sexta-feira, 19 de abril de 2013

A Fábrica das Devezas na Pampilhosa


Os edifícios da sucursal das Devezas junto ao entroncamento ferroviário da Pampilhosa



Hoje, para grande pena minha, estou a fazer concorrência ao Ruin'Arte, só me falta a arte...
Tinha destinado já há tempos ir à Pampilhosa numa tarde de sol para fotografar o que resta da sucursal da Fábrica das Devezas, ali fundada junto ao entroncamento ferroviário em 1886,  e foi o que fiz ontem. Ia ainda tentar saber se na sua produção incluiram alguma vez os telhões de faiança a que já dediquei várias postagens aqui no blogue, mas a informação que obtive de pessoas locais descarta essa hipótese. Nem mesmo as figuras alegóricas tão típicas das Devezas, uma ou outra ainda visível em velhos edifícios da Pampilhosa, terão alguma vez sido fabricadas lá. Ali a produção era sobretudo em barro cozido - telhas, tijolos, manilhas em grés e todos os materiais ornamentais ou utilitários para telhado.

Alegoria da Fábrica das Devezas (coleção do Underground Museum das Caves Aliança de Sangalhos)

Foram três as empresas de cerâmica de construção que laboraram durante um século na Pampilhosa, mas hoje estão todas fechadas e em estado semelhante a este. Uma delas tinha o nome Mourão e Teixeira Lopes Lda, já que teve como sócio fundador um dos membros da família Teixeira Lopes deslocados para a Pampilhosa para trabalhar na Fábrica das Devezas, a Fábrica Velha como ficou ali conhecida.
É o estado desta que choca mais, não só pelos elementos arquitetónicos que se mantiveram no edifício a atestar o gosto de uma época, mas pela história que a liga ao grande complexo industrial da Companhia Cerâmica das Devezas, de António de Almeida Costa & Cª, em Vila Nova de Gaia. Esta sucursal fechou nos anos 80, mas só no ano passado a Câmara da Mealhada conseguiu adquirir todo o complexo de edifícios da Pampilhosa, já em avançado estado de degradação, como se vê, e agora  nem sei se  haverá dinheiro ao menos para consolidar a ruina...
Na sede da associação cultural pampilhosense GEDEPA, um espaço que alberga vários núcleos museológicos, foram recolhidos muitos materiais cerâmicos, inúmeros moldes e outros artefactos que poderiam agora estar debaixo daquela ruína e das suas vizinhas se não tivesse havido esse cuidado.

Moldes de madeira para telhas de canudo

As telhas para beirais rendilhados

Vários ornatos para telhado
De qualquer forma perdeu-se ou encontra-se vandalizado, por exemplo, um mostruário de azulejos aplicados na parede, azulejos esses que não eram fabricados na Pampilhosa mas seriam encomendados à sede em Gaia. Entretanto  outros elementos da fachada e do restante edificado foram simplesmente caindo.

Quanto ao edifício sede em Gaia, que fotografei há pouco mais de um mês, continua ao abandono e não tardará muito que venha a atingir o mesmo estado de ruína.
Seria sem dúvida o local ideal para instalar um grande museu da cerâmica de Gaia (e Porto, por que não?) e penso que já houve tentativas nesse sentido mas não se vislumbra como, quando, quem, com que meios...

Lê-se ainda na parede: "COM SUCURSAL NO ENTRONCAMENTO DE PAMPILHOSA"



Sobre a entrada principal, a ladear a alegoria da indústria, os dizeres: "Fundada em 1865" e "Reformada em 1900"


É uma dor de alma continuarmos a assistir a casos destes por todo o lado. Que triste país este!!!


8 comentários:

  1. Estou consigo, Maria, e gostei muito do seu poste. É bem triste, este estado de coisas, estas ruinas que, por várias circunstâncias, se vão perdendo para sempre.

