terça-feira, 12 de outubro de 2010

Pratos ratinhos e afins





Resolvi concentrar numa parede da cave de minha casa, as faianças que identifico como ratinhas, umas mais típicas e mais antigas do que outras mas todas com o ar rústico que as carateriza.


São bacias ou palanganas, pratos, pratinhos e pequenas tigelas ou covilhetes que têm como denominador comum  a sua origem coimbrã e o seu caráter utilitário  em casas camponesas, acompanhando os trabalhadores sazonais, os ratinhos, para o Alentejo e Ribatejo.
A melhor coleção que já vi deste tipo de loiça faz parte do acervo da Casa Museu de José Régio em Portalegre.
Segundo reza a história, o escritor José Régio,  professor liceal  em Portalegre durante mais de três décadas, ocupava as horas vagas correndo as aldeias alentejanas, acompanhado de um homem com um burro para transportar a carga. Adquiria todos os exemplares que encontrava não só de Cristos, com que constituiu a sua mais conhecida e apreciada coleção, mas também de faianças do tipo ratinho, as que encontrava mais frequentemente nos lares rústicos do Alentejo.

 Quanto às minhas faianças deste tipo, foram quase todas compradas em mau estado, por isso a preços mais suportáveis, o que lhes pode tirar valor comercial, mas aos meus olhos não lhes tira o encanto. Duas foram restauradas, mas depois não gostei do resultado porque perdem autenticidade, ficaram baças devido ao acabamento que levaram.


Este prato grande, restaurado como se vê, foi comprado numa casa de velharias em Nisa e , segundo o vendedor, era chamado prato dos casamentos, por ser neste tipo de prato que os noivos mandavam iguarias de carne aos seus vizinhos e amigos por altura da boda. Nunca consegui confirmar esta informação, mas acredito que fosse um costume local.


Esta bacia foi comprada em Lagos e, apesar do estado em que está, é a minha preferida. O verde muito intenso, mais do que se nota na fotografia, e os esponjados a vinoso, sem preocupação de simetria, dão-lhe um ar único e muito especial.


A esta chamo alguidar por ser mais funda. Tem uma série de gatos atrás, mas acho-a muito bonita. Lembra-me asas de pássaros em pleno voo, desenhadas de uma forma muito ingénua. Estava no chão há uns anos na feira de Coimbra, era barata, e lá veio cá para casa.


Outra das minhas preferidas pela intensidade das cores, mais uma bacia. Precisava de um jeito no centro, mas ainda não lhe mexemos. Tenho medo de a lavar com soluções de lixívia ou de água oxigenada porque podem danificar a pasta. Comprada na feira da Mealhada, tem atrás o número 52, escrito a tinta dentro de um losango, pelo que pode ter feito parte de uma coleção de faianças... ou então veio de um lote de leilão.


Este prato foi o primeiro ratinho que comprei, sem saber nada do que se tratava. Tinha vinte e tal anos, vivia em Condeixa e entrei na loja de velharias do Sr Franquelim, que já me encantava na altura. Ele tinha em cima do balcão uma série de pratos e travessas e eu perguntei-lhe quanto custavam. Ficou admirado de eu querer aquilo, disse-me que eram coisas de uma velhota que tinha morrido há pouco e que eu conhecia, pediu-me pouco dinheiro e eu levei as peças para casa. 
Eram três travessas ovais de esponjados, este prato e outro igual que passado algum tempo se partiu, e uma tigelinha verde que também está na minha parede e que eu pensava que era usada para guardar o crescente para fazer o pão.


As minhas tigelinhas ou covilhetes ratinho, sendo a da direita a que tenho há mais tempo e está na parede na primeira foto.



12 comentários:

  1. Olá Maria A.
    Ao abrir o blog dei de caras com o seu post, no imediato fez-me lembrar a minha sala...
    Hoje que deveria ser um dia de alegrias, afinal estão a sair das entranhas da terra os mineiros lá no Chile...noutros tempos valorizava muito mais este tipo de acontecimentos, não sei o que se passa comigo...só as velharias me encantam...
    Que dizer da sua colecção de ratinhos,adorei, adorei...confesso, estou roídinha de inveja...muito.
    Os nomes característicos depende muito da zona, de facto os pratos grandes eram muito usados para oferendas nos casamentos, os mais fundos chamados de bacias, que não gosto do termo, prefiro palanganas à moda espanhola.
    Também conheço o Museu José Régio em Portalegre, onde a cicerone explicou que os ratinhos no final dos trabalhos a que iam trocavam os pratos por roupa usada, porque no Alentejo havia pouca loiça, ao invés dos ratinhos que vinham da zona centro onde proliferavam muitas olarias.
    Quanto à taça verde, por certo não é a do crescente,também era uso fazerem pratos e tacinhas mais pequenas para outras utilidades, tenho pires, e até um penico em miniatura ratinho. A taça do crescente é maior de massa malagueira, algumas com ornamentação de risca azul ou vinoso.Tenho uma taça dessas antiga, ainda talhada à cana editada num post, e numa feira da Figueira da Foz, fiquei de amores com uma com a risca azul, linda, mas caríssima...não a pude trazer ...
    Bela colecção, de facto extasiante, belíssima!
    Parabéns pelas escolhas
    Beijos
    Isabel

