segunda-feira, 14 de março de 2011

Beirais pintados em edifícios do Porto e na Mealhada

 A última vez que eu e o meu marido fomos  ao Porto, a um Sábado como é costume,  resolvemos andar a pé por ruas antigas e sempre atentos aos beirais dos telhados, para tentar vislumbrar telhas de faiança.
Estas idas ao Porto, com tempo para deambular pelas ruas, enchem-me os olhos e a alma de tantas coisas belas que apetece fotografar a cada passo.


Mal tinhamos estacionado o carro, nas traseiras do Mercado Ferreira Borges, encontrámos logo um beiral pintado no Largo de S. Domingos, num prédio revestido a azulejos de florão em relevo amarelo e branco e com as belíssimas cantarias em granito.
A combinação de azulejos e granito, por vezes com elementos de ferro forjado, que se encontra em muitas fachadas do Porto, dá à cidade um carácter único, difícil de igualar mesmo noutras cidades do Norte.

Continuando pela Rua das Flores, descobrimos mais um beiral de telhas pintadas, já não em azul e branco mas em policromia, que lamento não ter conseguido fotografar com maior definição.


Fotografia do Fábio Carvalho que me foi enviada em Novembro de 2013
Foram as únicas que vi até agora assim policromadas, inevitavelmente num edifício com granito e azulejos.


Este beiral, igual ao primeiro, está num prédio antigo e muito degradado da Rua de Cedofeita. Ambos são iguais a um beiral que a Maria Paula do blogue "As coisas de que eu gosto" fotografou primorosamente num ediício de Viseu.

Na Rua da Torrinha, visitámos o antiquário Porto Velho, e vimos logo à entrada uma das telhas de faiança pintadas que formam os belos beirais. Pedimos autorização para a fotografar e aqui está o magnífico exemplar.


Conversa puxa conversa e o dono da loja foi-nos mostrar invulgares telhas de parede da Fábrica do Carvalhinho, que também fotografámos.

           
  


Este antiquário  revelou-se    um entusiasta deste tipo de materiais cerâmicos, tendo inclusivamente na sua posse uma listagem de todos os prédios do Porto onde ainda se encontram  beirais pintados, cerca de vinte, apenas. Tentarei descobrir mais alguns numa próxima ida à "Invicta".
Quando o questionei sobre a fábrica ou fábricas de origem destes materiais, disse-me não ter sido possível até agora qualquer atribuição por não haver telhas  marcadas, mas avançou como hipótese a Fábrica de Santo António de Vale da Piedade, grande produtora de vasos e de pinhas para ornamentação de edifícios.



Finalmente, aqui na Bairrada também temos pelo menos um beiral pintado, com  uma decoração muito bonita, num edifício da Mealhada da Rua Dr. Costa Simões, uma das artérias principais da parte antiga da cidade, por onde ainda a meados do séc. XX passava a Estrada Nacional nº 1.


Estas telhas parecem estar decoradas com os galões bordados com que dantes se adornavam bibes de criança, lençois, toalhas de mesa e muitas outras peças que a imaginação e a criatividade femininas, aliadas a mãos treinadas e habilidosas, tratavam de elaborar...

20 comentários:

  1. Sou relativamente nova nos comentários do seu blog,mas aprecio muito os temas que aborda, principalmente a faiança e azulejaria.Os beirais pintados são muito interessantes, pela beleza e originalidade. Em Lisboa são mais correntes as faixas decorativas e fachadas cobertas de azulejos. Alguns prédios são dos brasileiros (tornaviagem) que, quando regressavam, mandavam construir casas apalaçadas, normalmente com as fachadas decoradas com painéis de azulejaria.Um desses casos é o do palacete do Beau Séjour, onde hoje funciona o Gabinete de Estudos Olisiponenses e que, para além dos azulejos da fachada, exibe, no seu interior,belas composições da autoria de Rafael Bordalo Pinheiro e que ainde se podem admirar.Vale a pena uma visita.
    if

    ResponderEliminar
  2. O Beau-Séjour é um dos meus sítios preferidos em Lisboa. Como me criei em Benfica, frequentei muito esse jardim, um oásis no meio da selva de cimento, que é aquele bairro lisboeta. Sempre gostei do jardim romântico em forma de biscoito, do lago e da pequena ilha no meio, e do palacete revestido com azulejos da Fábrica da Roseira, que evocam os tempos em que Benfica era um encantador arredor de Lisboa, cheio de quintas viçosas, que aproveitavam a água abundante na zona. Hoje é tudo um lixo urbanístico, mas lá ficou o Beau-Séjour, os Palácio Ludovice e Devisme e já mais ao longe o Palácio da Fronteira.

