sábado, 10 de setembro de 2011

Mais faiança ratinha para a coleção...

Este verão comprei várias peças de faiança, sendo as últimas dois pratos ratinhos.  Neste caso, usando a despropósito a conhecida frase bíblica, os últimos vão ser os primeiros... a merecer postagem.
Entretanto recebi de uma amável colecionadora fotografias de pratos ratinhos do tipo dos meus e acrescentei-os ao post.



O primeiro ratinho  foi comprado na feira de velharias da Figueira da Foz e foi a minha amiga Alice que fez o negócio, um bom negócio, porque estava a comprar outras coisas à vendedora.

O meu marido é que viu primeiro a peça, que achámos bonita e em muito bom estado, mas só nos entusiasmámos com a compra ao sabermos o preço, que à partida era bastante razoável. Com a intervenção da "stôra" Alice ainda lucrámos 5 euros...


Tem cerca de 26 cm de diâmetro e foi fazer companhia aos pratos, palanganas e bacias que já mostrei numa parede há tempos.
Não tinha nenhum com estes motivos, mas o LuísY do blogue Velharias mostrou num post um parecido que comprou há uns meses e também uma bacia da barba de uma sua seguidora.
Só tenho pena que o meu não tenha a espiral ao centro, como tem o que se segue e pertence à colecionadora que nos brindou com belas imagens de exemplares seus.

É uma peça belíssima que apresenta um esquema decorativo semelhante ao do meu  e tem as mesmas cores,  à exceção do azul, pelo que poderá ser mais antigo.
Da  mesma colecionadora é este exemplar listrado e desta vez com um esquema decorativo semelhante ao da minha segunda peça.


O meu segundo ratinho, maior do que o primeiro, foi uma compra mais ponderada, com um namoro de várias feiras, já que , apesar de partido ao meio e com gatos, estava à venda na feira de Aveiro pelo dobro do preço do outro. Finalmente, com o preço arredondado em conjunto com outra peça, lá nos decidimos a trazê-lo.

O vendedor dizia ser um pré-ratinho, mas eu, conhecendo alguns pré-ratinhos (inclusivé das colecionadoras que têm disponibilizado fotografias de peças suas neste blogue e no do LuísY) não fiquei muito convencida com essa classificação.
Será um ratinho de finais do século XIX, enquanto que muitos dos que andam por aí à venda, incluindo alguns dos meus, já serão do início do século XX, mas penso que pré-ratinhos serão  faianças coimbrãs do início de oitocentos...
Não nos podemos esquecer que por exemplo a coleção de faianças ratinhas de José Régio foi reunida em recolhas por aldeias alentejanas dos anos 30 aos anos 60 do século XX. É certo que muitos dos seus Cristos também foram assim recolhidos e alguns são muito antigos, mas esses não eram peças utilitárias, manuseadas diariamente e num material mais perecível como é a faiança dos ratinhos.

O que eu quero dizer é que estas não são peças que as famílias rurais guardassem como relíquia; se as tinham em casa, andariam ao uso, partiam-se e seriam recuperadas com os populares "gatos" ou então iam parar à capoeira das galinhas, onde não durariam muito tempo, e eram substituidas por outras novas.
Uma outra ajuda para a datação desta produção popular coimbrã é o quadro de José Malhoa "A Sesta", de 1909, que o Luís também mostrou num dos seus posts sobre ratinhos, onde se vê uma bacia desta faiança ao uso, dentro do cesto da merenda de um trabalhador rural.
De qualquer forma, o vendedor deste meu prato percebe de faiança e tem peças boas. Há tempos tinha um Menino Gordo, mas vendia-o caríssimo, pelo menos pelos meus padrões de compras de faianças...

Este é também parecido com um de uma seguidora do Luís mostrado num post de 14 de Junho último, mas bem mais pobre na decoração.
Teria sido à partida mais decorado, mas deve ter tido um azar qualquer na aplicação de listras de esponjados a amarelo, porque notam-se restos desses esponjados junto à orla e entre as linhas castanhas. Terá sido no forno ou então com o manuseamento e lavagens que aquela cor não resistiu? Até me apetecia mandar-lhe acrescentar os esponjados a amarelo para ver o efeito...
Mesmo assim, por enquanto tem direito a exposição em lugar de honra, numa das paredes da entrada da minha casa. Um dia destes vai para  lá o outro...
Finalmente acrescento aqui mais um lindíssimo exemplar da mesma colecionadora com uma paleta de cores que o inclui já na produção do século XX.






