segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Terrinas de faiança: Vilar de Mouros ou Alcobaça?...ou Coimbra?



Surgem por vezes, nas feiras de velharias, peças de faiança com um motivo de casa de montanha com arvoredo que são generalizadamente atribuídas a Vilar de Mouros.
Estas são desse tipo, mas o tom de azul plúmbeo que ostentam, o brilho do vidrado e alguns pormenores decorativos sugerem-me  fabrico da zona centro, séc. XIX/XX. Com efeito, vê-se em ambas as peças, não só um edifício ladeado de árvores, com parte da pintura a esponjados, mas também motivos geométricos tais como séries de linhas paralelas e, no segundo caso, quadriculados. As linhas paralelas, a formar losango, aparecem nas duas terrinas por baixo de cada pega.




A segunda terrina parece-me mais uma versão do chamado cantão popular com o edifício em forma de pagode, uma ponte à frente e uma figura do lado direito que parece segurar um guarda-sol.
Fundamentando-me no roteiro de uma exposição, realizada em 1992, no Museu de Alcobaça, diria que os tons de azul e os esponjados são de Alcobaça, fabrico de José dos Reis.




A imagem da capa apresenta o motivo da travessa que se mostra mais abaixo e que , tal como o prato, é  atribuída a José dos Reis. Se atentarmos no prato, vemos  algumas linhas paralelas a formar o céu com nuvens.  Mas essas linhas, assim como o quadriculado,  também aparecem na faiança decorada com o cantão popular, sobretudo nas peças da zona centro, nomeadamente Aveiro.
Por outro lado, não nos podemos esquecer que, ainda segundo aquele roteiro, José dos Reis era natural de Coimbra, tendo-se estabelecido em Alcobaça em 1875, à procura de maior facilidade de colocação dos seus produtos.
Será Coimbra o centro cerâmico de onde irradiaram todas estas formas? A verdade é que há quem mencione Coimbra como local de origem destas terrinas, dizendo que eram usadas para servir os estudantes nas casas onde se alojavam.
Estas duas foram compradas em dias consecutivos, uma na feira de Coimbra e a outra na feira de Aveiro, porque não conseguimos resistir à segunda que, por não ter tampa, foi baratíssima.
Não posso deixar de mostrar aqui um prato que vi num leilão da net, atribuído aVilar de Mouros. Parece-me ter um carácter mais minhoto, talvez pela cor garrida do verde - também já vi peças parecidas em rosa forte - pelo que podia ter sido feito no Alto Minho.


No entanto, a pintura a pinceladas fortes, tipo esponjados e sobretudo a borda estampilhada, fazem-no diferir muito dos exemplares apresentados por Artur de Sandão na sua obra de referência, Faiança Portuguesa, na página 168 do segundo volume.

8 comentários:

  1. Olá Maria Andrade
    Parabéns pelo seu blog, é espectacular!
    Adoro em particular estes estampados esponjados com casario e bandeirolas, nem a propósito também vi este prato verde que diz o vendedor ser de Vilar de Mouros, não fosse caro tinha-o arrematado
    Sei que Vilar de Mouros popularizou o motivo de casario, no entanto para mim há muito e mantenho até versão em contrário, que este prato muito pelas bandeirolas ter origem numa olaria Coimbrã, também pela cor, o verde é uma das 4 cores de base de Coimbra do século XXVIII, ao tempo do Brioso ( ocre, manganês, verde e azul)
    Analisei o verso do prato e parece-me mais perfeita a textura da massa o que indicia ser Coimbra e não atribuição a Vilar de Mouros, uma olaria mais grosseira, pelas peças que tenho visto, porém poderei estar redondamente enganada
    Tenho um pratão seculo XX com uma casa e bandeirolas sem marca que tudo indica ser de uma das muitas fábricas de Aveiro pelas muitas semelhanças a outros da época no rebordo
    Pena que ainda não aprendi como colocar no post fotos como fez com este prato, só sei colocar fotos que tenho no PC

    Beijos
    Isabel

    ResponderEliminar
  2. Olá M. Isabel,
    Obrigada pelo seu caloroso comentário.
    Nisto das novas tecnologias nunca dominamos a cena toda. Eu, por exemplo, quando me fiz seguidora do seu blogue e dos outros dois, não consegui colocar a minha fotografia. Agora, é a 3ª x q escrevo este comentário porq tento usar outro perfil q não "anónimo", não tenho conseguido e perco o q escrevi.
    Andei uma semana a fazer experiências com o meu blogue, a descobrir definições e funcionalidades e só agora é q o dei a conhecer. Também quis ter um post sobre faiança portuguesa para ir ao encontro das sua preferências e das do Luís Montalvão. Espero não ter defraudado as vossas expectativas, se é q tiveram algumas.
    Bjs.
    Maria A.

