terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Telhas de faiança em beirais de Coimbra

Ao andar mais atenta ao cimo dos prédios, em busca de elementos decorativos em cerâmica, graças ao repto lançado no blogue http://velhariasdoluis.blogspot.com/, descobri nesta casa da Rua da Sofia, em Coimbra, uma fiada de telhas de faiança pintada a formar o beiral. Na altura não levava máquina, por isso tive que lá voltar devidamente equipada. 


Elas aqui estão, magníficas, com um desenho muito bonito e uma cor estupenda.


Embora não seja muito cómodo e nos sujeitemos a levar uns encontrões, vale mesmo a pena andar a olhar para o ar, a descobrir maravilhas que passam despercebidas na correria do dia-a-dia.
Passei nesta casa centenas e centenas de vezes, desde os meus tempos de menina, mas nunca tal tinha visto! 


Entretanto, neste meu périplo de gargalo no ar pela Baixa de Coimbra, acabei por descobrir outro beiral com telhas bem decoradas, na Rua Ferreira Borges. Mais um sítio em que há muitos anos passo com frequência, sem nunca me ter dado conta desta pequena maravilha cerâmica.


Já era fim de tarde, estava com pressa e por isso não me saí muito bem nestas fotografias. Além disso, como a rua tem muito movimento, estava mesmo a ver quando alguma pessoa amiga ou conhecida me batia no ombro a perguntar o que estava ali a fazer naquela figura, se tinha pirado de vez. É que não é fácil arranjar ângulo para fotografar estes beirais, eu quase fazia um arco completo para trás, imagine-se a figura ridícula no meio da rua... Mas prometo voltar a fotografar este beiral e substituir as fotos.


Quando aparecem telhas destas à venda, em antiquários ou em leiloeiras, é-lhes atatribuído fabrico do Porto ou de Gaia. Efectivamente, atribui-se à Fábrica de Sto. António de Vale da Piedade o início da produção destes materiais, a meados do séc. XIX, exportando-se em grande quantidade para o Brasil, onde ainda hoje se podem encontrar beirais deste tipo.
As primeiras fotografias que tirei nesta tarde foram as que se seguem, de um beiral decorado, mas sem telhas pintadas.


Achei-o lindíssimo com um forro de madeira a que foram sobrepostos uns arabescos em ferro forjado pintados de branco.
Encima uma casa revestida a azulejos do séc. XIX e com muito ferro forjado nas varandas. Fica numa rua muito estreita da Baixinha de Coimbra, a Rua do Corvo, que sai do largo em frente à Igreja de Santa Cruz.


Aqui vê-se a data de construção do edifício, em cujo rés-do-chão fica uma loja muito antiga de tecidos, a Casa Coelho. O proprietário da loja e da casa veio falar comigo dizendo-me que o interior do prédio tinha acabamentos muito ricos em madeira, ele chamava-lhe um palácio, e que tinha pertencido a uma família de prestamistas que enriqueceu com esse negócio.
Quantos não estarão a enriquecer agora graças às dificuldades por que estão a passar muitas famílias de portugueses? Não os podemos criticar, estão apenas a aproveitar as oportunidades que outros criaram para eles...
Mas isso são outras conversas...
Voltando aos beirais decorados, eu vou continuar a andar atenta pelas ruas de Coimbra.

14 comentários:

  1. Maria Andrade
    Cá estou outra vez!
    Parabéns pelas lindas telhas que aqui nos mostra.
    São muito bonitas.Acho fabuloso o beiral decorado com madeira e ferro forjado.Uma conjugação, muito feliz.

    Sabe que também eu tenho andado de nariz no ar (isto já é vício), na esperança de encontrar telhas decoradas,e concluo que apesar do seu fabrico ser característico aqui do norte, é muito difícil encontra-las.
    Este fim de semana, andei por Ponte de Lima,que ainda conserva um núcleo urbano bem conservado, e não vi nem um beiral decorado. Impera o granito!
    É uma constatação um bocado precipitada, por isso, continuarei de nariz no ar...
    Bjs
    Maria Paula

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  2. Cara Maria Paula,
    Também prevejo q isto qualquer dia se torne um vício e ainda nos sujeitamos a algum acidente em plena via pública!!!
    Nesta tarde ainda fotografei mais belezas de cerâmica, ornamentos à vista de todos, mas completamente invisíveis para a maioria dos transeuntes citadinos.
    Desde painéis de azulejos, q nunca tinha visto, a pinhas e vasos de cerâmica, de tudo se encontra deambulando pela Baixa de Coimbra, mas também graças ao seu último post, estava mais interessada em mostrar os beirais, como lhe tinha prometido.
    Em Braga também deve haver muita coisa, não?
    Temos q continuar nesta missão encantadora de descobrir aspectos completamente novos das cidades q tão bem conhecemos.
    Abraços

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  3. Gostei imenso de acompanhar esse seu périplo pelas ruas de Coimbra com os olhos virados para os telhados, correndo o risco de esbarrar com os transeuntes. O risco valeu a pena pois as imagens são lindas e só demonstra como as nossas cidades estão cheias de coisas bonitas que não ligamos nada. Observar atentamente as ruas antigas das cidades portuguesas é sempre um exercício que nos revela surpresas.

