador deste movimento austríaco e q é um dos meus pintores favoritos desta época.
    Enfim, foi um nunca acabar de associações e de pensamentos q me fizeram começar bem o dia.
    Abraços

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  8. Uma nota só de rodapé, que também é curiosa.
    Há alguma distância estilística entre a obra de Klimt e a de Loos. Tenho até ideia que a Loos desagradava a obra de Klimt, a qual apelidava de decadente. E Klimt estava intimamente ligado à burguesia endinheirada!
    Apesar da bidimensionalidade da obra pictórica de Klimt, ela estava demasiado pejada de ornamento para agradar às teorias de Loos e à austeridades estrutural da escola de arquitectura de que ele foi o teórico, cujos princípios de postulavam no "Ornment is crime".
    Manel

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  9. Muito obrigada, Manel, por mais esta achega no meu blogue a um período da História da Arte q tem tanto de aliciante como de inesgotável.
    Um bom resto de dia para si.

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  10. Adorei os lavabos da casa-de-banho!!!

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  11. Que post delicioso! Adoro a Curia e seus hotéis antigos!

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  12. Pode dizer-me o nome do arquiteto deste hotel?Obrigada.

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    1. Deve ter havido vários arquitetos porque, como explico no poste, ele foi sujeito a ampliações sucessivas. Mas desconheço os nomes.

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