16 comentários:

  1. Lindo prato o primeiro Maria!!


    Linda compra!! Nunca fui á feira da Figueira, mas tenho de lá ir, uma senhora tem coisas para me dar =DD

    Eheheh =D As senhoras engraçam cmg por ser muito novo, e vêem-me por vezes nos netos ausentes.. E claramente fico comovido... =/


    Bjinho

    Flávio

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  2. Olá Flávio,
    Muito obrigada pelo seu comentário.
    Sei que este tipo de faiança não é a sua perdição... :) mas para mim e muitas outras pessoas este ar ingénuo,tão popular e autêntico, exerce uma atração irresistível.
    O primeiro prato é realmente muito bonito, mas o segundo deve ser mais antigo...
    Tenha um bom domingo.

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  3. Ola Maria Andrade, mais uma vez são belíssimas as peças que nos apresenta, gosto muito do primeiro Ratinho que nos mostra com suas cores bem misturadas e de aba bem decorada e preenchida mas sinto-me mais cativada pela beleza simples do segundo...é tão armonioso e ao mesmo tempo tão "inocente", tão naif...confesso até que o prefiro com o amarelo bem sumido como se apresenta actualmente...Lindo!

    Um beijinho Maria Andrade

    Marília Marques

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  4. Olá Maria Andrade.
    Parabéns pela aquisição de mais dois belos exemplares de faiança Coimbrã.

    Amei seguramente mais o 2º exemplar porque é mais antigo. Se é pré ratinho ou não, não o posso dizer, não mostrou o tardoz,que atesta com mais certeza a época de fabrico.
    Agora esta decoração de esponjados a verde cobre e filetes borra de vinho, manganês ou castanho escuro em ziguezague foi uma característica inventada pelo Brioso. Um prato digno de Museu .
    Há pouco tempo vi um grande que me pediram 200€ e num antiquário em Lisboa anda outro igual.Vi na televisão uma visita virtual ao Museu Cargaleiro em Castelo Branco com uma coleção temporária de Ratinhos....linda.

    O 1º exemplar, é para mim mais recente porque lhe falta a graça da espiral que pessoalmente adoro, mas é uma peça inegavelmente bela .

    Beijos
    Isabel

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  5. Olá Maria
    Parabéns pelos seus Ratinhos.
    A decoração do primeiro, marcada pelas pinceladas largas, verdes, mostra uma linha pentagonal cortada. As cartelas definidas por essas linhas, são preenchidas com círculos sobrepostos e pinceladas leves, em manganés, lembrando a pluma de pavão.A paleta de cores aponta para o último quartel do século XIX.
    O segundo exemplar mostra uma decoração listrada, em tons de verde, manganés e um ocre desmaiado, definida por linhas onduladas intercaladas por outras formadas por círculos justapostos. Há uma tese que diz que esses círculos poderiam ser feitos a partir de uma cana seccionada.
    São muito ingénuos e brilham pela sua graça e rusticidade. Merecem o lugar de destaque que lhes atribuiu.
    Cumprimentos
    if.

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  6. Cara Marília,
    Ainda bem que gostou dos meus ratinhos.
    Quanto às preferências por um ou por outro, não tem só a ver com questões estéticas, mas também com memórias, associações que fazemos, muitas vezes episódios da nossa própria história pessoal...
    Mas fico satisfeita por ver que as opiniões se vão dividindo, sinal de que ambos os pratos são dignos de serem admirados.
    Já sabe como eu gosto sempre de a ver por aqui...
    Beijinhos