    Estas telhas valiam só por si uma tese de mestrado na universidade ou uma belíssima publicação de arte

    Tenho pena que aqui na capital do Império não existam telhas assim bonitas

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  4. Sim, Luís, o q surpreende mais no meio disto tudo, é que estas peças de cerâmica estão ali há mais de cem anos, correspondem a um período histórico da produção de faiança em Portugal e nunca foram referenciadas por especialistas, q eu saiba, para já não falar no total desconhecimento por parte do cidadão comum. Como já disse, eu própria q gosto destas coisas, passei ali muitas centenas de vezes, sem nunca as ter visto. Dá q pensar...
    Não sei se há destas telhas em Lisboa, mas há casas com ornamentos cerâmicos no telhado, q eu já fotografei ao descer de Alfama para a zona de Santa Apolónia, e recantos belíssimos com azulejos onde menos se espera. Nesse campo o Luís tem aí "pano para mangas", haja tempo...
    Um abraço

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    1. Maria Andrade,
      A mesma sensação tenho eu, que moro e ando pelo Rio há 47 anos, e só muito recentemente, depois de ter sido impregnado de portucalidade, comecei a perceber como há azulejos e telhões pintados pela cidade!! Nós só vemos o que queremos ver, quando queremos ver. É impressionante como a nossa percepção é tão carregada de filtros e focos. Realmente dá o que pensar...
      b'jinhos

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  5. Eu que passo na R. da Sofia há anos, e nunca dei conta destes beirais.
    O nosso olhar está condicionado para o que se passa ao nosso nível, mais acima torna-se praticamente invísivel!
    E, por estes exemplos, e por muitos outros que estão espalhados pelas nossa paisagem construída, vale a pena estar atento.
    Os meus agradecimentos por me abrir os olhos para estas bonitas peças, que, doutra forma, passariam despercebidas.
    Manel

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  6. Então, Manel, agora já sabe, quando voltar a passar na Rua da Sofia em Coimbra, não se esqueça de olhar para o telhado da Casa Castelo, uma livraria já próxima do largo da Câmara Municipal. E se caminhar em direcção ao Largo da Portagem, encontra na Rua Ferreira Borges,do lado direito, já perto da Portagem, o 2º prédio onde fotografei as telhas de faiança.
    Temos q andar mais atentos daqui em diante...
    Tenho esperança de encontrar mais coisas destas em Coimbra.
    Um abraço

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  7. Como apreciador que sou de faiança Portuguesa sobretudo nortenha não poderia deixar de apreciar estas peças(embora telhões) magnificas e como tal vou coleccionando algumas destas maravilhas. No Porto ainda há algumas casas com estes beirais mas também já as vi em Braga,Fafe e Cabeceiras de Basto.Bem haja e continue com este trabalho magnifico.franm57

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    1. Seja bem vindo aqui e obrigada pelo comentário.
      Também adoro estes materiais cerâmicos e já fotografei vários beirais no Porto, que aliás tiveram direito a um post aqui no blogue. Mais a norte nunca vi nenhum.
      E perto de mim, na Mealhada e numa aldeia do concelho de Anadia fotografei dois beirais, que também estão no blogue, não sei se já viu, mas pode lá chegar pela etiqueta "Beirais de faiança".
      Cumprimentos

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  8. Olá Maria Andrade,
    Vim rever o post, e me dei conta que estes telhões de Coimbra em particular eu nunca vi por aqui. E se não me engano também não há delas no post sobre a bela coleção de Franm57.
    Elas tem uma pintura muito mais rica em detalhes, muito parecidas com o que vemos em peças utilitárias. Por sinal, voltando a sua pergunta em meu blog sobre a razão d'eu ter chamado as telhas reprodução da Luiz Salvador de "coloniais", mesmo que tenham sido produzidas após 1950, o motivo com florões pintado nos telhões da terceira foto deste post é o tipo de motivo que aqui logo chamariam de "colonial".
    Serial produção local de Coimbra mesmo, e por isso não as vemos em outras cidades, e não chegaram a ser exportadas para o Brasil?
    Vou fazer uma atualização naquele meu post, com fotos deste post de Coimbra, pois achei interessante este fato delas serem tão diferentes das telhas do demais posts sobre outras cidades.
    abraços!

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    1. Olá Fábio,
      Não houve de certeza produção destas telhas em Coimbra, nenhuma unidade cerâmica local se dedicou ao fabrico destes materiais. O que pode ter acontecido é elas terem chegado a Coimbra e arredores através da filial da Fábrica das Devesas (Gaia) na Pampilhosa, uma vila do concelho da Mealhada, que já foi bastante industrial e que dista de Coimbra uns meros 12km a norte.
      Como já disse no seu blogue, também a telha dos peixes do Franm57 é diferente de todas as outras, por isso percebemos que houve uma produção significativa e variada destes materiais.
      Bjs.

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  9. Sou de Coimbra e conheço estas telhas há muito tempo. Sempre ouvi dizer que se trata de cerâmica de Delft (à semelhanças dos azulejos do antigo paço episcopal da Fig. da Foz). Será?

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    1. Boa noite, Maria Luisa!
      Realmente já ouvi essa atribuição das telhas a Delft, deve ser uma versão que corre em Coimbra, mas penso que sem qualquer fundamento. Estas telhas de faiança terão sido produzidas em Gaia, não têm nada a ver com a produção de azulejos em Delft, como os que existem no Paço Episcopal e a que até já dediquei um post.
      Obrigada pela visita!

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  10. Obrigada partilhar o seu conhecimento. Desde que os vi no Porto quis saber como é que estão feitos. Adoro estas telhas.Espero que as conservem e dão importância igual aos azulejos.

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