sexta-feira, 15 de abril de 2011

Painel de azulejos da Fábrica do Carvalhinho

Nas minhas deambulações pelas ruas antigas do Porto, apetece-me fotografar tudo a eito, tantas e tão bonitas são as fachadas de azulejos bem emoldurados pelas pesadas e belas cantarias de granito, de uma beleza rústica que parece eterna.
Já aqui mostrei, num post de Novembro de 2010, azulejos azuis e brancos da Fábrica do Carvalhinho, com marca FC e com um padrão muito usado no Porto no século XIX, inclusivamente pela Fábrica de Miragaia. Agora trata-se de mostrar uma fachada com magníficos painéis azulejares.

                   

No Largo de S. Domingos, em frente a um prédio com um beiral de faiança que já aqui mostrei, está um edifício com um fantástico revestimento de azulejos da Fábrica do Carvalhinho, assinados pelo pintor  Carlos Branco e pelo desenhador Silvestre Silvestri, como se vê nos cantos inferiores do painel central. Também consta do painel a data de execução, 1906, e as iniciais da firma instalada no prédio, Araújo & Sobrinho, Sucrs. Para além das grinaldas e arabescos, inspirados no gosto neoclássico, vêem-se desenhos alusivos a materiais para desenho e pintura, representando o ramo de negócio da firma.
Consta ainda do painel central uma cabeça de mercúrio, certamente simbolizando o comércio.

                       

Esta  Fábrica do Carvalhinho iniciou a sua actividade na 1ª metade do século XIX, em data que não reúne o consenso dos especialistas na matéria, mas que a própria empresa considerou ser 1840, já que comemorou o centenário em 1940, como se pode ver, embora mal, pela marca do pequeno prato que se segue.


Comprei-o já não sei onde, quando, ou por que preço, mas foi certamente a marca, muito diferente da habitual em círculo, que comandou a aquisição.


As  instalações da fábrica ficavam situadas na Quinta do Carvalhinho, no Porto, mais precisamente na Capela do Senhor do Carvalhinho, junto à Calçada da Corticeira, que sobe da margem do Douro até às Fontainhas.  Durante o século XIX e início do século XX foi sujeita a ampliações no mesmo local e foi desenvolvendo a sua produção, sobretudo de azulejos e de peças de cerâmica decorativa.

A encosta junto ao Douro onde nasceu a Fábrica do Carvalhinho
Esta empresa, como todas as outras empresas do ramo, sofreu a  forte concorrência de cerâmicas  inglesas e francesas, que tinham muita aceitação no nosso mercado. No entanto, conseguiu sobreviver exportando em grande quantidade para o Brasil e para  África, após a ampliação e renovação técnica que efectuou em 1906, enquanto desenvolvia a qualidade artística com pintores de renome como o já referido Carlos Branco. Curiosamente este artista cerâmico, segundo Arthur de Sandão, iniciou-se na arte no final do séc. XIX, com 14 anos de idade, na Fábrica da Fonte Nova em Aveiro.
Em 1923 a Fábrica do Carvalhinho foi transferida para novos e espaçosos edifícios em Vila Nova de Gaia e aí permaneceu até aos anos oitenta do século passado. As antigas instalações do Porto foram ocupadas pela Fábrica da Corticeira que usou  marcas circulares muito semelhantes à conhecida e prestigiada marca do Carvalhinho.

Marca circular da Fábrica do Carvalhinho
Também pintado por Carlos Branco, segundo desenhos de Silvester Silvestri, o Porto exibe este monumental painel que embeleza a fachada lateral da Igreja do Carmo, na Praça Carlos Alberto, datado de 1912 e executado na Fábrica da Torrinha. É um painel historiado, com cenas relativas à fundação da Ordem Carmelita e ao Monte Carmelo, que não passa despercebido ao transeunte mais distraído.

