Hoje resolvi mostrar aqui faiança das Caldas por me lembrar que o amigo Fábio Carvalho do Porcelana Brasil está por estes dias envolvido num projeto artístico na Fábrica de Faianças Bordalo Pinheiro nas Caldas da Rainha... e quero desejar-lhe o maior sucesso!
Mesmo para quem não se deixa perder de amores pela tradicional e secular faiança das Caldas - muitas vezes injustamente associada exclusivamente à brejeirice de uma certa produção - estas cândidas jarras de altar provocam sempre uma adesão imediata pelo seu caráter de genuína arte popular.
Os dois meninos semi-nus a servir de asas, segurando uma bola na mão, poderiam representar o Menino Jesus a segurar o globo terrestre se não estivessem em duplicado, porque o Menino Jesus que nós conhecemos não teve nenhum irmão gémeo... :) Mas a imaginação popular opera milagres!
Na parte de trás de cada jarra a decoração simplifica-se mas mantêm-se as cores principais - verde, creme ou camurça e castanho - e vê-se que os meninos se sentam numa base de musgo, a evidenciar o uso da técnica do musgado introduzida na cerâmica caldense por Manuel Cipriano Gomes, o Mafra.
Estas jarras não estão marcadas, mas as jarras de altar com os dois meninos são muito típicas das Caldas, pelo menos já aparecem na produção de Manuel Mafra incluídas no catálogo da exposição "Manuel Mafra 1829-1905: Mestre na Cerâmica das Caldas", IMC, Caldas da Rainha, 2009.
Os três exemplares deste tipo que aparecem neste catálogo têm a marca da coroa gravada na pasta, acompanhada da inscrição M. MAFRA-CALDAS-PORTUGAL.
Voltando ao meu par de jarras, foram compradas há uns anos na Feira de Algés, a um vendedor que traz um ajudante e está sempre rodeado de muita gente, incluindo outros vendedores. Não foram nenhuma pechincha, nessa altura a faiança estava mais cara, mas quisemos trazer os quatro meninos para casa, embora um já tivesse perdido os pezinhos (antes os pés que a cabeça!)
que maravilhas Maria, reliquias admiráveis, obrigada pelo comentário, a seleção de imagens que faço diariamente me auxiliam a criar, arejam minha cabeça de idéias, e quando vou criar não me seguro e aproveito as informações que diariamente me abasteço e mostro para vcs, que bom que vc gosta também. Os meus trabalhos pessoais nem sempre sou autorizada a mostrar, mas quando der, postarei aqui, tenho que melhorar minha fotografia porque os detalhes nem sempre aparecem, hehe. bjinhos, obrigada pelo carinho.
ResponderEliminarHello Maria Andrade,
ResponderEliminarthese vases are very interesting and unique. Thank you for sharing all this informations.
Best greetings, Johanna
Olá Maria Andrade.
ResponderEliminarNão conhecia este tipo de jarras em loiça das Caldas. São muito interessantes mesmo.
Conheço o vendedor que fala, o ajudante chama-se "Marinheiro"
Quando vejo alguma coisa que gosto pergunto o preço,depois dou uma volta há 2ª vez se perguntar de novo é sempre mais barato...
Ele trás sempre restos de espólios de boas casas, o melhor vai para a leiloeira, no último mês tinha um cálice da VA, pedia 30€ na 2ª volta já pedia 15....não comprei e fiz mal!
Beijos
Isabel
Olá. Por acaso já conhecia essas jarras através de um trabalho de restauro (muito bom) efetuado pela minha colega de Peniche, Inês Martins. Pode ver aqui (ela agradece a divulgação) :-): http://inesverissimomartins.blogspot.com/2010/04/jarras-de-altar.html
ResponderEliminarA decoração é um pouco diferente, as folhas, o desenho floral cntral mas são peças bonitas e um pouco diferentes. Bjs.
ResponderEliminarOlá Maria Isabel,
ResponderEliminarNão sabia dessa particularidade do vendedor de Algés, mas para a próxima já sei...
