Trata-se do primeiro volume de uma compilação de óperas, que se representavam, segundo informação da folha de rosto, nos teatros do Bairro Alto e da Mouraria em meados do séc. XVIII. Este contem quatro peças e foi editado na oficina de Luis de Moraes que se situava na Praça da Palha. Não sei se o topónimo ainda existe, mas à época esta praça ficava entre a Rua da Prata e a Rua dos Correeiros.
Tinha a anotação de "raro" numa das guardas, mas como não foi caro, 15 ou 20 euros, apesar de estar marcado por mais, não achei essa informação muito credível. É certo que tinha alguns picos de traça e muitas manchas no papel,mas nada que afectasse o texto.
Há cerca de um ano, fiz uma pequena investigação na internet para encontrar mais informação sobre o livro e sobre esses teatros do Bairro Alto e da Mouraria e encontrei logo uma página, intitulada Caravelas, nome dado ao Núcleo de Estudos da História da Música Luso-Brasileira que me deu toda a informação que eu pretendia e ainda mais.
Trata-se de um núcleo de estudos da Universidade Nova de Lisboa, na área da musicologia, que tem feito o levantamento não só da música mas também do teatro musicado em Portugal e no Brasil.
O nome do coordenador, David Cranmer, era-me muito familiar, mas como eu só o conhecia como professor do British Council que por vezes fazia comunicações e workshops nos Congressos da APPI, sobre a utilização da música nas aulas de línguas estrangeiras, julguei que se tratava de outro David Cranmer, talvez um brasileiro com um nome inglês, já que o estudo abrangia Portugal e Brasil. Mais uma pequena investigação e descobri que era mesmo o David Cranmer que eu tinha conhecido uns anos antes, mas que tinha um mestrado em Musicologia tirado no King's College de Londres e era agora professor na Universidade Católica Portuguesa e na Universidade Nova de Lisboa, investigando sobre música portuguesa antiga. A sua tese de doutoramento intitula-se A ópera em Portugal 1793-1828: um estudo em repertório e a sua divulgação.
Encontrei no site Caravelas informação sobre as várias edições deste livro e percebi então que era efetivamente raro. Da minha edição, de 1751, apenas se conhecem um exemplar completo, tomos I e II, na Biblioteca Britânica e dois exemplares do tomo I, respetivamente na Biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e numa biblioteca de Mafra. Contactei o David Cranmer por e-mail a dar-lhe conta da existência do meu exemplar, respondendo ao apelo que ele tinha feito no site, no sentido de se conhecerem outros exemplares das várias edições, e agora passou a haver conhecimento de três existências do primeiro volume desta edição.
São estas descobertas que nos dão o prazer enorme de calcorrear feiras de velharias, de visitar lojas de antiguidades e ir adquirindo objectos que por vezes contam histórias interessantíssimas.
Faltou-me aqui uma referência ao nosso grande dramaturgo do séc. XVIII, António José da Silva, o Judeu, morto às mãos da tenebrosa Inquisição em Auto-de-Fé em 1739.
É certo que não são da sua autoria as quatro óperas deste volume, mas as primeiras compilações com o título Theatro Comico Portuguez, cuja primeira edição data de 1744, incluiam oito peças suas muito conhecidas e representadas à época , destacando-se as famosas Guerras de Alecrim e Manjerona.
Faltou-me aqui uma referência ao nosso grande dramaturgo do séc. XVIII, António José da Silva, o Judeu, morto às mãos da tenebrosa Inquisição em Auto-de-Fé em 1739.
É certo que não são da sua autoria as quatro óperas deste volume, mas as primeiras compilações com o título Theatro Comico Portuguez, cuja primeira edição data de 1744, incluiam oito peças suas muito conhecidas e representadas à época , destacando-se as famosas Guerras de Alecrim e Manjerona.
Cara Maria Andrade
ResponderEliminarObrigado por nos contar as suas peregrinações solitárias pela história dos velhos livros que comprou. Ainda bem que alguém lhes liga alguma coisa.
Eu como sou um bocadinho olisipógrafo, fiquei com a orelha levantada com a referência à Praça da Palha. Esta praça com um nome tão pitoresco saia da célebre Rua da Betesga e desapareceu com a reconstrução pombalina. Em seu lugar foi construído o quarteirão delimitado a norte pela Praça da Figueira e a oeste e a leste pela rua dos Correiros e pela Rua da Prata, respectivamente. Parece que na primeira metade do século XX, entre os mais velhos ainda existia a memória do topónimo e a Rua dos Correiros era designada muitas vezes por travessa da Palha
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