    Mas, quanto a esses beirais e essas telhas, acho que davam matéria para uma investigação rigorosa, com direito a um livro no final. Aqui em Lisboa não temos de todo esse hábito. Talvez por chover menos os beirais sejam mais pequenos. Fica-se com vontade de saber mais sobre o assunto, mas esbarramos com um silêncio por todo o lado

    ResponderEliminar
  3. Please come to afternoon tea for our 46th, 'Teapot And Tea Things Tuesday' and also ,(linked with this party); for my 74th, 'Tuesday Tea For Two' ~ I would love to have you visit and/or partake!..,

    ..,They are held weekly, on each Tuesday, at my two blogs!

    http://theplumedpen.blogspot.com
    http://silkenpurse.blogspot.com

    Cheers from Wanda Lee

    P.S.~ Also, I am happy to be your newest follower

    ResponderEliminar
  4. Cara if,
    Em primeiro lugar quero dar-lhe as boas vindas ao meu blogue como comentadora. Já a sabia amante destas coisas pelos comentários q tem feito no blogue do LuisY.
    Concordo consigo q em Lisboa também se encontram prédios magníficos, belos azulejos a cada passo e eu já tenho fotografado muitos recantos.
    O meu fascínio actual por estes beirais é que só há pouco tempo dei por eles, graças a este intercâmbio na blogosfera, e são realmente bonitos e invulgares.
    Agradeço-lhe a referência ao palacete Beau-Séjour q não conheço mas procurarei visitar numa próxima ida a Lisboa.
    Apareça sempre.

    ResponderEliminar
  5. Caro Luís,
    Não conheço esses belos recantos de Lisboa q refere, à excepção, claro, do Palácio de Fronteira. Adorei a visita sobretudo aos jardins porq do interior o q retive mais na memória foi um magnífico conjunto de livros antigos q estavam em estantes numa espécie de marquise, a apanhar muita luz e muito calor, o q é péssimo para a conservação destas relíquias.
    Nos jardins e terraços adorei os azulejos e até as fontes em grutas revestidas a porcelana chinesa partida, o q resultava numa decoração magnífica e muito invulgar.
    Por falar nisso, nunca visitei o Palácio de Santos com o belíssimo teto revestido a porcelanas Ming, mas aí exemplares intactos, segundo vi em fotografias. Já lá passei à porta, mas como ali funciona a Embaixada Francesa não deve estar aberto a visitas.
    Em relação aos beirais, para já vai-se fazendo o levantamento fotográfico e vai-se divulgando a sua existência. Um dia, quem sabe, pode surgir mais informação e alguém interessar-se em escrever sobre o assunto.

    ResponderEliminar
  6. Reza a lenda que o revestimento da gruta do jardim do Palácio Fronteira teria sido uma encomenda única e especial para o jantar oferecido ao rei (não me lembro qual)e quebrado propositadamente, para não servir a mais ninguém. Como me contaram a história, assim a transmito...
    if

    ResponderEliminar
  7. Hi Wanda,
    Welcome in my blog and thank you for the invitation and for being my new follower!
    Unfortunately I'll be very busy with family at home today and these next days but I'll try to find a little time to visit your "Teapot and Tea Things Tuesday".
    It already sounds lovely!!!
    Hugs

    ResponderEliminar
  8. Cara if
    Essa história, verídica ou não, dá ainda mais encanto àquele lugar quase mágico do Palácio de Fronteira.
    Obrigada por a ter aqui partilhado connosco.

