A divulgação feita pelo LuisY, no Velharias, da dissertação de mestrado da FLUP: A Fábrica de Louça de Santo António de Vale de Piedade, em Gaia: arquitetura, espaços e produção semi-industrial oitocentista, da autoria de Laura Sousa, foi uma porta aberta a muitas tentativas de identificação de faiança não marcada com caraterísticas nortenhas.
Passei a olhar para muitas das peças de faiança que me rodeiam, em azul e branco ou em policromia, à luz das fotos que aparecem publicadas, procurando motivos, pormenores de cercaduras, formatos...
Assim, foi-me possível, por exemplo, a atribuição deste singelo pires de faiança a fabrico de SAVP, por comparação estilística com fragmentos de pratos e chávenas encontrados no levantamento arqueológico realizado no sítio da antiga fábrica, fotografados e publicados na referida obra.
Pormenor de fotografia publicada na página 129 do volume III que mostra um pires da FSAVP |
Não foi tanto a paisagem central do pires, aparentada com os motivos de Cantão Popular tão presentes na nossa faiança nortenha, a dar o clique para a atribuição, mas antes a cercadura, com aquelas volutas ou arabescos franjados, que não conhecia de outros fabricos.
Tardoz do pires |
Com o mesmo motivo destas peças e a mesma cercadura, encontrei num leilão da internet esta belíssima terrina, já vendida :( e, como seria de esperar, apresentada como Miragaia. É sem dúvida o motivo referido por Laura Sousa, como o subtipo 2.2 da louça azul e branca Cantão Popular, que aparece em vários fragmentos do levantamento arqueológico por ela dirigido.
Terrina apresentada como Miragaia em Imagens Raras |
O motivo principal da terrina |
O motivo central do meu pires |
Mas não é só este pires que tenho agora como fabrico SAVP.
Ao "folhear" online a obra de Laura Sousa, encontrei fotografado um galheteiro igual a um exemplar meu que já aqui mostrei, com as caraterísticas "flores de Miragaia". A autora admite que seja de Santo António de Vale da Piedade, não só pela decoração, mas também pelo formato da concha para o sal ou especiarias, já que foram encontrados fragmentos de conchas com este formato e decoração.
Uma das curiosidades interessantes que encontrei na obra, foi a listagem no volume III das formas produzidas pela fábrica entre 1795 e 1877. Dela constam nomes de objetos que já dificilmente reconhecemos, por exemplo, o nome de "talher" dado aos galheteiros. Na listagem por ordem alfabética aparecem na página 102 os termos "talher de concha" e "talher de grade" . Depreendo que os galheteiros de grade fossem do tipo em que as galhetas encaixam numa base vazada, como os exemplares que apresentei num poste de Julho de 2013. Os de concha seriam precisamente deste tipo que está na foto, com o recipiente frontal em forma de concha. Em 1877 ainda se fabricavam ambos os modelos com decoração de "fino azul".
Uma outra curiosidade interessante para mim foi o "Arte, livros e velharias" constar na lista bibliográfica desta dissertação de Laura Sousa, a propósito de uma marca da fábrica de Santo António que aqui apareceu num dos postes sobre a mesma. É muito bom saber que o blogue já teve alguma utilidade para o estudo da faiança portuguesa, graças às partilhas e aos contributos de seguidores e amigos.
Uma outra curiosidade interessante para mim foi o "Arte, livros e velharias" constar na lista bibliográfica desta dissertação de Laura Sousa, a propósito de uma marca da fábrica de Santo António que aqui apareceu num dos postes sobre a mesma. É muito bom saber que o blogue já teve alguma utilidade para o estudo da faiança portuguesa, graças às partilhas e aos contributos de seguidores e amigos.
Voltando à primeira peça, afinal não tenho um pires igual à bela chávena policromada do Luis, comprovadamente de fabrico SAVP, mas tenho um pires que lhe é atribuível :)) e encontrar a provável maternidade de qualquer peça antiga é sempre uma satisfação, por mais pequena ou insignificante que possa parecer.
Miragaia tem um tal charme que faz com que as pessoas queiram à viva força possuir peças desta fábrica mítica.
ResponderEliminarEu não sou exceção, claro, mas, na realidade, de Miragaia, e certificada, só tenho uma única peça, com possibilidade de ter mais, mas com um monte de pontos de interrogação para estas.
Este trabalho feito pela investigadora Laura Sousa é fantástico e sem fim.
Deve ter passado horas e horas a dividir e subdividir cacaria, depois de ter andado outras tantas horas a apanhá-los, aos cacos!
Como eu teria adorado fazer este trabalho, deve ser fascinante, ainda que fastidioso e muito complicado para estabelecer as regras que permitem proceder a esta subdivisão.
Mas é desta forma que as coisas se resolvem com rigor e correção, neste mundo da cerâmica, em vez de irmos todos às bruxas que pululam nas nossas feiras, e que só de olharem uma peça ... pensam um bocadinho (talvez nem pensem!) e atiram logo com uma origem ... certificada e atestada!!!!
Já está! Está atestada pelos poderes parapsicológicos de adivinhação que esta gente tem, mas que parece que não calharam a mais ninguém!