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  7. Olá Maria Isabel,
    Já reparou certamente que acrescentei ao post as fotos dos tardozes dos dois pratos.
    Ainda bem que referiu essa questão do tardoz, porque levou-me a fotografá-los e a concluir que são muito parecidos no formato e no tipo de pasta, embora o segundo seja maior (c.30cm), tenha gatos (e falta deles) e esteja mais imperfeito.
    Afinal, e também porque a If acha que o primeiro tem caraterísticas do séc. XIX, até devem ser ambos da mesma época de fabrico...
    Como estão em sítios diferentes da casa, fotografei-os em locais diferents, daí haver outra incidência de luz, mas a cor da pasta é muito semelhante.
    Realmente é uma caraterística Brioso referida por José Queirós o uso de esponjados em árvores, mas penso que a decoração com estes círculos feitos a cana ou a rolha será posterior...
    Tenho imensa pena de não ter visto essa visita ao Museu Cargaleiro na televisão. Quero lá ir a Castelo Branco ver a exposição de ratinhos, mas ainda não destinei quando.
    Muito obrigada pelas suas achegas.
    Beijos

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  8. Olá If,
    Muito obrigada pelo seu comentário que sabemos ser baseado num olhar mais técnico, muito treinado e conhecedor destas coisas da faiança.
    Adorei ler a descrição que faz com a precisão de termos que só os estudiosos da área da cerâmica estão habituados a usar...
    E agora já tenho um parecer muito fiável quanto à data de fabrico do primeiro prato.
    Em relação à forma como se conseguiam aqueles círculos esponjados, também já vi ser defendida a hipótese da secção da cana, mas também a da rolha de cortiça um pouco escavada.
    Certamente eram usados os dois "utensílios" de pintura, podendo variar de oficina para oficina ou de artesão para artesão...
    Um grande abraço e volte sempre.

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  9. Cada um no seu género, todos têm afinidades e diferenças que os tornam, afinal, tão apelativos.
    Mas é interessante que os que são listados, assim que lhes coloquei a vista em cima trouxeram-me imediatamente ao consciente os tecidos com que há muitos anos atrás se faziam artesanalmente os colchões.
    Em jeito de aparte, em casa da minha avó havia vários colchões feitos desta forma e que eram posteriormente cheios de folhelho de milho que davam aquele ar de fofura enganosa quando se olhava para uma cama destas feitas de fresco. Quando nos deitávamos nelas, sentia-se a frescura áspera e seca dos lençóis de linho fiado em casa (uma sensação fantástica que hoje em dia desapareceu, mas de que ainda restam resquícios em quem teve algo a ver com a vida do campo de antanho), mas aquilo que antes prometia ser tudo fofo tornava-se rapidamente numa cova onde se penetrava e de onde se saía com o corpo ligeiramente moído, ainda que retemperado.
    A arte faz mais sentido quando concorre para acordar em nós ideias e lembranças que, doutra forma, ficariam para sempre sepultadas sob o peso dos anos, a poeira da memória e os afazeres do dia-a-dia.
    Uma boa semana
    Manel

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  10. Cara Maria Andrade
    Parabéns pelos magníficos "ratinhos" que adquiriu e obrigada pelas explicações que se lhes seguem, que para mim são bastante úteis.

    Achei interessante referir a recolha efectuada por José Régio nas aldeias alentejana, pois uma tia do meu marido, natural de Portalegre (também ela amante de loiças e velharias), contava com bastante piada, que, quando era jovem, cobiçava determinados pratos que a avó utilizava, para servir as refeições, alimentando a secreta esperança, de que um dia, tais pratos lhes viessem para às mãos:)
    Um belo dia, viu a mesa posta com novos pratos e quando lhe perguntou pelos antigos, recebeu como resposta que tinham sido vendidos a um senhor que por ali aparecera fazendo-lhe uma proposta de compra irrecusável. Algum tempo depois, avó e neta foram a Portalegre, e a determinado momento, a avó, dando discretas cotoveladas à neta, e, apontando com o queixo, mostra um homem, dizendo-lhe que aquele senhor foi o tal que lhe comprou os pratos. A minha tia ficou siderada, pois reconheceu de imediato o José Régio, na altura, professor no Liceu de Portalegre onde ela era aluna.
    Coisas da vida.Talvez, se os pratos tivessem ido parar às mãos da minha tia, não estivessem hoje, num museu, onde podem ser apreciados por todos.
    Um abraço
    Maria Paula

