quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Galheteiro em faiança de Estremoz(?)




Gosto de galheteiros. Quer sejam em vidro, em cristal, em porcelana ou em faiança, são sempre peças airosas com vários componentes de pequenas dimensões e eu, pelo menos em objetos, partilho com os britânicos a opinião de que "small is beautiful".
Não tinha nenhum de faiança mas neste verão comprei quatro, não de uma assentada só, mas de duas assentadas :) . 

Foram todos comprados ao mesmo vendedor em duas feiras de velharias. Deve ter sido um lote que ele  comprou com defeitos e por isso ficaram a preços razoáveis. Este foi o mais caro apesar de ter dois enxertos em vez das asas originais e  restauros nas tampas.




Apresenta aquele tipo de decoração que se identifica como Estremoz e se for essa a origem, será que é anterior a 1808, data do fecho da Fábrica Viúva Antunes, ou terá havido ali outras unidades cerâmicas que continuaram este tipo de produção? 
Aqui vemos os típicos rochedos a manganés em primeiro plano, elementos vegetalistas de folhas e flores, e uma casa sugerida por linhas amarelas verticais, horizontais e oblíquas, como também é típico nestas decorações de paisagens.


Uma outra hipótese, atendendo à decoração, é ser da Real Fábrica da Bica do Sapato em Lisboa, encerrada por volta de 1820, cujas peças também apresentam muitas vezes este tipo de paisagens.
Mas ainda para baralhar mais as coisas temos as nossas faianças do Norte, com a proliferação de unidades fabris que já conhecemos, tendo algumas copiado modelos de outras, vizinhas ou distantes...


Assim, sem marca - há apenas umas marcas a verde numa das bases das galhetas, mas penso que serão marcas de pintor ou ensaios de cor para a pintura -  fica sempre a dúvida, mas gosto de acreditar que tenho em casa um galheteiro de Estremoz. E bem bonito, diga-se.
Acho encantadoras não só a pega com as suas aletas mas as próprias conchas que servem de saleiro e de pimenteiro com aquela espiral no meio. Já vi outros galheteiros com estes concheados atribuídos a Estremoz.

E agora, mais uma vez tenho que agradecer a colaboração da colecionadora de faianças já nossa conhecida que, sabendo que eu tinha comprado um galheteiro deste tipo, se dispôs a enviar-me fotografias de um seu exemplar muito parecido, atribuído a Estremoz.
Elas aqui estão, de uma belíssima peça, muito bem fotografada como já nos habituámos a ver nas fotos desta nossa amiga.


Começo por salientar a semelhança dos dois galheteiros no formato da pega com aquelas curvas e contra-curvas, as chamadas aletas em linguagem técnica. A tampa da galheta também é idêntica, quer na forma, quer na decoração.


Ao contrário das galhetas de outros galheteiros que apresentam a linha do bojo quebrada - como exemplo, há dois mostrados pelo LuísY do Velharias num post de Janeiro deste ano - nestes o bojo das galhetas é arredondado, numa linha curva contínua até ao pé.
As paisagens num e noutro galheteiro têm os mesmos elementos base.

     

Aqui admiro o belo perfil da galheta com a sua elegante asa original.


À exceção do saleiro e do pimenteiro, com as deliciosas tampas ainda intactas, todas as formas da base são idênticas nos dois galheteiros, mas não a decoração.

Para terminar, mais duas galhetas soltas da nossa colecionadora, das tais com o bojo em linha quebrada, uma com faixa azul e outra com faixa rosa.




São ou não são um encanto? A mim parecem-me miniaturas destinadas a brincadeiras de crianças :).
Espero que tenham gostado de apreciar estas belas peças de faiança portuguesa.

12 comentários:

  1. São lindos!! Também acho imensa graça a essas peças. Os meus Pais têm um conjunto em vidro já sem as tampas mas substituídas por umas tampas de madeira :-)
    Bela compra, enjoy!!

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  2. Maria Andrade a peça é fantástica, e, seja lá de onde for, vale pela beleza que espalha à sua volta.
    Não sei se será efectivamente de Estremoz, pois a peças não marcadas só se poderá propor uma origem sem certeza alguma, mas compensa o anonimato pela beleza que possui.
    No entanto, de todas as peças que aqui apresenta, uma destaca-se pela pintura exímia e harmonia de cores: a galheta isolada sem tampa.
    Ainda que correndo risco de não estar a ver a peça de forma correcta, pois a fotografia por vezes pode induzir em erro, esta peça parece-me ter sido produzida por alguém que sabia verdadeiramente executar uma pintura sobre faiança, aproximando-a das características de uma pintura a óleo. Esta peça parece-me "fabulosa".
    Parabéns pela aquisição deste galheteiro o qual, ainda que não marcado, me parece de muito boa manufactura.
    Um bom final de semana
    Manel

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  3. olá bom dia.

    compreendo a sua relutância em classificar sem margem para dúvidas como Estremoz, apesar das suas peças apresentarem indícios de tal produção quer em termos decorativos ou de formato.