    ResponderEliminar
  9. Creio que permitem a visita ao palácio da Embaixada de França, antigo dos Marqueses de Abrantes, um único dia por ano, e julgo ser ou no dia dos Museus ou então no 14 de Julho (lembro-me de ali ter ido num dia destes), mas poderá informar-se melhor sobre este assunto, pois creio que permitem também visitas desde que previamente agendadas, estando sujeitas à disponibilidade do pessoal do palácio.
    A vista é perfeitamente fantástica e a visita deslumbrante. Valerá a pena!
    Na minha modestíssima casa tentei recrear algo que me lembrasse aquele vislumbre de sonho, ainda que à minha reduzidíssima escala - claro que ficou algo muitíssimo aquém, mas o que é certo é que ninguém repara nos feios e anónimos azulejos, tipo "Isabel Presley", que revestem a minha cozinha, os quais tentam, desgraçadamente, fazer lembrar revestimento de mármore!!! Abomino estes "faz-de-conta" e a tentativa que grassa nesta sociedade de parecer o que não é!!!!!
    Falta-me dinheiro para os arrancar, mas se pudesse ... mais tarde ou mais cedo venderei a casa!
    Quanto ao Beau Séjour, ainda conheci este complexo como quinta pois o filho do último ocupante privado daquela quinta foi meu colega de turma, e fui ali uma ou outra vez, ficando na altura deslumbrado com o revestimento azulejar; hoje talvez não o ficasse, pois os azulejos exteriores, da fábrica Roseira, perdem pela comparação com muitos outros que hoje conheço.
    Quanto às cerâmicas dos Bordalo Pinheiro que revestem o interior, não me afectam, pois sou completamente imune ao fascínio que exercem sobre a maioria dos amantes destas lides cerâmicas.
    E fiquei perfeitamente encantado com mais estes beirais que fotografou ... ainda bem que o fez, pois temo pelo seu futuro, pelo menos ficará a memória deles!
    Manel

    ResponderEliminar
  10. Olá,
    Que belíssimo e rico post, ainda mais com os comentários dos experts!
    Adoro estas telhas de beirais, que são tão raras por aqui. E pensar que um dia já foram abundantes!
    Ao menos tenho aqui pertinho aquelas meigas corujinhas, no beiral do balcão nobre de meu colégio que compartilhei há um tempo, que me acompanharam durante o período escolar.
    abraços
    Fábio

    ResponderEliminar
  11. Manel, agradeço a informação sobre a possibilidade de visita ao Palácio de Santos, pois é um local de Lisboa q há anos tenho vontade de visitar. O problema é q normalmente vamos a Lisboa ao fim de semana, o q deve tornar mais difícil a visita, mas vou informar-me melhor.
    Quanto a estes beirais, ontem fiquei mais descansada quanto à sua preservação, pelo menos os de Coimbra, porq ao passar por um dos edifícios q já aqui mostrei, meti conversa sobre as telhas com um senhor q lá tem um estabelecimento no rés-do-chão e ele disse-me q há uns dez anos o telhado tinha sido arranjado mas a Câmara de Coimbra tinha obrigado à preservação das telhas pintadas. Também hei-de saber se a Câmara da Mealhada está sensibilizada para a conservação do beiral q lá existe, porq o edifício está bastante degradado.
    Assim vamos tentando preservar o q é possível...

    ResponderEliminar
  12. Fábio, também vi no seu post as lindíssimas telhas do seu colégio com as corujas e surpreendeu-me estarem tão bem conservadas. Será q foram daqui ou já foram fabricadas aí no Brasil? Talvez tenha possibilidade de aceder a essa informação e eu adoraria saber.
    Nessa altura acrescento o link q vai dar acesso a esse seu post, pode ser?
    Abraços

    Abraços

    ResponderEliminar
  13. Olá Maria Andrade
    Aguçou-me o apetite de ir ao Porto, para poder fazer o seu périplo e ver in loco, as telhas que nos mostra. Interessante ter encontrado umas iguais ao prédio de Viseu.
    As telhas do edifício da Bairrada são muito bonitas e realmente fazem lembrar os galões com que antigamente se enfeitavam os bibes das crianças. Desde sempre que os galões, as espiguilhas,o bordado inglês, e outros atavios me fascinaram. Deliciei-me quando fiz o enxoval dos meus filhos :)

    Mas voltemos às telhas da Bairrada, que para além dos galões, me fizeram também recordar uns azulejos, com um friso muito idêntico. Creio que o Luís fez um post, em que mostra os azulejos que refiro e que se não me engano foram fotografados no Porto.
    Continuemos a descobrir e a fotografar estas pequenas maravilhas.

