domingo, 3 de outubro de 2010

Azulejos Delft de figura avulsa.


Este é o único exemplar que possuo destes azulejos holandeses que acho encantadores. É do tipo cenas bíblicas, facilmente identificáveis por aparecer Jesus Cristo ou  outras figuras sagradas com auréola à volta da cabeça. Estas cenas tinham todas nome, Fuga para o Egipto, O jardim das oliveiras, A Anunciação e dezenas de outras, mas para identificar algumas menos óbvias, caso da minha, é necessário conhecer códigos que os meus escassos conhecimentos nesta área não me permitem dominar. Para além da cena central, tem um motivo decorativo em cada canto que permitia dar alguma uniformidade à composição de azulejos num revestimento com cenas muito variadas.
Comprei-o por dois ou três euros, aqui perto de casa, num armazém de venda de móveis usados que vinham do estrangeiro, de onde também traziam outros artigos de recheios de habitações. Estava ali, sozinho, sem moldura, em cima de um móvel, e eu nem sabia  se era um verdadeiro azulejo Delft mas quis logo trazê-lo para casa. Só depois de fazer alguma investigação e de ver outros exemplares, soube realmente que era autêntico.
A melhor coleção portuguesa deste tipo de azulejos encontra-se na Figueira da Foz, na Casa do Paço. Trata-se de um edifício mandado construir no final do Séc. XVII pelo bispo de Coimbra D. João de Melo, mas só terminado na primeira década do séc. XVIII.
Apresenta várias salas com silhares de azulejos, destes de figura avulsa chamados de Delft, embora houvesse outros centros de produção de azulejos na Holanda.
 No país de origem, eram usados para revestir por completo fogões de sala, mas também, nalgumas regiões, revestiam sala e cozinha do chão ao teto. Aqui, na Figueira, foram aplicados à portuguesa, isto é, a formar silhares que revestem paredes de salas até mais ou menos um terço da sua altura, com uma borda de azulejos diferentes a terminar. A solução aqui encontrada foi muito engenhosa: como havia azulejos de três tipos - cenas campestres, cenas bíblicas e cavaleiros e mouros -  e em duas cores sobre o branco - azul e vinoso de manganês -  foram alternando os motivos e cores para obter o efeito pretendido.




Curiosamente, nesta coleção de cerca de 7000 exemplares, os azulejos de cenas bíblicas são a manganês e não a azul como o meu. Foram aplicados numa sala mais pequena que se pensa ter servido de capela.
Acredita-se que todos estes azulejos terão chegado à Figueira, não por encomenda, mas graças ao aproveitamento da carga de um navio holandês, naufragado junto à foz do Mondego, à época da construção do Paço.
O local neste momento só é visitável mediante contacto com os serviços de cultura da Câmara Municipal da Figueira da Foz.

3 comentários:

  1. Mais um sítio para eu visitar.

    Se eu tivesse tempo para visitar tudo aquilo que me falta ver...

    Seja como for gostei da sua explicação e da história de como os azulejos chegaram à Figueira

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  2. Maria A.
    Perdi o comentário...
    Dizia eu que conheço sobejamente a Figueira da Foz desde criança, lá ia a banhos todos os anos. Mais tarde a minha mãe lá comprou um andar, lá passei férias e Natais, agora rentabilizou-o.
    Conheço o paço, adoro no r/c no BCP as elegantes cúpulas de tijoleira, no 1º andar entrei uma vez, havia uma exposição e apreciei os azulejos.
    Claro que agora fiquei mais rica em saber a sua origem, até a denominação Delft desconhecia
    Beijos
    Isabel

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  3. Caros Luís e Isabel
    O q acontece comigo e provavelmente convosco, em maior ou menor grau, é q quando gosto de um objecto e o trago pra casa, mesmo q já soubesse alguma coisa sobre ele, procuro saber o máximo, em livros, museus, internet,... Os vários programas de antiguidades da BBC também me têm ajudado muito, sobre artigos não portugueses, claro.
    Os conhecimentos sobre a faiança e os azulejos Delft vieram-me por essa via. E também há o Delft inglês, faiança inglesa dos Séc. XVII e XVIII a q por analogia deram este nome. Até tenho dúvidas se o meu azulejo Delft é inglês ou holandês.
    Enfim, é um mundo de conhecimentos e de histórias q acho fascinante e q agora posso partilhar convosco.
    Abraços
    Maria A.

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