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    1. Obrigada, APS, nós sabemos que estes lamentos não servem de nada, mas pelo menos expressamos o nosso desacordo e inconformismo... para que conste!
      Cumprimentos

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  2. Muito informativo. Nem sabia que a Pampilhosa tinha uma sucursal das Devesas. Aliás fui à Wikipedia ver onde era exactamente a Pampilhosa, pois na minha cabeça já estava tudo um tanto confuso, até porque há uma outra Pampilhosa, a da Serra.

    Julgo que o seu post não entrará em competição com o Ruinarte do nosso amigo Gastão, que vive de fotografias inimitáveis e de textos contundentes. Acredito é que todos nós deveríamos gritar mais contra o abandono do nosso património. Para fazer rotundas pindéricas com grupos escultóricos hediondos houve sempre dinheiro, que podia ter sido gasto com mais utilidade a recuperar edifícios e a musealizar espaços.


    O seu post já foi muito útil. Há pouco fotografei uma casa em Avis, do género chalet Brasileiro, com as pontas dos telhados e mansardas todos ornamentados e agora sei que poderão ter sido fabricados pelas Devesas, na sua sucursal da Pampilhosa.

    Bjos

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    1. Olhe, Luis, esta Pampilhosa é a Pampilhosa do Botão, assim se distingue da Pampilhosa da Serra, mas por aqui só lhe chamamos Pampilhosa, confiando que, graças ao entroncamento ferroviário, toda a gente a conhece ... (à exceção dos lisboetas, claro! LOL)
      Sendo atravessada pela Linha do Norte e pela Linha da Beira Alta, está a ver a vantagem que era para escoamento dos produtos industriais. Também não me admira que esses ornatos que fotografou em Avis tenham saído destas fábricas.
      Quanto às rotundas e congéneres, ainda há dias entrei quase sem querer numa dessas auto-estradas que enxameiam o país e dei por mim a pensar que o dinheiro gasto num só daqueles nós todos coleantes e futuristas daria para muita recuperação e manutenção de equipamentos culturais e património histórico, mas enfim...
      Beijos