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  11. Manel,adorei esta sua lembrança dos colchões de folhelho de milho,onde também me lembro de ter dormido algumas vezes em casa dos meus avós em Condeixa.
    Realmente, à vista, a cama feita até convidava à soneca, mas depois uma pessoa enterrava-se naquilo, eu ficava cheia de comichões :) e o pior era ter que se fazer a cama de manhã, meter os braços pela abertura e puxar a palha para ela ficar novamente fofa e... mais comichões.
    Penso que ainda por aqui anda nas arrecadações um colchão de palha (guarda-se tudo...) mas dos que já eram acolchoados com uns botões ou coisa parecida.
    Quanto aos lençóis de linho caseiro, não me lembro de ter dormido neles, a minha mãe encarregou-se de fazer deles toalhas de mesa e colchas bordadas, panos de cozinha, panos de tabuleiro, almofadas, etc. e os que tinham renda ainda tenho alguns guardados, para relíquia...
    São bons para fazer cortinados e não se estraga muito, mas ainda não surgiu a oportunidade ou a necessidade...
    Muito obrigada por me ter guiado neste reviver de coisas e hábitos passados...
    Uma boa semana também para si.
    Um abraço

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  12. Que belíssima história aqui nos contou, Maria Paula!
    São testemunhos destes que ajudam a consolidar aquilo que vamos sabendo sobre as nossas "coisas velhas a valer". São verdadeiras pérolas da nossa história social e por isso lhe agradeço muito ter aqui partilhado este conhecimento.
    Veja só, conhecer uma pessoa, sua tia, que teve acesso em primeira mão a essa quase lenda que se conta sobre o “homem do burro”, como era conhecido José Régio pelas aldeias alentejanas…
    A sua reflexão final também tem muita razão de ser. Quantas coisas não se teriam perdido irremediavelmente, ou ficado no esquecimento, se não fosse o interesse, a raiar o vício, de muitos colecionadores como José Régio?
    Ainda por cima, neste caso foi intenção do colecionador criar um museu onde todo este espólio pudesse ficar disponível à apreciação de todos.
    Felizmente esse sonho realizou-se e lá estão as peças, até hoje, para nós admirarmos no Museu José Régio em Portalegre.
    Beijos

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  13. Realmente os Ratinhos despertam os comentários mais interessantes e a histórias mais curiosas.

    Adorei a história da Maria Paula, que tão bem ilustra o coleccionismo do José Régio e a associação dos Ratinhos aos tecido listado dos velhos colchões de folhelho de milho, feita pelo Manel.

    Encantam-me Ratinhos, mas as peças com motivos mais geométricos e abstractos, com as listas deixam-me sem respiração. Também não consigo definir porquê. julgo que os Ratinhos despertam estas emoções, que escapam à razão.

    bom post e como sempre esclarecedor

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  14. É verdade, Luís, estes pratos levam-nos para um Portugal rural, pobre, mas de gente simples e genuína, que nos parece distante e que afinal ainda existia há cerca de 50 anos.
    É certamente a nostalgia desse tempo de que ainda tivemos alguns vislumbres na infância que cria esta atração pelos toscos, para nós encantadores, "ratinhos".

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  15. olá boa tarde.

    fiquei com a "pulga atrás da orelha" depois de ler o comentário da Maria Isabel sobre a exposição de Ratinhos no Museu Cargaleiro e decidi contactar o museu de modo a saber mais informações sobre a mesma.

    fiquei então a saber que a exposição é composta por um núcleo de cerca de 100 exemplares e que ficará patente ao público pelo menos até ao final deste ano.

    mas a melhor noticia é, para mim, a confirmação da edição do catálogo de exposição que está prestes a sair, pelo que será mais uma fonte de informação sobre estas faianças que como se sabe a sua informação bibliográfica ainda é bastante escassa.

    Mercador Veneziano

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  16. Caro Mercador,
    É realmente uma boa notícia esta exposição de faiança ratinho no Museu Cargaleiro em Castelo Branco.
    Eu soube por uma amiga, que já lá foi ver esta mostra, mas não me ocorreu mencionar o facto aqui no blogue.
    Ainda bem que a Maria Isabel a viu na televisão e aqui a referiu.
    Mais semana menos semana tenciono ir a Castelo Branco só para ver aqueles ratinhos, mas estou descansada por saber que lá vão estar até ao final do ano.
    O catálogo da exposição vai ser certamente um auxiliar precioso para quem se deixa encantar por estas coisas.
    Oxalá já tenha sido publicado quando eu lá for.
    Bom fim de semana

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