quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Revestimentos Arte Déco


Há pouco mais de um mês, precisamente na altura do Natal, devido ao internamento de um familiar muito próximo, fui diariamente, durante uma semana, ao Hospital dos Covões, uma das unidades do Centro Hospitalar de Coimbra.
Não foi a primeira vez que entrei na ala dos internamentos, mas foi a primeira vez que reparei nos revestimentos azulejares do interior do edifício.


Trata-se de azulejos monocromados, na maioria retangulares, que me surpreenderam pelos efeitos conseguidos através do mero jogo de contrastação das cores e forma de aplicação.
Para além do preto e branco, o efeito mais dramático, e do amarelo e branco, vi paredes com o mesmo efeito dos amarelos mas em azul, que não cheguei a fotografar,  podendo haver ainda outras cores e feitios.
Mas o que mais me impressionou foi o efeito conseguido nas zonas de escadas. Como é possível com um material tão simples obter tal efeito decorativo!!!


Imagem retirada de http://www.chc-imagiologia.org/index.php?option=com_content&view=article&id=90&Itemid=60


Está aqui bem patente o gosto Arte Deco, o que não surpreende se tivermos em atenção a época em que foi construído este edifício que deu início ao atual complexo hospitalar.
Efetivamente, tendo sido iniciado em 1918, decorria ainda a 1ª Guerra Mundial, com intenção de ali recolher e educar os órfãos dos soldados mortos nesse confronto, só veio a ser concluído em 1930, perdendo-se entretanto a razão de ser do objetivo inicial. Foi então convertido em hospital-sanatório para doentes tuberculosos do sexo masculino, representando na época o que havia de mais moderno, confortável e inovador em edifícios hospitalares do país.


Neste postal, que deve datar de finais dos anos 30, o hospital está identificado como Sanatório da Quinta dos Vales (Vales e Covões serão topónimos diferentes para designar a mesma caraterística do terreno?) mas também foi conhecido como Hospital Sanatório da Colónia Portuguesa do Brasil,  já que dessa comunidade de imigrantes no Brasil se receberam avultados donativos para obras de assistência em Portugal, nomeadamente para esta.   



9 comentários:

  1. Não tive tempo, nem cabeça, para verificar o revestimento azulejar deste hospital, mas este edifício está, no meu espírito, tristemente associado a doença de familiares muito próximos.
    Sempre o lembro como local de correrias para as urgências, as horas infinitas passadas em espera, por vezes cheias de agonia, idas de Lisboa à pressa sem saber o que se passava; tratamentos, e mais tratamentos que, alguns, eram misturados com mal estar e sofrimento.
    Foi aqui que se iniciou a fase pior da doença mental da minha mãe.
    Se puder, não quero saber nada mais deste hospital de tão má memória, e nem cabeça tive para ver estes revestimentos!
    Neste momento prefiro só vê-los no seu blog, e constatar que até não são feios de todo
    Manel

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    1. Pois é, Manel, estes locais estão sempre ligados a sofrimento de doentes e de familiares.
      Para aqui são encaminhados os doentes das localidades a sul de Coimbra, por isso compreende-se que a sua mãe lá tenha estado e que o Manel também tenha sofrido ali horas de aflição e agonia.
      Eu desta vez tive tempo para apreciar os azulejos porque passava lá muito tempo e,já depois dos dias do grande susto, muitas vezes tinha que sair do quarto para deixar entrar visitas e não haver acumulação de pessoas junto do doente.
      Agora tenho pena de não ter explorado mais o interior do edifício, talvez tivesse encontrado mais motivos de interesse deste género.
      Lamento ter-lhe feito reviver momentos difíceis.
      Um abraço

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  2. Cara Maria
    Muito sugestivo o seu post sobre os painéis de azulejo mais modernos, que vivem do cromatismo bicolor, neste caso branco e negro e da disposição ziguezagueante que acompanha o movimento da escadaria. A composição geométrica, tendo por base azulejos lisos de cores contrastantes, forma uma solução dinâmica que se adapta perfeitamente à estrutura do local para onde foi concebida.
    Estas aplicações azulejares mais modernas podem, também, ser vistas e apreciadas externamente. Em Lisboa, são exemplos, dessas novas tendências, entre outros, os painéis da ceramista Maria Keil e Abel Manta.
    Cumprimentos.
    if

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    1. Olá If,
      Realmente, do pouco que sei sobre o assunto, apercebo-me que esta tendência para as linhas geométricas em azulejaria se manteve nas décadas seguintes, particularmente com o Modernismo, mas não conheço outros painéis em que os efeitos sejam conseguidos com azulejos lisos.
      Dos dois artistas que mencionou, tenho presente, da Maria Keil, o grande painel da Av. Infante Santo e o revestimento das estações do Metro de Lisboa, mas sei que a sua obra é vasta e está também espalhada por edifícios particulares; do João Abel Manta, o que me ocorre em primeiro lugar da sua obra azulejar são os magníficos painéis dos jardins da Associação Académica de Coimbra.
      Muito obrigada por ter para aqui trazido estes dois nomes incontornáveis da arte portuguesa do séc. XX.
      Um abraço e bom fim de semana

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  3. Realmente os azulejos são espectaculares. Seria interessante averiguar o autor ou a Fábrica que os executou. Eu gostaria de ter uma casa-de-banho forrada com esses azulejos art deco.

    Apesar de sinistros, os hospitais portugueses tem interiores surpreendentes. São José, em Lisboa, onde os doentes são tratados ao pontapé tem uma azulejaria do Século XVIII de cortar a respiração e uma igreja luxuosa, que mais não é do que a Sacristia do antigo templo que ruiu com o Terramoto.

    Obrigado por nos ter mostrado uma azulejaria com um efeito visual tão dinâmico.

    Abraços

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    1. É verdade, Luís, que há muitos tesouros semi-escondidos no interior dos nossos edifícios mais antigos e quantos não perdemos com o Terramoto!
      Não conheço o hospital de S. José, aliás só conheço os hospitais de Coimbra e felizmente a experiência que tenho aqui quanto a atendimento, particularmente neste Hospital dos Covões, é muito positiva.
      Não deve ser fácil saber quem fabricou estes azulejos, mas o nome do arquiteto - que certamente desenhou a forma de aplicação - já não me parece difícil de conseguir e vou tentar saber.
      Tenha um bom domingo.
      Um abraço

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  4. Dear Maria Andrade,
    the tiles look interesting. Great work that looks good and is a need for hygienic standard. But the staircase is really amazing for its dynamic. Thank you for sharing.
    best greetings, Johanna + your special friend Wiskicat

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  5. Cara Maria,
    Os efeitos decorativos obtidos pela simples composição geométrica conseguida apenas com a utilização de azulejos monócromos são surpreendentes. O exemplo que tão bem ilustrou será dos mais momunentais e elegantes. Conhecemos algumas entradas de edifícios dos anos 30 aqui por Lisboa com essa mesma solução decorativa, sobretudo com azulejos Lusitânia, mas cuja escala não tem comparação possível. Pena que seja um hospital, dado trazer quase sempre recordações menos alegres.
    Bjs

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  6. Olá AM-JMV,
    Gostei muito de ter aqui a vossa opinião, já que estão muito atentos a estas linhas e soluções estéticas.
    Também me pareceu um exemplo notável, mas não conheço outros edifícios deste tipo e época e por isso admitia que houvesse igual ou melhor aí por Lisboa.
    Sendo assim, com este vosso testemunho, mais satisfeita fico por ter dedicado um post a estes azulejos.
    Beijos

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