O que acontece é que está lá sempre tanta gente que começamos por ter dificuldade em saber o preço das coisas e depois o que é melhor é logo vendido. Das últimas vezes que fui a Algés já nem parei lá. Pelo que diz, ele está ligado a uma leiloeira?
Às vezes também me arrependo de não fazer certas compras, mas também se fossemos a comprar tudo aquilo de que gostamos e que achamos em bom preço, não sei como estariam as nossas casas...
As feiras estão cheias de tentações, mas há que saber controlar a coisa... na feira seguinte há mais... :)
Um abraço
Muito obrigada, Sandra Pena, por mais esta simpática visita.
ResponderEliminarVejo que vai estando atenta desse lado e sempre pronta a vir aqui dar uma ajuda.
Vou já ver essa jarra, mas se é um trabalho da Inês Veríssimo Martins, penso que até já o vi.
Vou verificar e de qualquer maneira fico-lhe muito grata.
Um abraço
Maria Andrade
ResponderEliminarComo sabe, sou um apreciador mediano da chamada Louça das Caldas, embora com o tempo lhe tenha passado a dar mais valor.
Quando vi estas suas jarras, lembrei-me imediatamente de uma visita recente que fiz à Casa dos Patudos. Não que na referida Casa-Museu tenham jarras iguais a esta, mas sim porque a decoração geral da casa denota o mesmo gosto de quem produziu as suas jarras.
Julgo que estas jarras correspondem a um gosto que se formou na burguesia nos finais de oitocentos, príncipios dos novecentos. É a estética da classe que apoiou a República e que apreciou a nova bandeira nacional, verde e vermelha. Se eu fosse realizador e fizesse um filme de época, passado na casa de uma família buguesa de Lisboa em 1910, faria uma decoração, onde essas jarras seriam uma presença obrigatória.
O tempo passou e essa estética, esse gosto passou de moda. Os prédios e moradias desse período foram sistematicamente demolidos nas cidades portuguesas nos anos 60, 70 e 80 e passámos a achar a mistura do verde e vermelho na bandeira nacional uma coisa atroz.
Hoje o gosto mudou novamente. Em Portugal, as pessoas elegantes até já se vestem de verde e vermelho, desde que se realizou o Euro2004 e talvez com essa loiça aconteça o mesmo fenómeno.
Em todo o caso, gostei muito da sua explicação, que foi como de costume, clara e sintética, uma característica, que certamente a Maria Andrade apurou nos muitos anos que passou pelo ensino.
Abraços
Luís,
ResponderEliminarÉ curioso como arranjou logo um cenário para colocar estas jarras.
Conheço a Casa dos Patudos em Alpiarça, aliás a primeira vez que lá fui ainda era uma jovem universitária que passava férias em Santarém, onde viviam os meus pais na altura.
Já lá voltei mais vezes porque gosto muito da casa e do recheio, mas sinceramente não é esse o ambiente que imagino para este tipo de jarras. Vejo lá mais jarras de vidro coalhado ou aquelas jarras de cinco dedos, em azul e branco, que é um modelo que me atraia muito em criança e eu tentava reproduzir nos meus desenhos na primária.
Estas jarras imagino-as em ambientes mais populares, pequenas capelas de aldeia com altares pintados em cores vivas com branco... Enfim, cada um tem os seus "filmes" gravados na memória e imagina as coisas de acordo com eles...
Obrigada pelo elogio à minha escrita. Em todo o meu percurso no ensino lidei sobretudo com o inglês, mas é claro que o facto de estar sempre muito atenta à estrutura de uma língua estrangeira, força inevitavelmente o paralelismo com a nossa língua materna e ganha-se um certo domínio da linguagem, mas é uma escrita muito simples, nada elaborada ou sofisticada e talvez por isso se torne mais clara.
Mas a sua escrita é igualmente clara, fluida, com a vantagem de ser ditada por uma mente muito criativa.
Um abraço
Olá Maria Andrade, tudo bom?
