sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Os últimos cogumelos deste Outono


Cogumelos de choupo no Parque da Curia

Com o Outono mesmo a chegar ao fim, ainda este ano aqui não tinha falado de cogumelos silvestres, os deliciosos frutos desta época, com que a caprichosa natureza nos vai brindando todos os anos.
A verdade é que só no mês de Outubro consegui fazer uma recolha significativa, ao cumprir-se, mais uma vez, a regra empiricamente conhecida: cinco dias após fortes chuvadas logo começaram a romper os botõezinhos que se desenvolvem nos saborosos macrofungos silvestres.



O cogumelo de choupo, o Agrocybe aegirita,  que se vê nas fotos acima,  não se faz rogado e logo brota em tufos, nos troncos e raizes superficiais dos choupos mais velhos.
Mas também dos primeiros a aparecer são os da espécie Agaricus, como o Agaricus campestris, branquinho e de lâminas rosadas, parente muito próximo do champignon de Paris. O que se vê na foto seguinte é da família, mas um Agaricus augustus ainda jovem, vindo a ficar do tamanho dos Portobello ou ainda maior. Já apresenta as caraterísticas escamas acastanhadas que o podem identificar entre outros agaricos.
Entretanto, até ao início de Novembro, ainda apanhei mais uma ou outra espécie, mas a partir daí, com o tempo seco que se fez sentir, não voltei a apanhar cogumelos, nem sequer os Lactarius deliciosus ou sanchas que costumam aparecer em abundância.

Um solitário Agaricus augustus

A novidade que quero aqui trazer este ano, os últimos cogumelos deste Outono, são os famosos míscaros amarelos, o nome popular dado aqui na zona centro ao Tricholoma equestre. É a espécie mais procurada nos pinhais de areia das zonas mais à beira-mar, há  famílias que se deslocam regularmente ao fim de semana para a apanha e encontra-se à venda nos mercados das pequenas cidades, assim como em lojas da Baixinha em Coimbra.


Tricholoma equestris com a areia dos pinhais

Embora cá em casa sejam muito apreciados, não faço questão de os ir apanhar ou mesmo comprar porque, como já aqui disse noutro poste sobre cogumelos, estão sob suspeita de provocarem efeitos nocivos no organismo a longo prazo, havendo países onde está proibida a apanha. Já tenho dito isto a muita gente, mas o consumo está aqui tão enraizado que ninguém me dá ouvidos. Temos sempre quem nos ofereça uns bons exemplares e não os rejeitamos, uma refeição ou duas por ano não deve fazer grande mal, mas há pessoas que os consomem nesta época com alguma regularidade e ainda os congelam para todo o ano...
Este ano, um casal conhecido que é entusiasta na apanha, reservando até uns dias de férias para esta altura, sabendo do nosso gosto, presenteou-nos com uma generosa quantidade destes míscaros, que fotografei antes de arranjados, mas foram a seguir fazer companhia a pequenos nacos de carne na preparação de um delicioso arroz de míscaros.


Já agora, devia também ter fotografado o resultado gastronómico final, mas isso, sinceramente, é que já não me ocorreu...  ; )

14 comentários:

  1. Linda postagem. uma amiga da Suíça me presenteia com cogumelos secos quando vem aqui pra Salvador. Vou comendo aos poucos, regrando pra não acabar. Deliciosos! No Brasil nascem pelo sul que é mais frio. Voltando às amostras de pano cruz: uma irmã de meu pai me contou que a Edésia era uma senhora vizinha que costurava e que,inclusive, a ensinou a costurar na máquina. Uma filha de Edésia foi madrinha da irmã mais velha de meu pai nascida em 1927...Imagino que o pano foi feito por Edésia quando mocinha...aquele pano tem cara de ser bem antigo.É isso. Coisinhas e detalhes que fico remoendo tentando chegar a uma conclusão. Quem mandou eu gostar de velharias? Eu que sofra a decifrar! Abraços.

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    1. Olá Jorge Santori,
      Os cogumelos dão em geral boas fotografias e acordam deliciosas memórias gustativas. Sabe de que espécie são esses que recebe da Suiça? Talvez boletos, os maravilhosos boletos!
      Ainda bem que conseguiu descortinar mais alguma informação sobre um dos seus panos bordados de ponto de cruz. É sempre interessante saber a história destes objetos, ou seja, das mãos que os executaram...
      Obrigada por mais esta partilha. Um abraço

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  2. Já vi que é mais uma área em que a Maria é especialista. Eu sou um ignorante, embora goste muito de cogumelos.
    Um bom e tranquilo Natal!