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  2. Ainda bem que gostou das minhas faianças, Maria Isabel. É reconfortante mostrar estas coisas a alguém q as aprecie como nós.
    Pois é, a minha parede está parecida com a sua, e ainda lá vou pôr outros pratinhos pequenos nos intervalos ou guardo-os para completar outros conjuntos de pratos, de flores, galos...
    Quando descreveu as malgas para o crescente, lembrei-me q também aqui há uma q corresponde a esse perfil. Hei-de mostrá-la no próximo post.
    A respeito dos mineiros chilenos, foi um sofrimento atroz para aqueles homens e ainda bem q chegou ao fim. Só me incomoda constatar q se não fosse o avanço tecnológico e a vontade e empenho de muita gente, aqueles homens ficariam para sempre debaixo da terra e agora anda tudo a agradecer a Deus, anjos e santos pelo salvamento... e vão-se fartar de pagar promessas...Enfim, mas isto são pensamentos de uma não crente.

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  3. Isto foi publicado subitamente e nem me despedi.
    Beijos
    Maria A.

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  4. Obrigado por nos mostrar os seus Ratinhos. É sempre bom educarmos a vista e vermos mais e mais peças, pois assim ganhamos o chamado golpe de vista, para descobrir tesouros no meio da caqueirada das lojas ou feiras de velharias.

    A faiança ratinho é de facto única, não se parece com mais nada e há tão pouca bibliografia sobre ela.

    Quando visitei a Casa Museu José Régio foi há mais de vinte anos e na altura não me interessava por faiança. Já tinha era a paixão por arte sacra e todos aqueles Cristos encheram-me as medidas, sobretudo os Senhores da Paciência. Há 4 ou 5 anos tentei ver de novo o museu, mas estava em obras, aliás como toda a cidade de Portalegre, pois na altura o município aplicava o Programa Pólis e por todo lado havia buracos, terra e ruas interrompidas, enfim, um verdadeiro caos.

    Há uns anos houve uma exposição sobre faiança Ratinho no Museu do azulejo, mas nunca consegui pôr os olhos no catálogo.

    Abraços

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  5. Ola boa noite, hoje estou como a Maria Isabel...parece que nada me anima, estou meio triste com tudo e todos (amanhã é outro dia)...
    e eis que aparece um post que faz esquecer tudo!!!!
    Que lindas peças cara Maria Andrade, parabens pela colecção.
    Adorei a que foi comprada em Faro, o tom de verde...lindissimo!!!

    Cumprimentos,

    Marília Marques

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  6. Caros amigos,
    Penso q o principal objectivo destes blogues q criámos foi dar a conhecer os nossos "tesouros" e partilhar o prazer q nos dão com outros amantes de velharias. Estou a retribuir o q tenho recebido...
    Queria dizer ao Luís, a propósito da Casa Museu José Régio,em Portalegre, q há outra em Vila do Conde, a sua terra natal, q acho imperdível para quem gosta de arte sacra popular. Também tem algumas faianças, mas para faiança antiga portuguesa, há um outro museu, o Museu Municipal de Viana do Castelo q tem um acervo belíssimo. Tem mesmo q fazer uma viagem ao Norte...
    Abraços
    Maria A.

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  7. Gosto imenso de vaguear pelo seu Blog, obrigada pelo seus textos.
    Ainda bem que não usou lixívia ou água oxigenada na pasta. Se a quiser limpar um pouco use água morna com Ariel ou Calgon e um pincel de cerdas (ou escova de dentes) e esfregue com cuidado (não sei se o vidrado está estalado ou a destacar-se) passe depois com um algodão em água limpa para não ficar resíduos.

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  8. Cara Sandra Pena,
    Muito obrigada pelo seu comentário e pelos conselhos cheios de conhecimento e bom senso.
    Eu costumo limpar as faianças com água morna e sabão, com a ajuda de uma escova de dentes velha, como referiu. O penúltimo ratinho estava muito sujo e eu tive medo de o esfregar, mas já o consegui limpar melhor, com cuidado.
    Parabéns pela sua atividade profissional e pelo seu site, que já visitei. Consegue resultados muito bons, surpreendeu-me sobretudo o restauro da peça de vidro, porque deve ser mais difícil disfarçar a intervenção.
    Continuação de um bom trabalho e apareça sempre.

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  9. :-)
    Ainda bem que gostou. De facto as intervenções em vidro não são invisíveis mas consoante os casos conseguem-se resultados razoáveis.
    Continuação de bons post, eu adoro faianças por isso continuarei a visitá-la. Bjs

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  10. Estive aqui a rever o seu post e creio que descobri a pequena tijela, que talvez servisse para guardar o fermento do pão ou servir o manjar doce. Julgo que é a mais perquena delas todas e tem a decoração em zigue-zague.

    Julgo que a tigelinha até merecia uma fotografia indidividual.

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  11. Como pode ver, Luís, já pus em prática a sua sugestão e em vez de fotografar uma, fotografei as duas tigelinhas ratinho que tenho.
    O verde é mais intenso do que ficou na foto, se calhar tinham luz de mais, mas quando a fotógrafa não ajuda, não se podem esperar grandes resultados... :)
    Bom fim de semana

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  12. São lindas e de facto são exactamente do mesmo tipo que a segunda seguidora misteriosa apresentou. O Manel continua a achar as cores destas peças muito na tradição islâmica.

    Obrigado pelas fotografias

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