Painel de azulejos da Igreja do Carmo no Porto


13 comentários:

  1. Excelente post! Parabéns e obrigado. Adorei empreender esta viagem através de seus escritos.
    Cada dia fico com mais vontade de voltar a visitar Portugal.
    abraços
    Fábio

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  2. Olá Fábio,
    Da próxima vez q vier a Portugal tem mesmo q rumar a norte e ir visitar o Porto. A cidade tem um magnífico património edificado e paisagístico e então para entusiastas da cerâmica tem uma grande história e centros de interesse. Na viagem de ida ou de regresso, pode passar por Aveiro e visitar a fábrica e museu da Vista Alegre, vir à Bairrada, onde vivo, q tem lugares bonitos e boa gastronomia, um pouco mais a sul tem a bela e histórica Coimbra, pode depois passar por Alcobaça também com interesse histórico e cerâmico, até chegar de novo à nossa encantadora Lisboa.
    Já viu q lhe fiz aqui à pressa um roteiro muito interessante?
    Agora é só pensar na próxima viagem à Europa :)
    Abraços

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  3. Olá Maria Andrade

    Extraordinário post sobre a nossa rica azulejaria.
    O seu prato com o carimbo em quadrado é o 1º que assim vejo. Só conheço os de carimbo redondo.
    Adoro as igrejas revestidas a azulejos.

    Estive fora uns dias, aproveitei e visitei um Museu perto de Ansião. O dono tem mais de 5.000 azulejos século XVIII num sótão,foram um dia de uma quinta de Colares, podia ser pior e terem ido para o estrangeiro.Contudo para refrescar o olhar fez alguns pequenos painéis com ele, e são uma delicia.

    Perdoe-me acrescentar no roteiro que traçou para o Fábio, acrescentaria, Conimbriga,Mosteiro da Batalha, Castelo de Porto Mós, Grutas de Mira'Aire, aldeia reconstruida Pia do Urso na serra de S.Mamede e a escassos km a pedreira do Galinha com as pegadas dos dinossauros, Santarém e Sintra. Porque para sul há muito património Santiago do Cacém, Miróbriga e Tróia falando de ruínas romanas. Arrábida e Setúbal, o rio...
    O nosso Portugal é avassalador.
    Desculpe, não me contive!

    Uma boa Páscoa para si família e amigos.
    Coelhinhos com orelhas grandes para o pequeno Gabriel estragar, já que ainda é cedo para saborear.
    Lembro-me sempre das amêndoas em jeito de bonequinhas cor de rosa cheias de licor que a minha mãe encomendava na Briosa nos anos 60. Ia buscar sorrateira os embrulhos à carreira do Pereira Marques...nem eu nem a minha irmã gostávamos na altura de tal iguaria...a minha mãe sempre nos presenteou com o que havia de melhor pelas festas e isso nunca esqueço, também houve alturas que só se comia sopa num tempo que não havia reformas para os funcionários públicos, 1972.

    Beijos
    Isabel

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  4. Olá Maria Isabel
    Ainda bem q está de regresso e muito obrigada pelo seu comentário.
    A Fábrica do Carvalhinho teve uma produção muito rica durante quase século e meio, não só em azulejaria mas também em faianças decorativas. Têm um inconfundível tom azulado no esmalte e nas decorações também predomina o azul, por isso são peças q sempre apreciei muito. Vou fazer um próximo post com essas faianças.
    Gostei de saber da existência desse museu perto de Ansião pois poderei ter oportunidade de o visitar numa ida a casa dos meus pais em q decidamos ir passear para esses lados, como por vezes acontece.
    Estou a passar esta semana da Páscoa em família e claro o Gabriel não pode faltar, é mesmo o elemento mais importante da família neste momento!!!
    Obrigada pelos votos de Boa Páscoa q retribuo para si e para os seus.
    Beijos

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  5. Desde que fui ao Porto a 1ª vez, já lá vão umas boas 3 dezenas de anos, fiquei absolutamente boqueaberto por ver o azulejo a ser utilizado juntamente com o granito! O efeito é mágico e uma pena que não tenha sido mais copiado cá mais a Sul, ainda que o contraste com o calcário, mais esbranquiçado, seja diferente e menos belo.
    Mas é algo que nunca mais me saiu da memória.
    Das marcas "Carvalhinho" conheço sobretudo a última que apresenta, a mais comum. Quanto às peças produzidas pela fábrica, possuo várias (quem não as possui?), mas fico sempre com a sensação que lhes falta alguma contenção no cromatismo, apesar do desenho ser bem conseguido.
    Uma boa Páscoa
    Manel

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  6. Cara Maria Andrade

    Resolveu um mistério que me intrigava desde há uns tempos. A semelhança das marcas entre a Fábrica do Carvalhinho e a do Porto Corticeira.