    ResponderEliminar
  3. Cara Maria Andrade

    Acerca da primeira terrina, tenho uma travessa com esse motivo dito de "Vilar de Mouros" e confesso que essa atribuição nunca me convenceu.

    Os antiquários chamam a esse motivo "Vilar de Mouros" como chamam ao Cantão popular “Miragaia”, baseados em sabe-se-lá que equívoco. Escrevi a esse propósito um post http://velhariasdoluis.blogspot.com/2009/11/faianca-de-vilar-de-mouros.html e confesso que nunca consegui concluír nada acerda do seu fabricante, tirando a fonte em que lhe serviu de inspiração, que me parece que terá sido o padrão "roselle", da JOHN MEIR & SON.

    Tenho a ideia, que muitas vezes poderá ter havido várias fábricas a produzir o mesmo motivo, em cidades distintas do País, como aconteceu no Século XVIII com o motivo da flor de morangueiro, ou no Século XIX com o Cantão Popular, mas é tudo impressões baseadas em intuições, que não provam nada.

    A segunda terrina, parece mais Alcobaça, mas…se amanhã me dissesem que é Coimbra ou Aveiro…terei que engolir a minha opinião a seco...

    Em todo o caso, independentemente do fabricante, as terrinas são bonitas e é importante irmos apresentado estas peças que temos e tentar alguma sistematização, fruto das nossas leituras e intuições.
    ´
    Abraços e parabéns pelo blog

    ResponderEliminar
  4. Olá Maria Andrade
    Irresistível não voltar para dizer que desde o seu primeiro comentário que criei altas expectativas sobre o seu bom gosto e profundo conhecimento, nessa altura conheci o Luís pessoalmente, foi inclusive mote de conversa, lembro-me que lhe disse, temos agora a Maria Andrade o seu texto é suave,adorável sentir o seu fino conhecimento, explora catálogos , tanta empatia, algo me diz que é do centro lá das minhas bandas...ele claro corroborou a minha tese, e ainda acrescentou, é muito boa sim, gosto também muito...( seguramente não foram assim estas as palavras, eu dou sempre um jeito de alterar...é que estava um pouco nervosa, afinal estava ali depois de um ano de conhecimento virtual...desculpas...ele é um gentilmen, erudito, curtíssimo, fala baixinho, educadissimo...
    Beijos
    Isabel

    ResponderEliminar
  5. Ola D. Maria Andrade,

    depois de ver o link do seu blog num comentario seu no blog do Luis vim dar uma vista de olhos e já estou fã e seguidora, para ficar bem atenta a tudo o que escreve e mostra. Tenho visto a sua participação nos blogs da Isabel e do Luis e tambem eu gosto muito da maneira como escreve.
    Seja muito bem vinda a "Blogosfera" e muita força e muita vontade para nos continuar a brindar com peças lindas como estas.

    Um abraço,

    Marília Marques

    ResponderEliminar
  6. Olá Marília,
    Obrigada pelas suas palavras de incentivo.
    Só me parece q esse tratamento de D. não cabe aqui na blogosfera.
    Também já tenho espreitado o seu blogue e vou continuar a fazê-lo como seguidora pois já lá encontrei peças bonitas e interessantes.
    Um abraço,
    Maria A.

    ResponderEliminar
  7. Olhe, Marília, acho q já fiz confusão. O seu blogue não é "As coisas de que eu Gosto"?. Com tanta novidade neste mundo de bloggers, já não sei quem é quem. Desculpe.
    Esclareça-me por favor.
    Maria A.

    ResponderEliminar
  8. Afinal já sei qual é o seu blogue. É o "Armazém de Velharias" e era a esse q me estava a referir embora com confusão no nome. Mostra muitas peças de faiança e porcelana e já tenho por lá andado.
    Um abraço,
    Maria A.

    ResponderEliminar