    Fiquei satisfeita com o que conta sobre a decisão da Câmara de Coimbra.Começa a despertar uma certa consciência sobre a importância de preservarmos o nosso património.
    Beijos
    Maria Paula

    ResponderEliminar
  14. Olá Maria Andrade

    A vantagem de chegar por último confere o acréscimo da sabedoria do post, a leitura enriquecedora dos comentários. O que eu aprendi!

    Também aprecio os beirados românticos de telhas pintadas em branco e azuis, acho-os fascinantes.
    Gostei da abertura do antiquário em deixar fotografar artigos expostos para venda. Admirável um marcado.Vai-se aprendendo mais.

    Conheço esse beiral na Mealhada, num tempo que no dia de Carnaval depois de degustado um bom naco de leitão num desses bons restaurantes da beira da estrada me divertia com o desfile e o grande pipo de vinho à descrição em plena rua. Outros tempos!
    Beijos
    Isabel

    ResponderEliminar
  15. E eu ficho cheio de inveja porque aqui em Lisboa não temos esses beirais. Noutro dia, quando houve greve de metro, fui do Rossio até às Amoreiras, passando pela Rua das Portas de Sto Antão, Avenida, Rua do Salitre e Rua das Amoreiras, sempre a olhar para o topo das casas e nada. A Capital não tem de todo beirais bonitos como esses

    ResponderEliminar
  16. Olá Maria Paula,
    Sabe q eu já tenho pensado q aí em Braga também deve haver telhas destas. É uma cidade com tanto património arquitectónico em ruas tão antigas q me surpreende não haver aí destes beirais. Talvez se procurar em ruas com edifícios do séc. XIX elas acabem por aparecer... Isto sou eu cheia de vontade de ver mais exemplares fotografados e bem fotografados pela Maria Paula... :)
    Não sei bem a q azulejos se refere q o Luis tenha mostrado e q acha terem um motivo parecido com o das telhas da Mealhada, só se for uma cercadura de azulejos de Miragaia azuis e brancos q têm uma silva com rosas, não estou a ver outros e esses realmente também sugerem um galão bordado.
    Beijos

    ResponderEliminar
  17. Olá Maria Isabel,
    Seja bem vinda de regresso ao meu blogue!
    Então já conhecia este beiral da Mealhada?
    Isso só prova mais uma vez q é boa observadora!
    Eu trabalhei muitos anos na Mealhada, passei naquela rua vezes sem conta, até entrei algumas vezes naquele edifício, q tem no rés-do-chão um salão de cabeleireiro, e só há pouco tempo reparei nas telhas...
    Um abraço

    ResponderEliminar
  18. Luís, quando menos esperar vai encontrar um beiral destes em Lisboa, custa-me a crer q não haja aí nenhum. Se estas telhas foram até ao Brasil também devem ter chegado à nossa capital! Talvez em zonas com mais construção do séc. XIX, como eu já disse à Maria Paula. Algumas das ruas por onde andou datam dessa época, mas haverá outras, talvez para o lado de Arroios, Estefânia, não sei...
    Cá fico à espera.

    ResponderEliminar
  19. Ontem li este post e hoje andei de nariz no ar, em Leiria. Não descobri telhas de beiral pintadas mas sim com desenho em relevo. Se calhar isso é tão vulgar.. Gostava de saber mais sobre o assunto. Reparei que os prédios em Leiria com esses beirados tinham a pedra das janelas com o mesmo estilo. Tirei fotografias mas ficaram péssimas. A máquina não ajuda e os beirados ficam longe.

    ResponderEliminar
  20. Caro Janus,
    Fico muito satisfeita por saber que este post o motivou para andar de nariz no ar em Leiria. Eu já fiz o mesmo em Coimbra, no Porto e noutras localidades e lá fui descobrindo estes beirais tão bonitos.
    Essas telhas em relevo também se vão vendo por aqui, até porque eram fabricadas na Pampilhosa, aqui perto, numa fábrica da família do Teixeira Lopes, escultor do Porto.São muito bonitas quando formam um bico e compõem o beiral com muitos biquinhos.
    Ainda não me lembrei de fotografar esse tipo de beirais, mas tal como já percebeu por experiência própria, é bem difícil de fazer boas fotos...
    Seja bem vindo aqui e volte sempre.

    ResponderEliminar