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  3. Já tinha passado várias vezes na Pampilhosa, mas nunca tinha reparado nesta fábrica.
    Mas faça a Maria Andrade concorrência ou não ao Ruin'arte, o certo é que estas desgraças estão lá todas.
    Que raio de situação a nossa geração deixou acontecer para que tal destruição grasse por aí!
    As leis que estes facínoras implementam não permitem a recuperação de património nem tão pouco o investimento.
    Se fosse num país civilizado e não uma "república das bananas", estes malfeitores seriam julgados e condenados - como não o foi o Sócrates, que o devia! -, pois não se reduz uma população à indigência de uma forma impune - eu, ainda que sem esperança, gostaria de acreditar que quando se cospe para o vento o cuspo lhes cai na cara, mas a estes políticos famígerados parece que a crise em nada os afeta.
    Fazem viver um país a partir do saque a uma classe trabalhadora, cada vez menor, ou reformados, fartos de serem sempre eles a arcar com a consequência do roubo de uma mão cheia de "honestos cidadãos", que, em vez de investirem o produto do saque em empreendimentos produtivos e instigadores de bem estar social e económico, dedicam-se ao engrandecimento e riqueza próprios.
    Refiro-me à maioria dos reformados que vivem no limiar da penúria, porque tb há reformas milionárias, não obstante as queixas de penúria do inconsequente e inconsciente PR.
    O setor primário está a definhar a olhos vistos, uma frota de pesca que desapareceu, uma política agrícola viciada que benificia meia dúzia, enquanto a maioria dos habitantes do interior vivem de uma produção de subsistência, o secundário a deteriorar-se, o que se traduz no desaparecimento da saudável concorrência, e fazendo valer as regras de monopólio.
    O terciário, que em parte se alimenta destes, viverá enquanto puder, mas a tendência será para o enfraquecimento, dando origem a uma classe política forte, de caraterísticas totalitárias.
    As leis que produzem os iluminados de S. Bento falam por uma percentagem de população cada vez mais reduzida, e, consequentemente, esvaziados de poder consensual de base, levam a situação à ruptura.
    Continuo a ver carros de alta cilindrada e topo de gama nas estradas, de uns poucos, claro, casas de elevado preço, mas de gosto duvidoso, que em poucos anos passam de moda e ficam uns elefantes brancos, condenadas à ruína (uma pena que o cimento leve tanto tempo a degradar-se, pois deveriam ser estes os primeiros a desaparecer) e a desfear a paisagem do comum cidadão, que, sem culpa, tem de as "suportar" - prefiro não entrar neste campo, pois muitos somos culpados ...
    Nada destes investimentos produz benesses para o país, mas tão somente para uma meia dúzia de "esclarecidos", que usam estas situações de crise para a intensificarem e daí usufruirem de proventos chorudos.
    A longo prazo esta gente dará conta que deu tiros no pé, mas não sem antes de reduzir os outros à indigência.
    Parte da culpa deve-se tb ao famigerado Sócrates (este, depois de um exílio dourado em Paris e de um apartamento comprado em Nova Ioque, agora quer vir "arrotar postas de pescada" para a televisão pública, cuja pele de cordeiro esconde a mente política criminosa que lhe vai por baixo), e continuado de forma esforçada por estes apaniguados.
    Eles já nem se atrevem a sair dos covis, pelo desagrado que a população lhes manifesta, mas o que é certo é que continuam a ter quem lhes proteja o pouco valioso "coiro".
    E continuam a vomitar leis que continuam, paulatinamente, a destruir as malhas sociais e económicas deste país sem objetivos, que por tão maus caminhos trilha.
    Não sei por quanto tempo as pessoas ainda poderão tornar pública a revolta que lhes vai dentro, mas com estas medidas, não prevejo grande futuro!
    Peço desculpa por todo este "arrozado", e por não ter comentado a fábrica, mas não há grande coisa a comentar, a não ser que a morte lhe venha rápido, para que a agonia passe.
    Só de notar o aspeto curioso do relevo por cima da porta, que mais parece um relevo de caraterísticas egípcias
    Manel

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    1. Fartei-me de cortar e cortar o texto inicial, mas o Google não mo deixava publicar com aquela extensão.
      E dividir o texto em dois não fazia muito sentido.
      Assim, se alguma tiver falhado, deve-se ao facto de ter cortado e, no final, não ter lido com cuidado, pois o tempo escasseava.
      Manel

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    2. Mais palavras para quê, amigo Manel?! Apesar de o Google lhe limitar o texto, conseguiu aqui condensar as razões de queixa de um povo que se vê reduzido a uma situação de miséria, que vê o país quase parado, graças às más opções dos políticos - cá dentro e também nos órgãos europeus - sem que pare eles resulte qualquer consequência nefasta, a não ser o medo que já vão tendo de sair à rua!
      O nosso drama tem sido que quando pensamos que estamos a ser mal governados, logo vêm outros a seguir que ainda pioram mais as coisas. Agora para contrapor aos gastos disparatados em asfalto e betão que encheu os bolsos de alguns – e isso não começou com o Sócrates - foram ao bolso de toda a classe média e baixa, nos outros pouco tocam, e quase paralizaram o consumo...
      Mas não vale a pena continuar, as próprias palavras com que exprimimos a nossa revolta, aumentam-na e causam um tremendo mal-estar.
      Vou tratar de publicar qualquer coisa que nos levante o ânimo!
      Um abraço

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  4. De facto é muito descaso,pois quando saí de Portugal as fá-
    bricas funcionavam a todo vapor(1959),muitas vezes na minha
    andança pelas cercanias via as vagonetas em linha aérea
    transportando barro para as fabricas num vai e bem frenético.Me pergunto como tudo isso acabou.O barro ou a vontade da pessoas?.Hoje vejo pelos vidoes aqui no Brasil
    a derrocada dos predios das fabricas,enfim como fizem,tem-
    pos modernos

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