    Se compararmos esta decoração em especifico com algumas das peças atribuídas à Bica do Sapato (se bem que não detectei nenhum galheteiro...), é algo difícil atribuir uma classificação precisa, a não ser que o formato de determinada peça seja típico de cada fábrica.

    em todo o caso, sendo Estremoz ou não, é um exemplar de decoração Neoclássica e nos dias de hoje, é difícil conciliar factores como qualidade, preço e estado de conservação para peças do género.

    Mercador Veneziano

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  4. Olá Sandra,
    Muito obrigada pela visita e pelo comentário.
    Estas são peças que apesar da sua função essencialmente utilitária, sempre primaram pelo valor decorativo e por isso dá tanta satisfação tê-las em casa.
    Abraços

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  5. Manel, aprecio muito a sua opinião sobre faianças (e não só) e por isso fico satisfeita por achar que fiz boa compra.
    O seu olhar bem treinado para as coisas da arte descobriu logo "a jóia da coroa", peça que eu, sinceramente, à partida não distinguia das restantes.
    Mas agora que falou nisso, nota-se um outro cuidado na composição, a pintura já não resulta da sobreposição de vários motivos decorativos combinados de uma forma um pouco crua, mas forma mesmo uma paisagem com homogeneidade na composição.
    Na decoração do meu galheteiro, aparecem junto à paisagem flores maiores que casas o que dá a esta pintura um caráter ingénuo, infantil mesmo.
    E é também aí que reside o encanto destas peças.
    Tenha um bom fim de semana.

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  6. Caro Mercador,
    Agradeço-lhe ter aqui vindo deixar o seu contributo e reforçar a minha ideia de que comprei um boa peça.
    Sei que vê muitos exemplares nos livros e catálogos que tem em casa e por isso também valorizo muito a sua opinião.
    Gosto muito do galheteiro e independentemente do fabrico apresenta caraterísticas da faiança neoclássica - o que permite datá-lo de finais do séc. XVIII a inícios do XIX - mas é sempre bom saber que também é apreciado por outros olhos conhecedores...
    Bom fim de semana.

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  7. Linda peça Maria Andrade!!

    Parabéns!!!

    Também gosto muita da peça da sua seguidora!

    Boas compras

    Flávio

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  8. Olá Flávio,
    É verdade que estas faianças são muito bonitas!
    A mim enchem-me os olhos!
    Este verão, como poupei muito nas férias, pus-me a gastar o dinheiro em faianças :)
    E acho que lucrei com a troca...
    Abraço

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  9. Olá Maria
    Lindíssimo o seu galheteiro! A paisagem tem uma composição e policromia cuidadas, lembrando a faiança neoclássica. Está de parabéns.
    Um abraço
    if.

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  10. Cara If,
    Gosto muito de a ver por aqui a comentar faianças, a sua especialidade...
    Para mim todas estas peças são lindas, e ontem mesmo enchi os olhos e a alma na visita à exposição de ratinhos, e não só, no Museu Cargaleiro em Castelo Branco.
    Adorei!
    Bjs.

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  11. Só agora pude aqui ver admirar o seu galheteiro e o da nossa simpática Seguidora Misteriosa.

    De facto, o seu galheteiro parece ser de Estremoz e datado entre os últimos anos dos finais dos XVIII e primeiros anos do XIX.

    As palavras do seu post parecem-me todas elas muito acertadas.

    Os gastos que faz agora em faiança são um investimento no futuro. Embora nunca se tenha a certeza de que os nossos descendentes irão apreciar antiguidades. Mas, de qualquer maneira, enchem-nos de prazer e transformam as nossas casas em qualquer coisa de muito especial.

    Abraços

    Luís

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  12. Olá Luís,

    É uma pena não conseguirmos ter mais certezas sobre estas coisas, a mim pelo menos, não me basta ter peças bonitas e antigas, quero sempre saber o máximo sobre elas e por isso muitas faianças, embora goste de as admirar em casa, são para mim uma frustração...
    Tenho dúvidas em relação a este meu galheteiro também porque o vendedor é do Porto e os outros galheteiros que lhe comprei são "tipicamente" do Norte, dois que eu atribuo a Viana e um a Gaia.
    Ficamo-nos pelas atribuições por analogia e pronto.

    Abraços

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