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    1. Olá APS,
      O tema cogumelos é um desvio anual aos temas habituais deste blogue, um “odd one” que faço questão de manter.
      E como gosta de provérbios, deixo-lhe aqui um provérbio transmontano, da zona de Mogadouro:
      “Míscaros de sementeira, mete-os na algibeira.
      Míscaros da decrua , atira com eles à rua.”
      A decrua é a lavra primaveril, querendo aqui significar que em épocas mais quentes, os cogumelos enchem-se de larvas e já não prestam.
      Mais uma vez, Boas Festas!

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    2. "Decrua" vai-me ficar na memória, porque é uma palavra que desconhecia, mas acho muito sugestiva. E muito grato lhe fico pelos provérbios, que ignorava.
      Um óptimo fim-de-semana!

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    3. Encontrei este provérbio e outras curiosidades de etnomicologia no livro "Cogumelos" de Francisco Xavier Martins, Mirandela 2004.
      Um bom domingo!

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  3. Então até os míscaros são nocivos???? Aí a minha vida! Então aquele arrozinho de míscaros não vale? Não há direito!
    Mas também os como tão pouco e dão tanto trabalho a arranjar que raro os como, mas que constituem um pitéu, lá isso é verdade.
    Mas ficarei de sobreaviso! Ainda bem que informou sobre este efeito.
    Quando comer algum terei de levar em conta o que aqui referiu.
    Um bom ano para todos vós, e que o Natal seja doce e movimentado, com um bando de criancinhas à volta (ainda não é um bando, mas ... a seu tempo!!).
    Manel

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    1. Manel, enquanto esperamos que chegue o novo elemento da família, tudo dentro da normalidade, mais uma vez nos calhou ter um Natal pouco tranquilo, a caminho do hospital... Numa família de quatro gerações, temos tido destes percalços e sustos inesperados por conta dos mais velhos. Mas as coisas estão a compor-se, felizmente, e a única criancinha por enquanto presente, bem se encarregou de alegrar o ambiente...
      Quanto ao arrozinho de míscaros, penso que não haverá problema se continuar a apreciá-lo, mesmo dando muito trabalho a limpeza prévia dos ditos... mas só uma ou duas vezes por ano! ;)
      Votos de um resto de semana de descanso em boa companhia.
      Um abraço

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  4. Eu já tive o prazer de provar cogumelos preparados por si e garanto aos leitores deste blog, que os conhecimentos teóricos da Maria Andrade sobre estes simpáticos fungos são completados por uma excelente prática culinária.

    Bjos

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    1. Luís, quando a matéria-prima é boa, não é difícil os resultados sairem bem... Mas gostei de saber que apreciou os meus cogumelos de choupo!
      Beijos

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    1. Muito obrigada, caro Ricardo Ferreira.
      Retribuo-lhe os votos de Natal Feliz e desejo-lhe tudo de bom para 2014.

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  6. Maria Andrade
    Espero que todos os problemas de saúde se tenham resolvido e que tudo corra pelo melhor. Quanto aos cogumelos e acreditando piamente no que diz o Luís, não me devo pronunciar:) lol! Mas agora falando a sério, também já tinha ouvido falar sobre essa suspeita de que algumas espécies de cogumelos até aqui inofensivos se estão a tornar tóxicos e que parece haver uma relação entre isto e a contaminação dos solos por algumas matérias poluentes. Todo o cuidado é pouco :)
    Continuação de Boas Festas e que ano de 2014 a presenteie a si e família com tudo o que de bom houver. Que a sua netinha nasça numa boa hora e que ao Gabriel, a vida continue a sorrir rodeado do carinho de toda a família.
    Beijinhos

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    1. Obrigada, Maria Paula. Felizmente há melhoras, sim, e já estamos juntos de novo em casa.
      Em relação à toxicidade dos cogumelos, há que recear sobretudo as intoxicações agudas e aprender a conhecer bem as espécies mais perigosas. Depois há alguns que podem causar ligeiras indisposições em algumas pessoas, mas isso nunca me aconteceu. Essa ideia de algumas espécies terem sido inofensivas mas se estarem a tornar tóxicas é que me custa a aceitar. Não me parece que a mudança tenha sido nas espécies em si, mas antes no conhecimento que se tem sobre elas e sobre os efeitos que provocam a curto ou a longo prazo.
      Retribuo-lhe os simpáticos votos para o ano de 2014, mesmo sem meninos pequeninos a alegrarem a cena por aí...
      Um beijinho

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