ResponderEliminarAcredita que apenas HOJE eu vi este seu post??
É que quando estava em Caldas, não tinha como acompanhar os blogs, pois só tinha internet no telemóvel.
De toda forma, agradeço o post em parte dedicado à mim, agradeço os votos de sucesso (seus votos sucederam! correu tudo otimanente por lá), e peço desculpas por demorar tanto a responder aqui.
abraços
Compreendo perfeitamente, amigo Fábio, vi logo que não tinha visto o post.
EliminarQuando estamos fora de casa e se quebra a nossa rotina habitual torna-se muito mais complicado seguir os blogues, mesmo os blogues amigos.
Fico muito satisfeita por lhe ter corrido tudo muito bem e espero o mesmo sucesso na sua próxima vinda a Portugal.
Um abraço
E EU TAMBÉM SÓ HOJE CHEGUEI AQUI!!! Porque tenho mais umas idênticas para restaurar e ao vir pesquisar... vim aqui parar...
EliminarE, que agradável surpresa, fiquei muito feliz e também aproveito para agradecer à colega Sandra Pena o comentário dedicado aos meus trabalhos.
Cumprimentos
Olá Inês Martins,
EliminarGostei de a ver por aqui e obrigada pelo comentário.
Já conhecia o seu blogue e mesmo antes de a Sandra Pena aqui deixar a referência, já sabia que é uma boa profissional na área do restauro.
Desejo-lhe o maior sucesso no seu trabalho e apareça sempre.
Um abraço
Olá, é pena não ter fotografado por baixo- costuma ser esclarecedor! Mesmo assim, a quebra nos pés mostra uma ceramica branca, o que remete para a argila de Alvarães e as oficinas de Barcelos ou de Viana. A ceramica das Caldas é cozida com argila rica em ferro e por isso nunca é branca- tipicamente é escura, avermelhada ou acastanhada.
ResponderEliminarBarcelos imita o estilo das Caldas e por vezes produz peças do mesmo molde (com as mesmas dimensões) dizendo-se que eram sub-contratados pelas fábricas das Caldas, que forneciam os moldes.
Quando as peças são cerca de 5% mais pequenas do que os originais, trata-se de cópias enformadas em moldes de gesso realizados a partir de peças que os industriais minhotos compravam para copiar.
Quando, como estas, são diferentes trata-se de interessantes plágios, por vezes toscos, com que os produtores de Barcelos (capazes, por si sós, de peças notáveis) homenageiam as fábricas caldenses copiando-as e produzindo o que está a ser vendável em cada ocasião. Estas peças são (minha opinião) muito coleccionáveis, sobretudo associadas aos originais, mas têm um valor de mercado diminuto e por isso passam por fora do circuito dos antiquários.
JM Mimoso
Boa tarde, caro J M Mimoso,
EliminarAgradeço-lhe muito ter vindo aqui prestar todos estes esclarecimentos sobre a faiança das Caldas e de Barcelos. É assim que eu entendo as partilhas neste tipo de blogue, haver uma troca de informação nos dois sentidos e assim se vai fazendo mais luz sobre estes assuntos.
Não tirei fotografias à parte de baixo das jarras porque, sem marca, não acrescentam qualquer informação, mas realmente a cor da pasta é relevante. Neste caso, nem isso se vê porque a base está pintada do mesmo tom beige dos meninos e de parte do bojo. Achei, portanto, que não valia a pena ir agora acrescentar aqui mais uma foto.
De qualquer forma, achei estranho o que disse sobre o barro das caldas ser avermelhado, ferruginoso. É que noutras peças que tenho, por exemplo um prato com frutos de António Alves Cunha ou umas tacinhas verdes de um tal Leal, nota-se em zonas com pequenas falhas em que se vê o barro, que é também claro...
Será que alguns fabricantes das Caldas mandavam vir o barro de outras zonas?
Fiquei agora mais atenta a esse pormenor e vou continuar a procurar...
Mais uma vez obrigada e desejo-lhe uma boa semana.