    Gostei do seu post. Estou convencido, que o seu conteúdo será copiado por muitos estudantes de arte.

    Tenho uma paixão pelo contraste produzido pelas cores dos azulejos e os tons escuros, cheios de verdete, do granito. É único do Porto e fazem muito bem insistir para que o Fábio visite o Porto da próxima vez que vier a Portugal.

    Lisboa é uma paixão imediata, mas o Porto, aprende-se a gostar aos poucos, a descobri-lo e a ama-lo. Enfim, se continuo a escrever mais, acabo a citar a tia Agustina Bessa Luís

    Abraços e boa Páscoa

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  7. Caro Manel,
    Realmente a combinação de azulejos e granito tem um encanto muito especial e no Porto encontramo-la a cada passo.
    Quanto às marcas Carvalhinho,é engraçado q eu só agora, ao preparar este post e um próximo,reparei q esta marca tinha as datas 1840 e 1940, o q foi importante para datar a peça e comprovar q a fábrica tomava como ano da sua fundação 1840. Andava a ver se havia diferenças nas marcas q tenho cá em casa, mas só esta difere substancialmente das restantes.
    Ao contrário do Manel, aprecio a paleta cromática das peças Carvalhinho, sobretudo a predominância de tons de azul em muitas delas.
    Já não vou a tempo de lhe retribuir os votos de boa Páscoa, mas desejo-lhe uma óptima semana de trabalho.

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  8. Caro Luís,
    Eu já sabia q esta semelhança de marcas o intrigava porq li um comentário seu a esse respeito no blogue "Memórias e Arquivos da Fábria de Loiça de Sacavém"
    e também deixei lá um comentário dizendo q uma sucedeu à outra no mesmo local, daí...
    Quanto à beleza do Porto, é curioso, mas eu nem sempre fui sensível a essa beleza, houve tempos em q achava o Porto uma cidade escura e um tanto degradada, é como diz o Luís, nem sempre há uma adesão imediata, aprende-se a gostar da cidade à medida q se conhece e se vão descobrindo os seus encantos...
    Obrigada pela sua apreciação tão elogiosa ao meu post.
    Esperando q tenha tido uma Páscoa feliz, também lhe desejo uma óptima semana de trabalho.

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  9. Boa tarde,

    Antes de mais, felicito-a pelo magnifico post sobre a Fábrica do Carvalhinho. Foi um feliz acaso tê-la encontrado nesta pesquisa trivial pela internet pois penso que me poderá ajudar... conhece alguém que possa avaliar uns painéis azulares da Fábrica do Carvalhinho. Estes encontram-se nas paredes do hall de entrada de uma casa antiga em Braga e penso que serão datados de 1923, altura em que a referida casa foi reconstruída pelo Arquit. José Vilaça. Obrigada. Atenciosamente, Paula

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    1. Cara Paula, muito obrigada pelo seu comentário.
      Lamento, mas não conheço quem a possa ajudar na avaliação desses painéis. Talvez uma leiloeira aí do Norte...
      Cumprimentos
      Maria A.

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    2. Muito obrigada pela sua disponibilidade e simpatia. É uma boa dica! Assim farei.

      Atenciosamente,
      Paula Faria

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  10. Maria
    Muito Boa Noite
    Gostava de partilhar consigo o que paço a referir. Um dia num antiquário de velharias encontrei e comprei , apesar de ter um grande cabelo uma peça de carvalhinho, que julgo ser raro. Trata-se de um pequeno pote redondo tipo cachepot em cores azuis e com uma pinturas retratando cenas africanas com nativos negros em pelota fumando cachimbo e À sombra de palmeiras. Já vi muitas peças do Carvalhinho em sites nacionais e internacionais para venda, mas nunca encontrei nenhum que tivesse essas pinturas africanas. Julgo ser raro, mas fica aqui a minha partilha de informação.
    Pedro Domingos Rodrigues

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    1. Muito obrigada, caro Pedro.
      Mais uma partilha interessante, que ajuda a dar vida ao blogue

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