Mas assim ficou com mais uma certeza na atribuição desta sua peça.
Olhando para as caixas com cacos que a investigadora apresenta, creio que também já consegui perceber a filiação de uma ou outra peça que tenho, mas também penso que naquele caqueiro poderiam estar restos de cerâmicas de outras fábricas. É uma suposição, claro.
Os parabéns por estas peças reencontradas e que descubra mais, pois é sempre um prazer proceder a estas descobertas.
Oxalá se encontre melhor.
Um abraço
Manel
Manel, interrogo-me muitas vezes sobre a razão para o prestígio de Miragaia face às suas congéneres da mesma zona. Afinal Massarelos até começou primeiro e também fabricou com muita qualidade, Cavaquinho até inovou ao introduzir a pasta de pó de pedra, Santo António de Vale da Piedade com Jerónimo Rossi também se distinguiu ainda no séc. XVIII com peças de qualidade e depois inundou o Brasil com produção marcada... Mas a verdade é que o nome de Miragaia impôs-se mais do que os outros, pelo menos por cá, parece ser o único conhecido pelos vendedores de faiança...
EliminarA mim dá-me tanto prazer ter uma ou duas peças com marca de Miragaia como me daria ter uma peça marcada Santo António Porto, só que estas parecem-me mais difíceis de encontrar. É por isso que agora andamos a deitar o olho às fotografias da dissertação de Laura Sousa, cheios de interesse em descobrir afinidades com as nossas peças... o que até vai acontecendo, para nossa satisfação.
Também já me ocorreu que naqueles tanques da FSAVP que foram cheios de cacos de faiança pudesse haver fragmentos de outros fabricos, mas isso seria uma grande maldade que os deuses teriam feito às gerações futuras, sobretudo a todos nós que nos interessamos por faiança e gostamos de saber a sua origem! E não havia necessidade! :))
Obrigada, Manel, e tenha um bom resto de semana.
Um abraço
A ignorância sobre o assunto, cara Maria A., não permite dizer coisas de substância sobre os seus postes que, ambos (HMJ e eu), gostámos imenso de frequentar. Mas são, por outro lado, estimulantes.
ResponderEliminarAssim e no sítio do costume, a HMJ deixou-lhe uma dedicatória, com uma nossa peça de casa, já antiga.
Uma boa noite!
Dão-me muito prazer as suas visitas, APS, e gostei de saber que também a HMJ por aqui passa com agrado. A verdade é que deixa sempre palavras adequadas e cheias de incentivo, o que não é de somenos para quem escreve sobre estes assuntos e nem sempre tem o retorno esperado.
EliminarMuito obrigada pela dedicatória e uma boa noite também para si... aliás, para vós!
Maria Andrade
ResponderEliminarÉ sempre bom vê-la regressar a estas lides dos blogues, dos quais tem estado afastada. Eu também tenho postado menos, mas ando às voltas com um problema de heráldica, do brasão do solar de Outeiro Seco, que parece não ter ainda solução à vista.
A tese da Laura de Sousa veio dar um grande avanço ao conhecimento das faianças do Norte e é um texto que vale a pena ler e reler pela quantidade de informação recolhida e sistematizada. Eu imprimi-o, li-o, sublinhando e mesmo assim, houve coisas que me escaparam. Só fiquei com pena de a autora não ter apresentando ainda mais fotografias dos cacos exumados. Mas percebo, que a Senhora tinha um limite de páginas ou caracteres para a sua tese, que não podia ultrapassar.
É curioso que durante a leitura da obra também me lembrei deste Galheteiro, mas já não me lembrava se tinha sido mostrado por si se pela Ivete. É curioso que tínhamos tendência a atribuir unicamente estas florinhas a Miragaia e agora sabemos que Santo António também as fabricou.
A terrina é nitidamente igual aos cacos mostrados logo no início e julgo que o seu pratinho é também uma variante dessa decoração.
O facto de a Laura de Sousa a ter citado, demonstra claramente que vale a pena continuar a escrever o seu blog, mesmo que as circunstâncias da vida lhe sejam adversas.
Bjos
Luís, eu sei que este blogue merece ser continuado e não gostaria de pôr-lhe fim. O que acontece é que há dias em que se me torna penoso escrever, manter esta rotina, e quando pensava que estava a conseguir regressar a uma certa normalidade e dar um passo à frente ,como aconteceu em Janeiro, logo se seguiu um período de dificuldades e lá vão dois passos atrás...
EliminarMas isso não acontece só comigo, vejo pessoas do nosso círculo de blogues em ausências prolongadas, o que também acaba por afetar o grupo.
Voltando ao trabalho de Laura Sousa, foi realmente um grande contributo para o conhecimento das nossas faianças. Eu nunca estive muito convencida de que este galheteiro fosse de Miragaia, pus sempre a hipótese de ser de alguma das fábricas de Gaia e agora confirma-se que há grande probabilidade de ser FSAVP.
A Ivete também tem um galheteiro destes, daí a sua dúvida.
E continuo a achar que o pratinho tem a marca da casa naquela cercadura...
Beijos e uma boa semana.
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